Zona Curva

Cultura

O jornalista e escritor Fausto Wolff escreveu: “cultura é arma de defesa pessoal”, esse é o guia dos textos aqui publicados.

A intelectualidade sob pressão

por Guilherme Scalzilli Intelectualidade sob pressão – A tentativa de aniquilar o Ministério da Cultura, os expurgos na Empresa Brasil de Comunicação e as intervenções do governo interino em órgãos científicos são reflexos administrativos de um fenômeno mais amplo. Seja por ações judiciais, seja em textos na mídia tradicional e na internet, multiplicam-se investidas cerceadoras ou difamatórias contra acadêmicos, artistas e jornalistas considerados “de esquerda”. O problema não tem nada a ver com os méritos da isenção fiscal à Cultura e outras pautas oportunistas. Argumentos grotescos do tipo “mamar nas tetas do Estado” servem apenas para destilar o pseudoliberalismo de botequim que embala o orgulho reacionário. Na época da Guerra Fria falava-se em estar “a soldo de Moscou”. A fobia anti-intelectual é velha como o fascismo. Ela nasce na aversão à criatividade e ao espírito crítico, valores provocativos e libertários por natureza. A arte, o humor e a análise ofendem o autoritarismo porque atuam em esferas nas quais a força coercitiva, econômica ou física, não possui eficácia total. E existe o perigo da visibilidade. Uma pessoa famosa denunciando o golpe diante da imprensa mundial destroi meses de propaganda partidária do jornalismo brasileiro. Não há manipulação que sobreviva ao apelo emocional de um ídolo gestado no próprio sistema de legitimação do veículo manipulador. Daí o esforço de neutralizar essas potências com ilações sobre o uso de recursos estatais ou afinidades partidárias. A exigência de uma isenção impossível, desprezada em todos os campos de estudo, serve para desautorizar justamente as pessoas que combatem a mentira do apartidarismo no Judiciário e na imprensa. Maliciosa inversão: usa-se o veneno para destruir seu antídoto. O espírito vingativo e intolerante fornece um amálgama ideológico para as diversas facções institucionais envolvidas no impeachment de Dilma Rousseff. Mas seria ingênuo ver aí apenas um subproduto espontâneo do antipetismo histérico. O fenômeno ganhou tamanha ressonância que pode se transformar em instrumento coercitivo. Os ataques a intelectuais visam impedi-los de participar na construção das narrativas históricas sobre este momento do país. Silenciando as versões antagônicas, a direita pretende institucionalizar sua memória salvacionista, usando o discurso homogêneo do noticiário como legado de uma falsa unanimidade em torno das disputas políticas. E é exatamente porque a moda obscurantista vincula-se a um projeto de poder que os intelectuais não podem cair na armadilha da despolitização legitimadora. Quanto mais agressivos forem os adeptos do discurso único, maior o estímulo para combatê-los com a afronta da resistência militante. Publicado originalmente no Blog do Guilherme Scalzilli.

Sérgio Sampaio botou pra gemer

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, falamos um pouquinho da história do cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio, ou melhor, o mais maldito dos malditos da MPB. por Fernando do Valle Maldito nada, o músico Sérgio Sampaio foi artista injustiçado pela indústria cultural que não tolerou a força de sua criatividade entre suas “manadas de [artistas] normais”, como disse o magrelo na canção Roda Morta. Capixaba de Cachoeiro de Itapemirim como o cronista Rubem Braga e Roberto Carlos, Sérgio Sampaio foi letrista único em mescla de dramaticidade e ironia. Mais conhecido por “Eu quero é botar meu bloco na rua”, grito contracultural de oposição à ditadura militar em que cantou o desejo de “brincar, gingar e botar pra gemer”, o músico irascível sempre circulou à margem das patotas da MPB. “Bloco na rua” estourou em 1972 no 7º FIC (Festival Internacional da Canção), mas não ficou entre as vencedoras, quem levou a melhor foi “Fio Maravilha”, de Jorge Ben, defendida por Maria Alcina. O compacto com a música no lado B vendeu muito, ultrapassando a marca de 500 mil cópias, o lado A tocava “Diálogo” (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), interpretada por Tobias e Márcia. A canção de Sampaio embalou o carnaval de 1973, ano do lançamento do LP batizado com o mesmo nome e produzido por Raul Seixas. O disco ainda contou com a participação de músicos que formariam mais tarde a banda Azymuth além do lendário Wilson das Neves. O idiossincrático Sampaio inseriu a faixa-título como a penúltima faixa do lado B. Sérgio Sampaio nasceu em 13 de abril de 1947 em Cachoeiro do Itapemirim e morreu em 15 de maio de 1994 na cidade do Rio de Janeiro com apenas 47 anos. “Eu quero é botar meu bloco na rua”: Sérgio Sampaio conheceu Raulzito quando acompanhou o músico Odibar em teste na gravadora CBS. Na ocasião, Sampaio mostrou duas músicas para Raul que adorou e ambos tornaram-se amigos e parceiros. Contratado pela CBS no início de 1971, Sampaio fez parte do coro de gravações de Renato e seus Blues Caps e de outros artistas da CBS. Sob o pseudônimo de Sérgio Augusto, assinou a letra de “Sol 40 graus” , uma melodia do produtor e arranjador Ian Guest (que assinava como Átila), sucesso de 1971 do Trio Ternura. Mas o encontro foi a faísca mesmo para o discaço “A Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das 10” que além de Sampaio e Raul Seixas contou com o músico baiano Edy Star e Miriam Batucada. Saiba mais sobre “A Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das 10”. Três anos mais tarde, em 1976, Sampaio gravou o disco Tem que acontecer pela gravadora Continental. As baixas vendagens de O Bloco na Rua e Tem que acontecer jogaram o músico em certo ostracismo, mesmo contando com pequeno e fiel séquito de seguidores. Sampaio se descreveu na música Velho Bandido, do disco de 1976: “só tenho essa cabeça grande, penso pouco, falo muito e sigo adiante” e adiante às próprias custas e com o apoio de sua mulher Angela Breitschaft, mãe de seu único filho João, lançou o álbum Sinceramente em 1982. Sem divulgação, o disco vendeu à época pouco de suas 4 mil cópias. Em 2001, o disco foi relançado graças ao músico maranhense Zeca Baleiro, fã de Sampaio. Em 2006, foi também Baleiro que organizou o disco Cruel que o músico capixaba deixou incompleto devido à pancreatite que o matou em 1994. Velho bandido, gravado em 1991:   “Eu não sou músico. Musico é Hermeto [Pascoal],  é Egberto [Gismonti]. Músico eu não sou. Faço meus acordes, pego o violão. Toco no violão como quem toca no corpo de uma mulher sem saber as zonas erógenas. Vai tocando por instinto… Assim é a minha relação com o instrumento. Sou um poeta, mas a poesia se manifesta em mim através da letra de música. Não seria um poeta como Vinícius, como Drummond, como Fernando Pessoa, por exemplo. Talvez não fosse capaz de sentar e escrever um livro de poesia e, mesmo que escrevesse, não iria sair lá grande coisa. Penso que a poesia se manifesta por mim através da letra de música, porque música é uma coisa muito forte em mim e, geralmente, quando faço as músicas, sai tudo junto, letra e música. E é uma coisa bastante agradável, tesuda, extasiante mesmo de fazer. Eu me coloco a nu nas coisas que faço. Muito verdadeiramente, muito” (trecho de depoimento de Sérgio Sampaio ao ainda iniciante Zeca Baleiro, extraído do site VivaSampaio , idealizado por João Sampaio Breitschaft, filho de Sérgio). Sérgio não foi o primeiro dos Sampaios a se apaixonar pela música, seu pai, Raul Gonçalves Sampaio, foi regente de bandas de músicas na cidade de Cachoeiro, o ganha pão era outro: a fabricação de tamancos. Sérgio gravou uma composição de seu pai, “Cala a boca, Zebedeu” no disco “Bloco na Rua”. O tio de Sérgio, Raul Sampaio Cocco, foi integrante do Trio de Ouro e autor de sucessos como ‘Quem eu quero não me quer’ e ‘Meu pequeno Cachoeiro’, gravada por Roberto Carlos. Na sapataria do pai, o adolescente Sérgio trabalhava ao som de Orlando Silva, Nelson Gonçalves e Sílvio Caldas no rádio. Aos 16 anos, foi aprovado em um teste para locutor da ZYL-9 – Rádio Cachoeiro, onde aprimorou sua cultura musical. Aos 20 anos, Sérgio partiu para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como locutor nas rádios Rio de Janeiro, Mauá, Carioca e Continental durante o dia e cantor de bar à noite. A partir de fevereiro de 1970, abandonou o trabalho nas rádios com a intenção de viver exclusivamente de música e como a carreira demorou a engrenar, Sampaio chegou a dormir em bancos de praças ou de favor em casa de amigos.  “A minha relação com a música é uma relação de muito amor. Não tenho uma relação com a música puramente profissional no sentido de dinheiro, não! Ganho

Marcel Duchamp e suas antiobras de arte

por Fernando do Valle Marcel Duchamp – Em 1913, o artista francês Marcel Duchamp expôs seu primeiro ready-made (antiobra de arte) Roda de Bicicleta. Quatro anos mais tarde, em 1917, Duchamp enviou seu ready-made mais conhecido, A Fonte, um urinol enviado à exposição Salão dos Independentes, em Nova Iorque. A obra foi recusada pelo comitê de seleção. Há cerca de 100 anos, a iconoclastia de Duchamp dava um verdadeiro truco na arte e descontruía o gosto médio, combatendo a sacralização da arte. Não adianta buscar solução psicológica, religiosa ou que o valha para explicar o urinol ou uma roda da bicicleta em uma exposição artística, Duchamp busca o estranhamento, o incômodo, função primordial da arte. “Os ready-made são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista, pelo único fato de escolhê-los converte em obra de arte. Ao mesmo tempo em que o gesto dissolve a noção de obra. A contradição é a essência do ato” (ensaísta colombiano Octavio Paz em “Marcel Duchamp ou o Castelo da Pureza”). A crise da Cultura O dadaísmo e Duchamp nasceram um para o outro. O movimento libertário que surgiu em Zurique em 1916, liderado pelo poeta romeno Tristan Tzara  e com reuniões no clube artístico Cabaret Voltaire, pregava a ruptura com a arte considerada oficial e a “abolição da lógica” (Manifesto Dadá). Se a lógica era inimiga da arte de Duchamp, o humor sem dúvida o acompanhava. Se você discorda, então imagine o riso sarcástico de Duchamp ao surpreender com suas obras um intelectual circunspecto de pince-nez. Será que a rebeldia do “artista” Duchamp não transformaria um simples urinol em obra de arte como as outras? A simples escolha de determinado objeto e não outro não configura um ato de criação? O artista explica: “o grande problema era o ato de escolher. Tinha que eleger um objeto sem que este me impressionasse e sem a menor intervenção, dentro do possível de qualquer ideia ou propósito de deleite estético. Era necessário reduzir o meu gosto pessoal a zero”. O gesto niilista de anular seu próprio gosto e ainda assinar o urinol com um pseudônimo (R. Mutt) questiona as preferências do público, não importa se o gosto do espectador é refinado, péssimo ou crítico. O artista francês Marcel Duchamp nasceu em 28 de julho de 1887 e morreu em 2 de outubro de 1968. A ideia original de Duchamp foi banalizada à enésima potência na hiper mercantilizada arte contemporânea movimentada por ávidos colecionadores/investidores, os museus abrigam uma profusão de trabalhos inspirados no artista francês. O irônico é que a liberdade contida na antiobra de Duchamp acabou por alimentar um mercado (arte agora também é mercado) voraz. Nem o urinol de Duchamp escapou, a nova versão de “A Fonte”, realizada por Duchamp em 1951, o “original” se perdeu, vale três milhões de euros. Em 2006, um francês de 77 anos foi detido em Paris depois de atacar com um martelo o urinol .Segundo a polícia, o detido alegou que o ataque com o martelo era uma performance artística e que o próprio Duchamp teria apreciado a atitude. Talvez ele tenha razão. “Gosto da palavra crer. Em geral, quando alguém diz eu sei, não sabe, acredita. Creio que a Arte é a única forma de atividade pela qual o homem se manifesta como indivíduo. Só por ela pode superar o estado animal, porque a Arte desemboca em regiões que nem o tempo nem o espaço dominam. Viver é crer — ao menos é isto que eu creio” (Marcel Duchamp). O sagrado e o profano na arte de Stephan Doitschinoff A irrealidade da arte contemporânea Duas revoluções na arte ocidental A arte em risco https://urutaurpg.com.br/siteluis/marcel-duchamp-e-suas-antiobras-de-arte/    

Oswald de Andrade telefona para cinco brasileiros

por Fernando do Valle Oswald de Andrade – O primeiro texto da coluna Telefonema de Oswald de Andrade foi publicado no jornal Correio da Manhã em 1º de fevereiro de 1944 em plena ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. Oswald demonstra desprezo pelo “anão Vargas” em alguns Telefonemas, o apelido vale-se da baixa estatura do mandatário para reforçar as duras críticas ao governo. Em junho do ano da estreia da colaboração do escritor no Correio, Oswald denunciou a proliferação de grupos fascistas organizados pelo integralista Plínio Salgado e seus seguidores em São Paulo e a coluna foi barrada pela censura, só voltando em 1945. Desiludido com o Partido Comunista, onde militou por alguns anos, o escritor exerce o jornalismo de forma bem pessoal e Telefonema funciona como um diário carregado de sátira e por vezes mau humor em sua escrita sempre afiada. Oswald demonstra sua aflição com os destinos políticos do país, sua resistência cultural e ainda escreve alguma ficção até o ano de sua morte em 1954. Separamos cinco trechos da verve oswaldiana: Juscelino Kubitschek No início dos anos 40, o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek desponta com nova liderança política. Em maio de 1944, ele recebeu intelectuais e artistas para a Exposição de Arte Moderna na capital mineira, entre eles, Oswald. “Menino rápido como um azogue, moreno e risonho como um espanhol, que disseram que também era médico…. Apesar do nome, o prefeito de Juscelino Kubitschek é um autêntico brasileiro de Minas. A fama que dele nos chega é de ser oriundo de terras pioneiras. Uns dizem que é de Diamantina, outros de Montes Claros. Seja como for, venha donde vier, esse moço aparece na vida pública brasileira como um desempenado realizador de coisas interessantes e úteis” (1944). Monteiro Lobato Lobato e Oswald de Andrade ficaram amigos na lendária garçonniere da rua Libero Badaró (centro da cidade de SP) em 1917, que reunia estudantes, escritores e advogados na efervescente cena intelectual da época que desembocou na Semana de Arte Moderna de 1922. Certa vez Lobato esqueceu as provas de seu livro de contos Urupês no sofá da sala. Em 6 de julho de 1948, dois dias após a morte do amigo, Oswald escreveu: “A Lobato deve muito o Brasil. Em primeiro lugar o exemplo magnífico e raro do intelectual que não se vende e não se aluga, não se coloca a serviço dos poderosos ou dos sabidos. Antes, seus últimos dias se coloriram de sectarismo esquerdista, purga que talvez julgasse necessária para redimir seus primeiros anos, ligados a certas rodas regaladas e boçais de reacionarismo paulista … Vi Lobato pela última vez na rua. Estava num velho sobretudo. Parecia asmático e profundamente abatido. Levou-me para um café, onde se regalou com uma média… Lobato morreu esquivo como viveu. Na madrugada de um domingo, sem publicidade e sem barulho. Enterrou-se no mesmo dia”.   Nelson Rodrigues “Uma das maiores provas do nosso baixo nível intelectual é a importância que assumiu no teatro destes últimos tempos o sr. Nelson Rodrigues… O caso Nelson Rodrigues demonstra simplesmente os abismos de nossa incultura. Num país medianamente civilizado, a polícia literária impediria que a sua melhor obra passasse de um folhetim de jornalão de 5ª classe. Mas não temos crítica e nem críticos” (1949 e 1952).   Di Cavalcanti O carioca Emiliano Di Cavalcanti mudou-se para São Paulo para estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1916 com apenas 19 anos e no ateliê do professor e pintor alemão George Fischer Elpons conheceu Mário e Oswald de Andrade, que escreveu sobre o pintor em 1951: “Hoje, comemorando o cinquentenário do Correio da Manhã vou fixar um episódio que teve como cenário a Paris daquela época. Foi por ocasião de uma das minhas brigas tremendas com Di Cavalcanti. Já tive diversas. Considero esse enorme brasileiro, talvez o maior pintor de sua época entre nós, mestre de Cândido Portinari”. Manifesto antropofágico de Oswald de Andrade   Cecília Meirelles “Com sua celebridade madura, continua a fazer o mesmo verso arrumadinho, neutro e bem cantado, com fitinhas, ou melhor, com fitilhos e bordados. Sem dizer nada, sem transmitir nada. Mesmo sem sentir nada. À consagrada poetisa devia dirigir-se aquela apóstrofe nietzschiana do grande Ungaretti, feita a um jovem pintor que pretendia conseguir carreira sem arriscar o dedinho do pé esquerdo. — Você precisa de um acontecimento em sua vida, de uma catástrofe! Você quer um conselho? Mate o seu pai! Depois venha fazer arte!” (1952).  Fonte: Telefonema, Oswald de Andrade, Editora Globo. Não se fazem mais intelectuais com a verve de Emílio de Menezes Chamada a cobrar de 50 centavos para Oswald de Andrade

A força do Brasil mestiço no canto de Clara Nunes

Bem-vindo ao Fatos da Zona, programa em que adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, vamos mergulhar na vida e obra de uma das maiores vozes da música brasileira: Clara Nunes. Conhecida como a “Sabiá”, Clara foi uma cantora única, que deixou um legado marcante na cultura brasileira.     por Fernando do Valle Clara Nunes – Como se estivesse sempre pronta para uma boa festa de ano novo na praia em seu vestido branco e descalça que Clara Nunes foi imortalizada no imaginário de seu tempo. Devota dos rituais afro-brasileiros, Clara cantou o samba de raiz que desnudou a alma brasileira e resgatou o vigor da cultura mestiça. Depois de mais de 10 anos dedicados a cantar boleros e canções românticas em uma carreira que não decolava, Clara encontrou seu rumo em sambas com profunda raiz brasileira e a recompensa veio em 1974, com Alvorecer, que a tornou a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil discos. Ela ainda foi além e o disco alcançou 600 mil cópias vendidas se somadas à vendagem nos anos seguintes. Filha de Ogum com Iansã e portelense de coração, a cantora gravou várias músicas de compositores ligados à escola, entre eles, Candeia. Mineira de Paraopeba, Clara não conseguiu ouvir seu pai violeiro, conhecido como Mané Serrador, que morreu quando ela tinha apenas 2 anos. A cantora perdeu também a mãe quatro anos mais tarde e passou a ser criada pela sua irmã Dindinha e seu irmão Zé Chilau. Clara Nunes (Clara Francisca Gonçalves Pinheiro) nasceu em Paraopeba em 12 de agosto de 1942 e morreu no Rio de Janeiro em 2 de abril de 1983 aos 40 anos. Mais jovem de 7 filhos, Clara começou cantando no coral da igreja influenciada por Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira que adorava ouvir pelo rádio. Aos 15 anos, um de seus irmãos matou um rapaz a facadas após uma discussão, o crime levou Clara a se mudar para Belo Horizonte. Na capital mineira, venceu a etapa mineira do concurso A Voz de Ouro ABC em 1960. Clara Nunes cantou em boates e clubes em Belo Horizonte e em 1965 foi para o Rio, onde passou a apresentar-se no programa de José Messias, na TV Continental, e outros programas televisivos. No ano seguinte, 1966, lançou seu primeiro disco, “A voz adorável de Clara”, pela gravadora Odeon. No mesmo ano (1974) que lançou o disco que deu uma guinada em sua carreira, a cantora atuou na segunda montagem do espetáculo Brasileiro, Profissão Esperança, ao lado do ator Paulo Gracindo, que contava, em cenas e músicas, a vida de Dolores Durán e do jornalista e letrista Antonio Maria. Clara gostava de pesquisar ritmos brasileiros, folclore e a tradição afro-brasileira, o que a levou a converter-se à umbanda. Sem dúvida, o casamento com o músico e letrista Paulo César Pinheiro colaborou ainda mais para aguçar seu interesse pelo samba de raiz. Junto com ele, a cantora fundou um teatro com seu nome no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. Clara Nunes gravou algumas composições de Candeia como “O mar serenou” e “Minha gente do morro, saiba mais sobre o sambista.    Ditadura militar e morte prematura O site Documentos Revelados (www.documentosrevelados.com.br), iniciativa louvável de Aluizio Palmar que resgata documentos da chamada comunidade de informações da ditadura militar, divulgou em 2012 o Informe 2755 do Ministério do Exército que elenca Clara Nunes ao lado de Agnaldo Thimóteo, Wilson Simonal, Wanderley Cardoso, Roberto Carlos e outros como “artistas que se uniram à Revolução de 64 no combate à subversão e outros que estão sempre dispostos a uma efetiva colaboração com o governo”. Em matéria no Jornal do Brasil, o próprio Aluízio Palmar ficou surpreso quando teve acesso à informação: “Clara Nunes nunca foi desse meio político. Me surpreendi, mas não dá para dizer que é uma montagem. É claramente um documento oficial”. O jornalista Vagner Fernandes, autor da biografia Clara Nunes – Guerreira da Utopia, lançada em 2007, rebate o relatório do Exército: “Clara Nunes gravou um samba do Chico Buarque, Apesar de você [a música é considerada um hino contra o regime de exceção que vigorou entre 1964 e 1985]. O governo percebeu que o conteúdo da música era “revolucionário” e a EMI/ODEON obrigou-a a gravar o hino das Olimpíadas do Exército. Por causa disso ela foi muito massacrada por alguns jornais. Ela não era muito envolvida com política”. Mesmo pairando dúvidas se Clara colaborou com o governo militar, seria realmente imperdoável que uma cantora que resgatou o samba de raiz e foi uma das mais autênticas cantoras de nossa música popular tenha colaborado com os serviços de informação da ditadura. Apelidada de Sabiá, Clara Nunes morreu em 1983, aos 40 anos, em decorrência de complicações após uma cirurgia para retirada de varizes da perna que foi realizada em 5 de março de 1983. Uma reação alérgica ao anestésico provocou uma parada cardíaca na cantora que ficou na UTI até sua morte em 2 de abril. Clara tinha apenas 40 anos e seu corpo foi velado na quadra da Portela.   A resistência de Gal Costa à ditadura civil-militar O samba de resistência de Candeia

O genial disco “A sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das dez”

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, falamos um pouquinho da história do cantor e compositor capixaba Sérgio Sampaio, ou melhor, o mais maldito dos malditos da MPB.       por Fernando do Valle Kavernista – Em 1971, um quarteto de músicos praticamente anônimos gravou um discaço recheado de humor e transbordante criatividade. A ideia de “A Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta sessão das dez” foi de Raul Seixas, na época produtor da gravadora CBS, que convocou seu conhecido da Bahia, Edy Star, e o capixaba Sérgio Sampaio. Em 1970, Sérgio havia acompanhado o músico Odibar em audição na CBS e ambos tornaram-se parceiros musicais e amigos. Faltava uma mulher para completar o time e a escolhida foi Miriam Batucada, que era a mais conhecida do quarteto por suas participações em programas televisivos com sua habilidade de batucar com as mãos. Mesmo com várias letras censuradas, o disco saiu e foi distribuído para as rádios e jornais, mas depois de 15 dias foi recolhido pela gravadora CBS sem maiores explicações. O mito de que o disco foi recolhido porque foi gravado clandestinamente e sem conhecimento da gravadora já foi desmentido por Edy Star, único kavernista ainda vivo. “Nossos encontros eram normais. Algumas pessoas pensavam, e até hoje pensam, que éramos um tipo de sociedade secreta por causa do nome [risos]. Tem quem ache que éramos maçons. Era tudo sempre divertido. Não tinha machismo. Raul era um hetero casado, Sérgio era um hetero namorador, mas um cara mais do samba. Eu era essa bicha enlouquecida e solta na vida, e a Miriam era a fanchona do grupo [gíria para lésbica]” , Edy Star relembra as gravações do disco em entrevista ao portal UOL no ano passado. Alguns discos lançados na época como Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles, e Freak out! (1966), da banda The Mothers of Invention, liderada por Frank Zappa, inspiraram o experimentalismo do quarteto. Se os gringos faziam a cabeça dos quatro, eles também misturaram música brega, jovem guarda, samba, baião e outros ritmos brasileiros. Raulzito atravessava uma fase de ostracismo e compunha canções para outros artistas, como a cantora Diana e Jerry Adriani. Se a Philips era a casa dos medalhões da MPB, a CBS, onde Raul trabalhava com produtor, lançava discos de “uma linha mais zé povinho, era a fábrica de ilusões”, define Raul no documentário Dossiê Kavernista de Luiz de Magalhães. Sérgio Sampaio não se conformava em conviver com o vulcão criativo Raul Seixas meio adormecido e o incentivava à retomada de sua carreira de cantor e compositor. Ouça “A sociedade de grã-ordem kavernista apresenta sessão das dez” (completo): Leia texto sobre Sérgio Sampaio. No disco, os dois baianos, um capixaba e uma paulista ironizam o nascente showbiz brasuca em seu principal centro, o Rio de Janeiro. Na faixa “Quero ir”, os músicos estão preparados para abandonar o Rio após o “fracasso”: “eu vou pra Bahia ou volto pra Cachoeiro de Itapemirim”, ou seja, Edy Star e Raulzito voltariam ao seu estado natal e o capixaba Sérgio Sampaio a Cachoeiro de Itapemirim, cidade natal de Sérgio e do rei da Jovem Guarda, Roberto Carlos. Os dois baianos do quarteto, Edy e Raul, se conheciam há tempos, ainda adolescentes, os papos giravam em torno de rock e James Dean quando Raul era o presidente do Elvis Rock Club. Mais tarde, ambos se trombavam em suas andanças pelas rádios da capital baiana. Depois do (semi) lançamento do disco, Raul permaneceu por pouco tempo em seu cargo na gravadora CBS e se desligou em 1972. O álbum ganhou diversas reedições ao longo dos anos, sendo a última em 2010 pela Sony Music. No documentário Dossiê Kavernista, Edy Star relembra que um dos diretores da CBS passou um ríspido sermão sobre os possíveis motivos do fracasso do disco, “não fizemos nada, saímos de lá, fomos queimar um fumo e dar risada”.  

Jean-Luc Godard, o pierrô?

por Roberto Acioli de Oliveira “(…) O clichê da arte burguesa no século 19 foi que ela denunciava a burguesia; no final do século 20, equivalente gesto é criar um belo bem   de   consumo que  denuncie  o consumismo” (1)   Burguesia Estúpida se Explodindo Godard – Ferdinand está fugindo de uma existência burguesa estúpida ao lado de sua amante de espírito livre. Marianne o acompanha em sua fuga pelo sul da França, a caminho de uma utopia que eles nunca encontram. No começo do filme vemos Ferdinand lendo para sua filha. A seguir ele está se vestindo para uma festa onde, como ressalta sua esposa, ele deve se comportar apropriadamente para impressionar potenciais empregadores – já que Ferdinand recentemente foi demitido ou se demitiu de seu emprego na televisão. A babá, supostamente a sobrinha de amigos que acompanham Ferdinand e sua esposa à festa, é Marianne. O clima da festa evidencia a esterilidade da existência de Ferdinand, o que precipita sua partida. Ele oferece carona para Marianne, mas na verdade ambos já estão envolvidos. É o ponto de ruptura na vida de Ferdinand e o ponto de partida para o que será um voo permanente em relação à sua vida em Paris, a Família, a Lei, aos inimigos… Terminando apenas com a morte dos dois. Ferdinand não sabe o que quer   ou   para  onde  ir,  ele conseguiu  fugir  de  sua  vida burguesa, mas não consegue preencher o vazio com vida No relacionamento com Ferdinand, que ela prefere chamar (para descontentamento dele) de Pierrô, Marianne parece continuamente aumentar as apostas em termos de suas expectativas em relação a ele. Mas Pierrô nunca parece saber o que realmente deseja e parece impotente para buscar seja o que for. Desde o começo ele estava à deriva até ser arrastado para a esfera de influência de Marianne, uma coisa que aconteceu basicamente por acaso – a realidade simplesmente se apresentou a ele. Com o tempo, as coisas vão mudando de rumo. Ao demonstrar sua frustração pela incapacidade de segurar aquela mulher (e sob o pretexto da infidelidade), Pierrô mata Marianne – liga para a esposa em Paris, mas não consegue nada. Então pinta seu rosto de azul, amarra dinamite na cabeça. Naquilo que poderia ser considerado como seu primeiro e último ato decisivo, ele tenta apagar o pavio. Acaba explodindo numa bola de fogo. As Deusas de François Truffaut Todo o Godard, entre o bandido e o pierrô Segundo a censura da época, um filme que incita  ao  anarquismo moral e intelectual O Demônio das Onze Horas (Pierrot le Fou, 1965) é o resultado da adaptação de Obsession, romance de Lionel White. Em seu lançamento, a censura o interditou para menores de 18 anos devido a seu “anarquismo intelectual e moral”. O título original em francês refere-se ao mesmo tempo a dois personagens. Primeiramente, ao bandido Pierre Loutrel, cujo fim foi tão patético quanto o de Ferdinand. Em segundo lugar Pierrô, o personagem lunar da comedia dell’arte, que aqui representa a inocência violada e o amor traído. Essa dualidade caracteriza (além da forma como Godard se situa em relação a seu caso com a atriz/esposa Anna Karina) um filme onde o desdobramento é um dos motivos principais. Duplo nome do personagem interpretado por Jean-Paul Belmondo (Ferdinand/Pierrô); duplo gênero (a fuga dos amantes criminosos/romantismo tipo Robinson Crusoé); vida dupla (comum/sonhada); dupla linguagem (publicitária/poética); lógica dupla (homem/mulher); dupla cor (azul/vermelho) (2). O Demônio das  Onze  Horas  foi feito durante os “anos Anna Karina” Na opinião do crítico francês Jacques Mandelbaum, O Demônio das Onze Horas recapitula todos os filmes anteriores de Godard, da traição feminina em Acossado (A Bout de Souffle, 1960), até ao isolamento de O Desprezo (Le Mépris, 1963), passando por Uma Mulher é Uma Mulher (Une Femme Est Une Femme, 1961), Viver a Vida (Vivre sa Vie, 1962), Alphaville (1965), assim como prefigura aqueles que ainda estão por vir – como Masculino-Feminino (Masculin Féminin: 15 Faits Précis, 1966), A Chinesa (La Chinoise, 1967), etc. A periodização do filme (o abandono da criança, a ruptura com a sociedade, o isolamento na ilha, a seguir o retorno ao palco para celebrar o sol negro da melancolia e a estrela morta do cinema) parece oferecer a esse respeito uma visão fulgurante das modalidades ao mesmo tempo existenciais e estéticas que em breve Godard irá empregar. O período de O Demônio também é referido como os “anos Anna Karina”, por conta da presença da atriz/esposa dinamarquesa. Uma relação que irá estruturar a obra de Godard de 1960 a 1967, fase também de maior êxito comercial do cineasta (3). Bandidos e burgueses O Demônio  das Onze Horas e Acossado se complementam O cineasta norte-americano Samuel Fuller, mestre dos filmes de baixo orçamento, aparece na festa surpresa de Monsieur e Madame Espresso. Nesta cena ficamos sabendo por que Ferdinand resolve abandonar sua família e ir para a estrada com uma mulher com quem tivera um caso no passado. A presença do cineasta aqui não está articulada a nenhuma função narrativa, ele serve apenas para contrastar as pessoas na festa. Enquanto Fuller se refere ao cinema como “um campo de batalha”, repetem slogans comerciais ao seu lado. Segundo Willians, a oposição nesta cena se dá entre o cinema de Fuller (cineasta um tanto individualista e marginal) e a sociedade de consumo (4). Marianne chama seu amante de Pierrô, ao que ele sempre retruca, “meu nome é Ferdinand”. Quem sabe ela insiste nisso porque Ferdinand é o nome de um touro selvagem covarde da literatura infantil. Noutra oportunidade ela comenta sobre um autor quase homônimo, Louis-Ferdinand Céline. Entretanto este foi um modernista de direita notório, cuja política era similar (embora mais extrema do que) a Sam Fuller e que contava estórias de outsiders solitários fazendo uma “jornada para o final da noite”. No caso de Marianne, ela aparece justaposta com Retrato de Uma Garotinha, de Auguste Renoir – Marianne… Renoir”. A outra referência é a Marianne, o mítico espírito da Liberdade durante a Revolução Francesa. Nesse último caso, seu nome

O efeito do patriarcado sobre o feminino – para entender a “Revolta das Mina”

por Luca Valente Revolta das minas – Através de todas as tragédias e confrontos que infelizmente atingem nosso cotidiano, o ser humano vislumbra um caminho de cura e união. Para a busca da melhor percepção do nosso tempo, é bacana entendermos a consequência do patriarcado sobre a psique feminina e seu espírito e como, ao longo da história, o feminino foi oprimido pela voz, crenças e práticas do patriarcado. FEMININO = MULHER = YIN PATRIARCADO = MASCULINO = YANG A mulher/feminino tem sido despojada de seu valor e importância no equilíbrio da vida, sua voz e valor foram negadas e censuradas. ELA foi ridicularizada e zombada por sua sabedoria feminina, visão intuitiva e crenças. Sua inteligência ou direito de pensamento tem sido, por todos, questionada. A expressão de seu mundo emocional tem sido usada para seu descrédito. À mulher é negada a dignidade da expressão legítima, autêntica e natural de sua feminilidade, é tolhida sua própria integridade feminina e soberania sobre seu ser feminino. O feminino, na história da humanidade, que aprendemos na escola, FOI e ainda é humilhado e menosprezado, sendo deixado à própria sorte, nos restando a súplica pelo valor do feminino e nossa luta pela igualdade de tratamento. A mulher e o feminino foram sistematicamente torturados, estuprados, abusados, objetificados, brutalizados, sexualizados, descartados, diminuídos e prejudicados. A mulher foi queimada na fogueira, afogada como uma bruxa, e torturada em sua consciência. Desta forma a mulher, existência após existência, geração após geração, renunciou a sua INTUIÇÃO, VOZ e VISÃO feminina. Com isso, tornou-se vacilante e aterrorizada, abriu mão de sua força em aquiescência, conformidade, silêncio e submissão. O Retorno do Sagrado Feminino Durante vidas e mais vidas através dessa experiência coletiva, na psique das mulheres em todo o mundo, o patriarcado fez com que a existência perdesse seu equilíbrio e com isso, toda a harmonia na terra foi abalada, causando consequências desastrosas à vida. E o feminino, pela negação implacável de seu valor inerente e valor pessoal, passou a viver em profundo conflito, confusão e alienação com seu próprio Ser: seu coração, sua voz, sua sexualidade, seu corpo, sua expressão, seu valor e sua confiança dentro de si mesma. Ser mulher tornou-se maldição. E, vivendo dentro de um sistema desequilibrado e em conflito consigo mesmo, as mulheres passaram a viver também em conflito umas com as outras. E assim, a verdadeira energia do Sagrado Feminino e essência – majestade, soberania, esplendor, mistério e sabedoria – tornou-se encoberta e reprimida, perdendo-se na escuridão, raiva, rancor, vergonha e tristeza. Com isso TODOS perdem. O Yin se perde no Yang e o Yang obscurece o Yin. A gravidade do dano causado à Energia do Feminino pelo patriarcado, por anos e anos de sofrimento, causaram feridas profundas no DNA da própria humanidade. Assim, por causa do ferimento sofrido por toda a vida por mulheres, os homens, a Mãe Terra – Gaia, Sophia e todas as criaturas da vida – como um resultado da supressão da expressão do Sagrado Feminino – pagam um alto preço. Agora essa ferida é sofrida, universalmente, por todos que têm vida. E assim, para curá-la, é preciso buscar a reparar os fragmentos rasgados da consciência divina e sagrada do Feminino que existe dentro de todas as mulheres e homens e toda a Vida, aí incluso o masculino, claro. Devemos procurar recuperar o que foi descartado, censurado, abusado e negado porque o que foi negado é tão precioso e valioso para o equilíbrio de toda a vida na terra. Mulheres e homens são pessoas e pessoas são só pessoas, iguais. Vamos dar uma chance ao feminino. Vamos prestar atenção NAS MINA, PÔRRA!!! Viva Pagu

Exposição do iconoclasta León Ferrari no MASP

por Fernando do Valle Considerado um dos maiores artistas plásticos argentinos, León Ferrari foi um severo crítico do cristianismo e da ditadura (1976-1983) em seu país, que assassinou um de seus filhos. O curioso é que para fugir de uma ditadura, Ferrari escolheu outro país que amargava sina semelhante, Ferrari viveu por aqui entre 1976 e 1991. Quando retornou ao seu país, doou parte de sua produção a museus brasileiros e são 80 obras dessa doação que o MASP exibe até o dia 21 de fevereiro com o título de “Entre ditaduras”. A mostra reúne trabalhos, entre outros assuntos, que questionam como o Estado controla o cidadão, o que ocorria na América Latina dos anos 70, repleta de regimes autoritários. Sua obra mais conhecida, “A civilização ocidental e cristã” enfureceu o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, que se tornaria papa em 2013. Bergoglio chegou a pedir orações e jejum aos católicos contra a exposição de Ferrari em Buenos Aires em 2004. O artista resolveu encerrar a exposição com medo de algum atentado após algumas ameaças de bomba. O artista plástico León Ferrari nasceu em 3 de setembro de 1920 e morreu aos 92 anos em 25 de julho de 2013 também na capital argentina. Veja outras obras do artista (fonte: site oficial do artista): SERVIÇO:  A exposição vai até 21 de fevereiro de 2016. Local: 1º subsolo do MASP (Museu de Arte de São Paulo) Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP. Horário: terça a domingo das 10h às 18h e quinta das 10h às 20h. Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP. Ingressos: R$25 (entrada); R$12 (meia-entrada). Murilo Ribeiro – um contador de histórias  

Taiguara livre e senhor de si

por Fernando do Valle Uruguaio de nascimento, Taiguara Chalar da Silva, o Taiguara, foi um dos mais combativos cantores brasileiros. Em tupi, Taiguara significa “livre, senhor de si”, portanto, seu pai Ubirajara, bandeonista e sua mãe, a cantora Olga acertaram na escolha do nome do filho. Duramente perseguido pela censura da ditadura militar, o músico teve 68 de suas músicas censuradas. Se estivesse vivo, Taiguara completaria hoje 70 anos. Ele nasceu em 9 de outubro de 1945 e morreu em 14 de fevereiro de 1996. Com 4 anos, o cantor muda-se para o Rio com os pais e com apenas 8 anos já se arrisca ao piano, presente de seu avô. Com 15 anos, veio para São Paulo e em pouco tempo começa a tocar em bares da capital paulista, onde se apresenta com a cantora Claudete Soares, que o ajuda no início da carreira. No final dos anos 60, Taiguara fica conhecido do grande público nos festivais. Em 1976, ele lança o mítico disco “Imyra, Tayra, Ipy” com músicos do naipe de Hermeto Pascoal, Wagner Tiso, Toninho Horta, entre outros. Muito perseguido pela censura, cantor credita as letras do disco a sua mulher, Ge Chalar, e consegue lançar o disco. A estratégia durou 72 horas, tempo que a tiragem do disco durou nas lojas antes de ser recolhida. “Trago em meu corpo as marcas de meu tempo/Meu desespero, a vida num momento” e “Eu não queria a juventude assim perdida/Eu não queria andar morrendo pela vida” (trechos da música Hoje de Taiguara). No exílio, Taiguara morou na Espanha, na França e na Tanzânia, onde estudou jornalismo e chegou a escrever um livro que nunca foi publicado. Apesar disso, alguns lançamentos recentes mantêm viva a memória dele. O filho do cantor, Lenine Guarani, gravou um disco com músicas do pai, a jornalista Janes Rocha escreveu o livro-reportagem “Os Outubros de Taiguara” e a gravadora Karup lançou o CD póstumo “Ele Vive” com canções inéditas recuperadas. “Hoje”: “Público”: “Gente Humilde”:   “Que as crianças cantem livres”: Gênio da raça foi o violonista Garoto “Universo no teu corpo”: https://urutaurpg.com.br/siteluis/sem-pensar-no-amanha-mostra-alceu-valenca-em-estado-puro/