
Graciliano Ramos resume a Proclamação da República
“Deposto o ministério, Deodoro andou na cidade, obteve adesões e no Arsenal de Marinha foi bem recebido pelo chefe de divisão Eduardo Wandenkolk e pelo barão de Santa Marta, ajudante-general da Armada.
Na Câmara Municipal José do Patrocínio fez um discurso.
D. Pedro II veio de Petrópolis e tentou organizar um novo ministério, o que não foi possível. No dia 16 SM [Sua Majestade] recebeu uma dolorosa homenagem: nela o marechal Deodoro, em nome do governo provisório, lhe pedia o sacrifício de, com a sua família, no prazo de vinte e quatro horas, deixar o território nacional. O monarca deposto respondeu que embarcaria, forçado pelas circunstâncias. Afirmou que guardaria do Brasil muita saudade e fez votos ardentes pela sua grandeza. Uma resposta digna, como se vê: o Imperador gostava da palavra escrita. Falando, porém, deixou algumas frases de menos efeito. Na noite de 17 desceu as escadas do palácio bastante contrariado, resmungando para o tenente-coronel Mallet, que o ia buscar:
— Estão todos malucos. Não embarco, não embarco, a esta hora, como negro fugido.
Embarcou. No dia 18, com todos os seus, a bordo do Alagoas, seguiu para a Europa. A 28 de dezembro enviuvou, a 5 de dezembro de 1891, morreu.”
(trecho extraído de “Pequena História da República”, de Graciliano Ramos, publicado na coletânea da revista Senhor, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)

Mestre em Tecnologias da Inteligência pela PUC-SP com a dissertação “Aspectos da mídia livre como resistência digital” e jornalista (formado e pós-graduado em Jornalismo Multimídia pela PUC-SP) com mais de 25 anos de experiência. Já trabalhou nas redações do Jornal da Tarde, Agora, Caros Amigos, Shopping News, entre outras. Criou o Zonacurva em 2011 como espaço para a prática do jornalismo livre e crítico nas redes digitais.