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Política análise

Análises de nossos colaboradores sobre a conjuntura política.

Terras indígenas são estratégicas contra mudanças climáticas, defende deputada Joenia Wapichana

#marcotemporalnão – A deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), única representante indígena no Congresso, disse em entrevista à RFI, que a defesa da demarcação de terras indígenas contra o “marco temporal” é positiva para todo o Brasil. O Supremo Tribunal Federal retomou nesta quarta-feira (1) o julgamento sobre a aplicação da tese do marco temporal a uma reserva de Santa Catarina. A decisão pode definir o rumo de centenas de áreas em litígio no Brasil.   “As terras indígenas são uma estratégia de conservação e enfrentamento às mudanças climáticas. Então é de interesse do Brasil que haja esta proteção, não somente dos povos indígenas, mas principalmente das terras”, afirma a deputada, em um momento em que o desmatamento e as queimadas aumentam, principalmente na Amazônia. Ela lamenta a flexibilização das regras de proteção ambiental no Congresso, que desconsidera a realidade da crise climática e que “cada vez mais tem atendido o interesse de apenas uma parte da sociedade que não é o interesse do povo brasileiro. O interesse, inclusive, de reeleição do próprio presidente”, diz. Direito originário e marco temporal A demarcação de terras indígenas é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados, por lei, os primeiros donos naturais do território, sendo obrigação da União demarcar as terras ocupadas originariamente por esses povos. A tese do marco temporal, que define que indígenas só podem reivindicar terras que já ocupavam antes da Constituição de 1988, “vai na contra mão do direito da demarcação das terras indígenas, conforme os critérios constitucionais”, insiste a deputada. Ela lembra que no Parlamento, onde a bancada ruralista é forte, existe uma grande pressão para passar esta tese dentro do Projeto de Lei 490. Proposto pelo então deputado federal Homero Pereira em 2007, o PL foi rejeitado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara por considerá-lo uma tentativa de acabar com as demarcações de terra. No entanto, o PL foi desengavetado durante o governo Bolsonaro e aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em junho e agora segue para votação no plenário. Wapichana diz que, devido aos interesses econômicos e pressões políticas em torno da questão, espera que a orientação sobre a constitucionalidade venha do Supremo. “O Supremo é nossa parte técnica, que tem essa capacidade, que tem essa competência de ver a constitucionalidade, mais do que interesses políticos individuais como a bancada ruralista. O lado que defende o PL 490, tem defendido sem qualquer argumento técnico, sem qualquer argumento plausível”, diz a deputada. “Infelizmente hoje é a maioria dentro do Congresso Nacional que vem fazendo uma aprovação de uma forma rápida, de uma forma que não considera a realidade e o que a nossa Constituição e a jurisprudência têm anotado”, diz. De acordo com ela, a decisão por parte do Supremo é importante, para colocar de maneira clara que qualquer mudança nas regras de demarcação deve seguir critérios constitucionais. Participação e legitimidade Ela lamenta que em nenhum momento da história do Brasil ou do Congresso os povos indígenas foram consultados sobre as regras de demarcação. “Teve sim luta pelo direito. Eu diria que tudo de positivo da Constituição que teve em 1988, foi por base de mobilização social ou mobilização dos povos indígenas que conquistaram alguns artigos”. Durante o debate sobre o PL 490, Wapichana sofreu hostilidades de outros parlamentares. “Colocaram minha legitimidade em questão. Porque eles não têm argumentos técnicos, então preferem atacar as pessoas” diz. “A presidenta da CCJ, me cortou diversas vezes”, se referindo à deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), que a impediu de apresentar seus argumentos. “Me atacaram, atacaram os povos indígenas, tiveram muitos posicionamentos racistas”, diz Wapichana. “Isso segue muito a fala do presidente da República, que não tem o mínimo de decoro, o mínimo de comportamento republicano”, critica. *Publicado originalmente em ‘RFI‘ e republicado em Carta Maior  O histórico Ministério dos Povos Originários Professor indígena é assassinado em Penha, Santa Catarina Câmara aprova urgência para projeto de destruição das terras indígenas    

O impeachment morreu abraçado pela “terceira via”

Terceira via – As pesquisas frustram a esperança de um nome da centro-direita chegar ao segundo turno presidencial tendo Lula e Bolsonaro na disputa. As várias chapas daquele campo dividiriam no máximo 30% dos eleitores. Com os índices atuais, nem a improvável união de seus pré-candidatos passaria à etapa decisiva, sequer somando os indecisos. Por definição, para uma via ser “terceira”, é preciso haver outras duas. A lógica mostra que a alternativa intermediária só faz sentido numa conjuntura que a esvazia. Não obstante, seus ideólogos criaram uma saída retórica para o impasse. Bastaria excluir Bolsonaro, ocupar o seu flanco na polarização e chamá-lo de “meio-termo”. Ocorre que o impeachment deixou de fornecer esse atalho fácil. O substituto do fascista pode até imitá-lo, mas nunca herdaria todo o seu eleitorado. Pelo contrário. Amplos setores do bolsonarismo desistiriam de votar, ou anulariam o voto, em gesto de repúdio à política tradicional. Eles não perdoariam os carrascos do ídolo motoqueiro. Como as adesões a Lula já beiram a metade dos votos válidos, a diminuição desse total dificultaria o desfecho da campanha no primeiro turno. Cada eleitor de Bolsonaro perdido exigiria que a centro-direita conquistasse um lulista ou alguém predisposto a descartá-la. Parece uma dinâmica insustentável na proporção necessária. Há também a percepção do impeachment como bandeira da esquerda, imagem facilitada pelos protestos, que resistiram à neutralidade patriótica dos conciliadores. De fato, corretamente ou não, o sucesso da proposta ficou associado a um triunfo simbólico de Lula. Cabe lembrar que ele atrai cerca de dois terços da maioria que rejeita Bolsonaro. O dilema da centro-direita vai além do retorno do PT ao governo federal. Envolve ainda os candidatos de sua coligação a governos estaduais e cargos legislativos, que seriam beneficiados por uma votação expressiva de Lula ou teriam um presidente eleito como reforço no segundo turno. O conservadorismo receia uma “onda vermelha” nacional. Nesse panorama, o bloqueio do impeachment serve aos objetivos políticos dos setores capazes de efetivá-lo. Todos, inclusive os poderosos defensores judiciais, midiáticos e financeiros da “terceira via”. Ou acreditamos que os artífices dos golpes recentes não saberiam derrubar alguém como Bolsonaro, em plena catástrofe humanitária? A praxe fisiológica adapta-se às circunstâncias, raramente as determina. Bolsonaro permanece no cargo não porque cedeu gabinetes, e sim porque as pesquisas o apontam como única barreira contra um tsunami lulista. E será absolvido no plenário, com fanfarra, caso sua fragilidade chegue a ameaçar a ocorrência do segundo turno. Se o golpismo institucional preserva o fascista, num ambiente de polarização de ambos com o PT, a finalidade é óbvia: Bolsonaro em campanha, inflamando o antipetismo, aglutinando o voto conservador e freando o avanço de Lula. Assim que o genocida cumprir a tarefa, planejam finalmente sacrificá-lo, como fizeram com Eduardo Cunha. Curiosamente, Bolsonaro dá pistas de preferir uma deposição que o martirize. Força tanto a barra, que seus inimigos são obrigados a reagir, mas com uma delicadeza que torna ainda mais absurdo o fim do impeachment. Mesmo incapazes de ressuscitá-lo, as ruas poderão testar os limites do espírito democrático dos órfãos da “terceira via”. Publicado originalmente no Blog do Guilherme Scalzilli.

Povos originários: segue a batalha contra o marco temporal

#MarcoTemporalNão – Mais de seis mil indígenas sentados em frente ao telão em Brasília esperavam por um fechamento da questão do marco temporal, a proposta esdrúxula de definir o ano de 1988 como ano “um” da ocupação indígena. Isso significa que, aprovada essa ideia, só poderão ser demarcadas as terras que os povos originários estivessem ocupando nesse ano específico. Ora, não precisa ser muito inteligente para saber que o Brasil inteiro é território indígena. Eles aqui estavam quando Cabral chegou e aqui seguem resistindo depois de mais de 500 anos de massacres e tentativas de extermínio. Muitas etnias, ao longo dos séculos, precisaram mover-se no território, justamente para escapar da morte. Então, não faz qualquer sentido definir uma data do século XX para estabelecer direitos. Na verdade, o sentido que parece não existir, existe, e é poderoso: simplesmente o desejo de ampliar a fronteira do agronegócio e da mineração num país que virou exportador de matérias primas. As terras indígenas, que perfazem 12% do território, interessam por sua riqueza, biodiversidade e fertilidade. Por isso, a turma produtora de “commodities” quer botar a mão nelas. Para essa gente, os povos originários são um atrapalho e precisam ser incorporados ao “mercado de trabalho”, indo disputar espaço nas cidades. Para eles, pouco importam as pesquisas que comprovam serem as terras indígenas as mais preservadas do país, assim como não importa saber de sua cultura ou modo de vida que não encontram equivalência no modo capitalista de produção. O trabalho e a vida numa comunidade originária não existem para auferir lucro ou para exploração. Faz parte da cosmovivência de cada etnia. É outra forma de viver e agir no mundo. “Ah, mas tem indígenas que vendem madeira. Tem indígenas que plantam em escala”… Sim, tem. Mas é uma parcela ínfima que, muitas vezes sem saída, acaba se incorporando ao modo de produção capitalista. Afinal, as tentações são muitas, assim como a fome e o perverso tutelo. Ainda assim, isso não se aplica à maioria. O governo Bolsonaro, por exemplo, é pródigo em dar visibilidade a uma determinada comunidade que lucra com a agricultura. Caso absolutamente isolado. A regra geral são comunidades que se organizam conforme seu costume ancestral e, mesmo que incorporadas ao mundo, conseguem seguir suas tradições de cultivo, arte, harmonia e modo de organizar a vida. E é essa maioria que resiste na sua terra original, ou luta para ver demarcado seu território. A tese do marco temporal, se aprovada, pode reverter demarcações já definidas e inviabilizar outras tantas que estão em andamento, impedindo que as etnias possam pleitear viver no seu espaço tradicional. A demonstração de organização dos povos originários nesses dias de luta em Brasília tem sido extraordinária. Um acampamento de mais de seis mil pessoas no imenso vazio urbano, que são as esplanadas da capital, é uma imagem para ficar na memória por décadas. São mais de 170 etnias, com suas cores, seus cantos, suas danças, suas cerimônias tradicionais, incansáveis, imparáveis. Elas estão nessa batalha desde o primeiro dia de governo Bolsonaro, já que foram os primeiros a serem atacados com a destruição da Funai e com uma série de ataques contra sua forma de vida. Por isso, desde janeiro de 2019 vêm travando incontáveis peleias, expressas em marchas, acampamentos e atos públicos. Agora, nessa semana de espera pelo resultado do julgamento da ação relativa à comunidade Xokleng, da Terra Indígena Ibirama-LaKlãnõ (SC), que foi proposta pelo governo de Santa Catarina, as comunidades se organizaram e foram à capital protestar e esperar pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Estão lá há dias, cozinhados por um julgamento que se faz aos pedaços. Um voto é dado num dia, outro, meses depois, tudo muito bem articulado para cansar e desanimar. E tudo isso em meio a um turbilhão de notícias que aludem a um possível golpe das polícias militares contra o STF, cujos ministros são acusados pelos apoiadores do governo de “ditadores, terroristas e petistas”. São dias de muita pressão, com a mídia de massa ignorando o acampamento indígena e dando destaque para os anúncios da quartelada que, segundo prega o presidente, trará a “liberdade” de volta. No que diz respeito ao marco temporal, o presidente Bolsonaro tem se manifestado veementemente dizendo que se o STF for contra, estará causando o “maior caos” no país. O tabuleiro da política está se mexendo, muitas vezes sem que saibamos realmente o que está causando o movimento das peças ou os acordos que se fazem nos bastidores. O STF jogou para os próximos dias a continuidade do julgamento, causando ainda mais descontentamento, tanto para as comunidades que querem ver o caso resolvido, como para o governo, que também quer se livrar da multidão indígena em Brasília antes do dia sete de setembro, quando está marcado o dia do ataque ao STF. É assim que uma decisão sobre o marco temporal, às portas do dia da “independência”, pode colocar lenha na caldeira, tanto para um lado, como para outro. No que diz respeito aos povos originários, a luta continua, o acampamento continua, a batalha pela vida continua. Como eles mesmos dizem, os governos passam, e eles têm sobrevivido século após século. Não será mais um adiamento que vai desanimar. Eles voltam a cantar, dançar e afiar as flechas. Pelos direitos dos povos originários Mulheres indígenas lutam pelo futuro em Brasília Terras indígenas são estratégicas contra mudanças climáticas, defende deputada Joenia Wapichana Ministério da Agricultura regulará demarcação de terras indígenas Povos indígenas reagem aos ataques do novo governo Povos indígenas em luta contra as mudanças na Constituição  

A tomada do poder pelo Talebã no Afeganistão

Com colaboração de Carolina Raciunas Prado Na LIVE POLÍTICA SEMANAL ZONACURVA do dia 19 de agosto (quinta-feira), o advogado, consultor do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da América Latina, ex-IDF (Israel Defense Forces) e ex-observador em zonas de conflitos no Oriente Médio e África pela ONU, Kiko Campos, conversou sobre as questões políticas, culturais e sociais que influenciaram a recente tomada de poder do Talebã no Afeganistão com Fernando do Valle (editor do Zonacurva) e Luís Lopes (editor do Vishows). Kiko lamentou a destruição em curso e relembrou a beleza da capital do país que visitou, pela última vez, em 2005, além de ter relembrado a sensação de perigo iminente no solo asiático. Nas últimas semanas, as imagens vindas do país têm chocado o mundo por revelar o desespero de afegãos e americanos tentando sair às pressas de suas casas. Segundo Campos, dois pontos principais demonstram como os Estados Unidos e seus aliados na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) contribuíram para o drama de milhões de afegãos. “A indústria americana de armamento bélico é muito forte, então eles acreditam que podem fazer esse policiamento ao redor do mundo. O segundo problema são as normativas da OTAN, porque os EUA fazem o que a Organização permite, e, com isso, muitos países acabam se envolvendo nesse conflito também, em colaboração com os Estados Unidos ”. A LIVE SEMANAL também colocou em debate o sectarismo religioso, que agrava ainda mais os confrontos internos no país asiático. “Se os afegãos entenderem que o mundo vive um processo de transformação, que está muito mais liberal, eles vão crescer, vão achar o caminho deles. Mas se eles mantiverem essa postura de violência, aí não tem jeito, será uma eterna guerra”, afirmou Campos.  O posicionamento do grupo radical islâmico sobre as mulheres é opressor. Quando tomaram o poder do Afeganistão na década de 90, o Talebã as proibiu de estudar, trabalhar e sair de casa livremente. Nos primeiros dias após a tomada de Cabul, as autoridades do grupo anunciaram que os direitos das mulheres estavam assegurados, o que causou incredulidade por grande parte da opinião pública mundial.  Kiko Campos explicou ainda que o uso da internet para compartilhar o que está acontecendo no país pode moderar o discurso extremista talebã, o que traz algum alento para o sofrido povo daquele país, em particular na luta das mulheres por direitos básicos. Algumas corajosas afegãs tomaram as ruas de Cabul em protesto nos últimos dias. “As mulheres vão ter um papel preponderante e decisivo no futuro do Afeganistão”, completou Campos. Joe Biden afirmou anteontem que pretende cumprir o acordo de retirada dos americanos do país asiático até 31 de agosto.   LEIA MAIS SOBRE O AFEGANISTÃO NO TEXTO ZONACURVA DA JORNALISTA ELAINE TAVARES.

Fome, outra pandemia

Fome no Brasil – Como frisa o jornalista Luís Nassif, a história ainda haverá de fazer justiça a Paulo Guedes e entronizá-lo como o pior ministro da Economia da história. Ao não impedir a dolarização dos preços de commodities – especialmente, alimentos e combustíveis – isso impactou os preços ao produtor e o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que serve de parâmetro para fixar a taxa básica de juros. Ao não atuar sobre o mercado de câmbio, impor taxas de exportação e não obrigar a Petrobras a usar como referencial de preços os custos de prospecção, o preço dos alimentos sobe vertiginosamente e a fome volta aos lares dos mais pobres. Em Cuiabá, a TV mostrou filas para comprar arroz e feijão, quebrados, ingredientes que costumam ser destinados à ração animal, além de filas em um açougue que doava ossos de boi. Algumas pessoas avançavam sobre a oferta e, ali mesmo, levavam à boca muxibas de carne crua. Detalhe: Mato Grosso tem o maior rebanho bovino brasileiro, com 31,7 milhões de cabeças. “Até o ano passado , vinham em busca da doação cerca de 30 a 40 pessoas. Atualmente, às vezes há mais de 200 na porta. O fato é que o número aumentou dessa forma devido à fome. Nós doamos alguns ossinhos, o que não é muita coisa, mas fazem muita diferença no dia-a-dia deles”, disse o açougueiro. O governo Bolsonaro aboliu as políticas públicas de segurança alimentar, desarticulou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Ao genocídio da pandemia soma-se o do prato vazio. Embora aumentem a inflação, os preços dos itens da cesta básica e, portanto, a fome, o governo só dá atenção ao agronegócio, cujas exportações batem recordes em plena pandemia. De janeiro a abril deste ano, a exportação de soja passou de 33 milhões de toneladas, superando o índice recorde de 31,9 milhões de toneladas registrado no mesmo período de 2020. A exportação de milho teve alta de 1.854% em abril de 2021. O arroz também atingiu os melhores índices de exportação nos últimos dez anos. As empresas do agronegócio faturam bastante nesse período de pandemia. A JBS, dona da Friboi e uma das maiores processadoras de proteína animal do mundo, encerrou o último trimestre de 2020 com lucro líquido de R$ 4 bilhões, o que representa crescimento de 65% em relação ao mesmo período de 2019. A BRF, controladora das marcas Sadia e Perdigão, anunciou lucro líquido anual de R$ 1,4 bilhão, o que significa uma elevação de 14,6% em relação ao ano de 2019. A estadunidense Bunge, com várias operações no território brasileiro, anunciou lucro líquido de 551 milhões de dólares no quarto trimestre de 2020, e triplicou seus ganhos no primeiro trimestre de 2021. Enquanto o governo federal continuar refém do agronegócio, do latifúndio e das mineradoras, os seres humanos estarão tentando obter ração animal para consumo, e veremos ampliadas as filas de distribuição de carcaças de gado. O Brasil é mesmo o país dos contrastes. Nosso povo é conhecido como pacífico e, no entanto, ocorrem 60 mil assassinatos por ano. O país é tido como celeiro do mundo e, no entanto, temos 19 milhões de pessoas com fome crônica e 50 milhões em insegurança alimentar. Figuramos entre as dez maiores economias do mundo, mas 105 milhões ganham menos de um salário mínimo por mês e 40 milhões vivem na miséria (68 milhões de brasileiros recorreram ao auxílio emergencial do governo federal). O Brasil precisaria modificar seu modelo de produção agrícola. Enquanto grandes extensões de terra são reservadas à produção de commodities, o país importa cada vez mais leite, arroz, óleo e outros produtos básicos. E a cana é destinada a fabricar etanol. “Em um dos estados mais ricos do agronegócio, as pessoas formam filas para receber ossos. Em um programa, a dona do açougue se disse que fica escandalizada quando vê algumas pessoas roendo os ossos. E isso em um dos estados mais pujantes, que se orgulha da força da economia que está associada a esse modelo de produção”, disse o engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, coordenador-adjunto do Fórum Gaúcho contra os Impactos dos Agrotóxicos. No entanto, segundo a Embrapa, o Brasil alimenta 800 milhões de pessoas em todo o mundo, via exportações, incluída a população de nosso país. Ao lado da China, dos EUA e da Índia, somos o celeiro do mundo. Contudo, suas portas estão fechadas para metade dos 212 milhões de brasileiros, as panelas estão vazias e, nas cidades, as latas de lixo são reviradas por seres humanos em busca de aplacar a fome. E há quem diga que o nosso povo é cristão, generoso e solidário. O nosso povo é reflexo da elite que nos governa, ganancioso, competitivo, racista, indiferente aos excluídos. Até quando? Publicado originalmente no Correio da Cidadania. Fome per capita do Brasil e Jonathan Swift

Haiti, esse desconhecido

A notícia do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, levantou uma série de dúvidas por parte dos brasileiros. Quem era esse presidente? Era de esquerda? O que houve foi um golpe? Vamos apontar aqui alguns elementos para tentar compreender o que se passa no Haiti. Primeiro sempre é bom lembrar que o Haiti foi a primeira nação negra da história nessa região de Abya Yala (as três Américas), conquistada dos invasores franceses em 1804. Esse feito foi protagonizado por uma revolução dos negros escravizados que viviam na ilha, sob a liderança de Toussaint Loverture e Jean Jacques Dessalines. Os haitianos colocaram para correr o exército de Napoleão, então considerado imbatível, uma humilhação para  os franceses. Naqueles dias, o país também ficou sob a mira dos Estados Unidos que o via como um câncer na região, tanto que a partir de 1804 foi decretado um bloqueio comercial contra a ilha, que durou 60 anos. Ou seja, essa já é uma prática velha por parte dos EUA. Depois da vitoriosa revolução, o Haiti foi um dos países mais importantes da região do Caribe, e tanto que em 1815 o então presidente Alexandre Petion recebeu Simón Bolivar e deu a ele os barcos, homens e armas que iriam garantir o retorno de Bolívar à Venezuela para a vitória da independência de quase toda a América do Sul. Sua condição era de que, libertada a América, Bolívar libertasse os escravizados. Sem o Haiti, toda a história teria sido outra. Desde aí o Haiti virou um inimigo a ser combatido pelos países dominantes. E, em 1825, o então presidente Jean-Pierre Boyer se rendeu a uma imposição da França que exigia pagamento como indenização aos ex-colonos mortos ou expulsos pela revolução. Com medo de ser invadido, Boyer assinou o documento que deu início à cobrança de uma dívida exorbitante, na verdade, nunca quitada, visto que somava juros sobre juros. Boyer defraudava a luta dos haitianos e vem daí a gênese da pobreza estrutural do país. Depois dessa capitulação, a vida dos haitianos nunca mais foi a a mesma, com a sucessão de governos títeres, até que. em 1915. os Estados Unidos invadiram o país sob o pretexto de preservar os seus interesses. Essa tutela se estendeu por anos até que chegou a ditadura dos Duvallier, pai e filho, que mergulhou o país em violência e terror. Importante registrar que essas ditaduras foram apoiadas pelos EUA. Em 1990, um padre, ligado à teologia da libertação, Jean Bertrand Aristide, é eleito presidente, prometendo colocar fim no tempo de turbulência, mas não conseguiu. Foi deposto por um golpe e procurou ajuda dos Estados Unidos. Depois de vários acordos, ele retorna sob a proteção dos marines. Outros governos passam e, em 2000, quando há nova eleição, Jean Aristide vence, mas começam a denunciar que a vitória foi fraude. A crise se aprofundou e, em 2004,  Aristide é deposto e sequestrado do Haiti por militares estadunidenses. O padre já não era mais considerado um bom aliado pelos EUA. E foi aí que começou mais uma invasão ao país, desta vez sob o manto das “tropas de paz”, inclusive comandadas pelo Brasil. A população do Haiti iria mais uma vez viver sob o signo da violência e do terror. As eleições foram retomadas em 2010, mas sempre com a supervisão dos Estados Unidos, para evitar que qualquer força antimperialista pudesse assomar. E assim, de chefe em chefe de governo chegamos a Jovenel Moïse, um representante da ultradireita. Eleito em 2016, assumiu em 2017, e fez um governo conturbado tanto quanto seus antecessores. Agora, em fevereiro de 2021, seu mandato estava terminado. Mas ele já havia movido os pauzinhos para ficar no poder. Em 2020, dissolveu o Congresso e, desde aí, governava por decreto. Não cumpriu com a Constituição que o obrigava a chamar eleições. Prorrogou seu mandato e governava com mão dura usando diversos grupos armados – milicianos  – como apoiadores. Esses grupos promoveram massacres e expulsões de famílias em vários bairros bem como assassinatos cirúrgicos dos chamados inimigos de Jovenel. Apesar de tudo isso, os Estados Unidos seguiam apoiando seu governo e nenhuma campanha midiática foi criada para dizer que ele era um ditador ou criminoso. Isso porque ele atendia aos interesses dos EUA, principalmente no que diz respeito a manter a vigilância sobre a Venezuela, cujo território fica em frente ao Haiti. Geopoliticamente o país é estratégico para o império. O crime que tirou a vida de Jovenel, claramente uma ação de profissionais da morte, ainda está por se esclarecer. Quem afinal organizou o atentado e qual a intenção? Os EUA ou algum inimigo interno?  O primeiro-ministro Claude Joseph, que rapidamente se colocou como um possível presidente interino, já de saída está burlando a Constituição. O certo seria imediatamente chamar eleições gerais para que a população pudesse se organizar e se manifestar. Ainda que o tecido político esteja totalmente roto, justamente por conta das ações autocráticas do presidente morto, há forças internas capazes de atuar. De qualquer forma, o que já se configura é mais uma vez a velha política de intervenção por parte dos Estados Unidos, que obviamente não quer perder o controle do país. Aliado a isso pode começar nova onda de “campanhas humanitárias” que, como sabemos, desde 2004, só tem feito enriquecer os empresários de ONGs fajutas e políticos corruptos, mantendo a população em situação de miséria e desespero. Se fosse feita uma conta para somar toda a ajuda que tem sido canalizada para o Haiti desde a invasão do seu território em 2004, certamente daria para construir uns 10 Haitis e ainda sobraria. Onde foi parar esse dinheiro? Por que os países que sustentaram a Minustah nunca prestaram contas dessas doações e nunca a mídia comercial burguesa questionou isso? São perguntas retóricas, claro. A guerra ou a tática do desastre serve para isso mesmo: para engordar a conta dos senhores da guerra. Nada mais. Se para isso for necessário destruir um país e um povo inteiro, que seja. Assim que o assassinato de Jovenel

A crise e a Covid

Até agora a pandemia tem feito muito bem aos ricos do país. Enquanto mais de 14 milhões de brasileiros caíram no desemprego e 40 milhões seguiram aos trancos e barrancos na informalidade, os 42 CPFs mais ricos do Brasil aumentaram sua riqueza em 180 bilhões de reais. Isso deixa bem claro porque os endinheirados não se importam quando a economia entre em crise. Porque o que aparece como crise para a maioria apenas serve para aumentar o conteúdo dos seus cofres. Essa é a natureza da crise: o momento em que o capital acumula mais. Então, cada vez que ouvires que o país está em crise, que a economia está em crise, atente: essa crise é só para os trabalhadores e para os pequenos empresários. A crise significa que o capital vai sugar ainda mais dos trabalhadores para não permitir que o 1% dos mais ricos percam seus lucros. Ou seja, não existe esse lance de “estamos todos no mesmo barco, vamos fazer sacrifícios”. Isso é conversa para enganar incautos. Não estamos no mesmo barco, sequer no mesmo mar. No mundo, a relação crise x aumento da riqueza de poucos também é a mesma. No primeiro ano da pandemia, as 32 empresas mais rentáveis do planeta lucraram 109 bilhões de dólares a mais – eu disse a mais – do que a média dos quatro anos anteriores. Foi uma festa. E as 100 empresas campeãs do mercado de ações acrescentaram mais de três trilhões de dólares – eu disse trilhões – ao seu valor de mercado desde o início da pandemia (em março de 2020). Enquanto isso, o trabalhador informal que vende bala na esquina perdeu seu ganha-pão e ainda viu parte de sua família morrer de Covid. O dono do barzinho da esquina também teve de fechar e as pequenas lojas faliram. Só os grandes sobrevivem na crise. Nada lhes toca. A mídia comercial, para jogar pontos de fumaça nos olhos das gentes, enche as telas com notícias sobre como uma empresária de Quixeramobim conseguiu aumentar em 3% as vendas pelo uso da internet, como outra “inovou” fazendo promoções on line trabalhando o triplo do normal, como uma comunidade se diverte cozinhando num fogão à lenha porque não tem dinheiro para comprar gás e como uma família conseguiu sobreviver vendendo pastel depois de todo mundo perder o emprego. A miséria causada pela dita crise e pelo enriquecimento de poucos é romantizada ao máximo para evitar que as pessoas se revoltem. Não bastasse isso, a crise sanitária no país só se aprofunda. Passamos dos 400 mil mortos pela Covid-19, mortes essas que poderiam ser evitadas se tivéssemos um governo que se importasse com a população. Durante todo esse tempo, as autoridades federais tripudiaram da pandemia, não incentivaram o uso da máscara nem o distanciamento social. Também não adquiriram as vacinas e seguem tratando o problema como se fosse uma “gripezinha”. Os hospitais lutam bravamente sem insumos, sem remédios, sem equipamentos de proteção. Mais de mil profissionais da saúde morreram em função da Covid-19. Os prognósticos dos pesquisadores são de que maio e junho sejam meses de novos aumentos nas mortes . No ritmo que vai a vacinação não há expectativa de imunização da maioria antes do ano de 2022. São tempos sombrios e sem reação. No Paraguai e na Colômbia, a população realizou grandes mobilizações exigindo ação por parte dos governos no combate à pandemia, mas, no Brasil, seguimos assistindo pela televisão o macabro desfile dos caixões. Enquanto a vida da maioria se desintegra, o presidente, gerente do capital local, ri na televisão, comemorando o “cancelamentos de CPFs” e o sistema capitalista segue seu caminho de acumulação de riqueza para uma pequeníssima parcela da população mundial. https://urutaurpg.com.br/siteluis/pandemia-negacionista/ Os muitos dilemas da imprensa no governo Bolsonaro  

La vai o Brasil descendo a ladeira

A verdade é como um esqueleto no armário. Mais dia, menos dia, ela aparece, ainda que seja tarde. É assim que, agora, vai se revelando o que todos sabíamos: o juiz Sérgio Moro, que conduziu o processo contra Luiz Inácio Lula da Silva manipulou, mentiu, agiu ilegalmente e tudo mais. O que era nítido naqueles dias agora ressurge com nova roupagem, visto que são os juízes da Suprema Corte que estão apontando os erros. Ainda assim, as emissoras de televisão, que foram pródigas em condenar o líder petista, comportam-se de maneira muito contida na divulgação dos fatos. O que antes era acompanhado de análises rebuscadas e áudios proibidos, agora aparece como mera notícia, sem maiores explicações. E não poderia ser diferente. A mídia comercial está sempre agarrada ao poder. O fato é que a farsa montada em Curitiba tirou do páreo o ex-presidente Lula e abriu caminho para a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. A condenação do dirigente petista colocou gasolina no fogo do fascismo que se assanhava. Muito provavelmente tivesse sido Lula o candidato, e vencido, o país não estaria vivendo esse filme de terror, no qual todos os dias morrem mais de três mil pessoas sem que cause qualquer desconforto, a não ser na família de quem morreu. Não que Lula fosse a melhor opção, mas certamente enfrentaria a pandemia de outra forma e não estaríamos vivendo esse massacre diário, com mais de 300 mil pessoas perdendo a vida por conta da incompetência e da má-fé. Chegamos ao terceiro ano do mandato de Jair sob um governo eminentemente militar – já há mais de 11 mil milicos nos cargos – e que, a todo o momento, acena com mais e mais endurecimento a tal ponto de quase anunciar um auto-golpe. Os milicos conformam quase 15% dos postos no governo. Dilma teve 2,5% e Temer 4%, só para comparar. Os últimos acontecimentos, com a saída do ministro da Defesa, mais do que uma crise nos quartéis,  mostram que o presidente segue com a rédea firme e não é sem razão que o governo acene com aumento salarial apenas para os militares entre os funcionários públicos. Analistas apontam que a hipermilitarização do governo, incluindo aí as escolas militares que seguem sendo implantadas no país, está carregando o país para um fechamento conservador, ainda que siga com aparência de democracia. Bolsonaro está seguro de que tem os militares sob seu comando, tanto que chama de “meu exército” e não hesitará em endurecer o regime. Até porque segue sem oposição concreta. A maneira autoritária como está comandando a pandemia, dizendo que não vai fechar nada, que não usa máscara, que não compra vacina e o escambau, mostra que está bem seguro no cargo e que pode ir apertando a corda. Sabe-se lá até quando.   Enquanto as peças do tabuleiro conservador vão se montando, a esquerda partidária fica no silêncio. Não se manifesta, não promove agitação das massas, e o máximo que consegue fazer é mapear candidaturas para 2022. Parece não compreender que pode nem haver eleição e que a batalha está sendo dada agora. Diante do silêncio dos partidos de esquerda, das centrais sindicais e de boa parte dos movimentos sociais, sobra o salve-se quem puder. Enquanto os quartéis se reorganizam e a presidência se fortalece, os brasileiros seguem morrendo. Há quem diga que logo chegaremos a cinco mil mortos por dia e a população segue apática como se tudo fosse designíos de deus e não uma deliberada política de extermínio. O caos na saúde foi uma ação planejada e teve como objetivo justamente fomentar o medo. Um povo com medo fica acuado e quieto. Para o governo importam muito pouco as perdas em vida, afinal, ali, ninguém é coveiro, e tem muita gente no país para manter a máquina do capital funcionando. Logo, está tudo bem. O gigante da América do Sul parece um ursinho domesticado e assustadiço. E, enquanto o regime vai endurecendo, nos partidos políticos fala-se nas eleições de 2022 com esperanças. Os últimos acontecimentos envolvendo Lula reacenderam as expectativas sobre uma candidatura do ex-presidente. Ora, nem Lula nem o Brasil são os mesmos de 2018. Essas criaturas vivem como Alice no país das maravilhas. É aterrador. Todos à rua no #forabolsonaro do dia 2  

O plano é assaltar o Estado

Pandemia Bolsonaro – O Brasil segue a passos largos no processo de contaminação pelo coronavírus, vivendo um de seus piores momentos desde julho, ultrapassando a marca dos 300 mil contaminados em uma semana. Enquanto isso, Bolsonaro desinforma sobre a vacinação, faz piadinhas, inaugura exposição de suas próprias roupas e vai pescar. Tudo isso diante uma população completamente apática. Os gritos só aparecem nas redes sociais e em um ou outro meio de comunicação como o jornalão Folha de São Paulo que escreveu no seu editorial que “a estupidez assassina do presidente passou de todos os limites”. Mas, o fato é que o presidente passa dos limites a cada semana e isso só faz aumentar o índice do seu limite porque, ao que parece, nunca é suficiente. Só para falar da pandemia é preciso lembrar que o país foi deixado a sua própria sorte, sem um plano nacional de combate ao vírus, com os governadores e prefeitos tendo de agir cada um por conta própria. A única coisa articulada em nível nacional ao longo desses meses da peste tem sido a ação dos empresários para que nada feche e a roda do capital siga girando. Tem funcionado e é o que mantém o país com altas taxas de contaminação. Agora, quando o mundo já inicia o processo de vacinação, com pelo menos quatro propostas de vacina, o Brasil, de novo, viverá a guerra da politicagem. O presidente diz que vai coordenar o processo de vacinação, mas não faz absolutamente nada. O Ministro da Saúde diz que vai ter um plano “caso houver demanda”. É o horror. Ao mesmo tempo, quando alguns governadores anunciam planos de compra de vacina e de vacinação, o governo federal ameaça com retaliações. Uma situação que em qualquer outro lugar do mundo colocaria a população nas ruas em protestos massivos. Aqui não. Os jornais divulgam números de aprovação ao governo que chegam aos 37% e uma taxa de 22% dos brasileiros que afirmam que não vão se vacinar em hipótese alguma, porque a vacina é um plano comunista para se apoderar do cérebro das pessoas. E assim, apesar de termos laboratórios de extrema qualidade, como o Butantã, e um dos melhores processos de vacinação do mundo, a tendência é caminharmos para o desmonte do sistema de saúde e de tudo aquilo que se construiu com muita luta. Mas, engana-se quem pensa que essa é uma nave desgovernada. Não é. O timoneiro sabe muito bem para onde está levando o país. Inclusive ele anunciou isso com todas as letras durante sua campanha eleitoral. Quem depositou o voto na urna sabia muito bem que a proposta era o desmanche e a destruição de “tudo isso que tá aí”. Logo, não há surpresas. O capitão do mato entrega o país para a mão privada estrangeira e nacional e, por conta disso, vai engordando sua conta bancária para – quando não for mais necessário – sair de cena, muito bem remunerado. Junto com ele atua um Congresso Nacional muito bem orquestrado e alinhado à essa política de destruição. É a nacionalização do conhecido bordão do velho comunicador Silvio Santos “tudo por dinheiro”. Então, quando forem dizer que não há um plano de vacinação nem qualquer plano para o país, pensem bem. Há um plano sim. O plano é assaltar o estado no mais curto tempo. Pegar o que der. Enquanto isso, as Centrais sindicais estão mortas, a maioria dos sindicatos também. Mesmo aqueles que representam os trabalhadores que jamais tiveram a opção de ficar em casa. Não há movimento entre os comerciários nem nos trabalhadores da indústria. Só há medo. Medo de perder o emprego. Medo de morrer. Medo. É o caldo perfeito para que o assalto ao estado aconteça sem maiores tremores. O plano, portanto, segue, com competência, enquanto a morte nos espreita. É tempo de ocupar as ruas. Ou isso, ou o matadouro. https://urutaurpg.com.br/siteluis/reflexoes-sobre-a-quarentena-do-brasileiro/

A eleição nos EUA e a América Latina

Então hoje se encerra mais um show, que é com o que se parecem as eleições estadunidenses. Comícios espetaculosos, muita produção, muita grana. A forma se sobrepondo ao conteúdo. Dois partidos que são como dois irmãos siameses, duas cabeças no mesmo corpo. Pelo menos no que diz respeito à política para Nuestra América. O país tem uma política de estado para nossos países que praticamente não muda, seja quem for o presidente, desde 1823, quando uma mensagem do presidente James Monroe lapidou o que seria a “doutrina Monroe”: a América para os americanos. Com essa consigna, os Estados Unidos garantiram a balcanização da América Latina, impedindo o avanço do colonialismo europeu, mas também travando a proposta generosa de Bolívar de uma Pátria Grande. Na frase de Monroe, o substantivo “americanos” não engloba as gentes de todas as Américas, mas apenas os estadunidenses. Coisa que mais na frente, em 1831, já morto Bolívar, vai se concretizar no chamado “destino manifesto”, que é a doutrina que atribui aos Estados Unidos um destino, outorgado pelo próprio deus, de expandir seu território e seu poder por todo o globo. É assim que usando o nome de deus, o governo se apropria de mais de um milhão de quilômetros quadrados do México. Foi o destino manifesto que também serviu de escudo do avanço para o Oeste exterminando populações inteiras de grupos originários e é o que ainda bramem os governantes quando fazem suas guerras: em nome de deus, da democracia e da liberdade (do grupo de elite, claro), agarrados num deus onipotente, e que lhes transferiu poder na terra, os governos avançam sobre a América Latina, o Oriente Médio e qualquer outro espaço que desejem tomar. Quanto à ideia de Monroe e do destino manifesto não se diferenciam os democratas e os republicanos. A gente nota nas redes sociais que uma boa parcela das pessoas mais à esquerda tende a torcer para que o vencedor seja Biden, já que Trump é o “best friend” do Bolsonaro e uma segunda vitória do milionário pode fortalecer ainda mais as políticas ultraliberais do governante brasileiro. Mas, é bom lembrar que Biden foi vice de Obama e que os dois juntos lideraram inúmeros conflitos fora de seu país. Nos oito anos de Obama na Casa Branca, não houve um só dia sem que os Estados Unidos não estivesse bombardeando algum lugar.  Não bastasse a guerra “quente”,  também há que se contabilizar as intervenções disfarçadas – como o apoio à queda de Kadafi – e as ações econômicas contra dezenas de países não alinhados. Portanto, mesmo que pareça simpático, Biden tem um largo histórico belicista. Para os estadunidenses o que conta são as questões internas e, é por isso, que artistas e intelectuais progressistas estão na aba de Biden. A crise sanitária com o coronavírus, que já cobrou mais de 230 mil vidas, colocou ainda mais à nu um sistema de saúde que se guia pelo dinheiro. Quem tem seguro, pode ter uma chance de viver, dependendo de qual seguro pode pagar. Mas, quem não tem, morre. E ponto. Os democratas tem uma proposta de saúde pública, que nem chega aos pés do nosso SUS, mas já é algo. Também há toda uma expectativa com relação a política do Estado com os negros e com as mulheres. Algo que pode ser uma ilusão, visto que mesmo quando um presidente negro, democrata, esteve no governo, o sistema prisional seguiu encarcerando muito mais negros do que em outros tempos. De qualquer forma, Biden aparece como mais moderado que Trump. E é nisso que esses grupos estão apostando. Pelo menos, tirar Trump. Já para nós, na América Latina, qualquer um dos que vencer vai ser problema. Biden inclusive já tem se manifestado dizendo que quer controlar nossa Amazônia. E isso não significa que vai nos defender de Bolsonaro. Não se enganem. Se Trump perder, o presidente brasileiro vai chorar, mas se Biden estender a mão ele logo, logo, muda de “best friend”, afinal, seu fascínio é pelo império. É o nosso Darth Vader. Assim que fiquemos de olhos no resultado. As eleições nos EUA não são diretas. Quem vota e decide a questão é um colégio eleitoral de 500 e poucas pessoas, delegados dos estados. A eleição é feita em cada estado e cada um tem suas próprias regras. Se houvesse uma comissão para acompanhar as eleições verificando se não há fraude, ela certamente teria muita dificuldade. Lá, os eleitores podem votar por correio e de maneira antecipada. Não há coordenação nacional. Portanto, a segurança do processo é muito precária. A coisa é tão doida que mesmo se um candidato tiver mais votos no geral ele pode não levar, como já aconteceu. Portanto, talvez fosse hora de os Estados Unidos invadirem os Estados Unidos para levar democracia e liberdade ao povo de lá. Por aqui só nos resta acompanhar. Quem vencer terá seu próprio pacote de maldades para as nações latino-americanas. Nosso papel não é torcer por um ou outro, mas nos prepararmos para enfrentar quem quer que seja. https://urutaurpg.com.br/siteluis/o-conto-de-terror-da-pandemia-no-brasil/ https://urutaurpg.com.br/siteluis/jerusalem-e-memoria-da-dor/