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agrotóxico mata

Câmara aprova urgência para projeto de destruição das terras indígenas

Indígenas Brasil – O governo brasileiro segue firme no seu intuito de entregar as terras indígenas, que conformam 12% do território brasileiro, para mãos privadas, preferencialmente o agronegócio e a mineração. Ou seja: não basta pegar, tem que destruir. Desde que assumiu o mando do país, Jair Bolsonaro ataca os povos indígenas com o argumento de que não dão lucro para a sociedade e que, por isso, precisam ser “integrados” para se transformarem em trabalhadores. Com essa lógica, o governo desmontou a Funai (órgão que deveria proteger os indígenas) e tem feito vistas grossas para todos os ataques de grileiros, jagunços e fazendeiros nas terras indígenas. A mineração clandestina segue a todo vapor e nem poderia mais ser chamada assim, já que se faz sem pejo, à luz do dia. O número de ataques às comunidades aumenta, bem como os registros de assassinatos e violências de todo o tipo contra os indígenas, sem que haja uma política para coibir. A presença de igrejas neopentecostais nas aldeias e comunidades também tem sido uma grande aliada do governo no processo de desagregação dos povos indígenas, pois com a “evangelização”, as populações vão abandonando sua cultura e suas crenças. Em muitas comunidades, já não se cantam mais os cantos sagrados e as práticas de cura vão sendo esquecidas. Na última semana, no Mato Grosso do Sul, numa aldeia Guarani, registrou-se o sequestro de uma mulher acusada pelo chefe da comunidade, de nome Antônio, de feitiçaria. As cenas registradas em vídeo mostram o homem ofendendo, acusando, cortando o cabelo da mulher e ameaçando de colocar fogo nela, coisa que teria sido feita caso não tivesse outro grupo resgatado a curandeira. Um momento dramático da nossa história recente, mostrando o tanto de mal que essas igrejas, carregadas de intolerância, fazem na vida dos povos indígenas. Mas, se o presidente quer acabar com a vida indígena, ele não está sozinho nessa empreitada. A Câmara de Deputados, que conta com 513 membros, está majoritariamente na parceria. Nesse dia 9 de março, por exemplo, aprovou regime de urgência para o PL 191, de autoria do Executivo, que regulamenta a mineração em terras indígenas, inclusive onde vivem povos isolados, sem que as comunidades originárias tenham direito a veto. Com a urgência, o projeto não passará por comissões ou debates e será levado imediatamente ao plenário. No mesmo momento em que um ato gigantesco contra o PL acontecia na frente do Congresso Nacional, reunindo indígenas, movimentos sociais e artistas, a proposta passou sem rugosidades, com 279 votos a favor, 108 contra e três abstenções. Apenas as bancadas do Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) votaram em peso contra a urgência. Outros partidos como o PDT e Novo racharam e cederam votos para o governo. O argumento para a urgência não poderia ser mais hipócrita. O presidente diz que agora, com a guerra na Ucrânia, o Brasil precisa ficar mais independente da importação de potássio, daí a necessidade de liberar a mineração do potássio nas terras indígenas. Sim, esse é o argumento. E foi acatado sem críticas por 279 deputados. Agora, o PL deverá ser votado até o dia 14 de abril e, a considerar o perfil do legislativo, provavelmente será aprovado. A mobilização contra o PL 191, que levou milhares de pessoas a Brasília no “Ato pela Terra contra o Pacote da Destruição”, foi pacífica e tranquila, não conseguindo tocar o coração dos deputados. O que não foi nenhuma novidade visto que não é por aí – o coração – que eles se movem. São os interesses financeiros dos grupos que os elegeram que definem os votos. E, no Congresso Nacional, há apenas uma indígena no universo de 513 membros. A deputada Joenia Wapichana se manifestou em plenário dizendo que o projeto em questão representa o sonho de Bolsonaro que é de destruir completamente os povos indígenas no Brasil. Mas, também lembrou que as comunidades estão organizadas e vão lutar. Esse processo não vai se dar na paz. Até porque desde o primeiro dia de governo de Jair Bolsonaro, quando uma de suas primeiras medidas foi tirar a Funai do Ministério da Justiça, jogando-a para o Ministério da Agricultura, os povos indígenas têm se levantado em protesto e vêm realizando marchas, atos e manifestações no país e fora dele, pedindo ajuda da sociedade para que atuem em comunhão visando proteger as comunidades que mais protegem a biodiversidade e as florestas. Num país tão grande como o Brasil, não serão os 12% do território que irão empobrecer a nação caso não estejam produzindo soja ou minerais. O que as pesquisas mostram é que são justamente esses 12% nas mãos indígenas que têm garantido a proteção da natureza, tão necessária para evitar tragédias ditas “naturais”. Agora, com o pedido de urgência do projeto de lei aprovado, os povos indígenas terão menos de um mês para novas movimentações. Nesse sentido, é mais do que necessário o engajamento de entidades não-indígenas, dos sindicatos, dos movimentos sociais nessa batalha contra a mineração em terras indígenas. Afinal, esse processo grotesco não apenas destrói o lugar onde abre suas crateras, mas a mineração também mata os rios, a fauna e as pessoas.  Pode parecer que está distante da maioria, mas não está. É justamente essa destruição sistemática dos ambientes que provoca tantos desastres nas cidades e nos campos, como enchentes, secas, temporais fora de época e tudo mais. A regra é clara: não se toca na asa de uma borboleta sem que estremeça o planeta inteiro. Todos à luta contra o PL da morte e da destruição. Mineração ameaça terras indígenas Terras indígenas são estratégicas contra mudanças climáticas, defende deputada Joenia Wapichana Mulheres indígenas lutam pelo futuro em Brasília Terras indígenas são estratégicas contra mudanças climáticas, defende deputada Joenia Wapichana  

O agrotóxico mata a gente

Agrotóxicos no Brasil – Uma pessoa é literalmente o que come, já dizia o velho Bataclan, atleta negro e figura lendária em Porto Alegre que desde os anos 1950 pregava a necessidade de uma alimentação saudável, baseada em legumes e hortaliças. Seu lema era “não comemos cadáveres”. Chegou a andar pelo estado fazendo propaganda da alimentação natural, dando cursos e palestras. Uma das coisas engraçadas que ele dizia era que seu cocô era perfumado, porque não tinha nele nenhum vestígio de carne putrefata. E nos desafiava a mudar totalmente os hábitos. Bataclan viveu até 1990, mas se hoje estivesse ainda na sua luta pela vida vegetariana, imagino que teria muita dificuldade em convencer as pessoas, já que alimento saudável é coisa para muito pouca gente. Os que não têm recursos para garantir uma comida verdadeiramente orgânica – a maioria – estão num beco sem saída. Se a opção for comer carne, entopem-se de gordura ruim, hormônios e toxinas. Se decidirem ser vegetarianos estarão ingerindo quilos e quilos de agrotóxicos, cancerígenos e provocadores de outras tantas doenças. Cultivar a própria comida não é opção para a maioria também e mesmo aqueles que têm alguma terra e conseguem criar animais e plantar legumes ou hortaliças acabam entrando na cadeia do veneno, seja pelo ar ou pela água. E ainda assim é uma saída individual. O Brasil tem sido desde há tempos um espaço privilegiado para as empresas de veneno. E , agora, no governo de Jair Bolsonaro, a coisa tem piorado bastante. A tal ponto que nos primeiro seis meses de governo já foram autorizados 239 novos venenos para uso nas lavouras. O argumento utilizado pelo Ministério da Agricultura é de que boa parte das substâncias autorizadas seguem fórmulas que já existem no mercado. Apenas uma delas nunca havia sido introduzida no Brasil. Mas, mesmo assim, as fórmulas dos agrotóxicos são cheias de venenos e muitas dessas fórmulas foram totalmente banidas na União Europeia, por exemplo. O motivo: são muito perigosos para o meio ambiente, logo, para as pessoas também. A ministra Tereza Cristina, que é representante do latifúndio, diz que os agrotóxicos não estavam sendo liberados nos governos anteriores por “motivos ideológicos” e que agora, com os novos venenos vai ser possível aumentar a concorrência e baratear o custo da comida. Então veja bem: a comida ficará mais barata, mas terá mais agrotóxico. Logo, haverá mais doenças. Isso é bom para quem? Em discurso na FAO, a ministra defendeu a democratização do acesso ao alimento para que se acabe a forme no mundo. Mas, é fato que essa tal democratização não pode ser a produção de comida envenenada. A menos que esse seja o projeto, matar a população ou então engordar as receitas da indústria farmacêutica, que enche as burras com tanta doença nova no pedaço. É fato também que os agrotóxicos permitem maior produtividade e também garantem uma aparência bonita aos produtos. Mas, quem de nós já não se surpreendeu com a aparência e o gosto de plástico de uma alface verdinha demais para ser real? O resultado da ação dos agrotóxicos na vida de todos nós é algo que só vai aparecer em longo prazo. O aumento dos casos de câncer, por exemplo, é uma consequência direta da alimentação contaminada, seja ela vegetariana ou não, afinal os animais são alimentados com ração, e a ração é feita com produto que consumiu muito agrotóxico. Não há escapatória. Nesse país perverso, no qual para que pouco mais de mil grandes proprietários de terra possam ter lucros astronômicos, milhões tenham de ser contaminados, estamos todos aprisionados.  E, mesmo que só comêssemos folhas e legumes e nosso cocô fosse perfumado, tal como queria Bataclan, ainda assim seguiríamos na trilha da morte. Uma triste morte, envenenados. Irremediavelmente envenenados. Agrotóxicos: Cuidado com o que você come