Zona Curva

“A língua de sinais é completa,” afirma Jadson Nunes, intérprete de LIBRAS

Colaboração de Isabela Gama

O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 2 de dezembro o tradutor e intérprete de Libras Jadson Nunes. Em um bate papo esclarecedor, ele deu uma aula sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), seu surgimento e sua importância social. Estavam presentes também o editor Zonacurva Fernando Do Valle, Luciana Rodrigues da Escola do Parlamento de Itapevi e o editor do Vishows Luís Lopes.

Nunes conta que a LIBRAS surgiu no Século XIX quando D. Pedro II convidou o francês Ernest Huet para ensinar surdos no país. Assim foi criado o Instituto Nacional da Educação de Surdos, que está ativo até hoje, e é referência na língua de sinais no país.

É comum que muitas pessoas confundam a LIBRAS como uma linguagem em vez de uma língua própria, explica Nunes. “A língua portuguesa, por exemplo é composta por muitas linguagens, mas não é só isso, conta com regras gramaticais, acordos ortográficos, entre outros”, completa. 

Nunes afirma que a LIBRAS é uma língua completa com gramática específica e conta com sujeito, verbo e objeto, tendo suas especificidades em cada região do país, assim como os sotaques que temos na oralidade. 

Mesmo a LIBRAS sendo um sinal de inclusão, é necessário compreender as especificidades das pessoas com deficiência (PCD). Há uma dificuldade para pessoas que perderam a audição ao longo da vida aprenderem LIBRAS, considerando que elas sempre utilizaram a língua portuguesa e a linguagem oral, esclarece Nunes. 

Sendo assim, existe uma diferença entre surdos e deficientes auditivos. O primeiro grupo costuma se identificar com a cultura surda, se comunicar através da linguagem de sinais e interagir com a comunidade. Já os deficientes auditivos geralmente falam português e não sabem LIBRAS, segundo Nunes. 

Essas especificidades também se aplicam a outros temas como os aparelhos auditivos e o Implante Coclear. Para Nunes, essas alternativas muitas vezes são vendidas como soluções milagrosas, quando na verdade não funcionam tão bem para as pessoas que já nasceram com a deficiência, considerando que, por aumentar a sensibilidade auditiva, faz com que a pessoa ouça muitos barulhos e ruídos que não eram conhecidos anteriormente. 

Então, de forma abrupta, a pessoa que começou a utilizar o aparelho ou fez o implante começa a ouvir barulhos como o do relógio, o ruído dos talheres ou o soar da campainha. 

Nunes também explicou sobre a importância de usarmos os termos certos. É muito comum ouvirmos a expressão “surdo-mudo” o que é um grande equívoco. “Nem todo surdo é mudo, a mudez vem do dano na corda vocal, assim ele não emite nenhum som, já o surdo consegue sim emitir som, e até falar, ele só não fala porque ainda não aprendeu” diz. 

Este aprendizado vem através do trabalho com o fonoaudiólogo, e deve ser estimulado diariamente ainda quando criança. Nunes salienta que não é um caminho fácil, requer muito treino e prática, mas é totalmente possível.

Outras expressões comuns são “deficiente” e “pessoa portadora de deficiência”, porém ambas são preconceituosas e capacitistas. Quando se diz “deficiente” se considera apenas a sua condição, ignorando todo o resto, como sua história de vida por exemplo. Já o termo “portador de deficiência” está incorreto pois PCDs (pessoas com deficiência que é o termo correto) não portam nada, visto que algo que é portado pode deixar de ser, e não tem como uma pessoa com deficiência deixar sua deficiência quando quiser.

 

BENBAR AGOSTO LARANJA

 

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