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A tomada do poder pelo Talebã no Afeganistão

Com colaboração de Carolina Raciunas Prado Na LIVE POLÍTICA SEMANAL ZONACURVA do dia 19 de agosto (quinta-feira), o advogado, consultor do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) da América Latina, ex-IDF (Israel Defense Forces) e ex-observador em zonas de conflitos no Oriente Médio e África pela ONU, Kiko Campos, conversou sobre as questões políticas, culturais e sociais que influenciaram a recente tomada de poder do Talebã no Afeganistão com Fernando do Valle (editor do Zonacurva) e Luís Lopes (editor do Vishows). Kiko lamentou a destruição em curso e relembrou a beleza da capital do país que visitou, pela última vez, em 2005, além de ter relembrado a sensação de perigo iminente no solo asiático. Nas últimas semanas, as imagens vindas do país têm chocado o mundo por revelar o desespero de afegãos e americanos tentando sair às pressas de suas casas. Segundo Campos, dois pontos principais demonstram como os Estados Unidos e seus aliados na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) contribuíram para o drama de milhões de afegãos. “A indústria americana de armamento bélico é muito forte, então eles acreditam que podem fazer esse policiamento ao redor do mundo. O segundo problema são as normativas da OTAN, porque os EUA fazem o que a Organização permite, e, com isso, muitos países acabam se envolvendo nesse conflito também, em colaboração com os Estados Unidos ”. A LIVE SEMANAL também colocou em debate o sectarismo religioso, que agrava ainda mais os confrontos internos no país asiático. “Se os afegãos entenderem que o mundo vive um processo de transformação, que está muito mais liberal, eles vão crescer, vão achar o caminho deles. Mas se eles mantiverem essa postura de violência, aí não tem jeito, será uma eterna guerra”, afirmou Campos.  O posicionamento do grupo radical islâmico sobre as mulheres é opressor. Quando tomaram o poder do Afeganistão na década de 90, o Talebã as proibiu de estudar, trabalhar e sair de casa livremente. Nos primeiros dias após a tomada de Cabul, as autoridades do grupo anunciaram que os direitos das mulheres estavam assegurados, o que causou incredulidade por grande parte da opinião pública mundial.  Kiko Campos explicou ainda que o uso da internet para compartilhar o que está acontecendo no país pode moderar o discurso extremista talebã, o que traz algum alento para o sofrido povo daquele país, em particular na luta das mulheres por direitos básicos. Algumas corajosas afegãs tomaram as ruas de Cabul em protesto nos últimos dias. “As mulheres vão ter um papel preponderante e decisivo no futuro do Afeganistão”, completou Campos. Joe Biden afirmou anteontem que pretende cumprir o acordo de retirada dos americanos do país asiático até 31 de agosto.   LEIA MAIS SOBRE O AFEGANISTÃO NO TEXTO ZONACURVA DA JORNALISTA ELAINE TAVARES.

O Império às claras

Afeganistão – Ouvi ontem a fala do presidente dos Estados Unidos sobre a retirada do “seu” pessoal do Afeganistão. Ele informava à nação sobre a evacuação do país e sobre quem eles tinham decidido salvar. Tranquilo e sem pejo, ele disse que 28 mil afegãos tinham sido resgatados, aqueles que, durante esse tempo de ocupação, haviam colaborado com os Estados Unidos. “Fizemos isso, porque é assim que somos. Cuidamos dos nossos”. Pois bem, 28 mil pessoas e ponto final. Os demais que se virem. Foram lá e destruíram um país, então esse descaso com as gentes não é novidade. “Só se dá bem quem é nosso amiguinho”. E provavelmente a audiência aprovou sem destaques a decisão. O presidente disse ainda que não havia mais o que fazer no Afeganistão. Eles tinham ido pra lá para pegar Osama Bin Laden e destruir a Al-Qaeda. Isso já estava feito. Então, nada mais havendo a tratar, encerramos essa etapa. Foram 20 anos para ver que nem Osama estava lá, nem a Al-Qaeda. Mas, Julian Assange, o homem que o governo estadunidense quer encarcerar e destruir, já havia dito há anos atrás: não se trata de vencer, se trata de manter a máquina de guerra. Tudo o que há é o business. Tudo que se quer é manter a economia girando. E, depois, o mundo é tão grande. Há tantos países para destruir. Mas, não se preocupem, quem ficar do nosso lado, a gente resgata. Essa foi a mensagem. Assim, apaziguados e certos de terem sido solidários com os seus amiguinhos, os estadunidenses devem ter ido dormir em paz. Provavelmente haverá algumas campanhas de denúncias por conta da situação das mulheres e depois, em alguns dias, o assunto sai das manchetes e tudo segue seu curso. Tampouco se falará que o Talebã é cria do serviço não tão secreto dos EUA. Pouco sei do Afeganistão, sobre sua cultura e sua forma de viver. Mas, ao longo desses 20 anos, sempre estive do lado daqueles que defendiam o direito do país se autodeterminar. Dizem alguns que lá é um emaranhado de clãs, dominado por tradições arcaicas e que é dever do mundo ocidental, civilizado, impor sua maneira de viver a isso que consideram um atraso. Bem, nós, em Abya Yala, sabemos de cor e salteado sobre o que acontece quando alguém se arvora em ser “a” civilização. No caso específico do Afeganistão, nós pudemos acompanhar via satélite: os crimes, os massacres, o terror, a tortura, tudo o que foi imposto pelas armas estadunidenses em nome da “democracia e da liberdade”. Provavelmente isso só foi bom para uma minoria que encheu os bolsos. De novo, o que deve ter pesado foram os negócios, o dinheiro, o lucro. Assim que os fatos se apresentam sem disfarces para todos nós. Quem tiver olhos para ver, que veja. Quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça. Enquanto o que dominar o mundo for o interesse de uma classe minoritária, as coisas serão assim. ASSISTA A LIVE ZONACURVA SOBRE A CRISE NO AFEGANISTÃO A tomada do poder pelo Talebã no Afeganistão