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Ex-delegado Cláudio Guerra revela envolvimento de coronel da ditadura militar na morte de Zuzu Angel

Em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade nesta quarta-feira (23 de julho), o ex-delegado do DOPS do Espírito Santo, Cláudio Guerra, afirmou que o coronel Freddie Perdigão Pereira provocou o acidente que resultou na morte da estilista Zuzu Angel, em 1976.

O crime complementa o currículo de algoz a serviço do regime militar de Pereira. O coronel atuou no DOI-CODI de São Paulo e na Casa da Morte de Petrópolis e ainda coordenou o atentado no Riocentro. No ano passado, o ex-soldado do Exército Valdemar Martins de Oliveira revelou em depoimento à Comissão da Verdade do Estado de São Paulo que o coronel executou o casal João Antonio dos Santos Abi Eçab, 25 anos, e Catarina Abi Eçab, 21 anos, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN), em 1968. Infelizmente, o militar não responderá por seus crimes, ele morreu em 1998.

Estilista conhecida, Zuzu Angel era mãe de Stuart Angel, membro do MR8, que lutou contra o regime militar, e foi preso em 14 de maio de 1971. Seu corpo nunca foi encontrado. Zuzu mobilizou a opinião pública nacional e estrangeira em busca de seu filho e foi vítima de um acidente na madrugada de 14 de abril de 1976, na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. O regime militar sempre foi acusado de ter forjado o acidente.

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Cláudio Guerra acusou o coronel Freddie Perdigão pela morte de Zuzu Angel (fonte: Brasil 247)

O delegado Cláudio Guerra foi indiciado, entre outros, pelo Ministério Público pelo envolvimento no atentado do Riocentro, infelizmente a Justiça Federal barrou ação contra os acusados.

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Segundo Guerra, ele e Perdigão eram confidentes e frequentavam a casa um do outro. “Um dia ele me disse que havia planejado simular o acidente dela e estava preocupado, pois achava que havia sido fotografado na cena do crime pela perícia”, afirmou o delegado no depoimento à Comissão Nacional da Verdade.

Em seu depoimento, Guerra afirmou que incinerou os corpos de 12 militantes políticos e que assassinou e incinerou em seguida um tenente de nome Odilon, numa queima de arquivo determinada pelo SNI (Serviço Nacional de Informações). O ex-delegado contou também que executou três militantes em São Paulo, um em Recife e “dois ou três” no Rio.

Claudio Guerra forneceu a foto para a Comissão que comprova a presença do coronel Perdigão na perícia, ele está indicado pela seta:

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“Se cumprisse pena por tudo o que fiz nunca iria sair da cadeia”, afirmou Cláudio Guerra.

Guerra foi condenado e cumpriu pena por três tentativas de homicídio, resultantes de um atentado à bomba do qual participou nos anos 80 no Espírito Santo. Na cadeia, tornou-se pastor da Assembleia de Deus e afirma querer fazer sua parte “para que uma página triste de nossa história seja passada a limpo”. Em 2012, Guerra relatou sua história como agente da repressão a Rogério Medeiros e Marcelo Netto no livro Memórias de uma Guerra Suja.

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Zuzu Angel enfrentou o regime militar em busca de seu filho desaparecido, Stuart

– Fonte usada: Comissão Nacional da Verdade.

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