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exumação Jango

Senado devolve simbolicamente mandato de Jango

O Senado Federal tentou reparar sua conivência com o golpe militar de 1964. Hoje, o presidente João Goulart recebeu, de forma simbólica, o mandato de presidente da República em sessão solene. Jango foi destituído do cargo pelo golpe militar em 2 de abril de 1964. A devolução do mandato veio por meio do projeto dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que anulou a sessão de 2 de abril de 1964, na qual o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Leia texto sobre a investigação da morte de Jango  Estiveram presente à solenidade a presidenta Dilma Rousseff, o filho de Jango, João Vicente Goulart, os ministros da Aeronáutica, Marinha e Exército. João Vicente recebeu o diploma de presidente da República a que seu pai, João Goulart, tinha direito.

JK foi assassinado, afirma Comissão da Verdade de SP

A Comissão da Verdade da Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo afirmou no dia 10 de dezembro de 2013 que o presidente Juscelino Kubitschek foi assassinado em 22 de agosto de 1976. Segundo a versão oficial, JK foi vítima de acidente na Dutra. As suspeitas de assassinato em complô armado pela ditadura militar sempre cercaram a morte do ex-presidente. “Há indícios incontestáveis de que o motorista do carro do ex-presidente fora atingido por um projétil antes do carro colidir contra um caminhão que vinha do lado contrário da Dutra. Toda aquela história de que o Opala onde estava Juscelino e o motorista dele fora atingido por um ônibus da viação Cometa é armação”, afirmou o presidente da comissão, o vereador Gilberto Natalini (PV). As  causas da morte de Jango também têm sido investigadas, saiba mais. A grande novidade da investigação da comissão é o depoimento de Ademar Jahn, que dirigia um caminhão na rodovia Dutra. Segundo matéria do jornal Folha de São Paulo  (11 de dezembro), Jahn declarou que viu “o motorista de JK, Geraldo Ribeiro, debruçado, com a cabeça caída entre o volante e o automóvel, não restando dúvida de que se encontrava desacordado e inconsciente, e já não controlava o veículo antes do impacto”. Outras duas histórias (já de conhecimento público) foram alvo de investigação da comissão. A primeira trata do artefato e o buraco encontrados no crânio do motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. O perito criminal Alberto Carlos de Minas relatou que, na exumação de Ribeiro em 1996, foi impedido por agentes do Estado de fotografar o crânio do motorista. A Comissão pediu à Justiça mineira por uma nova exumação do motorista e aguarda uma resposta. Especula-se que o artefato tenha desaparecido. A segunda história tem como protagonista Josias Nunes de Oliveira, o motorista do ônibus que teria colidido na traseira do Opala que viajava JK. Ele sempre negou que tenha causado o acidente. Mais 9 passageiros do ônibus ouvidos pela comissão negaram a colisão. Nunes ainda relatou que foi procurado por dois homens que passando-se por repórteres de um jornal lhe ofereceram uma mala de dinheiro para que assumisse a culpa pelo acidente.  “JK era sobretudo um homem dotado de uma simpatia irradiante, um calor humano excepcional, extremamente bom, generoso, tolerante e liberal”,  jornalista Samuel Wainer no livro “Minha razão de viver”   Juscelino e a Operação Condor Em entrevistas recentes, em ocasião do lançamento de seu livro “O essencial de JK”, o jornalista, escritor e biógrafo de JK, Ronaldo Costa Couto, afirmou que Juscelino estava na lista da Operação Condor. A Condor uniu a CIA e as ditaduras da América do Sul na repressão aos opositores dos regimes da época. A comissão apontou ligações entre a morte de JK e a de Orlando Letelier, na época ex-chanceler do Chile. Letelier foi morto num atentado a bomba na capital norte-americana Washington, em 21 de setembro de 1976, menos de um mês após a morte de Kubitschek. As investigações da comissão basearam-se em carta do coronel chileno Manuel Contreras Sepulveda, chefe do DINA, centro de informações chileno. Na carta de Sepulveda a João Baptista Figueiredo, diretor do SNI (Serviço Nacional de Informações) do Brasil, lê-se: “o plano proposto por você para coordenar nossa ação contra certas autoridades eclesiásticas e conhecidos políticos social democratas e democratas cristãos da América Latina e Europa conta com o nosso decidido apoio”. A união da esquerda progressista em prol de um projeto nacional de desenvolvimento

A busca pelo fim do mistério sobre a morte de Jango

Morte de Jango – Ontem, dia 1º de dezembro de 2014, a equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal informou que não encontrou veneno na perícia nos restos mortais de João Goulart. Porém, a análise que durou cerca de um ano pode ser considerada inconclusiva já que a passagem do tempo pode ter apagado os vestígios de um possível envenenamento. A família de Jango não está satisfeita com o resultado e diz que continua na busca pelos motivos da morte do ex-presidente. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 e, há 38 anos, não há resposta conclusiva para uma das perguntas mais intrigantes da recente história brasileira: o ex-presidente João Goulart foi envenenado por agentes da ditadura brasileira? Jango morreu na cidade de Mercedes, na Argentina, no exílio. Desde 2007, a família de Jango pedia a exumação do corpo, já que não houve autópsia na ocasião da morte e sua certidão de óbito indica como causa: enfermidad. Em novembro do ano passado, os restos mortais do ex-presidente foram exumados e transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília no dia 14 de novembro, quando foi realizada uma cerimônia com honras de chefe de Estado. Após os exames necessários, o corpo de Jango voltou para sua cidade natal em 6 de dezembro. O documentário Dossiê Jango (lançado em julho de 2013), de Paulo Henrique Fontenelle, conta como a presença de Goulart incomodava a ditadura argentina e investiga a teoria de envenenamento do presidente deposto em operação dos governos do Brasil e da Argentina, com o auxílio da CIA. O filme reconstrói a história do golpe de 64, que completa 50 anos. O documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, também abordou o golpe civil-militar de 64. Leia texto sobre o filme. O filme de Fontenelle tenta esclarecer outra dúvida histórica: por que Jango não resistiu ao golpe militar? O ex-governador baiano Waldir Pires, que ocupou o cargo de consultor-geral no governo Jango, afirma que “Jango temia muito uma divisão do Brasil como aconteceu na Coréia e Vietnã”. O filho de Jango, João Vicente, faz coro, orgulhoso da sensatez paterna: “meu pai evitou uma guerra civil no Brasil”. João Vicente protagoniza o clímax de Dossiê Jango quando, sob o disfarce de repórter da TV Senado, revela sua real identidade ao ex-agente uruguaio da Operação Condor (ação conjunta dos governos militares do Cone Sul na caça aos opositores), Mario Barreiro Neira. O último afirma que participou da espionagem e do cerco a Jango na Argentina e revela que Jango foi envenenado por ordem direta do presidente militar Ernesto Geisel. Neira atualmente está preso no Brasil por roubo e contrabando de armas. O envenenamento de Jango teria sido feito por meio da troca de medicamentos que Jango tomava por sofrer de problemas cardíacos. O filme mostra a terrível coincidência da morte de 16 pessoas que, de alguma forma, tiveram conexão com o assassinato. O filme ainda aborda a improvável coincidência das mortes consecutivas de Lacerda, Juscelino e Jango em circunstâncias suspeitas.   E se Jango foi assassinado? Em exercício de futurologia, imaginemos o que ocorrerá caso as suspeitas revelem-se verdadeiras. No mínimo, outras perguntas ficarão no ar: quem são os culpados pelo envenenamento? eles serão punidos? quem foi o responsável pela ordem de assassinar o presidente deposto? Uma coisa é certa: no mínimo, existirá a necessidade de reimpressão dos livros de História. A exumação de Jango acontece em momento curioso. A um ano da eleição presidencial, os ânimos entre direitistas e esquerdistas transformaram a web e, em particular o twitter, em ambiente conflagrado. A investigação da morte de Jango deve acirrar ainda mais as opiniões contrárias. O diretor Silvio Tendler, autor do documentário Jango, de 1984, foi vítima de um episódio que demonstra o retorno de uma certa truculência no debate político. Em março do ano passado, houve um tumulto entre policiais e manifestantes no protesto contra a ‘celebração’ do aniversário do golpe no Clube Militar do Rio de Janeiro. Tendler foi intimado a prestar depoimento na delegacia em queixa-crime movida pelo Clube Militar. O surreal do episódio é que Tendler não estava presente no protesto, estava em casa recuperando-se de uma cirurgia. Há quase um ano, o diretor está em uma cadeira de rodas. A única atitude do documentarista relacionada ao protesto foi a gravação de um vídeo de apoio ao ato.   Jango, por Tendler O documentário Jango, de Tendler, mostra em quase duas horas uma verdadeira biografia cinematográfica de João Goulart. Tendler já abordou em seus documentários figuras ímpares como Glauber Rocha (Glauber, o filme – Labirinto do Brasil, de 2003) e Juscelino Kubitschek (Os anos JK, de 1980). Em entrevista à jornalista Eleonora Lucena, o diretor lembra como surgiu a ideia de realizar seu filme. “Li no jornal que o Raul Ryff, que tinha sido secretário de imprensa do Jango, estava com umas cópias de filmes de visitas do Jango a China e a URSS. Telefonei para ele – eu não o conhecia – e pedi para vê-las … Ele me convidou para jantar e atacou de bate-pronto: ‘Por que não fazes um filme sobre o Jango?’” O filme lotou as salas durante o período das Diretas Já e chegou a um milhão de espectadores. Inclusive a música “Coração de Estudante”, que acompanha o final  do documentário, foi a música que simbolizou a luta pelas eleições diretas para Presidente. Assista ao filme na íntegra: [su_youtube_advanced url=”https://youtu.be/1O4SZQZ-ikk”]   (texto atualizado em 2 de dezembro de 2014) No enterro de Jango, o começo de uma caminhada