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Até quando as mazelas políticas vão se sobrepor às narrativas culturais no Brasil?
Desde que entendida por gente, a sociedade brasileira convive de modo “natural” com extremos de desigualdades social e econômica a compor (com todos os seus artifícios) abismos intransponíveis entre os cidadãos em camuflada luta de classes. O mais emblemático dos sintomas a recordar é termos sido o último país do mundo ocidental a abolir a escravidão. E não se pode deixar de recordar
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Violência na TV
por Albenísio Fonseca O “il mondo cane” das metrópoles pode servir ao sensacionalismo barato e perverso que motiva uma audiência. Mas há um limite de tolerância à falta de ética e respeito a princípios consagrados à pessoa e ao exercício da profissão, que recusam como jornalismo a abordagem na forma de interrogatório torturante, utilizado por supostos repórteres, nos programas de tevês sobre a
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Jovens para sempre ou a danação da juventude
por Albenísio Fonseca Filhos de casais separados ou de mães solteiras como chefes de famílias, boa parte dos jovens brasileiros são verdadeiros rebeldes sem causa ou, paradoxalmente, cheios delas. Esta juventude – e considere-se aqui uma faixa etária entre 15 e 27 anos – foi tolhida em algumas das suas mais vitais capacidades para oferecer contribuições eficazes, seja na resolução de suas vidas,
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A robotização do cotidiano
por Albenísio Fonseca Passamos a habitar um mundo quase que totalmente robotizado em meio à cena diária da urbanidade contemporânea. Estamos submetidos a vozes que nos comandam idas e vindas. Reconhecimentos biométricos a nos identificar na proliferação das redes de dados, indivíduos estatísticos do miraculoso universo virtual, enquanto transitamos nas ruas ou em ambientes climatizados, sorrindo para câmeras que nos perseguem a cada
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1984 é agora, ou o real invadiu a ficção?
por Albenísio Fonseca A transformação da realidade e seu total controle é o tema principal de 1984, o livro de George Orwell, escrito em 1948. A ação se passa em Oceania, um fictício bloco de países que, simulando uma democracia, vive sob o totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do onipresente Grande Irmão (Big Brother). O controle
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O carnaval da Tropicália
por Albenísio Fonseca A Tropicália é o movimento que não acabou, foi impedido de continuar. Por si só verdadeira carnavalização estética, surge com uma instalação de Hélio Oiticica, em 1967. No mesmo ano, a canção Tropicália, de Caetano Veloso. Só em 68 seria lançado o emblemático disco-manifesto. Aliás, com um erro crasso ao cravar o plural do simbólico emblema latino dos romanos “panis (em lugar de “panem”)
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Obras de Mário Cravo sob ameaça
por Albenísio Fonseca Último modernista baiano vivo, o escultor, gravador, desenhista, pintor e ex-professor, Mário Cravo Jr., 93 anos, permanece lúcido e produtivo. Sua obra, no entanto, sob abandono, está sob ameaça de ser perdida na esvaziada contemporaneidade baiana. Nas mil e uma faces da sua produção, como se diria de um verdadeiro “rei da sucata”, Cravo tem trajetória marcante pelo reaproveitamento de
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A invasão holandesa de Salvador em 1624
por Albenísio Fonseca Salvador, 9 de maio de 1624. A cidade amanhece sob o domínio e os efeitos do bombardeio de uma esquadra holandesa composta por 26 navios, sob o comando de Jacob Willekens. Na véspera, mesmo sob fogo cruzado do Forte de Santo Antônio, eles conseguem alvejar os canhões da Ponta do Padrão e desembarcam no Porto da Barra. Grupamentos de vanguarda
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Sinfônica da Bahia toca a “ópera da crise”
por Albenísio Fonseca Em busca de um novo prelúdio para a existência, a Osba-Orquestra Sinfônica da Bahia vem buscando atravessar a “ópera da crise” gerada pela grave situação que envolve sua manutenção há, pelo menos, 10 anos. Tal condição ainda tem se mostrado muito aguda. Mas a perspectiva é de que consiga superar a ameaça de um “grand finale” e alcance consagradora apoteose
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Estacionamentos – mais que um paradigma da mobilidade urbana
por Albenísio Fonseca Com as áreas para estacionamentos ocupando espaços valiosos das cidades, afetando de forma negativa o planejamento urbano, a crise da mobilidade vivida nas capitais brasileiras tem um dos mais dramáticos exemplos em Salvador. A questão torna visível, também, a desigualdade social em meio à disputa pela oferta de vagas, envolvendo a exploração do serviço pela iniciativa privada ou pela Municipalidade, nas zonas azuis, através
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Monumentos degradados viram objetos não identificados
por Albenísio Fonseca Monumentos são ‘tatuagens’ históricas no corpo das cidades. No caso de Salvador, primeira capital do Brasil, a homenagem perene a personalidades marcantes na memória da nossa urbanidade, seja em estátuas, bustos ou peças sob livre criação de artistas, tem sido alvo de degradação ou perda da sinalização identificadora, dada a falta de manutenção por parte do poder público; roubo, inclusive
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Um novo estatuto para os museus
Uma nova concepção na atuação dos museus, já há alguns anos, vem sendo implementada tanto no Brasil quanto em diversos países. Dentre as intervenções propostas, destaque-se a que propõe “demolir” a ideia de divisão do mundo da cultura em camadas, assim como a oposição abrupta entre o tradicional e o moderno, o culto, o popular e o massivo. Os museus passam por significativo
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Roger Waters apela pelo cancelamento de show de Gil e Caetano em Israel
Roger Waters, ex-baixista e um dos fundadores do Pink Floyd, enviou uma carta para Gilberto Gil e Caetano Veloso pedindo para que os músicos brasileiros cancelem show marcado para o dia 28 de julho em Tel Aviv, Israel. Waters faz parte do movimento global BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que pressiona Israel a devolver ao povo palestino os territórios ocupados. No início de
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Bem-vindo à era da telemática
No mundo hiperconectado em que passamos a habitar nos últimos 15 anos, uma nova revolução de aplicativos para celulares já teve início. Refiro-me às videochamadas. Inauguradas pelo Skype, com o sistema Voip (voz sobre Internet Protocolo), em 2001, para computadores fixos (desktops), laptops e, portanto, para webcam, foram recentemente estendidas para os celulares. O certo é que a comunicação instantânea por áudio e
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Bijuteria, a joia da crise
Por que num tempo de crise, o fascínio pelo supérfluo ganha tanta prioridade quanto o essencial, a vaidade sendo saciada, ainda que isso corresponda ao empobrecimento da mesa? A crise superlotou as ruas das grandes capitais brasileiras com camelôs que vendem de tudo ou quase tudo, desde relógios digitais (o tempo descartável) a inúmeras formas de utensílios e quinquilharias, consolidando o “salve-se quem puder”
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Com o desejo na alma
As tigresas estão à solta. Com o olhar carregado da mais sutil sedução e os lábios pintados com luminosidade de néon, elas atravessam as vitrines da cidade. Cabelos esvoaçantes sob o sol do anúncio do verão, a provocação caminha com elas. Unhas de gata, sem nenhuma ameaça, o tempo parece estar sob o seu inteiro dispor. O imaginário da mulher contemporânea não envolve
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60 anos e o rock’n’roll fica sex
Ora, quem diria, o eterno e atemporal rock and roll ficou sex. Sim, sexagenário. Ainda que várias incursões anteriores criassem as matrizes desse gênero musical que transformaria a cabeça e o corpo da juventude desde o final dos anos 40 – filho que é do pós-II Guerra – é a partir de 1954, com o surgimento de Elvis Presley, que o rock invade
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“Apagão analógico” começa em novembro de 2015
Após países como Estados Unidos, alguns da Europa e o Japão, o Brasil inicia em 2015 o “apagão das transmissões para televisores analógicos”. O desligamento inicial, conforme cronograma do Ministério das Comunicações – MiniCom e da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel, prevê a realização de projeto piloto na cidade de Rio Verde, interior de Goiás, em 29 de novembro do próximo ano.
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Soci@lismo 2.0 e a história do voto no Brasil
Socialismo 2.o -Mesmo sob a necessidade de continuarmos a nos debruçar sobre o velho Karl Marx, criador da mais influente análise político-econômica que moldou as relações sociais no século XX, a Internet consolida o antigo e utópico sonho marxista do socialismo em escala global. Mas trata-se do “Socialismo 2.0”. A tese, com base no colaboracionismo instaurado na rede mundial de computadores, foi criada pelo
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Canudos não se rende
O dia 5 de outubro data a queda do arraial de Canudos, no sertão da Bahia, sobre o qual Euclides da Cunha escreveria a tragédia inaugural da República brasileira e Cesar Zama desnudaria os fatores envolvidos para dizimar o povoado, erguido na fazenda abandonada de Garcia D’Ávila. Se considerarmos as permanentes tentativas retrógadas frente ao avanço social no país, é correto afirmar o