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Dilma e Aécio se enfrentam em debate centrado em MG e na paternidade do Bolsa Família

Dilma e Aécio no primeiro debate do segundo turno  (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Dilma e Aécio no primeiro debate do segundo turno  (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Ana Ávila

(do SUL21)

Os candidatos à presidência Dilma Rousseff e Aécio Neves participaram na noite desta terça-feira do primeiro debate antes do segundo turno das eleições, no dia 26 de outubro. O programa foi dividido em quatro blocos de perguntas e respostas entre os candidatos, mediadas pelo jornalista Ricardo Boechat, e um último em que cada um deles pode fazer suas considerações finais. Muito centrado em Minas Gerais, o embate teve constantes trocas de acusações e uma discussão acirrada sobre a paternidade do programa Bolsa Família, que Aécio diz ter origem no governo Fernando Henrique e Dilma defende ser fruto do investimento do PT em programas sociais, ainda no primeiro mandato de Lula.

Antes das perguntas, os adversários políticos tiveram dois minutos para apresentar suas propostas para o país. Dilma foi a primeira a falar. “Fizemos o mais profundo processo de distribuição de renda das ultimas décadas. Tiramos 36 milhões de pessoas da pobreza e elevamos ‘uma Argentina’ à classe média, criamos um mercado de consumo de massa”, disse a petista, ressaltando que os maiores beneficiados foram os que mais precisavam. Dilma disse também que foram lançadas as bases para um novo ciclo de desenvolvimento, em que educação, saúde e segurança pública estarão no centro de tudo, além da igualdade de oportunidades para todos e do combate à corrupção.

Aécio começou falando sobre o avanço do país nas últimas décadas, destacando a estabilidade da moeda alcançada no governo Fernando Henrique Cardoso e os avanços no governo Lula a partir de então. Segundo ele, nos últimos quatro anos, o Brasil parou de melhorar. Aécio ainda teceu críticas à economia e aos indicadores sociais e disse querer fazer um governo que olhe para o futuro, que una eficiência e decência.

 

Minas Gerais no centro do debate

No primeiro bloco, os dois candidatos se concentraram mais em repetir que o adversário mentia e falar sobre a administração de Aécio Neves em Minas Gerais. A primeira a perguntar foi Dilma. Ela lembrou que o PSDB votou contra a CPMF, o que levou a uma perda de R$ 260 bilhões na saúde. Segundo a candidata, durante seu governo, Aécio não investiu o que manda a legislação no setor. Ela perguntou o que ele acha de suas propostas para a saúde, especialmente sobre o programa Mais Especialidades.

 Dilma Rousseff (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Dilma Rousseff (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

O tucano afirmou que todas as contas de sua gestão foram aprovadas pelo Tribunal de Contas e que Minas Gerais foi reconhecido pelo Ministério da Saúde como o Estado com a melhor saúde da região Sudeste. Acusou o Governo Federal de vir diminuindo o investimento no setor e aproveitou para criticar a adversária por supostamente não ter tratado o tema como deveria nos últimos quatro anos. Segundo ele, a campanha de Dilma parece de oposição.

A adversária aproveitou para dizer que Aécio, por sua vez, parece da situação, já que propõe continuar projetos do atual governo. A candidata reforçou que Minas foi obrigado a assinar compromisso de ajuste por desvios na saúde no governo Aécio e citou o mau desempenho do Samu no Estado governado pelo tucano, e afirmou que os dados apontados por Dilma não são verdadeiros. O tucano parte para o ataque dizendo que o programa Saúde da Família foi abandonado pelo PT elencando críticas, como ao valor recebido pelos médicos cubanos que atuam no Brasil.

Na sua vez de perguntar, Aécio disse que a campanha da adversária tem sido marcada por ataques, ofensas e mentiras – contra Eduardo Campos, Marina Silva e ele próprio. Diz que Dilma o acusa de planejar privatizar bancos e acabar com o Bolsa Família e que ela cita indicadores mentirosos. “A senhora não se arrepende de ataques tão violentos e cruéis?”, questiona. Dilma diz que ele distorce fatos. Cita o caso do Bolsa Família, que atende 50 milhões de pessoas, enquanto o projeto do PSDB atendia 5 milhões e reforça que o adversário pretende reduzir o papel dos bancos públicos, hoje envolvidos em programas sociais. O tucano rebate dizendo que o maior programa de distribuição de renda da história do país foi o Plano Real e não o Bolsa Família.

 Aécio Neves (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Aécio Neves (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Inflação, Educação e Corrupção

No segundo bloco, os candidatos partiram para acusações mais amplas. Começando com economia, Aécio mencionou a frase do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, que sugeriu trocar a carne por ovos devido à alta nos preços para perguntar se esta será a política econômica de Dilma. A petista defendeu que seu governo manteve a inflação dentro dos limites da meta e que as poucas alterações ocorridas são fruto do choque de oferta, lembrando que, no último governo do PSDB, por duas vezes a inflação superou o limite da meta. Segundo Aécio, o índice caiu significativamente no governo tucano. Ele ainda cobrou humildade da adversária para “admitir fracassos”.

Dilma criticou também Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e apontado por Aécio como seu futuro ministro da Fazenda. Segundo ela, foi durante a gestão do economista à frente do BC que a inflação cresceu. Pouco depois, Aécio retoma o assunto se dizendo impressionado com “a obsessão de Dilma por Armínio Fraga” e cita elogios de Antonio Palocci e Lula ao economista. “A senhora tem apenas o seu ex-futuro ministro que já não tinha muita credibilidade, apesar de merecer meu respeito”, disse em referência a Guido Mantega.

A atual presidente aponta então investimentos de sua gestão em educação e questiona o adversário a respeito do Pronatec, programa que, de acordo com ela, passou o número de escolas técnicas de 11, no governo FHC, para 208, atualmente. Aécio volta a citar seu governo em Minas como exemplo no setor. Sobre o Pronatec, diz que ele precisa ser aperfeiçoado, com cursos de maior duração e afirma que o projeto buscou inspiração em outros de sua autoria e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. “Me orgulho de ter inspirado seu governo”, disse sorridente. Para Dilma, os programas referidos por Aécio são pequenos e pilotos, bastante diferentes do atual programa federal, com 8 milhões de matriculados.

Em sua oportunidade de questionar, Aécio escolhe corrupção. Ele diz só ter visto indignação por parte de Dilma com a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, e pergunta quais seriam os bons serviços prestados por ele, citados no seu afastamento. Dilma diz que sua indignação é a mesma de todos os brasileiros e se diz determinada a punir corruptos e corruptores. Afirma também que no PT mudou a relação com a impunidade e cita leis aprovadas em seu governo neste sentido. Além disso, contra-ataca e lista casos de corrupção que envolveriam o PSDB como compra de votos para reeleição, mensalão tucano e compra de trens em São Paulo, casos em que os envolvidos estariam todos soltos. Para Aécio, ela busca comparar coisas diferentes. O candidato ignora os casos apontados e volta a repetir que a questão da Petrobras é grave. Também reforça que Costa renunciou, e não foi demitido como teria dito Dilma. A petista insiste sobre a demissão e diz que na ocasião ainda não havia denúncias contra ele.

Dilma pede então que o tucano explique a construção do aeroporto no terreno de um tio dele, no município mineiro de Cláudio, além de indicar pavimentação em outro aeroporto onde ficaria um negócio da família Neves. Em resposta, Aécio chama Dilma de leviana e diz que o Ministério Público atestou a regularidade de tais obras. Segundo o candidato, a obra de Cláudio foi feita em área desapropriada de seu tio, que reivindica até hoje valor pelo terreno junto ao Estado. “Minha vida pública é honrada, digna”, diz ele, citando o índice de aprovação ao deixar o governo de Minas.

Dilma diz que ele está enganado sobre a decisão do MP, que mandou investigar a obra de Cláudio por improbidade administrativa – mau uso do dinheiro público. A candidata sugere ainda que Aécio deveria responder também por nepotismo, se referindo a série de familiares que ele empregaria no governo. “Hoje, é proibido o nepotismo. Você, Aécio, tem uma irmã, um primo, uma prima e um tio no seu governo. Eu não tenho parentes no meu”. Contrariado, Aécio fala apenas na irmã, e diz que Dilma deve explicar onde ela trabalha. Ele a acusa de mentir e pede que “eleve o nível do debate”. Também afirma que os brasileiros têm lhe pedido que os liberte do governo do PT.

O  jornalista Ricardo Boechat conduziu o debate (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
O jornalista Ricardo Boechat conduziu o debate (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

 

A paternidade do Bolsa Família

Agora é a vez de Dilma iniciar sua fala acusando Aécio de ser leviano, ainda em referência à resposta anterior. Na sua vez de perguntar, aborda a violência contra a mulher, perguntando se o adversário seria capaz de extinguir a secretaria que preserva seus direitos. Sem responder diretamente, Aécio diz que é preciso avançar no apoio a estados e municípios, criticando genericamente a falta de investimento em segurança pela União. Dilma insiste que fala de violência contra a mulher e menciona a Casa da Mulher Brasileira, que está sendo construída em todos os estados para unificar o atendimento, citando ainda outros programas do governo nos quais as mulheres vem sendo priorização pela administração federal. Aécio diz que vê avanços nos últimos anos, mas que é preciso fazer com que a proteção à mulher chegue às regiões mais distantes.

Na sua vez de perguntar, o tucano volta a dizer que não vai acabar com programas sociais, mas aprimorá-los e que não vai privatizar bancos públicos, mas saneá-los. Questiona se não seriam necessárias outras medidas para superar de fato a pobreza além do Bolsa Família. No meio da pergunta, menciona suposto financiamento do Brasil a Cuba. Dilma trata como leviandade a abordagem da questão cubana. Diz que o mesmo financiamento do BNDES feito a Cuba no seu governo foi feito no de Fernando Henrique Cardoso. Explica que foi, em verdade, um financiamento a empresas de engenharia brasileiras que atuaram em Cuba, e não ao governo cubano. Para Aécio, Dilma tem dificuldade em reconhecer avanço dos outros e que os “pais” do Bolsa Família seriam FHC e sua esposa, Ruth Cardoso. “O povo jamais vai acreditar que o pai do Bolsa Família foi o Fernando Henrique. Vocês jamais aplicaram nenhum recurso em grandes programas sociais”, responde a petista.

Questionado sobre a questão da segurança durante seu governo em Minas, especialmente sobre os poucos inquéritos resolvidos, Aécio diz que em sua gestão os crimes violentos diminuíram e que foi o Estado que mais investiu em segurança no país. Acusa o Governo Federal de terceirizar responsabilidades. “No meu governo vou assumir o comando da segurança”, promete, criticando o atual investimento na Polícia Federal. Dilma insiste no aumento de homicídios em Minas Gerais e projeta um sistema integrado de trabalho entre as polícias federal e locais, em eventual segundo mandato.

Para o candidato do PSDB, Dilma já teve tempo de fazer o que promete agora. Ele também a acusa de não ter conhecimento sobre “as coisas de Minas” e cita a soma dos votos de oposição para dizer que a petista foi derrotada no Estado no primeiro turno. No mesmo bloco, Dilma rebate dizendo que o adversário não pode usar pesquisas para contrariar resultados nas urnas, que apontam a derrota em seu Estado de origem. “Estamos discutindo Minas Gerais porque o senhor teve sua vida política lá”, diz. E completa lembrando que deixou o Estado, onde também nasceu, porque foi perseguida durante a ditadura militar, que a deteve por três anos.

Aécio pergunta sobre educação, depois de afirmar que o país ocupa a lanterna em qualidade no setor e que sua adversária falhou na melhoria do Ensino Médio. Também defende a flexibilização dos currículos. Dilma explica que a responsabilidade pelo Ensino Médio é dos estados. “Mesmo assim, fizemos o Pronatec para tratar Ensino Médio também como formação profissional”, diz, concordando com a importância de reformar os currículos e citando outros avanços na educação como o programa Ciência sem Fronteiras. Aécio diz que seu governo construirá creches prometidas e não cumpridas por Dilma. A candidata se defende dizendo que 89% das crianças em idade estão nas creches e que o esforço agora é para ampliar o atendimento àquelas entre 0 e 3 anos.

Candidatos se despedem (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)
Candidatos se despedem (Foto: Ramiro Furquim/Sul21)

Antigos adversários ganham agradecimento

A última pergunta de Aécio é sobre meritocracia, que ele aponta como ferramenta de sucesso usada em seu governo em Minas. O tucano questiona não haver propostas de valorização semelhantes ao funcionalismo no governo Dilma. A pergunta acaba ficando sem resposta enquanto os candidatos usam seu tempo para retomar quem teria vencido o primeiro turno em Minas Gerais.

Dilma encerra perguntando como o tucano fará para criar empregos no país. Aécio começou dizendo que em suas andanças pelo Brasil percebeu que há medo de que o PT governe por mais quatro anos. Segundo ele, os empregos estão indo embora, o país não cresce e não gera empregos, a indústria participa com menos que há 60 anos. Ele promete resgatar a credibilidade do país e atrair investimentos. Dilma afirma que o adversário critica o pleno emprego de dois salários mínimos, que predominaria no país. Ele admite que tal resultado é melhor que desemprego, mas diz que o país precisa melhorar a qualidade do emprego, o que seria impossível com a atual taxa de crescimento.

Nas considerações finais, Aécio se diz emocionado com os reforços recebidos na reta final da campanha e cita especialmente Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, e Marina Silva, prometendo honrar compromissos que assumiram juntos. “Não permitirei que esse país seja dividido entre nós e eles”, afirma.

Já Dilma diz que o país vive um momento decisivo em que deve se perguntar quem tem mais capacidade e experiência para avançar, quem tem compromisso com os trabalhadores, apoio político para reformas, firmeza para projeção internacional e compromisso com o novo ciclo de desenvolvimento.

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