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músicas brasileiras anos 70

10 músicas contra a ditadura militar (2)

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. O PRIMEIRO DEU TÃO CERTO QUE VOLTAMOS COM MAIS! Com a segunda lista de mais 10 músicas icônicas contra a ditadura militar (1964-1985). MÚSICAS CONTRA A DITADURA – Após a publicação do texto com 10 músicas contra a ditadura militar em julho, recebemos dos leitores algumas sugestões de outras músicas do período que desafiavam o governo autoritário. Através dessas sugestões e de pesquisa, selecionamos mais 10 canções emblemáticas do período, vamos a elas: 10º “Pesadelo” (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)- Inocentes As primeiras bandas punks brasileiras como Inocentes e Cólera só surgiram entre o final dos anos 70 e o início da década de 80 e chegaram para gritar a revolta após duas décadas de regime totalitário. No segundo disco dos Inocentes, Adeus Carne, a banda gravou sua versão de Pesadelo, escrita em 1972 por Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós que dava um recado direto ao regime da época: “você corta um verso/eu escrevo outro/você me prende vivo, eu escapo morto/de repente olha eu de novo/perturbando a paz, exigindo troco”. Punk. Paulo Cesar Pinheiro explica como conseguiu ludibriar a censura: “mandei essa música no meio de um bolo que a Odeon [gravadora musical]  sempre mandava. Era um período em que havia muito material para mandar. Tinha um disco do Agnaldo Timóteo, com aquelas canções derramadas, e outras coisas românticas. Pedi a um funcionário da casa que enfiasse Pesadelo no meio desses discos. Assim, a música veio liberada. E o MPB-4 a gravou”.    9º “Nada será como antes” (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) – Milton Nascimento e Lô Borges “Que notícias me dão dos amigos?/Que notícias me dão de você?” explicitavam os tempos de incerteza do ano em que a música foi composta: 1972. Lançada no álbum duplo Clube da Esquina que revelou uma nova safra de músicos mineiros como Milton, e Lô Borges, Nada Será como Antes homenageia aos que não esmoreciam: “resistindo na boca da noite um gosto de sol”.   8º “E vamos à luta” (Gonzaguinha) – Gonzaguinha  O cantor Gonzaguinha figurava entre os mais perseguidos pela censura do regime militar e escreveu em 1980 E Vamos à Luta como uma homenagem aos que resistiam há 16 anos os arbítrios da ditadura militar. A canção foi muito tocada no final dos anos de chumbo e no processo de redemocratização do país. A música faz parte do álbum De Volta ao Começo. Se estivesse vivo, o cantor completaria hoje 70 anos. 7º “Disparada” (Geraldo Vandré e Theo de Barros) – Jair Rodrigues Um dos compositores de Disparada, Geraldo Vandré, quase barrou Jair Rodrigues como intérprete da música no Festival de Música Brasileira de 1966. Vandré confessou para Solano Ribeiro, organizador do festival, que “Jair ia cantar esse negócio rindo”. Vandré estava enganado, a interpretação de Jair Rodrigues imortalizou a música como um dos hinos de protesto contra a ditadura militar. O cantor ainda dividiu o primeiro lugar do festival com Nara Leão, que interpretou “A Banda”, de Chico Buarque. A emblemática performance de Jair da canção que narra o despertar da consciência política de um vaqueiro que “aprendeu a dizer não” pode ser explicada pela lembrança de seu pai, Severiano Rodrigues de Oliveira, boiadeiro que segundo Jair, “morreu no lombo de um burro”.   6º “Jorge Maravilha” (Julinho da Adelaide) – Chico Buarque Pra driblar a censurar, Jorge Maravilha e outras músicas foram escritas por Chico Buarque sob o pseudônimo Julinho da Adelaide. Mesmo já desmentido por Chico, a música carrega a lenda de que o compositor a escreveu para Amália, filha do ditador Ernesto Geisel, que gostava do cantor. O verso “você não gosta de mim, mas sua filha gosta” na verdade tem relação com a filha de um contínuo do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão de repressão política. Em entrevista a Folha de S Paulo em 1977, Chico explicou: “fui detido por agentes de segurança no DOPS e no elevador o cara pediu autógrafo para a filha dele. Claro que não era o delegado, mas aquele contínuo de delegado”. O público ouviu a música pela primeira vez quando Chico participou do espetáculo “O Banquete dos Mendigos”, projeto idealizado e dirigido pelo músico Jards Macalé, em 10 de dezembro de 1973 no Museu de Arte Moderna do Rio. Leia texto aqui no blog sobre Julinho da Adelaide.    5º “Primavera nos Dentes” (João Ricardo e João Apolinário) – Secos e Molhados Imagino os militares indignados com aquele “grupo transviado que desencaminhava a juventude”, mas não era só na maneira de dançar de seu líder, Ney Matogrosso, ou na roupa e maquiagem que os Secos e Molhados incomodavam o status quo. Primavera nos dentes (1973), composta por João Ricardo, integrante do grupo, e seu pai, João Apolinário é um rock psicodélico com uma letra com apenas o belo verso que grita: “quem tem consciência para ter coragem/quem tem a força de saber que existe/e no centro da própria engrenagem/inventa a contra mola que resiste/ quem não vacila mesmo derrotado/quem já perdido nunca desespera/e envolto em tempestade decepado/entre os dentes segura a primavera”.   4º “Opinião” (Zé Keti) – Nara leão, Zé Keti e João do Valle “Podem me prender, podem me bater… que eu não mudo de opinião”. Premonitória do que a juventude enfrentaria após o golpe militar, a música foi composta pelo carioca Zé Keti em 1964 e nomeou o show de teatro musical que era uma parceria entre o Teatro de Arena e o CPC-UNE (Centro Popular de Cultura da União Nacional de Estudantes). Na verdade, Zé Keti compôs a canção como resistência ao governo do Estado do Rio de Janeiro que pretendia expulsar as favelas dos morros da capital. Usada como hino de resistência à ditadura, a música foi censurada em 1968. 3º “Carcará” (João do Vale e José Cândido) – Maria Bethânia ou Nara Leão Composta pelo maranhense João do Vale e José Cândido, a música Carcará (1965) fez parte do espetáculo Opinião que marcou

10 músicas contra a ditadura militar

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre. Neste vídeo, apresentamos 10 músicas icônicas que se tornaram verdadeiras expressões de resistência e liberdade durante esse período sombrio. Embarque em uma jornada nostálgica e emocionante, enquanto exploramos o poder da música como forma de protesto.   Naqueles tempos bicudos da ditadura militar, a música denunciava na lata ou de forma velada os arbítrios cometidos pelo regime. O ritmo não importava, podia ser o samba, o rock, o forró, a MPB ou outro, juntos formavam um verdadeiro repertório de resistência cultural. Sem dúvida, os anos 60 e 70 foram um dos períodos de maior criatividade na música brasileira. Se o grito ficava represado na política, o canto serviu como válvula de escape catártica que nos afastava do clima insuportavelmente pesado criado pelos generais e sua repressão, tortura e censura. Aí vai a lista de 10 músicas que marcaram época no período:  10 º “Eu quero é botar meu bloco na rua” (Sérgio Sampaio) – Sérgio Sampaio A galera do desbunde, como ficou conhecido o pessoal, que seguia os preceitos da contracultura em seu comportamento, adotou essa música como seu hino contra a ditadura militar. Eu quero é botar meu bloco na rua participou do IV Festival Internacional da Canção (FIC) em 1972 e fez grande sucesso no carnaval de 1973. Contratado pela gravadora CBS no início de 1971, o músico tornou-se amigo e parceiro musical de Raul Seixas, que logo providenciou para que ele e seu irmão Jorge (Dedé Caiano) fizessem parte do coro de gravações de Renato e seus Blue Caps e outros artistas da gravadora. A música integra o disco homônimo do músico capixaba que foi produzido por Raul Seixas. Sampaio morreu em 15 de maio de 1994 no Rio de Janeiro.   9º “Perseguição” (Mais forte são os poderes do povo) (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha) – Sérgio Ricardo “Mais forte são os poderes do povo”, o grito épico de Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha de 1964, ano do golpe civil-militar, foi premonitório da luta que se avizinhava. Os coronéis e seus jagunços agora tinham como aliados os militares. O músico Sérgio Ricardo, conhecido bossa-novista na época, foi convidado por Glauber para a realização da trilha sonora do filme. Alertado por Glauber de que a música nordestina não era sua praia, Glauber emprestou para Sérgio fitas com músicas de cantadores gravadas em feiras no interior da Bahia. A força da música nordestina, o talento de Sérgio e o a genialidade de Glauber resultaram em uma das cenas mais bonitas da história do cinema:     8º “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil) – Chico Buarque e Gilberto Gil O show Phono 73 reuniria duplas de artistas da gravadora Phonogram em maio de 1973. Para o show, Gil e Chico compuseram Cálice no apartamento de Chico em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas (“o monstro da lagoa”) bebendo fernet (“essa bebida amarga”) em uma sexta-feira da Paixão. Quando os dois tentaram cantá-la no show no Palácio das Convenções do Anhembi, o som do microfone de Chico foi cortado.  A música faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. A canção explorou o duplo sentido da palavra cálice que podia significar também cale-se, referência explícita à censura e a repressão. A censura impede que Chico e Gil cantem Cálice no show Phono 73:   Chico canta Cálice com Milton Nascimento:    7º “Sinal fechado” (Paulinho da Viola) – Paulinho da Viola Em dezembro de 1968, o AI-5 avermelhou o sinal de vez e endureceu ainda mais a censura e a repressão. No ano seguinte, 1969, Sinal Fechado venceu o V Festival da Record. A música expressa o desencontro de uma geração que luta para encontrar saídas em uma sociedade cada vez mais sufocada. A esperança que resta está em um “lugar no futuro” já que o presente era sombrio.   6º “É proibido proibir“ (Caetano Veloso) – Caetano Veloso e os Mutantes O rock psicodélico de Caetano foi considerado uma crítica ao militante tradicional da esquerda universitária da época. O título da música foi retirada das pichações dos muros parisienses nas manifestações estudantis de maio de 1968. Em setembro de 1968, Caetano Veloso e os Mutantes apresentaram a música no Festival Internacional da Canção, o FIC, no teatro TUCA, na PUC-SP, e recebem uma sonora vaia do público. Caetano peitou a galera e fez um discurso que ficou até mais conhecido que a canção:  “Mas é isso que é a juventude que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre matar o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada… Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos!” Ouça a música e o discurso de Caetano: https://www.youtube.com/watch?v=4xEz2uva_ZE   5º “Mosca na sopa” (Raul Seixas) – Raul Seixas Raulzito também meteu sua colher na sopa amarga da ditadura militar. Com humor e referências a pontos usados na umbanda e candomblé, Raul avisava aos militares que a repressão não ia calar as vozes contra o governo já que “você mata uma e vem outra em meu lugar”. A música é do disco Krig-há, Bandolo! de 1973. Em entrevista em 1988, Raul relata como foi preso e torturado em 1974.   4º “Que as crianças cantem livres” (Taiguara) – Taiguara Taiguara, em tupi, quer dizer “livre, senhor de si”. Nascido no Uruguai, Taiguara mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro e se apresentou nos festivais dos anos 60 e 70. O cantor foi um dos mais censurados pelos militares no poder, só no período entre 1970 e 1974, teve 48 canções vetadas. Que as crianças cantem livres faz parte do álbum “Fotografias”, de 1973. Na música, Taiguara revela a esperança de tempos melhores: “e