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Colômbia se prepara para a eleição de domingo

Os colombianos vão às urnas no próximo domingo, dia 29 de maio, para escolher o novo presidente da nação

Eleições Colômbia – No último final de semana, os candidatos realizaram o fechamento da campanha, a maioria deles com atos públicos de massa. Federico Gutiérrez, da coligação de direita Equipo por Colômbia, vinculado ao grupo de Álvaro Uribe, ex-presidente, reuniu seguidores na cidade de Medellín, onde foi prefeito. Ele focou seu discurso nas promessas por uma melhor educação e oportunidades para os jovens.

Sergio Fajardo, da Coalición Centro Esperança e ex-prefeito de Medellín, fez visitas em vários bairros de Bogotá, afirmando que ele é a opção entre Uribe e Petro. Gustavo Petro, o favorito até o momento, é o candidato da esquerda pela coligação Pacto Histórico.

Enrique Gómez, também da direita,  fechou sua campanha em um hotel em Bogotá, lançando petardos contra Gustavo Petro. Gustavo Petro esteve primeiro na cidade de Zipaquirá e encerrou o dia na Praça Bolívar, prometendo mudar a Colômbia.

Rodolfo Hernández, que é considerado a zebra da campanha, crescendo de maneira vertiginosa na última semana, preferiu ficar em casa com a família. Ele tem aparecido de maneira bastante cômica na campanha e é chamado de “o velhinho do TikTok”. Definitivamente um perigo, por conta da alienação e despolitização.

Nos últimos dias da campanha, Hernández assumiu a terceira posição nas pesquisas, ficando atrás de Gustavo Petro, o favorito, e de Fico Gutierrez, o representante do uribismo. Sua campanha tem sido baseada no mantra “não à corrupção”. Como ele é um empresário muito rico, seu discurso usa isso como alavanca para crescer junto à população. “Sou muito rico, não precisarei roubar. Vou acabar com as mordomias”. Ele entrou na campanha presidencial sem maiores expectativas, tanto que quando seu nome foi escolhido, ele estava em Nova Iorque fazendo exames médicos.

A Colômbia vai às urnas tentando encontrar novos caminhos para sair da espiral de violência que, paradoxalmente, se aprofundou nos últimos anos depois dos acordos de paz com a guerrilha. Desde o final do processo, que foi sistematicamente sabotado por Uribe e sua turma, as mortes, desaparições e despejos têm sido rotina. Assassinatos cirúrgicos de ex-combatentes das Farcs, de sindicalistas e lutadores sociais mostram claramente a cara do estado terrorista que segue sem parada sob o comando de Ivan Duque.

Por isso mesmo que o candidato da esquerda é até o momento o favorito para vencer as eleições agora no dia 29. Não há expectativa de levar no primeiro turno, ainda mais agora, considerando esse avanço da candidatura de Hernández e toda sua performance anti-corrupção, tema que ocupa a cabeça de mais de 80% da população. Ainda assim, as primárias deram mais de cinco milhões de votos a Petro e já apontaram uma tendência importante do eleitorado. É bem provável que ele chegue bem nesse primeiro turno, com mais de 45% dos votos.

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Gustavo Petro, o favorito até o momento, é o candidato da esquerda pela coligação Pacto Histórico.

O que virá no segundo turno é o que preocupa agora. Até a última semana, a lógica era a disputa entre Petro e Fico Gutierrez, polarizando a escolha entre o de sempre, a direita terrorista, e uma esquerda matizada, disposta a buscar caminhos pelas vias institucionais. O país vive uma guerra civil desde os anos 1960, passando por conturbados tempos de guerrilha, sistemática ocupação do território por soldados estadunidenses, narcotraficantes e paramilitares.

A paz tão sonhada, firmada em 2016, não chegou e parte da guerrilha seguiu armada para se defender dos assassinatos que começaram a acontecer. No interior do país, as famílias seguem sofrendo com a ação do narcotráfico, que desaloja milhares de pessoas em migrações forçadas, e fazer militância política ainda é ter um alvo na testa.

Agora, com a nada remota possibilidade de o histriônico Rodolfo Hernández ultrapassar Gutierrez na corrida pelo segundo turno, a situação fica bem indecifrável. O embate entre a esquerda e a direita já é bem conhecido e as armas de combate também. Mas, a presença do “velhinho do TikTok” pode desarranjar tudo. O fato de ele ter começado a campanha sem qualquer chance e ter crescido tanto leva a esquerda a colocar as barbas de molho. Afinal, as experiências de campanhas desse tipo na América Latina mostram que são verdadeira bombas de largo poder de destruição. O Brasil é um exemplo. Bolsonaro era motivo de riso e não passava de 4% das intenções de voto.

Nessa semana, a campanha segue nas redes e nas veredas do país, embora os atos massivos não possam mais acontecer. A internet será um território importante. A sorte está lançada. É certo que uma vitória da esquerda na Colômbia balançará as estruturas e a “grande matriz” (os EUA) não ficará de fora. Muita coisa ainda pode acontecer nesses poucos dias que faltam para o domingo decisivo.

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