Zona Curva

desigualdade social

A América Latina e os Estados Unidos

Estou fazendo o curso da Camila Vidal, no Iela  (Instituto de Estudo Latino-Americanos da UFSC)  sobre as Intervenções dos Estados Unidos na América Latina. E, confesso, ao final de cada aula, saio completamente deprimida. Não pela aula, que é sempre ótima, mas pelas informações. A proposta do curso, que começou no ano passado, é desvelar, com riqueza de detalhes, cada intervenção dos Estados Unidos nos países da Pátria Grande, desde o roubo das terras mexicanas, primeiro conflito gerado pelo famoso Destino Manifesto, até nossos dias. O que causa a profunda tristeza é observar que nesses conflitos de invasão explícita ou de geração de golpes a conversinha é sempre a mesma: levar a democracia e o desenvolvimento aos países bárbaros. É um eterno retorno. Basta que o país se desloque, mesmo que bem pouquinho, da órbita dos Estados Unidos para que comece a sofrer as consequências. As formas de ataque também são sempre as mesmas, embargos, bloqueios econômicos, campanha midiática sobre um suposto perigo de comunismo, financiamento de grupos de “oposição” (armados ou não) e invasão direta. No geral, a situação que gera o ataque dos EUA também é sempre a mesma. Um governo mais à esquerda ou um governo algo progressista que comece a mudar a lógica garantindo educação, saúde, moradia e seguranças ao povo passa a ser visto como perigoso. E, se não se aliar aos EUA nos seus interesses, já vira inimigo. Mas, se for além, buscando garantir soberania nas ações e na exploração de suas riquezas, aí vira o próprio demônio. É hora de o império agir. O começo de tudo vem pela campanha de propaganda contra o país. A mídia mundial embarca na canoa, divulgando as notícias produzidas pelas agências dos EUA, como se ali estivesse a verdade. Principia então o desenho do “monstro”. E não importa que esse monstro tenha sido amigo e formado pelos Estados Unidos, como foi o caso de Noriega, no Panamá, ou Sadam, no Iraque. Saiu um pouco da rota, está na fogueira. No geral, o problema principal detectado é uma “tendência ao comunismo”. Começou a oferecer educação, serviços públicos de qualidade, usar os recursos nacionais para desenvolver o país, pronto, virou comunista. E o comunismo aí colocado como algo ruim. Sendo que não é! Na verdade, o comunismo é quase uma sociedade perfeita, onde cada um ganha conforme o que necessita e atua na sociedade para o bem de todos. Pois isso é um perigo para os que dominam, então há que demonizar. E assim vamos indo, estudando a história de cada um dos nossos países da América Latina: O México, na parte norte, a América Central com todo o drama da violência, genocídios e da migração presente em cada país, o Caribe e sua pobreza endêmica apesar da exuberante riqueza natural que o faz paraíso dos ricos, e a nossa América do Sul, com sua história de traições, golpes militares, golpes parlamentares e golpes midiáticos. Não escapa um. Cada país abaixo do rio Bravo já sofreu a intervenção do império, seja diretamente ou fomentando traições internas. É batata. Nenhum bem pode vir para a maioria da população. Há que manter a massa no arrocho e garantir a maior taxa de lucro para o 1% que domina. Saiu disso, tá morto. Nesse universo infernal produzido pelos Estados Unidos o único país que se mantém firme é Cuba, a pequena ilha caribenha que enfrenta há mais de 60 anos o ataque ininterrupto do império. É absolutamente fantástico que consigam manter a revolução e as conquistas que vieram depois dela, apesar de tanto ataque. O povo cubano é deveras extraordinário, afinal é submetido a um bombardeio midiático diário e sofre um embargo econômico criminoso. Apesar disso o povo da ilha se reinventa e resiste, valentemente. Mas, no que diz respeito aos demais países o eterno retorno é lei. Passam anos de ditadura, de governos autoritários ou neoliberais e quando a população finalmente se propõe a mudar e elege alguém menos alinhado aos interesses estadunidenses, lá vem a máquina imperialista, a Estrela da Morte, com todo o seu arsenal ideológico e militar. Só na história contemporânea podemos citar a Venezuela e o golpe armado em 2002 contra Chávez, a deposição de Bertrand Aristide no Haiti em 2004, criando esse caos que não tem fim no país, o golpe em Honduras em 2009 que deixou um rastro de sangue, a queda do presidente Lugo no Paraguai para o retorno da velha oligarquia, a queda da Dilma em 2016 no Brasil que levou à tragédia Bolsonaro, o golpe contra Evo Morales em 2019, a queda de Pedro Castillo em 2022, as tramas na América Central para impedir que ideias mais arejadas pudessem assomar, com o sistemático assassinato de lideranças de lutas populares e ambientais, e por aí vai. É claro que numa análise mais acurada a gente vai perceber que internamente nos países há erros e equívocos praticados pelos governantes, o que torna a ação imperial ainda mais fácil de ser efetivada. Mas, o que não se pode deixar de perceber é que os EUA estão sempre ali, como uma águia assassina a esperar a hora de comer os olhos dos governantes – e da população – que ousarem sair da linha. Volto a lembrar de Cuba, cujo presidente, Fidel, chegou a sofrer mais de 600 tentativas de assassinato. Sobreviveu a todas e para azar do império, morreu velhinho, no aconchego do lar, do jeito que quis, amado pelo povo. De novo, um exemplo solitário nesse mar de podridão criado pelos Estados Unidos em toda a nossa Pátria Grande. O fato é que no capitalismo, cuja locomotiva ainda é os EUA (China e Rússia disputam o cargo), resistir a esse modelo que garante riqueza e vida boa a apenas 1% da população é uma tarefa gigantesca. As populações lutam com o que podem, que são apenas os seus corpos nus. Como enfrentar a máquina gigantesca da guerra? Lembro-me da invasão ao Panamá em 1989, quando uma força de milhares de soldados estadunidenses bombardeou a

O maior condomínio de luxo do mundo

Não sei quantos amigos meus têm contato direto com os pobres, além de faxineiras, cozinheiras, garagistas etc. Mas quase todos sabem que faço ponte entre pessoas muito pobres e/ou excluídas e o mundo dos remediados e ricos. Com frequência, promovo campanhas, como a de Quaresma, e coleto cestas básicas, medicamentos e outros bens imprescindíveis. A pobreza é aterradora e humilhante. Ninguém a escolhe. A rigor, o que existem são empobrecidos. Pessoas que foram levadas pelas estruturas de nossa sociedade a ficarem privadas de direitos básicos, como alimentação, saúde e educação. Morei cinco anos em uma favela, em Vitória. E há décadas assessoro movimentos populares. Por isso, conheço casos como o de dona Rosa, que nunca teve oportunidade de passar do segundo ano do ensino fundamental. Empregada doméstica (sem carteira assinada), casou e teve cinco filhos. O marido, desempregado, deu pra beber. E espancá-la. Rosa se separou e foi despedida do emprego porque passou a levar o filho mais novo, de dois anos, por não ter com quem deixá-lo. Agora sobrevive da solidariedade de vizinhos e amigos. Em novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim. Em outubro, estive em Berlim Oriental. Vi a muralha desabar. E brotou a grande esperança de que, a partir de então, o mundo não mais teria muros segregadores. Vã expectativa. Dois acontecimentos fizeram surgir novos muros: a queda das torres gêmeas, nos EUA, a 11 de setembro de 2001, e a crise dos refugiados em 2015, quando um milhão deles ocuparam a Europa. Como estrutura física dois muros se destacam: o erguido por Israel para segregar os palestinos, e o que a Casa Branca estende na fronteira dos EUA com o México (3.145 km) para tentar conter a onda migratória. Segundo Frank Jacobs, atualmente há pelo menos 70 fronteiras muradas em todo o mundo. A União Europeia é, hoje, o maior condomínio fechado do mundo. Outros países também trancam as portas, como Japão, Austrália, Nova Zelândia e Coreia do Sul. Esse seleto grupo de países, incluídos EUA e Canadá, abriga apenas 14% da população mundial e, em 2009, possuía 73% da riqueza global. Os 86% da população mundial extramuros sobrevivem com apenas 27% da renda total. Dentro do condomínio, a renda média mensal é de 2.500 euros. Fora, apenas 150 euros. As 50 melhores cidades do mundo em qualidade de vida estão dentro do condomínio. A guerra da Coréia, na década de 1950, rachou a península coreana em duas. A zona desmilitarizada, que separa a Coréia do Sul da Coréia do Norte, e serve de “muro”, se estende por 248 km. É considerada intransponível, a ponto de os desertores do Norte preferirem escapar pela fronteira com a China. No norte da África, se destaca a cerca de fronteira que separa as cidades espanholas de Ceuta e Melilla do território de Marrocos. Toda em arame farpado e construída em 1993, a cerca, equipada com sofisticados sensores, tenta deter o fluxo de migrantes da África subsaariana. O Muro de Evros, edificado em 2012, separa a Turquia da Grécia e impede que imigrantes ilegais acessem por ali a União Europeia. A Índia constrói, atualmente, a cerca de 4.000 km – o Muro de Bengala – que a separa de Bangladesh, sob a alegação de evitar a entrada de contrabandistas e terroristas. Na realidade, ali o fluxo migratório se caracteriza por fuga da pobreza e das mudanças climáticas. Algumas barreiras são entre bairros, como os Muros de Paz que, em Belfast, na Irlanda do Norte, separa as comunidades católicas/nacionalistas das comunidades protestantes/loyalistas. O maior deles, com 1 milhão de tijolos, divide a propriedade protestante Springmartin do Parque Católico de Springfield. No Brasil, proliferam condomínios fechados, como Alphaville, em São Paulo, e o AlphaVilla, em Belo Horizonte. No Rio, eles se multiplicam sobretudo na Barra da Tijuca, onde se ergue uma réplica da Estátua da Liberdade. Um dos projetos dos bilionários para desfrutarem com tranquilidade seus excessivos luxos é construir ilhas móveis, nas quais teriam seus condomínios privados. Com a vantagem de se moverem pelos mares do mundo, escaparem das leis e se protegerem de qualquer risco de assaltos ou sequestros. Isso enquanto não conseguem colonizar o planeta Marte e transferir para lá suas utopias paradisíacas. Contudo, o muro mais maciço e intransponível se situa no coração humano. É o preconceito, o fundamentalismo, a discriminação e a arrogância que mais criam barreiras entre os seres humanos e cimentam as gritantes desigualdades sociais. Retratos do Brasil e da América Latina Ricos pagam menos impostos

Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro

    Fome – A intensificação da crise econômica durante o governo Bolsonaro fez o Brasil retornar aos patamares de insegurança alimentar obtidos em 2004, ano em que o programa “Fome Zero” começou a vigorar. A segurança alimentar apresenta níveis caóticos em todo o país e as desigualdades regionais intensificam ainda mais a situação da fome. Segundo o Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), as regiões Norte e Nordeste apresentaram queda de 40% e 30% respectivamente, na segurança alimentar das famílias, isso ocorre quando a família tem alimentos garantidos para suas refeições. Já a insegurança alimentar grave, a fome propriamente dita, cresceu 18,1% na região Norte e 13,8% no Nordeste. Juntamente a esses números, a inflação, a crise sanitária e um governo relapso em políticas públicas contribuem para a intensificação da fome no Brasil. Jair Bolsonaro ignora os 19 milhões de brasileiros que passam por essa situação quando declara aos seus fiéis eleitores do cercadinho  que “a esquerda fala que a gente não come arma, come feijão, quando alguém invadir a tua casa, você dá tiro de feijão nele”.   Enquanto sua gestão extingue ferramentas importantes para o combate à fome no Brasil como o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ela sugere a compra de armas de guerra para uma população onde cerca de 14% dos domicílios vivem com uma renda per capita de até meio salário mínimo, o equivalente a 596 reais por pessoa.  Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas ,itens básicos para o dia a dia como o arroz e o feijão, alimento principal no prato dos brasileiros, tiveram alta de mais de 60%, até mesmo o café, que foi o carro chefe da exportação durante décadas, está mais caro. A desigualdade social é um mal que assola o Brasil desde sua colonização, mas a fome e a extrema pobreza eram assuntos prioritários das políticas governamentais até o final do primeiro governo Dilma em 2014, ano em que o país deixou o Mapa da Fome da ONU.  A ascensão da extrema direita e seu descaso com os pobres deixaram pautas importantes para o Brasil como o combate à fome e a desigualdade social em alguma gaveta perdida do Ministério da Economia, Por outro lado, houve crescimento dos bilionários no país, conforme pode ser lido no texto abaixo. Governo Bolsonaro agrava o fosso da desigualdade A disparidade regional, que vinha sendo combatida com programas como o Bolsa Família e a transposição do rio São Francisco, se intensificou desde então. O acesso restrito à água e a densidade domiciliar auxiliaram na transmissão da Covid-19 nas regiões mais carentes do país. De acordo com o relatório da Rede Penssan, o fornecimento irregular de água ou a falta de água potável atinge cerca de 40% dos domicílios da região norte. Além disso, o mesmo percentual de moradias na região conta com um cômodo per capita, o que dificulta o isolamento social. O desemprego também é maior nessas mesmas localidades. Na região norte, 20% dos entrevistados pelo estudo tiveram um membro do lar dispensado de suas ocupações, e cerca de 55,3% tiveram que realizar cortes em despesas essenciais. Quando olhamos para a região nordeste, os dados são mais assustadores, apesar do número de desempregados ser quase o mesmo (20,4%), 61,4% dos entrevistados pelo estudo tiveram que reduzir gastos vitais. Em meio ao caos em que vivem milhões de brasileiros por incompetência do governo federal, coube à sociedade civil se organizar para combater a fome. O Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) construiu 16 cozinhas solidárias em 10 estados, incluindo Alagoas, Sergipe, Ceará, Rondônia e Sergipe, com o objetivo de servir ao menos uma refeição gratuita por dia. Já o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) doou mais de 5 mil toneladas de alimento para as populações mais carentes, além de um milhão de marmitas. Fonte: Inquérito Nacional Sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional   Fome per capita do Brasil e Jonathan Swift Fome, outra pandemia Desigualdade social: Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres no Brasil, segundo IBGE

Fome per capita do Brasil e Jonathan Swift

Mas a média per capita jamais explicará por que se temos dois frangos para dois homens, portanto, a média de 1 para cada homem, um deles pode comer dois frangos, enquanto o outro apenas saliva Fome Brasil – O estímulo para esta coluna veio da notícia da Folha de São Paulo: “Produção de comida per capita sobe no país, mas fome avança mesmo na fartura”. Parece mais um dos paradoxos sociais que a matemática não explica. Ora, se temos mais comida no país, o natural seria menos fome para o povo. Mas a média per capita jamais explicará por que se temos dois frangos para dois homens, portanto, a média de 1 para cada homem, um deles pode comer dois frangos, enquanto o outro apenas saliva. Assim é no mundo capitalista. Mas os economistas ao modo de Guedes, ou os fascistas à moda Bolsonaro, fazem de conta que de nada sabem. E gargalham. Podem até dizer, “lá vêm esses comunistas com mania de distribuição de riqueza…”. E depois, quem sabe se os necessitados de comida não ganhem uma imunidade de rebanho, isto é, depois de multidões morrerem, os sobreviventes se acostumem ao regime de ossos e lixo. Claro, até onde houver carniça para todos miseráveis. Em segundo lugar, o título acima gera outro paradoxo: para haver divisão de coisas por cabeça, é preciso que haja um número de coisas para a divisão. E como vamos medir o que não se mede, mas apenas se sente como uma atração animal, primária, fundamental? Ninguém pode falar, “no tempo em que eu tinha fome 90 ou fome 100”. Mas bem podemos falar em números para a fome, quando medimos as desgraças associadas a ela. Falemos, portanto, em desnutrição ou mortalidade infantil. Falemos em números de pelagra, de tuberculose, de raquitismo. Ai teremos tristes números para contar. Ainda assim, que estranho, os economistas não falem em “raquitismo per capita”, ou em destruição de pessoas por cabeça. O que, para os economistas de salão, de Posto Shell, faz sentido. Diabo de falar de miséria da gentalha, rá-rá-rá-rá. Então vamos à razão do nome destas linhas. O Swift lá de cima não é a carne enlatada Swift, apesar da vinculação à carne impossível nos dias de hoje. O título no alto se refere ao imortal escritor Jonathan Swift, que tem sofrido, à semelhança de outros grandes autores satíricos, um amaciamento, uma domesticação póstuma como escritor para crianças. Ele é, para a maioria do mundo, o autor de As Viagens de Gulliver, um livro que se tornou cômico, engraçado, fantasioso, sobre os anõezinhos de Lillipute. Ora, esse livro recontado para crianças e adolescentes (e todo inferno do mundo existe para os clássicos “recontados”, infantilizados) é, em si, no original, uma sátira à sociedade inglesa e a todas as sociedades. O livro fala, por exemplo, da cobrança de impostos sobre os vícios e desvarios, mas recomenda que o bom senso e a boa índole não deveriam ser taxados, porque não valeriam o custo da arrecadação. E agora atingimos o cerne de Swift e da fome do povo brasileiro. O gênio do escritor irlandês possui uma das mais ferozes sátiras contra a degradação e miséria do povo em qualquer parte do mundo. Mas como se falasse somente para os pobres da Irlanda, em “Uma Modesta Proposta” ele sugere, com o ar mais sério, o que seria uma bela fórmula para reduzir a pobreza, O caso não é de vômito, é de verdade crua contra o sistema que mata ou fere a dignidade dos pobres. No texto, fala a santa ira de Swift: “É motivo de melancolia para aqueles que passeiam por esta grande cidade, ou que viajam pelo campo, verem nas ruas, nas estradas, e às portas das barracas, uma multidão de pedintes do sexo feminino, seguidas por três, quatro, ou seis crianças, todas em farrapos, a importunarem cada passante pedindo esmola.   Foi-me garantido por um muito sábio americano do meu conhecimento, em Londres, que uma criança jovem e saudável, bem alimentada, com um ano de idade, é do mais delicioso, o alimento mais nutriente e completo – seja estufada, grelhada, assada, ou cozida. E não tenho qualquer dúvida de que poderá igualmente ser servida de fricassé ou num ragu. Uma criança dará duas doses numa festa de amigos; e se for a família a jantar sozinha, os quartos da frente, ou de trás, proporcionarão um prato razoável. Se temperada com um pouco de sal ou pimenta e cozida, estará ainda bem conservada no quarto dia, especialmente no Inverno. Fiz as contas e, em média, um recém-nascido pesará 12 libras e, se aceitavelmente tratado, durante um ano solar aumentará para 28 libras. Concedo que esta comida venha a ser de certo modo cara e, portanto, estará muito adequada aos senhores – e dado que estes já devoraram a maior parte dos pais, poderão ter direito de preferência sobre os filhos. Também já calculei as despesas para alimentar cada filho dos pedintes (em cuja lista incluo todos os que vivem em barracas, trabalhadores rurais, e quatro-quintos dos lavradores) que será de cerca de dois xelins por ano, trapos incluídos. E creio que não incomodará nenhum cavalheiro pagar dez xelins por uma boa carcaça de criança gorda, a qual, como já disse, dará quatro pratos de carne, excelente e nutritiva, quando tiver apenas um amigo particular ou a sua própria família a jantar consigo. Assim o proprietário rural aprenderá a ser um bom senhor, aumentando a sua popularidade entre os seus rendeiros; a mãe terá uns oito xelins de lucro líquido e estará apta a trabalhar até produzir outra criança. Quanto à nossa cidade de Dublin, podem destinar-se a este propósito as secções mais convenientes, e os talhantes podem ficar descansados que não terão falta de clientela. Embora eu antes recomende que se comprem as crianças vivas, e sejam temperadas ainda quentes da faca, como o fazemos com os porcos. Os procriadores constantes, além do ganho de oito xelins esterlinos por ano pela venda de cada filho, ficarão livres

América Latina e as lutas sociais

Lutas socias na América Latina – A luta de classes é definitivamente o motor da história. E nesses dias tumultuados da nossa América Latina temos visto essa batalha bem acirrada. Seja na luta dos trabalhadores contra as velhas e repetidas práticas neoliberais, seja na mobilização contra os retrocessos. No Equador, por exemplo, agora sob o comando do empresário Guillermo Lasso, as políticas de ajustes neoliberais colocaram os trabalhadores do campo em luta. No último dia 18, uma jornada nacional de luta unificou os agricultores – que a convocaram a partir de um encontro realizado no dia primeiro de outubro – com estudantes, professores e outros militantes do movimento social para protestar contra as políticas de preço do produto agrícola, bem como contra os aumentos sucessivos da gasolina que acaba impactando todos os trabalhadores. Também estiveram na pauta as lutas pela água e contra a mineração, que segue a passos largos no Equador, apesar das promessas eleitorais de Lasso. E diante das mobilizações dos trabalhadores, ele, em vez de conversar, decidiu instituir “estado de exceção” no país por 60 dias, alegando inseguridade e combate ao narcotráfico, um discurso velho conhecido que dá total liberdade para as forças policiais agirem com liberdade diante de qualquer coisa que considerem ilegais. Ou seja, as liberdades individuais estão praticamente suspensas. Não, por acaso, Lasso receberá essa semana o secretário de estado estadunidense, Antony J. Blinken. Ou seja, diante das lutas sociais, a receita é sempre a repressão. Na Colômbia, o governo militarizado de Ivan Duque também continua levantando os trabalhadores e militantes sociais em protestos seguidos. Isto porque a matança não para. Assassinatos cirúrgicos de ex-guerrilheiros, de sindicalistas, indígenas e militantes sociais são uma constante. No último dia 17, foi registrado mais um massacre, com sete pessoas assassinadas de uma só vez. O chamado processo de paz que culminou com o acordo de Havana ficou só no papel, porque o terrorismo de estado segue a todo vapor. O secretário estadunidense também vai passar por lá. Na Argentina, os peronistas foram às ruas neste dia 18 de outubro para celebrar o “Dia da Lealdade”, que marca um momento emblemático de vitória dos trabalhadores argentinos quando, liderados por Eva Perón, exigiram e conseguiram a libertação e o retorno de Juan Domingos Perón que havia sido exilado em 1945. Ele ocupava o posto de vice-presidente e ganhara o rechaço da oligarquia argentina, sendo por fim banido. Mas, por conta da mobilização popular, no dia 17 de outubro daquele ano, ele entrou triunfante em Buenos Aires nos braços dos trabalhadores para ser eleito presidente no ano seguinte, dando início a um importante momento na vida da Argentina. Agora, em 2021, os argentinos ainda esperam que o governo de Alberto Fernández mostre a que veio. A pandemia pegou uma Argentina fragilizada economicamente pelo governo de Maurício Macri e o atual governo não está conseguindo dar repostas para a crise. Um possível acordo com o FMI serve de combustível para protestos e apreensão, mas os trabalhadores que saíram às ruas nesse dia 18 ainda emprestam solidariedade e confiança a Fernández, embora esperem respostas mais efetivas para os problemas. Na Bolívia, as avançadas da direita cruceña, com suas mobilizações e com as ações dos líderes que voltam a ofender a bandeira dos povos originários também levaram os trabalhadores a grandes mobilizações em todo o país. Marchas foram realizadas, concentrações e atos de luta reforçaram a necessidade do respeito à wiphala – bandeira dos povos originários – bem como o apoio ao trabalho do presidente Luis Arce. O próprio mandatário liderou algumas das manifestações e vem denunciando sistematicamente as ações da direita que visam desestabilizar o governo. Ele também denunciou que houve uma tentativa de assassinato contra ele em outubro do ano passado quando estiveram na Bolívia os mesmos integrantes do grupo que matou o presidente haitiano Jovenel Moïse. Ou seja, as forças do atraso já agiram e seguem agindo no sentido de tirá-lo do poder. Por isso mesmo as entidades de luta da Bolívia se declararam em estado de emergência, vigilantes e mobilizadas. Todas essas mobilizações, à esquerda e à direita, mostram que o quadro de crise imposto pelo capital não parece apresentar saídas que não sejam as mesmas de sempre: mais exploração dos trabalhadores, mais arrocho, menos investimento no público. Logo, pouco resta ao progressismo,  pois boas intenções não são suficientes. Mudança mesmo, só poder vir com revolução. Outra velha verdade sempre atual. Dez anos sem Chávez Eleição de Gabriel Boric no Chile traz esperança para a esquerda da América Latina Haiti, esse desconhecido Peru: difícil começo A eleição nos EUA e a América Latina América Latina e seus dilemas

Governo Bolsonaro agrava o fosso da desigualdade

Desigualdade social – O compromisso do governo federal com o 1% dos brasileiros mais ricos e o desprezo pela vida intensificaram nosso crônico problema da desigualdade social. Levantamento publicado no ano passado pelo banco suíço UBS mostra que o aumento da riqueza acumulada por bilionários foi de 99%, em comparação com 2009. A desigualdade se reflete no prato vazio do brasileiro. Segundo o estudo “Efeitos da Pandemia na Alimentação e na Situação da Segurança Alimentar no Brasil”, coordenado por pesquisadores da Universidade Livre de Berlim e colaboração da Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Brasília, cerca de 59% da população brasileira vive em situação de insegurança alimentar. Esse termo abrange desde casos de fome extrema até insuficiência nutricional, causadas pelo baixo poder de compra. A extinção do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) e do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, ambos em 2019, demonstra a falta de compromisso do governo Bolsonaro com os mais pobres. Com o aumento dos preços de itens básicos do dia a dia, a população mais carente enfrenta, todos os dias, dificuldade para manter o padrão de vida conquistado no governo Lula. Os gastos com os combustíveis estão pesando ainda mais no bolso do brasileiro durante a pandemia. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), só em 2021, houve nove aumentos no preço da gasolina, com acúmulo de 27% no preço de janeiro a julho. Em algumas regiões do país, o litro já ultrapassou R$7,00. Em recente live, o presidente Jair Bolsonaro relacionou os aumentos ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), mas, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o valor administrado pelos estados se manteve na média dos últimos anos, não contribuindo significativamente para alteração do valor dos combustíveis. Além do preço da comida e da gasolina, outra conta aumentou e tem preocupado grande parte dos brasileiros: a da energia elétrica. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) definiu o novo valor da tarifa extra que será cobrada. A bandeira vermelha, que definia R$9,49 a cada 100KWh, chegará a R$14,20 a partir desse mês. Esse aumento, segundo a Agência, está relacionado à crise hídrica que acomete o país. O vice-presidente Hamilton Mourão declarou que medidas de racionamento estão sendo cogitadas. Um estudo feito pela organização Oxfam Brasil mostrou que, em 2018, a distribuição de renda estacionou pela primeira vez no país desde 2000. A grave crise econômica que estamos mergulhados desde 2015 atinge os brasileiros de diferentes formas, conforme o gênero, a cor e a classe social. Segundo o estudo, entre 2016 e 2017, os brancos mais ricos tiveram ganhos de rendimentos de 17,35%, enquanto os negros obtiveram menos que a metade, apenas 8,1%. De acordo com o pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Pedro Herculano de Souza, a concentração de renda no topo da pirâmide é quase constante, e as pioras mais profundas no grau de desigualdade econômica acontecem em momentos de graves crises. A crise sanitária e a inação do governo federal estão proporcionando o aumento da inflação que não foi acompanhado por um proporcional reajuste no valor do salário-mínimo. Só em julho, por exemplo, o IPCA mostrou que a inflação teve seu maior avanço no mês desde 2002, chegando a 0,96%. Desde o ano passado, mais 67,7 milhões de brasileiros buscam se manter com o auxílio emergencial, enquanto isso, cerca de 42 pessoas lucraram mais que todo o valor destinado à população em maior situação de vulnerabilidade econômica no país durante a pandemia de Covid-19, segundo o relatório “Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid na América Latina e Caribe”, da Oxfam. Souza identifica três períodos de agravamento da desigualdade do país: o fim da República Velha e o Estado Novo (em primeiro), entre 1926 e 1945, o início da ditadura de 1964, e a crise econômica e política dos anos 1980, período marcado pela hiperinflação. Conforme a análise de Souza, entre 1942 e 1943, o 1% mais rico da população pulou de 20% para 30% da arrecadação de toda a renda nacional. Isso ocorreu principalmente porque a elite pouco se opôs ao governo autoritário de Getúlio Vargas, ampliando seus privilégios durante o regime vigente. Dessa forma, houve maior enriquecimento dos que se encontravam no topo da pirâmide, enquanto a população mais pobre perdia direitos e vivia em condições ainda mais difíceis. Ainda segundo o pesquisador, durante a ditadura militar (1964-1985), foi rompida a tendência de queda na concentração de renda que estava acontecendo nas duas décadas anteriores. Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro Essa evolução na distribuição que estava em curso foi fruto de políticas como a do aumento do salário-mínimo em 100%, proposta pelo então ministro João Goulart, em 1953 (leia mais sobre o mandato de Jango como ministro de Vargas no texto de Fernando do Valle aqui no Zonacurva). Com condições trabalhistas mais favoráveis, os proletários passaram a viver um momento de maior participação econômica, o que diminuiu o déficit em relação aos mais ricos. Já nos primeiros anos da segunda metade da década de 1960, o 1% mais rico da população passou de 17% a 26% no acúmulo de renda nacional. Esse aumento é consequência de uma das medidas econômicas vigentes no período: a redução de 30% no valor do salário mínimo. Essa diminuição deixou a classe trabalhadora em situação desfavorável, deixando-os mais pobres e impedindo a evolução da distribuição de renda. Além disso, a repressão a sindicatos e atividades de mobilização popular impossibilitou a classe mais pobre de reivindicar seus próprios direitos e lutar por melhoria na qualidade de vida. Depois disso, no período de transição democrática dos anos 1980, que ficou conhecido como “década perdida”, 30% da renda nacional ficou concentrada no 1% mais rico do país. Uma pesquisa mostrada no artigo “A history of inequality: Top incomes in Brazil, 1926–2015”, publicada pelo pesquisador Pedro Herculano Souza, compara a concentração de renda do topo da pirâmide socioeconômica,

Desigualdade social: Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres no Brasil, segundo IBGE

Desigualdade social no Brasil – Em 2017, os integrantes de 1% da população brasileira com maior renda receberam 36 vezes mais (R$ 27.213) do que o rendimento médio dos 50% da população com os menores rendimentos (R$ 754). Na região Nordeste, a proporção é ainda mais alta: 44,9 vezes. Os dados foram divulgados ontem pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já os 10% mais ricos detêm 43,3% da massa de rendimentos do país, enquanto os 10% mais pobres recebem apenas 0,7% da renda. O rendimento médio mensal domiciliar per capita caiu de R$ 1.285 em 2016 para R$ 1.271 em 2017. As regiões Norte (R$ 810) e Nordeste (R$ 808) apresentaram os menores valores e a Região Sul, o maior (R$ 1.567). Apesar da crônica desigualdade brasileira, o número de domicílios que receberam auxílio financeiro do Programa Bolsa Família no ano passado caiu de 14,3% (2016) para 13,7% (2017). O rendimento mensal domiciliar per capita dos domicílios que recebem Bolsa Família foi de R$ 324 e das famílias que não recebem foi de R$ 1489. A insana desigualdade social no mundo https://www.zonacurva.com.br/a-cronica-desigualdade-brasileira/ Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro

A crônica desigualdade social brasileira

por Fernando do Valle O Brasil ainda figura entre os países mais desiguais do mundo. Pessoas jogadas nas praças com seus cobertores, pedintes e crianças nos sinais de trânsito fazem parte do cotidiano das grandes cidades. Muitos preferem não enxergar o abandono de 16 milhões de brasileiros que ainda vivem abaixo da linha de pobreza. E o quadro tende a piorar: segundo projeções do Banco Mundial, o país produzirá mais 3,6 milhões de pobres até o final de 2017. Sem dúvida, nas últimas décadas, a desigualdade diminuiu, mas continua como um problema crônico no país, essa é a principal conclusão do relatório “A distância que nos une” divulgado ontem pela Oxfam, organização que trabalha na área da justiça social há mais de 60 anos. O Bolsa Família, ganhos educacionais (que impactaram na redução das diferenças salariais), ampliação da cobertura de serviços essenciais para os mais pobres e a política de valorização real do salário mínimo melhoraram o quadro de completo abandono social do período da ditadura militar e dos anos 80. Segundo a Oxfam, “entre 1988 – ano da promulgação de nossa Constituição – e 2015, reduzimos de 37% para menos de 10% a parcela de população brasileira abaixo da linha da pobreza. Considerando os últimos 15 anos, o Brasil retirou da pobreza mais de 28 milhões de pessoas, ao mesmo tempo em que a grande concentração de renda no topo se manteve estável”. Entre 1976 e 2015, o índice de Gini (parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países) variou de 0,623 a 0,51527, ou seja, a pobreza encolheu de 35% para menos de 10%, menos de um terço do que era há 40 anos. Depois de alguns dados positivos, vamos aos números que apontam o persistente problema social do Brasil. Para exemplificar, o nível de concentração de renda continua absurdo, apenas seis pessoas possuem riqueza equivalente ao patrimônio dos 100 milhões de brasileiros mais pobres. Segundo o ranking de bilionários da revista Forbes deste ano, são esses os seis brasileiros: Jorge Paulo Lemann (investidor), Joseph Safra (banqueiro), Marcel Herrmann Telles (investidor), Carlos Alberto Sicupira (investidor), Eduardo Saverin (co-fundador do Facebook) e Ermirio de Moraes (do Grupo Votorantim). Juntos, eles possuem uma fortuna estimada em mais de R$ 280 bilhões. Desigualdade social: Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres no Brasil, segundo IBGE E tem mais: os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95%. Por aqui, um trabalhador que ganha o salário mínimo de R$ 937 por mês (cerca de 23% da população) levará 19 anos para receber o equivalente aos rendimentos da fortuna de um bilionário em um único mês. No mundo, a situação também é extremamente desigual, ainda segundo a Oxfam, que estudou todos os indivíduos com um patrimônio líquido de pelo menos 1 bilhão de dólares, concluiu que 1.810 bilionários (em dólares) incluídos na lista da Forbes de 2016, dos quais 89% são homens, possuem um patrimônio de US$ 6,5 trilhões – a mesma riqueza detida pelos 70% mais pobres da humanidade. Neste momento, o 1% mais rico da população mundial possui a mesma riqueza que os outros 99%, e apenas oito bilionários possuem o mesmo que a metade mais pobre da população no planeta. Por outro lado, a pobreza é realidade de mais de 700 milhões de pessoas no mundo. Fonte: OXFAM Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro País continua desigual, mas índices sociais melhoram entre 2010 e 2014

A insana desigualdade social no mundo

A injusta distribuição da riqueza no mundo acaba de bater recordes. O 1% mais rico da população mundial deteve mais riquezas do que todo o resto do mundo junto em 2015, segundo relatório divulgado pela Oxfam, organização não-governamental britânica. Ou seja, o patrimônio de 70 milhões de super ricos é superior ao dos demais 7 bilhões de habitantes da Terra. A ONG calculou ainda que 62 pessoas possuem tanto capital quanto a metade mais pobre da população mundial, há apenas cinco anos, eram 388. Uma rede global de paraísos fiscais permite que os indivíduos mais ricos do mundo escondam 7,6 trilhões de dólares do fisco. Leia como o banco Goldman Sachs colabora para concentrar o dinheiro na mão de poucos. O relatório Uma Economia para 1% da Oxfam, baseado em dados do Informe sobre a riqueza 2015 do banco Credit Suisse, ainda afirma que “a riqueza detida pela metade mais pobre da humanidade caiu em um trilhão de dólares nos últimos cinco anos, evidenciando de que vivemos hoje em um mundo caracterizado por níveis de desigualdade não registrados há mais de um século”. A riqueza das 62 pessoas mais ricas do mundo aumentou em 44% nos cinco anos decorridos desde 2010 – o que representa um aumento de mais de meio trilhão de dólares (US$ 542 bilhões) nessa riqueza, que saltou para US$ 1,76 trilhão. Para piorar ainda mais, a riqueza da metade mais pobre caiu 41%, pouco mais de um trilhão de dólares no mesmo período, sem esquecer que a população mundial aumentou em 400 milhões de pessoas. Felizmente, o Brasil ainda figura entre os poucos países com avanços no combate à desigualdade social. Nos últimos 13 anos, a renda dos 10% dos brasileiros mais pobres subiu 129% em ganhos reais (descontada a inflação). A partir de amanhã na cidade de Davos, na Suíça, alguns dos responsáveis por esses índices que indicam a abissal injustiça social que o mundo está mergulhado reúnem-se no Fórum Econômico Mundial. FONTE: Oxfam Norte e Nordeste voltam a ser esquecidos no faminto Brasil de Bolsonaro