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O caminho da América Latina

Nuestra América está, como sempre, em ebulição, buscando encontrar um caminho para o bem-viver. Mas, não é fácil. E o principal obstáculo é, sem lugar a dúvidas, a incapacidade dos governos ditos progressistas de fazer as mudanças necessárias, esperadas pelos trabalhadores. É um eterno retorno. Vêm as eleições, as promessas, e quando chega a vitória, tudo se esboroa no andar da carruagem. No geral a culpa sempre recai na crise econômica ou na ação desintegradora dos Estados Unidos. De fato, esses são elementos importantes, mas não são os decisivos para que as mudanças não ocorram. O que realmente falta é coragem para fazer os câmbios estruturais e romper com o modo de produção capitalista. A esquerda liberal quando no poder segue defendendo a propriedade privada e acreditando que é possível dar uma cara humana ao capitalismo. Ora, isso é o que leva a retrocessos gigantescos nos quais quem vai de roldão é sempre a maioria da população. Não há promessa que se sustente sem uma viragem radical. Expor a farsa da dívida externa, nacionalizar as riquezas, investir nas gentes, na educação libertadora, na ciência necessária, romper com a ciranda bancária, quem se atreveria? Até agora, ninguém. Excetuando Cuba, não há qualquer país de nossa Abya Yala palmilhando esse caminho. Por isso mesmo Cuba mal consegue sobreviver. Não tem parceria. Ainda assim, ancorada em sua soberania tem garantido sua sobrevivência há seis décadas. É sempre importante lembrar que Cuba é uma ilha, pequena e com poucos recursos capazes de sustentar sua gente. A base material da existência cubana vem quase toda de fora. Não há geração de energia suficiente, não há produção de comida suficiente. Ou seja, não pode viver sozinha. O incrível é que ainda assim, vai caminhando, soberana. Quase um milagre. Agora imaginem os países que têm mais recursos, o que poderiam fazer? E se atuassem juntos, em parceria e comunhão, um auxiliando o outro naquilo que lhes falta? Trocando produtos, cooperando na ciência e na tecnologia? Certamente não produziriam figuras nefastas e bizarras como um Jeff Bezos ou um Elon Musk, capazes de amealhar, sozinhos, quase toda a riqueza do mundo. A nossa Pátria Grande sonhada por Bolívar, e que deu alguns passos, tímidos, quando Hugo Chávez ainda vivia, ainda está longe de ser uma realidade. É certo que os Estados Unidos fizeram muito para destroçar a possibilidade de uma união da Nossa América, eles sempre o fazem, defendendo o império que conseguiram inventar. Mas muito dessa impossibilidade veio da incapacidade dos governos chamados de progressistas em promoverem as mudanças desejadas pela população. Há que olhar para eles com criticidade. Há que apontar os erros, há que seguir sinalizando o caminho. A Argentina passou por eleições legislativas, o governo perdeu. E não poderia ser outro o resultado. As promessas não vingaram. A Venezuela passou por eleições agora no domingo também. A direita avança, porque a esquerda se liberaliza. O Peru elegeu um professor, um cara de luta, mas que se afoga nas tramas da direita acreditando ser possível governar sem quebrar os ovos. O Chile vai viver eleições presidenciais. Há chances para a esquerda, mas será, de novo, uma esquerda liberal? E se for, como poderá avançar se vai tropeçar nos seus limites cheios de bom-mocismo. No Brasil vemos a nossa esquerda liberal vibrar com o fato e o candidato do PT ser recebido com honras pelos capitalistas da Europa. Acreditam também na cara humana do capital. É um eterno retorno, uma espécie de efeito borboleta político, que parece não ter fim. A nós cabe a tarefa histórica de sempre. Seguir revelando que o rei está nu. Seguir desvelando a sangria do capital. E anunciando o mundo novo. Peru: mais um ataque da direita contra o governo América Latina e as lutas sociais Nossas veias ainda não cicatrizaram

Retratos do Brasil e da América Latina

por Frei Betto Entre os 605 milhões de habitantes da América Latina, há 44 milhões de indígenas que dominam 420 idiomas, e 150 milhões de negros, que equivalem a 30% da população do continente. No Brasil, dos 207 milhões de habitantes, 53,6% são negros. Eles constituem a maioria da população no Brasil, na Venezuela e na República Dominicana. E ainda são encontradas no Brasil 2,8 mil comunidades quilombolas que abrigam 1,7 milhão de pessoas. Apenas 230 comunidades possuem títulos de propriedade de suas terras. Segundo o Latinobarômetro, 73% dos latino-americanos estão convencidos de que as elites governam em busca de seus próprios interesses, e não dos direitos da maioria da população. A proporção de pessoas que acreditam que seu país está retrocedendo supera, hoje, a de quem pensa o contrário. Entre 2015 e 2016, o apoio à democracia no Brasil caiu 22 pontos percentuais. Agora, apenas 32% da população creem na democracia. Os demais estão decepcionados devido à corrupção, à crise política e à estagnação econômica. No entanto, segundo o Latinobarômetro, 54% da população latino-americana ainda acredita que a democracia é melhor do que qualquer outro sistema. Não fica claro, porém, o índice dos que opinaram convencidos ou não de que democracia e capitalismo são irmãos siameses. A América Latina tem, hoje, a maior taxa de homicídios do mundo, encabeçada pelo Brasil. Os homicídios em todo o planeta são cerca de 600 mil por ano, dos quais 60 mil em nosso país. Uma de cada três pessoas assassinadas no mundo se encontra em nosso Continente, que abriga apenas 8% da população mundial. Em apenas quatro países ocorrem 25% dos homicídios na América Latina: Brasil, Colômbia, México e Venezuela. Das 50 cidades mais violentas do mundo, 41 se encontram em nosso Continente e 21 no Brasil. As principais causas dos assassinatos são a desigualdade social, o machismo e o racismo. Em nosso Continente, os impostos sobre a renda do capital é de apenas 5,2% do PIB. Nos países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) chegam a 11,4%. Na União Europeia, os 10% mais ricos pagam 20% de sua renda em impostos. Na América Latina, somente 5,4%, embora a fortuna dos multimilionários aqui residentes tenha crescido, entre 2002 e 2015, 21% (mais de seis vezes o aumento do PIB). E se sabe que parcela considerável desse montante vai parar nos paraísos fiscais, deixando de recolher impostos. Entre 2000 e 2015, a América Latina teve crescimento econômico graças ao boom das commodities. A partir de 2015, a economia entrou em declínio, devido à pressão do capital internacional sobre nossas economias nacionais, a redução das exportações e a crescente importação de produtos industrializados, sobretudo chineses. O que passou a ameaçar a indústria continental. Entre 2003 e 2011 a economia brasileira cresceu apenas 3,6% ao ano, insuficiente para absorver o crescimento vegetativo da força de trabalho, em torno de 5% ao ano. Se a crise brasileira tardou em aflorar foi devido ao fato de o nosso país aproveitar a liquidez internacional e surfar na bolha especulativa. Porém, não soube se valer daqueles bons ventos para implementar um desenvolvimento sustentável e favorecer o crescimento interno. A taxa média de inversão ficou abaixo de 17% do PIB, inferior ao nível histórico da economia brasileira entre 1970 e 1990. Publicado originalmente no Correio da Cidadania. https://urutaurpg.com.br/siteluis/micaela-bastidas-guerreira-de-nuestra-america/ América Latina e seus dilemas Geopolítica da América Latina: entre a esperança e a restauração do desencanto O caminho da América Latina Sem Brasil, Celac encerra conferência com pautas conjuntas