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A dura realidade brasileira

Governo Bolsonaro – Estamos quase na metade do ano, o último ano do mandato do atual presidente da República, e tudo o que se vê é a consolidação da pauta proposta lá na campanha eleitoral. O mote da candidatura era “acabar com tudo isso que está aí”. E é o que tem acontecido. Uma destruição sistemática do país. Mas, não se enganem. Esta é uma destruição que atende muito bem aos interesses da classe dominante local e estrangeira. Portanto, tudo está bem. Não é sem razão que em quase quatro anos de desmando, as chamadas “instituições democráticas” tenham feito vistas grossas, quando não prestado apoio incondicional. O governo de Jair Bolsonaro, já nos primeiros dias avançou como um trator sobre as terras indígenas, que hoje conformam 13% do território nacional. Era desejo antigo dos latifundiários e mineradores se apropriarem destas reservas de riqueza e biodiversidade. Pois o governo enfraqueceu a Funai, destruiu os órgãos de proteção, de fiscalização e incentivou a grilagem e o garimpo ilegal. Demorou quase duas semanas para agir no combate aos incêndios em terras amazônicas e pantaneiras e chegou ao cúmulo de prender ativistas que lá estavam para fazer o que era dever do Estado. Também conseguiu aprovar a Lei de Licenciamento Ambiental, a qual permite que um dono de terras destrua tudo a partir de uma autodeclaração de que está protegendo o meio ambiente. No campo da economia, o governo avançou tremendamente na aprovação de pautas demandadas pelos banqueiros, empresários, industriais decadentes, fazendeiros e comerciantes. Garantiu a autonomia do Banco Central, com pouquíssima oposição, mudou a legislação trabalhista, retirou direitos dos trabalhadores, fez crescer o trabalho informal, o desemprego e colocou milhões de brasileiros de volta para a linha da pobreza e da pobreza extrema. Aumentou juros, endividou o povo, deixou que produtos básicos como o gás, por exemplo, fosse para as alturas e permitiu que a Petrobras dobrasse seus lucros à custa da desgraça do brasileiro que já paga quase oito reais pelo litro de gasolina. Conseguiu ainda a privatização da Eletrobras, a gigante de distribuição de energia, quase sem oposição. O governo também foi vitorioso na sua cruzada pelo direito ao porte de armas e abriu as porteiras dos armamentos para que seus apaniguados se armassem e iniciassem uma selvagem perseguição aos indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Nessas áreas, a ação de jagunços e milícias criadas por fazendeiros e mineradores deitam e rolam sem pejo e sem parada. Também o chamado “cidadão comum” tem garantido sua arma pessoal a qual usa para matar mulheres ou oponentes em brigas de trânsito ou de desafetos. Incomodou? Leva tiro, e está tudo bem. Os demais – que mal tem dinheiro para garantir a comida  – olham e acham bom, afinal “é preciso se proteger da violência”. Esse é discurso vencedor. Também liberou agrotóxico a granel, fazendo com que a comida dos brasileiros siga sendo uma das mais venenosas. Esse foi também o governo que atravessou a tragédia da pandemia do novo coronavírus massacrando a população. Demorou meses para aceitar que era uma pandemia, fez graça durante todo o tempo, não usou máscara, incentivou a população a não se proteger, permitiu que morressem quase 700 mil brasileiros, demorando a entrega de respiradores, oxigênio, remédios. Atrasou a vacinação e fez todo o possível para impedir que seus apoiadores se vacinassem. Um horror sem medida. E, se não bastasse tudo isso, ainda está envolvido em casos escabrosos de tentativa de lucro sobre a vida dos brasileiros em negociatas com a compra de vacinas. Até teve uma CPI para investigar, mas acabou em pizza. Tudo isso e muito mais aconteceu praticamente sem rugosidades. No Congresso Nacional o governo garantiu maioria e foi passando quase tudo que propôs. Um número expressivo de congressistas é cúmplice desta destruição. No campo do judiciário, o governo também esteve muito bem, obrigada. Apesar de algumas jogadas de cena, esse setor muito pouco atuou no sentido de defender a vida dos brasileiros e o patrimônio da nação. Isso sem contar a farsa da chamada Operação Lava Jato que fez e aconteceu sem freios. Igualmente cúmplices. Assim foi e segue sendo o governo de Bolsonaro, garantindo as exigências da classe dominante. Tem sido extremamente competente na sua atuação, se fazendo de bobo da corte, inventando factoides, desviando a atenção da opinião pública do que é essencial, criando cortinas de fumaça. Quando algo importante está passando no Congresso lá vai ele dizer uma bobagem e nas redes sociais pipocam os memes, enquanto a vida escorre pelo ralo. Agora, na reta das eleições, os brasileiros vinculados a partidos de centro-esquerda, esquerda e os movimentos sociais, desatam uma campanha bem orquestrada para “derrotar o fascismo”. Anunciam que, neste momento, o mais relevante é tirar o Bolsonaro do governo. O resto resolve-se depois. Assim, se rebaixa a política, porque o que parece é que a grande cruzada é contra uma pessoa e não contra o sistema que ele representa. Aceitam-se as alianças mais espúrias e velhos inimigos são convidados para as trincheiras como se fosse possível mudar de uma hora para outra os “hábitos alimentares” de determinados políticos. Um desastre anunciado. É certo que arte da política é arte de negociar, mas ainda assim, deveria haver limites para essa negociação. Não é o que estamos vendo. O discurso dominante é o de que todas as forças devem ser arregimentadas para tirar o capitão do governo, mesmo que para isso seja necessário abrir mão da alfabetização política e das velhas demandas da classe trabalhadora. “Não é hora de propor uma pauta radical”. Assim, vai vencendo a proposta liberal de buscar um pouco mais de democracia, um pouco mais de distribuição de renda, um pouco mais de respeito, um pouco mais disso e daquilo. Nada de balançar estruturas. Não é hora! E se alguma voz tenta discutir isso aí, pronto… Vira alvo. E é assim que vamos caminhar até a eleição, acreditando que tudo vai dar certo e que se o cramulhão se for, a vida poderá voltar aos trilhos. É a consciência ingênua

La vai o Brasil descendo a ladeira

A verdade é como um esqueleto no armário. Mais dia, menos dia, ela aparece, ainda que seja tarde. É assim que, agora, vai se revelando o que todos sabíamos: o juiz Sérgio Moro, que conduziu o processo contra Luiz Inácio Lula da Silva manipulou, mentiu, agiu ilegalmente e tudo mais. O que era nítido naqueles dias agora ressurge com nova roupagem, visto que são os juízes da Suprema Corte que estão apontando os erros. Ainda assim, as emissoras de televisão, que foram pródigas em condenar o líder petista, comportam-se de maneira muito contida na divulgação dos fatos. O que antes era acompanhado de análises rebuscadas e áudios proibidos, agora aparece como mera notícia, sem maiores explicações. E não poderia ser diferente. A mídia comercial está sempre agarrada ao poder. O fato é que a farsa montada em Curitiba tirou do páreo o ex-presidente Lula e abriu caminho para a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. A condenação do dirigente petista colocou gasolina no fogo do fascismo que se assanhava. Muito provavelmente tivesse sido Lula o candidato, e vencido, o país não estaria vivendo esse filme de terror, no qual todos os dias morrem mais de três mil pessoas sem que cause qualquer desconforto, a não ser na família de quem morreu. Não que Lula fosse a melhor opção, mas certamente enfrentaria a pandemia de outra forma e não estaríamos vivendo esse massacre diário, com mais de 300 mil pessoas perdendo a vida por conta da incompetência e da má-fé. Chegamos ao terceiro ano do mandato de Jair sob um governo eminentemente militar – já há mais de 11 mil milicos nos cargos – e que, a todo o momento, acena com mais e mais endurecimento a tal ponto de quase anunciar um auto-golpe. Os milicos conformam quase 15% dos postos no governo. Dilma teve 2,5% e Temer 4%, só para comparar. Os últimos acontecimentos, com a saída do ministro da Defesa, mais do que uma crise nos quartéis,  mostram que o presidente segue com a rédea firme e não é sem razão que o governo acene com aumento salarial apenas para os militares entre os funcionários públicos. Analistas apontam que a hipermilitarização do governo, incluindo aí as escolas militares que seguem sendo implantadas no país, está carregando o país para um fechamento conservador, ainda que siga com aparência de democracia. Bolsonaro está seguro de que tem os militares sob seu comando, tanto que chama de “meu exército” e não hesitará em endurecer o regime. Até porque segue sem oposição concreta. A maneira autoritária como está comandando a pandemia, dizendo que não vai fechar nada, que não usa máscara, que não compra vacina e o escambau, mostra que está bem seguro no cargo e que pode ir apertando a corda. Sabe-se lá até quando.   Enquanto as peças do tabuleiro conservador vão se montando, a esquerda partidária fica no silêncio. Não se manifesta, não promove agitação das massas, e o máximo que consegue fazer é mapear candidaturas para 2022. Parece não compreender que pode nem haver eleição e que a batalha está sendo dada agora. Diante do silêncio dos partidos de esquerda, das centrais sindicais e de boa parte dos movimentos sociais, sobra o salve-se quem puder. Enquanto os quartéis se reorganizam e a presidência se fortalece, os brasileiros seguem morrendo. Há quem diga que logo chegaremos a cinco mil mortos por dia e a população segue apática como se tudo fosse designíos de deus e não uma deliberada política de extermínio. O caos na saúde foi uma ação planejada e teve como objetivo justamente fomentar o medo. Um povo com medo fica acuado e quieto. Para o governo importam muito pouco as perdas em vida, afinal, ali, ninguém é coveiro, e tem muita gente no país para manter a máquina do capital funcionando. Logo, está tudo bem. O gigante da América do Sul parece um ursinho domesticado e assustadiço. E, enquanto o regime vai endurecendo, nos partidos políticos fala-se nas eleições de 2022 com esperanças. Os últimos acontecimentos envolvendo Lula reacenderam as expectativas sobre uma candidatura do ex-presidente. Ora, nem Lula nem o Brasil são os mesmos de 2018. Essas criaturas vivem como Alice no país das maravilhas. É aterrador. Todos à rua no #forabolsonaro do dia 2  

Brasil, uma vertigem

Primeiro foi a reforma trabalhista que retirou direitos dos trabalhadores. Todas as vantagens para o patrão. Nada de carteira assinada, nada de multa por demissão sem justa causa, nada de incomodação na justiça, até porque a Justiça do Trabalho também se acabou. A propaganda era boa: o trabalhador estará livre, poderá escolher seus horários. Boa parte das gentes acreditou e vibrou. E veio o trabalho temporário, intermitente, sem qualquer vínculo. A uberização da vida. Todos os riscos são do trabalhador. E se ficar doente, tá morto. Porque se não trabalha no dia, não ganha. Não há direitos. Agora, já definida em primeiro turno, com todas as chances de ser mais uma estrondosa vitória no segundo, está pronta a reforma da Previdência. Toda a sorte de maldades contra os trabalhadores. Uma grande vitória para os empresários. Mas, para quem vive do trabalho a reforma é a destruição de sua velhice. Há que se trabalhar 40 anos seguidos para se pleitear algum alento nos últimos anos de vida. Poucos conseguirão chegar lá. Para a maioria será o chicote da exploração até a boca da cova. E nem bem os brasileiros começavam a digerir a amarga derrota no parlamento, que foi comprado com emendas somadas em mais de dois bilhões, o governo anuncia mais uma medida para arrebentar a vida dos empobrecidos. Pois o Ministério da Saúde rompeu contrato com os laboratórios que produziam remédios para serem distribuídos gratuitamente.  São 19 remédios que não mais serão disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, deixando na mãos mais de 30 milhões de pessoas que usam os medicamentos regularmente. Pessoas com câncer, diabetes e dependentes de transplantes. A jogada é clara. A intenção do governo é acabar com os laboratórios públicos que produzem esses remédios a um custo bem mais baixo e passar a comprar os medicamentos das farmacêuticas transnacionais. Mais um golpe na produção nacional e a entrega de bandeja para os grandes conglomerados. O lema de “Brasil acima de tudo”  é mesmo para inglês ver. Ingleses, alemães, estadunidenses e toda a sorte de empresas estrangeiras que irão encher as burras. O ministro já disse que os pacientes não serão afetados porque os remédios chegarão. Pode até ser. Mas, o custo para o país certamente será triplicado.  Mais dinheiro escoando para o monopólio farmacêutico e pau nos laboratórios nacionais. Também na última semana circulou a notícia de que o governo já estava pensando em introduzir a mensalidade nas universidades públicas, o que será mais um golpe sobre a classe média e os mais empobrecidos. E se articula também o fim do Sistema Único de Saúde, de gratuidade universal, que é modelo para muitos países. O governo de Jair Bolsonaro  quer passar a régua entregando os recursos dos trabalhadores para os Bancos, as Farmacêuticas, os empresários do Ensino e os mercenários da Saúde. A intenção é de que tudo que é público se acabe. E, apesar de toda essa trama contra os brasileiros, a população ainda está paralisada, dividida entre os que aplaudem sua própria desgraça e os que não encontram como expressar de maneira coletiva a sua revolta. As reações são pontuais e esporádicas. A massa se move ao sabor dos factoides criados para encobrir o verdadeiro desastre que se aprofunda a cada dia. O Brasil vive mesmo uma vertigem, que começou no dia primeiro de janeiro e que ao chegar quase ao final de julho, ainda cega a maioria. Como a desgraça vai atingir primeiro os mais empobrecidos, a reação ainda deve demorar. Por enquanto restam alguns “Jeremias” que, tal e qual o profeta, gritam no deserto, apontando os horrores e chamando para a luta. Poucos dão atenção e ainda há marchas de apoio à destruição do país. Há os que só esperneiam no facebook, terreno do inimigo, e há os que sequer querem saber do que está acontecendo. É de amargar. E a vida mesma, vai esboroando. O declínio social e econômico brasileiro O presidente invisível