
A pedra da loucura só está na cabeça do outro?
por Fernando do Valle
Por volta do século XV, charlatões pretendiam curar a insanidade com uma pequena incisão no crânio, como em um passe de mágica, retiravam a pequena pedra da loucura da cabeça do desajustado. A prática falsamente assegurava aos outros pacatos cidadãos a proteção dessas figuras inadequadas que desestabilizavam suas convicções.
A catarse do público no espetáculo da retirada da pedra da loucura assemelha-se aos rituais de pastores televisivos, a purgação dos males do mundo em poucos minutos regozija a audiência e traz conforto para enfrentar as agruras reais, muitas vezes insuportáveis.

Hoje muitos clamam para a retirada da pedra da loucura de seu oponente, daquele que não concorda com sua visão de mundo, o acusador não tem pedra no cérebro, o equilíbrio é sua tônica em sua conduta impecável, como diria Sartre, “o inferno são os outros”.
As crenças do outro incomodam e o desejo de ordem domina a mente de muitos, que confiam em suas máscaras construídas pelo medo, com elas podem circular incólumes pelas ruas rumo ao shopping mais próximo.
Nas redes sociais, o opositor é o louco, “como esse cara pode acreditar nisso”, com isso formam-se pequenas bolhas em que os iguais se protegem dos loucos de outras bolhas.
O diálogo cessa com o outro que não se encaixa no que pretendo para o MEU país, para a MINHA família, o outro faz parte do time adversário e vivemos em uma eterna briga de torcidas de futebol.

Sem loucura, não há arte, não há utopia, não há vida.
Mestre em Tecnologias da Inteligência pela PUC-SP com a dissertação “Aspectos da mídia livre como resistência digital” e jornalista (formado e pós-graduado em Jornalismo Multimídia pela PUC-SP) com mais de 25 anos de experiência. Já trabalhou nas redações do Jornal da Tarde, Agora, Caros Amigos, Shopping News, entre outras. Criou o Zonacurva em 2011 como espaço para a prática do jornalismo livre e crítico nas redes digitais.
Comments (2)
Só dizer que gostei da matéria e agradecer por nos trazer seus conhecimentos
nós que agradecemos, forte abraço