O recente surto de crimes de apologia ao nazi-fascismo por parte do governo Bolsonaro e seguidores, a existência de células neonazistas, o crescimento do discurso de ódio e da intolerância através do “comitê do ódio do Planalto”, o crescimento de milícias armadas com participação de policiais e até mesmo de militares, o massacre de negros e pobres de periferias, todos estes fatos têm uma relação direta com a existência e as práticas que antecederam o surgimento do Nazismo Alemão e até mesmo dos Partidos Nazista e Fascistas no Brasil do século passado e nos anos pós-ditadura militar de 1964. A primeira etapa O partido de Hitler no Brasil chegou a ser o maior Partido Nazista fora da Alemanha! Foi fundado em Santa Catarina, na cidade de Timbó, em julho de 1928, sendo o primeiro Partido Nazista a ser reconhecido pelas lideranças do partido em Munique, que já haviam realizado a fracassada tentativa de golpe de estado de 1925. E o Partido Nazista aqui formado se expandiu enormemente e por todo nosso país. Chegou a se estabelecer em 17 Estados, contando com mais de 100 células formadas exclusivamente por alemães. Frise-se que por ordem expressa do Partido Alemão e, posteriormente, do governo nazista da Alemanha, só era permitida a inscrição de alemães natos, excluindo até mesmo descendentes nascidos aqui. E nas décadas de 1930 e 1940, ademais dos membros partidários de origem germânica, os simpatizantes do nazismo espalharam-se por todo o Brasil! Fotos de alemães e simpatizantes brasileiros ostentando a suástica em bandeiras e faixas, reportagens racistas sobre o “perigo judeu” e a respeito das maravilhas dos “campos de trabalhos forçados” estabelecidos nos países invadidos, como Auschwitz na Polônia, constituem provas incontestes. O jornal nazista “Deutscher Morgen” (“Aurora Alemã”) se encarregou de apregoar por todos os cantos a exclusão de raças “inferiores” e grupos sociais como judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e portadores de deficiência. Grande parte da repulsa do Partido Nazista se direcionava também a negros e miscigenados, que compunham nossa própria identidade nacional. O sucesso do partido em solo brasileiro ocorreu justamente por conta do pensamento racista da elite e da classe média, herança do escravagismo. A vinda de europeus da Itália e Alemanha fora incentivada, desde meados do século XIX, não só para fornecer mão-de-obra barata na agricultura, mas também como uma forma de “branquear” a identidade brasileira. Textos eugenistas apareciam não somente em publicações ligadas ao Partido Nazista, mas também na quase totalidade da imprensa brasileira dependente da publicidade estatal. De todo modo, a nomeação de Hans Heinnig von Cossel como chefe do Partido Nazista no Brasil, em 1934, aumentou a adesão dos entusiastas da cruz gamada. Sua estratégia era conseguir unir toda a colônia alemã em torno do hitlerismo, evitando manifestações sobre questões políticas brasileiras. Afinal, o nazismo já contava com inúmeros simpatizantes no próprio governo e na posterior ditadura Vargas, assim como em nossas Forças Armadas. Surge um irmão ideológico. Na década de 1930, outro movimento estava em crescimento no país, especialmente nas regiões sul e sudeste. Fortemente inspirado pelo fascismo italiano, o jornalista paulista Plínio Salgado fundou a Ação Integralista Brasileira, organização política que compartilhava os mesmos preceitos do nazi-fascismo: nacionalismo, antissemitismo, racismo e combate ao comunismo e ao liberalismo. “Sim, podemos dizer que são nossos irmãos fascistas”, dizia Cossel. Na década de 1930 e princípios da de 1940, os governos de Brasil e Alemanha eram mais que amigos. Até a entrada forçada na Segunda Guerra Mundial em 1942, ao lado dos Aliados, o Brasil manteve boas relações com a Alemanha. Consequentemente, a existência do Partido Nazista em solo brasileiro foi não apenas tolerada, mas muito bem-vista, inclusive por Getúlio Vargas. “Até 1938, o partido não era proibido no país. O próprio Vargas, ao se corresponder oficialmente com Hitler em novembro de 1937 por conta da troca de embaixadores, chamou o ditador alemão de “grande bom amigo” e afirmou esperar um estreitamento de relações. O filho de Getúlio, Lutero Vargas, casou-se com a artista plástica alemã nazista Ingeborg ten Haeff, simbolizando o relacionamento estreito entre os países. As polícias secretas do Brasil e Gestapo da Alemanha estabeleceram vínculos de cooperação fortíssimos, o que incluiu treinamento de policiais brasileiros pelas SS nazistas. A preterida expansão do imperialismo da Alemanha em países subdesenvolvidos como o Brasil tornava-se mais do que evidente. Foram realizadas expedições nazistas à Amazônia para coletar informações sobre a fauna, flora e cultura indígenas da região, pois um dos objetivos do governo alemão era implantar colônias estratégicas na região. No entanto, quando o Brasil é forçado pelos Estados Unidos a entrar na Segunda Guerra Mundial, empresas alemãs foram fechadas, bancos alemães pediram liquidação e lojas alemãs foram saqueadas. Em resposta às proibições e hostilidades, parte da comunidade alemã-nazista deixou o Brasil e foi repatriada, recebendo até mesmo compensações financeiras do III Reich. E desta forma, o primeiro surto nazi-fascista foi rompido em nosso país. O nazi fascismo estrutural, numa segunda etapa, foi uma das bases da Ditadura Militar de 1964 O Brasil se tornou o lugar de refúgio de diversos criminosos nazistas, que sempre buscaram refúgio em grupelhos nazi-fascistas do interior de São Paulo ( Atibaia, por exemplo) e Santa Catarina. Entretanto, somente após a redemocratização, em 1988, o neonazismo tentou se reestruturar no Brasil através do Partido Nacional Socialista Brasileiro (PNSB), fundado por Armando Zanine Júnior, em 1988. A Justiça Eleitoral não o aprovou, afinal, nosso país vivia uma efervescência política de liberdade e reconstrução pós-ditadura militar. Na busca por alguma relevância política, o PNSB se aproximou publicamente do seu “irmão” ideológico, o movimento integralista representado pela Ação Integralista Brasileira. Nas eleições de 1994, Zanine declarou apoio a Éneas Carneiro, do PRONA, mas Carneiro, democrata, rejeitou publicamente o apoio. “Não me alio a nazistas e fascistas”, disse. E o segundo surto da peste se auto-afogou. O terceiro surto nazifascista, o Bolsonarismo O Brasil vive hoje uma escalada no aumento do número de células neonazistas, explosão de discursos que exaltam a ideologia de ultradireita nos meios digitais, um desrespeito crescente aos