A pedra da loucura só está na cabeça do outro?

por Fernando do Valle Por volta do século XV, charlatões pretendiam curar a insanidade com uma pequena incisão no crânio, como em um passe de mágica, retiravam a pequena pedra da loucura da cabeça do desajustado. A prática falsamente assegurava aos outros pacatos cidadãos a proteção dessas figuras inadequadas que desestabilizavam suas convicções. A catarse do público no espetáculo da retirada da pedra da loucura assemelha-se aos rituais de pastores televisivos, a purgação dos males do mundo em poucos minutos regozija a audiência e traz conforto para enfrentar as agruras reais, muitas vezes insuportáveis. https://www.youtube.com/watch?v=6Hs8_oqVfZI Hoje muitos clamam para a retirada da pedra da loucura de seu oponente, daquele que não concorda com sua visão de mundo, o acusador não tem pedra no cérebro, o equilíbrio é sua tônica em sua conduta impecável, como diria Sartre, “o inferno são os outros”. As crenças do outro incomodam e o desejo de ordem domina a mente de muitos, que confiam em suas máscaras construídas pelo medo, com elas podem circular incólumes pelas ruas rumo ao shopping mais próximo. Nas redes sociais, o opositor é o louco, “como esse cara pode acreditar nisso”, com isso formam-se pequenas bolhas em que os iguais se protegem dos loucos de outras bolhas. O diálogo cessa com o outro que não se encaixa no que pretendo para o MEU país, para a MINHA família, o outro faz parte do time adversário e vivemos em uma eterna briga de torcidas de futebol. Sem loucura, não há arte, não há utopia, não há vida. Doença mental sob o desgoverno Bolsonaro