Zona Curva

5 perguntas sobre o conflito Rússia x Ucrânia

Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, responde 5 perguntas do Zonacurva sobre a guerra no leste europeu

O Zonacurva procurou o analista de políticas internacionais e professor de relações internacionais da PUC-SP, Rodrigo Amaral, para entendermos a origem do conflito entre Rússia e Ucrânia e sua relação com o Brasil.

 

ZONACURVA- As relações entre Ucrânia e Rússia estão estremecidas desde a tomada da Crimeia pelos russos em 2014? Por que os ataques só começaram agora? 

RODRIGO AMARAL -Sim, as relações estão estremecidas desde 2014. Mas, para compreender o atual conflito, é necessário voltar até um pouco antes da questão da Crimeia. Em 2008, começa a intenção de integrar a Ucrânia à OTAN, com a intenção de conter as políticas intervencionistas da Rússia sobre o leste europeu. Os países europeus que pertencem à OTAN, como a França e a Inglaterra, eram receosos da entrada da Ucrânia no bloco, exatamente porque a Rússia sempre deixou claro que não aceitaria um “vizinho” tão próximo como parte do grupo.

Outro ponto significativo é o fato da Ucrânia ser a nação mais ocidentalizada dentre os outros 15 países que fizeram parte da antiga União Soviética. Além disso, esse país também conta com diversas disputas separatistas dentro de seu território. Isso ocorre pois há regiões que se identificam mais com a Rússia, considerando que há uma proximidade cultural, enquanto outras são mais próximas ao ocidente. É o que acontece com Donetsk e Lugansk, ambas regiões separatistas da Ucrânia e pró-Rússia.

A discussão sobre a entrada da Ucrânia na OTAN retornou  no final de 2021. Agora com a gestão de Joe Biden, há um interesse americano em reativar as forças multilaterais, visto que isso foi deixado de lado durante o governo de Donald Trump. Desde então, os Estados Unidos têm se mostrado empenhados na inserção da Ucrânia no bloco.

 

ZONACURVA– A visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia inseriu, de alguma forma, o Brasil no conflito?

RODRIGO AMARAL- Na minha opinião, a visita de Bolsonaro à Putin foi uma tentativa de colocar o Brasil em uma posição de importância internacional, quando atualmente não tem relevância alguma. A política externa brasileira também é historicamente de neutralidade em conflitos internacionais.

“A visita de Bolsonaro a Putin foi uma tentativa de colocar o Brasil em uma posição de importância internacional, quando, atualmente não tem relevância alguma”, professor Rodrigo Amaral- (Reprodução/Instagram)

ZONACURVA- Como a invasão da Ucrânia impacta a economia e a política brasileira?

RODRIGO AMARAL- A Rússia é um grande consumidor da carne brasileira, e pode ser que haja um decréscimo de consumo de carne por conta das sanções econômicas impostas pela comunidade internacional. Outro ponto é a questão energética, a Rússia é um grande exportador de petróleo, ou seja, todos os seus derivados devem ficar mais caros, como o plástico e a gasolina, que já está inflacionada no Brasil. Além disso, com o conflito, o dólar também subiu, afetando o mundo inteiro. 

 

ZONACURVA- Você acredita que os EUA e os membros da OTAN vão tomar providências além das sanções econômicas?

RODRIGO AMARAL- É improvável que haja uma guerra de proporções globais, os países da OTAN não vão se envolver militarmente, então as medidas de não comercialização com a Rússia virão juntamente com condições para que o conflito cesse. Uma destas condições talvez seja o não reconhecimento internacional das regiões separatistas Donetsk e Lugansk, visto que Putin afirma defender a autodeterminação dos povos, ou até mesmo exigir a retirada de tropas da Ucrânia.

Criança brinca em parque diante de prédios atingidos por ataque em Kiev
 (Foto de Umit Bektas da Reuters)

 

ZONACURVA- Qual a influência da China na invasão russa da Ucrânia?

RODRIGO AMARAL- Em termos militares, não há nenhuma influência. Historicamente a posição da China e da Rússia é muito próxima, por isso, o governo chinês está defendendo que o conflito é reflexo da política internacional de tentativa de integração da Ucrânia na OTAN.

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