Zona Curva

O Brasil despertou no movimento das Diretas Já!

Diretas Já – Depois de duas décadas de arbítrios do regime militar, o movimento das Diretas Já acordou o povo brasileiro para a urgência da participação política. Entre o final de 1983 e o início de 1984, vários comícios mobilizaram o país pelas eleições diretas para presidente da República.

Em 16 de abril de 1984, o comício das Diretas Já no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, reuniu 1,5 milhão de pessoas em uma das maiores concentrações populares da História do Brasil.

Vale do Anhangabaú lotado em 16 de abril de 1984 ( foto: Matuite Mayezo/Folha Imagem)
Vale do Anhangabaú lotado em 16 de abril de 1984 ( foto: Matuite Mayezo/Folha Imagem)

O comício reuniu no mesmo palanque políticos como Lula, Fernando Henrique, Brizola, Miguel Arraes, Mário Covas, Franco Montoro (governador de São Paulo à época) e muitos outros. Do meio artístico, as atrizes Eva Wilma e Fernanda Montenegro, o cantor Walter Franco e a cantora símbolo da campanha das Diretas, Fafá de Belém, marcaram presença.

A adesão à campanha pelas Diretas crescia em todo o país, o que levou o presidente Figueiredo a encaminhar um projeto ao Congresso em que o governo aceitava as eleições diretas para presidente, mas somente para o pleito de 88. O país não realizava uma eleição direta para a presidência da República desde 3 de outubro de 1960, quando foi eleito Jânio Quadros.

Com a promulgação pelo presidente Castelo Branco do Ato Institucional nº 2, em 27 de outubro de 1965, o presidente e vice-presidente da República passaram a ser eleitos por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional.

Em março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou ao Congresso Nacional uma emenda constitucional que propunha o fim do Colégio Eleitoral e o retorno das eleições diretas para presidente e vice-presidente para as eleições previstas para 1985.

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O jornalista esportivo Osmar Santos comandou vários comícios no período e ficou conhecido como “o locutor das Diretas” (fonte: Revista dos Bancários, 2003)

No aniversário de São Paulo em 1984, no dia 25 de janeiro, uma multidão já tinha tomado a Praça da Sé em outro comício. Alinhada com a ditadura militar, a direção da Rede Globo censurou a cobertura do ato e tentou confundir os telespectadores como se a maciça presença popular na praça fosse para apenas celebrar o aniversário da cidade.

O ex-vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila em 2005 que a ordem de censurar a cobertura do comício veio diretamente de Roberto Marinho, fundador da emissora. O jornalista Ricardo Kotscho, que cobriu o comício pelo Jornal Folha de São Paulo, declarou em entrevista à Revista dos Bancários em 2003 que “foi o povo que acabou fazendo a cabeça da Globo”.

 Em texto Zonacurva, nosso colaborador Otávio de Carvalho lembra o Comício da Praça da Sé.

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Coloca o pijama, Figueiredo! (charge de Aroeira retrata o espírito da época, fonte: CPDOC – FGV)

A liderança do ‘ex-conservador’ Teotônio Vilela

Um dos fundadores da UDN (União Democrática Nacional), partido conservador criado como opositor ao governo Getúlio Vargas, o político alagoano Teotônio Vilela tornou-se uma das figuras simbólicas da luta pela redemocratização do país.

Filho de um rico proprietário rural, Vilela foi um dos idealizadores do Projeto Brasil em abril de 1978 que continha, entre várias reivindicações, a restauração do habeas corpus por crimes políticos (extinto em 1968 pelo AI-5), o pluripartidarismo (na época, apenas o MDB e a ARENA atuavam na legalidade, Teotônio foi eleito senador pelo último em 74), o fim da censura à imprensa e eleições diretas para presidente e governadores.

Em 1979, ano da posse do general Figueiredo na presidência, Teotônio troca a ARENA pelo MDB. Em 82, ano em que Teotônio inicia sua luta contra um câncer, o político esteve presente ao lado de Lula nas assembleias no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Chegou a presidir o PMDB em julho de 1983 e impulsionou a campanha das Diretas, até morrer no dia 27 de novembro de 1983.

O jornalista e desenhista Henfil retratou Teotônio em charge que acabou batizando o movimento pela democratização de Diretas Já!:

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Teotônio Vilela, por Henfil

Saiba mais sobre o genial Henfil

Fafá de Belém interpreta “Menestrel das Alagoas”, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant em homenagem a Teotônio Vilela:

Mais Fafá de Belém: desta vez, a cantora debate com João Batista de Andrade o movimento das Diretas Já! no programa Metrópolis da TV Cultura:

 Fonte usada: CPDOC-FGV.

Henfil e as Diretas JÁ!

 

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