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50 anos da morte de Che Guevara

por Elaine Tavares Sempre que se fala em Che Guevara a primeira coisa que vem a mente é a imagem do soldado, do revolucionário. Essa era uma das facetas do Che. Mas não a única. Desde bem garoto ele inventou de andar pela América Latina, gostava de conhecer as gentes e, com elas, estabelecia vínculos de amor. Formou-se em medicina e ainda estudante voltou a percorrer os caminhos da América do Sul. Seu coração de jovem médico era apaixonado por essa América profunda, pelos trabalhadores e empobrecidos.  Não queria que a realidade fosse assim, tão dura, com os trabalhadores. E foi esse amor pela sua gente latino-americana que o levou a ser um soldado da revolução cubana. Com seus companheiros cubanos ele empunhou o fuzil para derrubar uma ditadura, mas também cuidou dos caídos, doentes e feridos. Médico e soldado, coração e razão, sempre andando junto. Quando a revolução foi vitoriosa, ele acabou sendo Ministro da Indústria e Comércio. Mas seu trabalho nunca foi só de gabinete. Ele andava pela ilha vendo as coisas com os próprios olhos, trabalhando junto com os trabalhadores no corte da cana, no carregamento dos grãos. Vivia como pensava. Ele acreditava que um homem e uma mulher revolucionários precisavam ser perfeitos, éticos, pautados pelo bem comum. Ele dizia: “temos de ser o melhor marido, o melhor filho, o melhor pai, o melhor estudante, o melhor trabalhador, o melhor tudo. Temos de ser perfeitos, para ser exemplo. Tudo aquilo que formulamos como moral para o outro, temos de ser”.  A palavra para ele não era coisa vã. Era a escritura de uma ação concreta na vida. Tanto que não conseguiu aquietar-se num cargo de ministro da recém liberta nação cubana. Aquela gente sofrida da América que ele conhecera nas suas andanças continuava amargando dores, misérias e exploração. Então, para ele não podia haver acomodação na vitória. Seu desejo era voltar e iniciar uma revolução na parte sul do continente. Mas, naqueles dias, outros povos clamavam por libertação. Eram as gentes do continente africano que começavam suas lutas de independência das colônias europeias e do racismo fomentado por elas. Che não pensou duas vezes. Largou a pasta de ministro e foi se fazer soldado de novo. Ele era movido por profundos sentimentos de amor. “Enquanto houver um irmão injustiçado, somos companheiros”, era seu lema.  Como poderia descansar se outros companheiros e companheiras estavam em luta. E lá se foi para o Congo e Angola, batalhando contra o apartheid e o colonialismo. Na volta da África, de novo, seu coração decidiu por fazer valer a ética que o caracterizava: o amor pelo outro, pelo caído, pela vítima do sistema capitalista, pelo que se levantava em rebelião. E, mais uma vez recusou cargos ou honrarias. Não haveria de descansar enquanto toda a América Latina não avançasse para um tempo de justiça. Foi quando viajou para a Bolívia, onde iria combater outra ditadura. Lá, por conta das diferentes condições históricas e erros de estratégia, foi capturado. Um dia depois, assassinado friamente por um soldado boliviano, mas a mando de agentes estadunidenses que foram chamados para documentar a morte do revolucionário. Não contentes em executar o então prisioneiro, desarmado e indefeso, os agentes lhe cortaram as mãos. Um toque de sadismo. Era preciso tripudiar do homem que ousara sair do comodismo de uma boa vida de médico burguês, e abraçar a causa dos trabalhadores, dos oprimidos. A última imagem que temos do Che é a de um homem morto, deitado numa mesa fria, com os olhos bem abertos, mirando o infinito. Nem na morte os seus carrascos conseguiram apagar a luz que emanava do seu ser. Amou as mulheres, amou seus filhos, amou Cuba, amou o conhecimento, amou os cubanos, amou os africanos, amou os latino-americanos, e por conta desse amor incondicional entregou sua vida.  Ele curou vidas, produziu teoria, dirigiu uma revolução, comandou um ministério, morreu por seus ideais. Esse é seu maior legado. Viveu o tempo todo, na prática, aquilo que apontava como teoria, como moral e como ética. Morreu de pé, olhando o inimigo no olho. Seu exemplo de ser humano é sua maior herança. E hoje, quando lembramos os 50 anos do seu assassinato, é isso que nos conforta. Che Guevara ainda é um caminho. Meu amigo Fidel  

De tanto me mandarem para Cuba, eu fui

No ano de 2014, virou moda entre direitistas pseudo politizados mandarem as pessoas para Cuba. Coincidentemente, havia reservado minha passagem para passar as festas de final de ano na ilha caribenha. Curioso para sentir de perto a realidade do povo, fiquei hospedado nas famosas casas particulares, imóveis de cubanos que se transformaram em uma nova modalidade de hostel, que nos dão a oportunidade de viver junto aos moradores locais, compartilhando refeições, conversas sobre todos os assuntos e sentir no dia-a-dia os pontos positivos, negativos e as contradições do regime. Na cidade de Havana, fiquei hospedado por 8 dias na Casa Doña Clara, no bairro de Vedado e que nos permitiu contato real com a vida das pessoas e da metrópole. Na cidade histórica de Trinidad, no litoral sul da ilha, passei 3 dias no Hostal Los Hermanos, onde fomos tratados com muita atenção e com ingredientes abundantes na ilha: boa educação, amor e carinho no trato cotidiano entre as pessoas. De cara, posso afirmar que Cuba pode ser identificada com qualquer coisa, menos com uma ditadura, afinal como pode ter esse nome um governo de um país que garante acesso às escolas e hospitais para todos e praticamente erradicou a venda de drogas e a violência urbana. É certo que a ausência de eleições diretas para o poder executivo não pode ser apontada como uma das qualidades do país. Mas democracia, na acepção da palavra, significa governo do povo, e um país com tantas assembleias populares, conselhos regionais e que elege seus deputados da assembleia parlamentar periodicamente, exerce a democracia na sua forma direta já que esses representantes se elegem e dão forma ao governo e votam nos chefes do executivo, além de apresentarem leis e planos de trabalho para atender às demandas da população. A professora Anita Leocádia Prestes, filha do líder comunista Luís Carlos Prestes e de Olga Benário, explica  como funcionam as assembleias populares em Cuba. O sistema pode ser criticado por não contar com eleições majoritárias, mas poucos países contam com um sistema consultivo da população como o da ilha caribenha. Leia texto sobre a eleição de Raúl Castro em 2013 (em espanhol). http://www.elmundo.es/america/2013/02/02/cuba/1359839026.html A ladainha repetida pela mídia corporativa brasileira que insiste em chamar Cuba de ditadura comunista é fruto de quem não conhece a sociedade e história cubana, preferindo replicar informações distorcidas do império yankee, em especial de think tanks  financiados pelos gusanos de Miami. Cuba não é tão pouco comunista, talvez socialista, pois se consome e muito na ilha de Fidel e Raúl. Além das lojas estatais, que vendem os tradicionais charutos, as marcas de rum e artesanato bem diversificado, existem supermercados com boa variedade de produtos (muitos brasileiros) e lojas da Adidas, Puma, Mercedes Benz, além das centenas de restaurantes particulares, cafeterias, hotéis espanhóis, canadenses, alemães e italianos. Se muitos, por desconhecimento ou ideologia, acham que o governo cubano não permite o acesso da população à internet, saibam que estão 100% enganados. Existe internet em toda a ilha, mas o criminoso bloqueio estadunidense contra Cuba impede que se forneça acesso de banda larga para a população, ficando a internet local na era das conexões discadas, fornecido por Universidades que contam com convênios internacionais. Apesar da lentidão da rede, os cubanos possuem e-mail, conta no facebook e montam seus blogs. Adoram estar conectados, só não estão mais presentes na web em função das restrições impostas pelo bloqueio ao país. O socialismo em Cuba efetivamente existe e está na educação de qualidade  para todos, na saúde pública e gratuita, na aceitação das religiões de matriz africana e do homossexualismo como manifestação normal da individualidade, mesmo em uma sociedade de origem machista e cotidianamente militarizada. Também pode ser claramente notado pela profusão de manifestações culturais que vão das artes plásticas ao rock, da rumba ao cinema nacional e internacional com importantes escolas de cinema e festivais, da trova e nova trova cubana ao jazz de qualidade que se ouve com facilidade nas casas de shows em Havana. Me chamou muito a atenção de como hoje se encontra com tranquilidade Coca-Cola, absorvente higiênico e outros produtos de consumo em toda Cuba, e com preços acessíveis atualmente para a população. Isso se dá, diga-se de passagem, sem que se ceda aos excessos da propaganda, deixando todo indivíduo livre para decidir por conta própria o que consumir, sem se transformar em vítima da manipulação de corações e mentes que tão bem o marketing sabe construir. Acho que o país entra agora numa nova fase, onde quem acredita que será uma abertura descontrolada e que, em meses, Cuba voltará a ser um satélite dos EUA, irá quebrar a cara. Afinal a sociedade local efetivamente funciona e seu povo conta com um dos melhores níveis culturais do planeta em função da educação de qualidade e pela valorização dos professores na sociedade. Repito o que ouvi de um cubano: “Fidel Castro venceu mais uma batalha contra seus algozes, provavelmente a última, e agora poderá descansar em paz, já que cumpriu a missão de resistência ao capitalismo desvairado, e apesar de todos os erros cometidos em mais de 50 anos de Revolução, ajudou a construir uma verdadeira Nação. Cuba tem muito a ensinar e claro também muito a aprender com todos nesse conturbado século XXI”. Minha crítica principal ao regime está na militarização da sociedade, com uma presença exagerada das forças armadas no dia-a-dia da população, gerando inevitáveis conflitos, em especial com os mais jovens, que não conheceram as mazelas de antes da Revolução. A foto acima revela o conturbado relacionamento Cuba-Estados Unidos: em 2006, a embaixada norte-americana instalou um telão na janela de seu prédio para transmitir mensagens contra o regime cubano. Fidel revidou: colocou 138 bandeiras em frente ao edifício da embaixada. Sinto que agora todos terão uma grande oportunidade, e que naturalmente se entre numa época em que a sociedade civil terá a missão de assumir as rédeas e o futuro do país, herdando uma base diferenciada com invejáveis índices sociais. Os cubanos se sentem prontos para encarar

10 frases de Che Guevara

Che Guevara – No dia 9 de outubro de 1967, o ditador boliviano René Barrientos, seguindo ordens da CIA, ordenou a execução de Che Guevara no pequeno povoado de La Higueira, a 150 quilômetros de Santa Cruz de la Sierra. Após várias horas de combate, Guevara, com 39 anos e ferido em uma perna, tinha sido capturado pelo Exército no dia anterior. Separamos 10 frases do guerrilheiro de origem argentina:  “Os poderosos podem matar uma, duas, até três rosas, mas nunca deterão a primavera”. “Não me esperem para a colheita, estarei sempre a semear”. “Quando o extraordinário se torna cotidiano, é a revolução”. “Se você é capaz de tremer cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”. “É preciso endurecer, sem perder a ternura, jamais”.  “No momento em que for necessário, estarei disposto a entregar minha vida pela liberdade de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém”. “Vale milhões de vezes mais a vida de um único ser humano do que todas as propriedades do homem mais rico da terra”. “Lutam melhor os que têm belos sonhos”. “Muitos dirão que sou aventureiro, e sou mesmo, só que de um tipo diferente, daqueles que entregam a própria pele para demonstrar suas verdades”. “Deixe o mundo mudar você e você poderá mudar o mundo”. https://www.zonacurva.com.br/cuba-fome-e-liberdade-imprensa/