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Lúcio, um cadeirante
Desliza por entre as corcovas da rua; desempregado, em desalento, fedendo muito e andrajoso: Lúcio, cuja única condição de quase toda vida é ser cadeirante. Não é possível lhe decifrar pelo rosto a idade, ele não possuí planos de saúde para o futuro próximo, nunca fez exercícios matinais, dietas ou hatha yoga para tornar saudável o corpo. Sem celular e sem relógio. Nunca
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Réquiem para Diego
Ontem foi um dia que chorei um bocado. Cada vez que entrava na internet e via algum escrito sobre Diego Maradona, era uma sensação de perda profunda e dolorida. O Maradona era um cara especial. Um tipo que ficou famoso e poderia ter simplesmente vivido sua fama, sua grana, tornando-se um babaca como tantos que conhecemos. Não é fácil sair da pobreza, conquistar
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E depois da pandemia?
Como será o “dia seguinte” dessa pandemia? O que mudará em nossos países e em nossas vidas? Ainda é cedo para previsões. Alguns sinais, porém, já indicam que, ao contrário do que diz a canção, não viveremos como os nossos pais. Por que a China conseguiu deter a epidemia em tempo relativamente curto, se considerarmos que, numa população que ultrapassa 1 bilhão de
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Andersen para estas horas do Brasil
Certa vez, o Barão de Itararé publicou este pensamento genial: “Houve um tempo em que os animais falavam. Hoje, no Brasil, eles até escrevem” Notem o quanto o Barão era profético. Pois na presidência do Brasil, no começo do ano um asno, ou no começo do asno um ano escreveu: “Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governos anteriores? Carregados
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Agoricidade
A pós-modernidade, com suas novas tecnologias, contrai o tempo histórico e esgarça os espaços sociais, agora atomizados em tribos e grupos. Ao destronar as grandes narrativas, a globocolonização nos comprime na agoricidade – a plenitude do agora. O antes e o depois já não importam. Desde a queda do Muro de Berlim, o sistema nos colocou viseiras que não nos deixam alternativa senão
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O conto infantil segundo Bolsonaro
Neste começo de 2020, o breve tuitou: “Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governos anteriores? Carregados de ideologias, ofendiam as famílias, atentavam contra a inocência das crianças. Isso mudou. Estamos ensinando o correto, aquilo que os pais sempre desejaram para seus filhos” (Jair M. Bolsonaro) Contam que depois desse tuíte, Jair M. continuou neste primor de interpretação literária: Olhem
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Somos todos pós-verdade?
A resposta é sim, se comungamos essa angústia, esse sentimento de frustração frente aos sonhos idílicos da modernidade. Quem diria que a revolução russa terminaria em gulags; a chinesa, em capitalismo de Estado; e tantos partidos de esquerda assumiriam o poder como o violinista que pega o instrumento com a esquerda e toca com a direita? Quem diria que a especulação superaria a
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O presidente invisível
No romance “O homem invisível”, H. G. Wells conta a história de um cientista que se tornou invisível a ponto de roubar e ninguém saber, de ferir, de matar e ninguém descobrir o criminoso, pois que era invisível. Assim começa o livro de H. G. Wells em livre tradução: “O desconhecido chegou em um dia de tempestade, debaixo de um vento cortante, no
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Glenn Greenwald, o norte-americano brasileiríssimo
Na homenagem ao jornalista Glenn Greenwald e equipe do The Intercept Brasil realizada na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), tive o prazer de conversar com ele e fazer o seguinte comentário, que, aliás, agradeceu imensamente. Falei que governo norte-americano sempre mandou para o Brasil os maiores canalhas e golpistas que fizeram as maiores sabotagens contra o povo brasileiro nos últimos 70 anos. Afirmei
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A verdade assassinada
Verdade assassinada – Sempre foi difícil para as pessoas saber onde se esconde a verdade. Durante muito tempo ela aparecia como revelada por deus. Desde um livro, escrito por sacerdotes de uma igreja, deus falava e estava dito. Poucos eram os que questionavam. E assim, os homens do poder, usando deus como escudo, iam definindo a verdade em seu benefício. Depois, com o
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O bolsominion
De imediato, pensamos nele como um idiota ou imbecil. Mas isso é muito leve. Não se deve criminalizar um idiota, coitado, que chegou a esse estado em caminhos naturais, digo, por infelicidade da natureza. Nem tampouco ele pode ser visto como um imbecil, que se tornou ou se fez assim muito contra a vontade Bolsominion – Jamais alguém gostou de ser tido como
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A terra é plana!
Homem de fé que sou, e ainda mais mineiro, sempre desconfiei dessa ciência influenciada pelo marxismo. Se a Terra fosse redonda e girasse em torno do próprio eixo, no mínimo deveríamos sentir tonturas. Esse preconceito contra o geocentrismo de Ptolomeu decorre dos malévolos conceitos paulofreirianos assumidos por Copérnico e Galileu. Eles adotaram o princípio marxista de que o lugar social determina o lugar
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A tradição autoritária brasileira
Tradição autoritária – A geração que viveu depois de encerrada a ditadura civil/militar, a partir de 1984, aparentemente sempre teve a ilusão de que vivia em um país democrático, capaz de caminhar seguro para um tempo de direitos e justiça. Nada mais falso. O Brasil, historicamente, esteve bem mais próximo do autoritarismo do que da liberdade e os tempos ditos “democráticos” também foram
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Jornalismo e mentiras
por Elaine Tavares A mídia brasileira foi pega de surpresa pelo presidente eleito nas últimas eleições quando este não quis saber de entrevistas nem de jornalistas para falar com seu eleitorado logo depois da vitória. Transmitiu suas palavras direto de casa, pelo celular, na sua rede social, sem mediações. Depois, nos dias que se seguiram chutou o pau da barraca de uma série
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O capitalismo, a banalização e o Netflix
por Elaine Tavares Foi na televisão que comecei minha vida profissional. Era 1982 e eu era repórter da TV Caxias, em Caxias do Sul. Antes disso não era muito ligada em TV. Mas, depois que fui descobrindo suas entranhas, me apaixonei. Sou fascinada por tudo o que se produz na telinha. Espectadora voraz. Desde as primeiras matérias que produzi já percebi o poder
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A luta necessária dos trabalhadores hoje
por Elaine Tavares Tarde de quinta-feira. O posto da Caixa Econômica Federal, um dos bancos públicos brasileiros, está lotado. São quase 100 pessoas sentadas nos bancos azuis, com olhar perdido no vazio, esperando. Antes de entrar, precisam passar pelo constrangimento de esvaziar suas bolsas ou colocá-las num escaninho que, mesmo na agência central, parece coisa do século passado. Leva-se pelos menos uns 10
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Violência na TV
por Albenísio Fonseca O “il mondo cane” das metrópoles pode servir ao sensacionalismo barato e perverso que motiva uma audiência. Mas há um limite de tolerância à falta de ética e respeito a princípios consagrados à pessoa e ao exercício da profissão, que recusam como jornalismo a abordagem na forma de interrogatório torturante, utilizado por supostos repórteres, nos programas de tevês sobre a
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A era das incertezas
por Frei Betto Vivemos na era de incertezas. Há mais perguntas que respostas. Mais dúvidas do que certezas. Navegamos à deriva na terceira margem do rio. Abandonamos a primeira, a modernidade com sólidos paradigmas filosóficos e religiosos, e ainda não sabemos como se configurará a segunda, a pós-modernidade. Estão em crise as grandes instituições pilares da modernidade: o Estado, a Família, a Escola
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Karl Marx e a Liberdade de Imprensa
por Urariano Mota O jornal O Globo, entre outros, destacou: “Há 25 anos, a Assembleia Geral da ONU proclamou 3 de maio como Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em uma ação para conscientizar o mundo para a luta a favor do simples direito de informar — sistematicamente violado mundo afora, seja através de violência, intimidação, censura ou desinformação deliberada. Muito mudou desde
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O jornalismo é uma forma de ativismo?
por Carlos Castilho Os manuais de redação respondem a pergunta com um rotundo e enfático não. Mas a realidade e o quotidiano dos jornalistas mostram o contrário. Há um ativismo jornalístico na defesa da democracia, da não violência, da igualdade de gênero e na condenação à discriminação racial, religiosa e cultural. Então porque o discurso oficial das empresas jornalísticas e dos manuais que