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Andersen para estas horas do Brasil
Certa vez, o Barão de Itararé publicou este pensamento genial: “Houve um tempo em que os animais falavam. Hoje, no Brasil, eles até escrevem” Notem o quanto o Barão era profético. Pois na presidência do Brasil, no começo do ano um asno, ou no começo do asno um ano escreveu: “Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governos anteriores? Carregados
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O conto infantil segundo Bolsonaro
Neste começo de 2020, o breve tuitou: “Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governos anteriores? Carregados de ideologias, ofendiam as famílias, atentavam contra a inocência das crianças. Isso mudou. Estamos ensinando o correto, aquilo que os pais sempre desejaram para seus filhos” (Jair M. Bolsonaro) Contam que depois desse tuíte, Jair M. continuou neste primor de interpretação literária: Olhem
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O presidente invisível
No romance “O homem invisível”, H. G. Wells conta a história de um cientista que se tornou invisível a ponto de roubar e ninguém saber, de ferir, de matar e ninguém descobrir o criminoso, pois que era invisível. Assim começa o livro de H. G. Wells em livre tradução: “O desconhecido chegou em um dia de tempestade, debaixo de um vento cortante, no
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Por que o ódio a Jesus?
No sábado da semana que passou, fui abordado de modo abusivo, insistente, diante de sinal de trânsito. Um grupo de evangélicas me incomodou com a exigência de eu receber um panfleto da sua igreja. Mas de um modo tão antipático, que me deixou em dúvida se aceitaria o impresso Em condições normais, eu não vacilaria. Leitor que sou da Bíblia, tenho curiosidade em saber
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13 de maio
13 de maio – Os primeiros trezes de maio que lembro, em mistura aos goles do café, me vêm do Ginásio Ipiranga na infância. Olho para o lado agora como se nada visse, assim como os colegas negros em 1961 olhavam de lado, ou baixavam os olhos, ao ouvirem a lição lida em voz alta no livro didático: “ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO – A
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Escolas militares x escolas civis
Talvez fosse melhor pôr o título “Escolas Militares x Escolas públicas”. Ou mesmo o Ensino da falsa história nas escolas militares. Quero dizer: penso nos jovens dos Colégios Militares, nos rapazes e mocinhas ardorosos obrigados a decorar algo como uma História vazia e violentadora, a que chamam História do Brasil – Império e República, de uma Coleção Marechal Trompowsky. Da Biblioteca do Exército.
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Dom Hélder Câmara e o Brasil hoje
Imagino Dom Helder Câmara no país destes dias sombrios, hipócritas, de bancada da Bíblia e fundamentalistas. E não é preciso muito imaginar, porque ele já nos respondeu em uma crônica para o rádio em 28 de janeiro de 1977. Da fala e texto, destaco: “É impressionante como é fácil parecer bom e como é difícil ser justo. Mas Justiça, para muitos, tornou-se uma
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O bolsominion
De imediato, pensamos nele como um idiota ou imbecil. Mas isso é muito leve. Não se deve criminalizar um idiota, coitado, que chegou a esse estado em caminhos naturais, digo, por infelicidade da natureza. Nem tampouco ele pode ser visto como um imbecil, que se tornou ou se fez assim muito contra a vontade Bolsominion – Jamais alguém gostou de ser tido como
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Luiz Fux e a covardia ativa
O Dicionário Aulete registra para cobardia (o mesmo que covardia): “s. f. || fraqueza de ânimo, pusilanimidade, medo, timidez, acanhamento”. O Dicionário Houaiss, mais extenso, define: “comportamento que denota ausência de coragem; atitude, gesto que se caracteriza pelo temor, pelo acanhamento, pela falta de ousadia 2 violência contra o mais fraco sinônimos cobardia, cobardice, covardice; ver tb. sinonímia de timidez e antonímia de coragem”
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Escola sem Partido é Escola sem Conhecimento
por Urariano Mota Para a chamada Escola Sem Partido, é preciso escrever sobre os atrasos que virão para o ensino e o pensamento brasileiro. Na medida de minhas possibilidades, chamo atenção para alguns desastres anunciados. Primeiro, para não falarem que exagero o exagerado, olhem o site do movimento, quero dizer, o sítio do imobilismo, de onde copio estes atentados: “Por uma lei contra
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O Tropicalismo na visão dos jovens na ditadura
As informações na internet falam que a Tropicália mudou o cenário musical brasileiro e influenciou outras áreas, como por exemplo, as artes plásticas e o cinema. Ela encontrou eco em boa parte da sociedade que, ainda que sufocada pela censura da ditadura militar, aplaudiu com entusiasmo as suas manifestações tanto nos festivais de Música, quanto nas artes cênicas. A consolidação veio com um
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Zico foi excluído da seleção pela ditadura
ZICO – Todos nós já sabíamos do uso, para efeito de propaganda política, da seleção brasileira de futebol. Sabíamos também da sua interferência até na escalação de jogadores, quando Médici impôs Dario ao time da Copa. E a consequente demissão do grande João Saldanha. Mas não sabíamos disto, com provas vivas, de excluir e perseguir geniais jogadores por motivo ideológico. O jornalista e
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Karl Marx e a Liberdade de Imprensa
por Urariano Mota O jornal O Globo, entre outros, destacou: “Há 25 anos, a Assembleia Geral da ONU proclamou 3 de maio como Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em uma ação para conscientizar o mundo para a luta a favor do simples direito de informar — sistematicamente violado mundo afora, seja através de violência, intimidação, censura ou desinformação deliberada. Muito mudou desde
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Para uma nova idade
por Urariano Mota Há 10 anos escrevi: “O que toda a gente lê em Manuel Bandeira, no livro Itinerário de Pasárgada, longe está de ser uma verdade íntima, única e exclusiva do poeta, neste luminoso parágrafo: ‘Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com
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O que os pobres comem
por Urariano Mota As notícias desta semana atualizaram uma fala do prefeito de São Paulo, que em vídeo de 2011 gritou: “Pobre não tem hábito alimentar”. Essa frase lapidar de João Doria esteve de volta quando ele anunciou a distribuição da farinata – mistura de fascio e lixo de comida – como ajuda alimentar para os pobres e crianças em creches. No vídeo,
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Canto de liberdade para José Amaro Correia
por Urariano Mota Em um trecho do Dicionário Amoroso do Recife, escrevi: “José Amaro Correia, Zé Amaro, ou Mário Sapo, como o chamamos, era e continua a ser um socialista, militante político, preso em 1973 no DOI-CODI no Recife… Quando eu lhe pergunto se depois de tanta luta, se alguma vez ele não pensou em desistir, ele, que sei estar com problemas circulatórios,
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Vinícius de Moraes hoje
por Urariano Mota Para estes dias de novo golpe no Brasil, vale a pena esta evocação e invocação de Vinícius de Moraes. O crítico literário José Castello, numa entrevista, contou certa vez que o poeta maior Vinicius de Moraes apresentava um show em Lisboa em 13 de dezembro de 1968. Esse foi o dia em que os militares do Brasil acabavam de dar
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Vargas na penúltima hora
por Urariano Mota O que se passa com um homem quando caminha para a morte? Vargas entrou no prédio quase de um salto, como quem entra no consulado em área livre da guerra civil. Subiu no elevador como as pessoas sem saída vão, e agora aperta a campa da advogada com a sua chama trêmula. Vida açoitada pelo vento em suas mãos. “Eu
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A modelo negra da capa de revista
por Urariano Mota Vanessa de Freitas Jorge é mais conhecida pelo nome de Malana. Ela é negra, elegante, linda e simples como não se vê em uma só modelo. Nem é preciso lembrar para ela antecedentes ilustres como a bela Dorotéia, de quem Baudelaire dizia que caminhava balançando com indolência o torso tão fino sobre as ancas tão largas, com a cabeça delicada e
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Como ensinar literatura
por Urariano Mota Vocês perdoem, por favor, o título pretensioso. Por isso, corrijo um pouco. Deveria ter escrito “Como ensinar literatura para alunos colegiais”. Mas isso ainda é muito. Então esclareço desde já: tentarei escrever alguma coisa sobre a minha experiência com literatura para estudantes. E passo a anotar duas ou três coisas. Em minhas – na falta de melhor nome – aulas,