Zona Curva

ditadura militar

O Brasil despertou no movimento das Diretas Já!

Diretas Já – Depois de duas décadas de arbítrios do regime militar, o movimento das Diretas Já acordou o povo brasileiro para a urgência da participação política. Entre o final de 1983 e o início de 1984, vários comícios mobilizaram o país pelas eleições diretas para presidente da República. Em 16 de abril de 1984, o comício das Diretas Já no Vale do Anhangabaú, na cidade de São Paulo, reuniu 1,5 milhão de pessoas em uma das maiores concentrações populares da História do Brasil. O comício reuniu no mesmo palanque políticos como Lula, Fernando Henrique, Brizola, Miguel Arraes, Mário Covas, Franco Montoro (governador de São Paulo à época) e muitos outros. Do meio artístico, as atrizes Eva Wilma e Fernanda Montenegro, o cantor Walter Franco e a cantora símbolo da campanha das Diretas, Fafá de Belém, marcaram presença. A adesão à campanha pelas Diretas crescia em todo o país, o que levou o presidente Figueiredo a encaminhar um projeto ao Congresso em que o governo aceitava as eleições diretas para presidente, mas somente para o pleito de 88. O país não realizava uma eleição direta para a presidência da República desde 3 de outubro de 1960, quando foi eleito Jânio Quadros. Com a promulgação pelo presidente Castelo Branco do Ato Institucional nº 2, em 27 de outubro de 1965, o presidente e vice-presidente da República passaram a ser eleitos por maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional. Em março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT) apresentou ao Congresso Nacional uma emenda constitucional que propunha o fim do Colégio Eleitoral e o retorno das eleições diretas para presidente e vice-presidente para as eleições previstas para 1985. No aniversário de São Paulo em 1984, no dia 25 de janeiro, uma multidão já tinha tomado a Praça da Sé em outro comício. Alinhada com a ditadura militar, a direção da Rede Globo censurou a cobertura do ato e tentou confundir os telespectadores como se a maciça presença popular na praça fosse para apenas celebrar o aniversário da cidade. O ex-vice-presidente das Organizações Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Boni, disse em entrevista ao jornalista Roberto Dávila em 2005 que a ordem de censurar a cobertura do comício veio diretamente de Roberto Marinho, fundador da emissora. O jornalista Ricardo Kotscho, que cobriu o comício pelo Jornal Folha de São Paulo, declarou em entrevista à Revista dos Bancários em 2003 que “foi o povo que acabou fazendo a cabeça da Globo”.  Em texto Zonacurva, nosso colaborador Otávio de Carvalho lembra o Comício da Praça da Sé. A liderança do ‘ex-conservador’ Teotônio Vilela Um dos fundadores da UDN (União Democrática Nacional), partido conservador criado como opositor ao governo Getúlio Vargas, o político alagoano Teotônio Vilela tornou-se uma das figuras simbólicas da luta pela redemocratização do país. Filho de um rico proprietário rural, Vilela foi um dos idealizadores do Projeto Brasil em abril de 1978 que continha, entre várias reivindicações, a restauração do habeas corpus por crimes políticos (extinto em 1968 pelo AI-5), o pluripartidarismo (na época, apenas o MDB e a ARENA atuavam na legalidade, Teotônio foi eleito senador pelo último em 74), o fim da censura à imprensa e eleições diretas para presidente e governadores. Em 1979, ano da posse do general Figueiredo na presidência, Teotônio troca a ARENA pelo MDB. Em 82, ano em que Teotônio inicia sua luta contra um câncer, o político esteve presente ao lado de Lula nas assembleias no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Chegou a presidir o PMDB em julho de 1983 e impulsionou a campanha das Diretas, até morrer no dia 27 de novembro de 1983. O jornalista e desenhista Henfil retratou Teotônio em charge que acabou batizando o movimento pela democratização de Diretas Já!: Saiba mais sobre o genial Henfil Fafá de Belém interpreta “Menestrel das Alagoas”, composta por Milton Nascimento e Fernando Brant em homenagem a Teotônio Vilela: Mais Fafá de Belém: desta vez, a cantora debate com João Batista de Andrade o movimento das Diretas Já! no programa Metrópolis da TV Cultura:  Fonte usada: CPDOC-FGV. Henfil e as Diretas JÁ!  

Protesto com samba na DEScomemoração do golpe de 64

O bloco carnavalesco Cordão da Mentira irá desfilar em DEScomemoração aos 50 anos do golpe militar de 64. Com intervenções artísticas e sambas de autoria própria, o Cordão volta às ruas no dia 1º de abril (terça) a partir de 17h30 em frente ao Memorial de Resistência, no Largo General Osório, na cidade de São Paulo. O bloco realizou seu primeiro desfile em 1º de abril de 2012. O mote do desfile deste ano é “64 +50: Quando vai acabar a ditadura civil-militar?” em que o Cordão promete samba, batucada e escracho popular nas ruas do centro de São Paulo. Dentre as paradas escolhidas, a Praça da República e a rua Maria Antônia, palcos  de protestos e conflitos durante a regime militar. Assista ao vídeo-convite do Cordão da Mentira: Acesse a página do facebook do bloco. As ruas são pra lutar e quem não luta dança!

Líder estudantil, Honestino Guimarães foi morto pelo regime militar em 1973

Honestino Guimarães – O desaparecimento do líder estudantil Honestino Guimarães em 1973 comprova como o regime de exceção matou e torturou de forma indiscriminada. Honestino, eleito presidente da UNE em 1971, sempre foi contrário a qualquer tipo de ação armada e morreu após dar entrada no temido Cenimar (Centro de Informações da Marinha) no Rio de Janeiro em 1973, com apenas 26 anos. A história de Honestino (como muitas outras) cala de uma vez por todas o patético argumento dos muitos reacionários de hoje e de ontem de que a barbárie do regime militar foi “necessária como forma de defesa aos ataques da guerrilha”. Este parágrafo talvez fosse descartável se a sandice e a ignorância não estivessem presentes em inúmeros comentários que pululam nas redes sociais por ocasião dos 50 anos do golpe militar. LEIA TAMBÉM A morte de Vladimir Herzog e o Brasil que não queremos Honestino ingressou na Ação Popular (AP) com apenas 17 anos (ele nasceu em 28 de março de 1947 na pequena Itaberaí, em Goiás). Em 1965, antes de completar 18 anos, foi o primeiro colocado no vestibular, em toda a Universidade de Brasília, e começou a participar do movimento estudantil. Suas atividades contra o regime militar como pichar muros, participar de manifestações e distribuir panfletos contra o governo o levaram quatro vezes para a cadeia: a primeira em 1966 e as outras três em 1967 (na última vez, mesmo na cadeia, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico da UNB). A Universidade de Brasília foi criada por um trio de grandes figuras: Darcy Ribeiro definiu as bases da Universidade, Anísio Teixeira planejou o método pedagógico e o projeto arquitetônico ficou a cargo de Oscar Niemeyer. A UNB foi fundada em 21 de abril de 1962 com a missão de ser modelo de pesquisa na ciência e inovação nas artes. A Universidade foi invadida pela terceira vez pela polícia em agosto de 1968 —a biblioteca destruída, alunos e professores presos ou expulsos — na manifestação contra a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima, no Rio de Janeiro. Sessenta pessoas foram presas, entre elas, Honestino, que foi arrastado por seus corredores até a viatura por agentes da ditadura. Em 26 de setembro de 1968, Honestino foi desligado da universidade como punição por ter liderado movimento pela expulsão de um falso professor da UnB, informante da ditadura. No começo dos anos 70, o líder estudantil mudou-se para o Rio de Janeiro, onde vivia de forma clandestina. Segundo amigos, ele deu entrada no Cenimar entre os dias 10 e 11 de outubro de 1973 e nunca mais foi visto. Em 20 de setembro de 2013, Honestino foi declarado anistiado político post mortem. Em cerimônia na UNB, o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, leu o pedido de desculpas oficial do governo brasileiro. Fontes usadas: Site Honestino e Agência Brasil. Cabo Anselmo no seu obituário Médici corrupto A ditadura brasileira e os dois demônios

Millôr explica a diferença entre democracia e ditadura

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. ASSISTA:     “A diferença entre uma democracia e um país totalitário é que numa democracia todo mundo reclama, ninguém vive satisfeito. Mas se você perguntar a qualquer cidadão de uma ditadura o que acha do seu país, ele responde sem hesitação: “não posso me queixar”.” Há dois anos, em 27 de março de 2012, o escritor, jornalista e o faz tudo e mais um pouco Millôr Fernandes morreu no Rio de Janeiro. Neste ano, Millôr será o escritor homenageado pela FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty), que acontecerá entre 30 de julho e 3 de agosto. PIF-PAF tentou curar a ressaca do golpe de 64

A ação mais ousada contra o regime militar

#ditaduranuncamais -O rapto do embaixador norte-americano Charles Elbrick foi, sem dúvida, a ação mais ousada dos opositores ao regime militar. Entre os muitos atos contra a ditadura, o sequestro do principal representante do país que deu suporte ao golpe surpreendeu os militares e repercutiu em todo o mundo. O sequestro foi executado por integrantes da Ação Libertadora Nacional (ALN)  e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) no dia 4 de setembro de 1969, na cidade do Rio de Janeiro. Em troca, os militantes exigiram a libertação de 15 presos políticos e a leitura de manifesto em rede de TV e rádio contra o governo. O militante Cid Benjamin, que participou do sequestro, recorda, em seu livro recém-lançado Gracias a la vida, memórias de um militante, que a ideia veio por acaso: “eu estava com Franklin Martins [também militante e ex-ministro da Comunicação Social no governo Lula] na rua Marques quando passou o carro do embaixador, devidamente ornamentado com uma bandeirinha dos Estados Unidos de cada lado do capô.  A falta de cuidado nos chamou a atenção. Meses antes, o embaixador norte-americano na Guatemala fora metralhado por guerrilheiros urbanos. Ao ver seu colega no Brasil circular de forma tão despreocupada, não passou pela nossa cabeça um atentado contra sua vida, mas capturá-lo como moeda de troca por Vladimir Palmeira [que estava preso há 11 meses]” (trecho do livro de Cid Benjamin). Os movimentos armados contra a ditadura militar atravessavam um momento difícil: a edição do AI-5, em dezembro de 1968, que endureceu a repressão, e uma série de prisões haviam desestruturado a guerrilha contra o regime. As lideranças do MR-8 e alguns dirigentes da ALN (parte da direção não apoiou o sequestro) acreditavam que a libertação dos presos demonstraria à opinião pública a força da oposição. O carro diplomático (um Cadilac preto) que transportava Elbrick foi rendido pelos militantes que usaram uma Kombi na ação. O motorista do embaixador foi deixado nas proximidades e Elbrick foi levado para uma casa no bairro de Santa Teresa. “O cativeiro do embaixador norte-americano foi descoberto ainda durante o sequestro e muitos dos que entravam ou saíam da casa tinham sido fotografados. Como vários de nós éramos fichados na polícia, por termos sido presos no Congresso da UNE de Ibiúna, em outubro de 1968, ou por termos tido papel de destaque nas manifestações estudantis contra a ditadura, não foi difícil nossa identificação” (trecho do livro de Cid Benjamin). Segundo Cid Benjamin, o embaixador falava português pois já tinha servido em Portugal e não era um defensor da política do governo norte-americano, que apoiava ditaduras de direita na América Latina. “Sem que Elbrick percebesse, chegamos a gravar conversas nas quais ele elogiava o trabalho de dom Helder Câmara e se dizia contrário à censura à imprensa e à tortura de presos políticos” (trecho do livro de Cid Benjamin).   Exigências atendidas e a reação dos militares linha-dura  O sequestro durou quatro dias e entre os presos políticos que foram libertados e embarcaram rumo ao México estavam o lendário comunista Gregório Bezerra (PCB), o líder sindical José Ibrahim, Onofre Pinto da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), os líderes estudantis Luís Travassos e José Dirceu, o jornalista Flávio Tavares, dentre outros. Após sua libertação, Elbrick chegou a declarar ao jornal Última Hora de 8 de setembro, de 1969: “fui muito bem tratado. Eles até me deram charutos e lavaram a minha camisa”. Os militares não gostaram da entrevista do embaixador e ele foi substituído pelos Estados Unidos poucas semanas depois. Flávio Tavares lançou o livro Memórias do Esquecimento em 1999 (uma edição ampliada saiu em 2005 pela Editora Record), em que ele narra o sequestro e sua trajetória de luta contra o regime. Tavares declarou em 2005 ao Estadão: “o livro foi a minha catarse ou minha salvação e libertação interior… só enfrentando a memória pude vencer os fantasmas e viver em paz”. O filho de Flávio, Camilo Tavares, dirigiu o documentário ‘O dia que durou 21 anos’ sobre o golpe militar. Leia texto sobre o filme.   No início da década de 60, Tavares trabalhou como comentarista político do jornal Última Hora, de Samuel Wainer, quando cobriu eventos como a Conferência da Organização dos Estados Americanos, em Punta del Leste, Uruguai, em 1961. Lá, ele conheceu Ernesto Che Guevara  que era o delegado de Cuba. Sobre essa experiência, Tavares escreveu Meus 13 dias com Che Guevara, lançado no ano passado. Há cerca de um mês, Tavares também lançou O Golpe de 64, em que foca a participação dos Estados Unidos no golpe contra o presidente João Goulart. O jornalista retrata em seu livro Memórias do Esquecimento como, por muito pouco, a troca dos prisioneiros políticos pelo embaixador foi impedida pelos paraquedistas ultradireitistas do Exército: “na tarde de nossa partida, uns 40 oficiais paraquedistas da Brigada Aeroterrestre saíram da Vila Militar, em três caminhões, para impedir que os prisioneiros entrassem na Base Aérea ou, se fosse o caso, para nos retirar de lá à força e, de imediato, executar todo o grupo. Os oficiais planejavam nos raptar, levando-nos ao centro do Rio para nos enforcar de um a um na Cinelândia, defronte ao Theatro Municipal, naquele mesmo sábado. Havia apenas uma dúvida — alguns queriam nos “metralhar”, mas a ideia da forca era dominante”. (trecho do livro de Flávio Tavares) Felizmente, os paraquedistas enfrentaram um congestionamento devido a um jogo no Maracanã que os reteve por mais de meia hora na avenida Brasil. Os militares identificados como de linha-dura (que não aceitavam qualquer negociação com a guerrilha) chegaram à Base Aérea 20 minutos após a decolagem do avião que transportou os presos políticos ao México. A guerrilha contra o regime realizou mais três sequestros de diplomatas estrangeiros em 1970: o cônsul japonês Nobuo Okushi, o embaixador alemão Ehrenfried Anton Theodor Ludwig Von Holleben e o embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher também foram capturados como método de pressão ao regime militar. O documentário Hércules 56  e a história de Jonas Realizado em 2006 pelo diretor Sílvio Da-Rin, o documentário Hércules 56 relata o sequestro do embaixador. Para isso,

‘Não existem porões da Ditadura’

A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e a Comissão Nacional da Verdade, durante a audiência pública realizada em setembro do ano passado, apresentaram a estrutura de funcionamento do terrorismo de Estado implantado a partir de 1964, constituído através de ampla rede das Forças Armadas. O estudo foi feito partir de documentos compilados dos órgãos de repressão. “É uma prova de que não existem porões da Ditadura. Esse sistema nacional é o próprio sistema de terrorismo de Estado”, declarou Ivan Seixas, responsável pelo estudo. Havia um conjunto de órgãos denominado Sistema Nacional de Informação (SISNI) com a finalidade de produzir informações para formular “política de segurança” e de “desenvolvimento” do país. Segundo Adriano Diogo, presidente da Comissão “Rubens Paiva”, esses grupos organizados faziam reuniões no gabinete dos presidentes impostos pela Ditadura e a estrutura até hoje não foi desmontada. “Essas cadeias não foram desmontadas. Um exemplo é a [Agência Brasileira de Informação] Abin. Infelizmente a ditadura não acabou nesse setor”, afirmou Diogo. O SISNI era formado pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA); Centro Nacional de Informações da Marinha (Cenimar); Centro de Informações do Exterior (CIEx); Centro de Operações de Defesa Interna (Codi) e seus Destacamentos de Operação e Informações (DOI); Divisões de Segurança e Informação (DSI) dos ministérios civis e suas Assessorias de Segurança e Informação (ASI). A partir do Centro de Informações do Exército (CIE) foi possível mapear os movimentos de oposição política. Segundo Ivan Seixas, o CIE era ligado ao gabinete do Ministério do Exército e era mantenedor dos centros clandestinos de tortura como a Casa da Morte, de Petrópolis, no Rio de Janeiro, a “boate” de Itapevi e a Fazenda 31 de Março, em São Paulo. “O CIEx não existia formalmente, usava a estrutura da Cenimar e do CIE”, explicou Ivan Seixas, coordenador da assessoria da Comissão “Rubens Paiva”. “O golpe foi imposto pra criar um Estado militarizado e construir uma máquina de guerra”, afirmou Rosa Cardoso, membro da CNV. Estrutura planejada Havia uma lógica imposta anterior ao Golpe. O Ato Institucional nº I, a política de tortura, desaparecimento e mortes foram planejados com antecedência, conforme explicou Rosa Cardoso, membro da CNV. Universidades como a USP constituíram seu departamento para fornecimento de informações à repressão. A Comissão apresentou documento originado no gabinete da Reitoria. Haviam criado a Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), que reunia informações dos alunos e funcionários de interesse dos órgãos repressores. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), criada por iniciativa do deputado federal Rubens Paiva apurou e comprovou a atuação de dois institutos criados para preparar o terreno para o Golpe, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisa Econômica e Social (Ipes). Depois do golpe, com a ditadura implantada e o sistema repressivo dos DOI-CODIs agindo impunemente, o Deputado Rubens Paiva foi preso, torturado e está desaparecido até hoje. O funcionamento desses institutos foi fundamental para origem do Serviço Nacional de Informações (SNI). O Ibad foi financiado pelos Estados Unidos e diversas entidades privadas, como o grupo Varig e o Banco Nacional. Os fundadores ostensivos são: Ivan Haalocher; Gilbert Huber Jr.; Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho. O Ipes teve como fundador direto Golbery do Couto e Silva em parceria com os empresários Augusto Trajano de Azevedo Antunes (Grupo Caemi) e de Antônio Gallotti (multinacional Light). A linha de atuação era voltada para produção de material contra o governo democrático e treinamento de agentes para atuarem contra pessoas que se opunham à ditadura. Comunidades complementares Na escala do direcionamento das ações de repressão, também foram estruturadas as ‘comunidades complementares’ de informações, divididas por áreas. Em diversos Estados da Federação, havia os Departamentos de Ordem Política e Social (Dops) e o Serviço Reservado da Polícia Militar (P2). Segundo apurou a Comissão da Verdade, entidades privadas estavam integradas ao sistema repressivo e faziam um trabalho complementar de controle e repressão, a critério do chefe do SNI. Os livros de entradas do DOPS-SP registraram, por exemplo, a presença de Geraldo Rezende de Matos, representante da Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) e Paulo Sawaia, assessor do Ministério da Fazenda, comandado por Antônio Delfim Netto. As mortes no campo também passam pela responsabilidade das comunidades complementares. O latifúndio estava ligado à ditadura e havia um subgrupo de repressão aos trabalhadores, conforme lembrou Ivan Seixas. Para Rosa Cardoso será importante preencher essas cadeias com os nomes dos responsáveis nos Estados e a nível nacional.

Iara Iavelberg e sua luta contra a ditadura militar

Os destinos de muitas mulheres foram determinados pelos arbítrios do regime militar. Várias foram assassinadas, outras torturadas, muitas perderam seus filhos, maridos, parentes e amigos. Um dos símbolos dessa resistência nos anos de chumbo foi a militante Iara Iavelberg, vítima da ditadura militar aos 27 anos, em agosto de 1971. De uma rica família judia do Ipiranga, Iara abandonou aos 19 anos seu casamento de três anos com Samuel Halberkon, médico da comunidade judaica paulistana, ingressou no curso de Psicologia da USP em 1963 e iniciou sua militância política. O Centro Acadêmico do curso leva o seu nome. Iara militou em várias organizações que combatiam o regime militar: Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Na VPR, ela conheceu Carlos Lamarca em abril de 1969. Fazia dois meses que Lamarca havia desertado do Exército em posse de um verdadeiro arsenal de armas e munição para a guerrilha. Leia texto sobre a morte do companheiro de Iara, Carlos Lamarca Os dois apaixonaram-se e Lamarca separou-se de sua mulher na época: ele era casado e tinha dois filhos. Da VPR, Iara e Lamarca foram juntos para o MR-8. Clandestinos, estavam entre os mais procurados pela repressão política, com cartazes espalhados em diversos lugares.   O documentário ‘Em busca de Iara’ A sobrinha de Iara, Mariana Pamplona, ao lado de Flavio Frederico, resolveu contar a história da tia no documentário Em busca de Iara. O Exército sempre sustentou que Iara suicidou-se após o cerco policial em um apartamento no bairro da Pituba, em Salvador, no dia 20 de agosto de 1971. Hoje há provas suficientes de que foi mais uma mentira do regime militar e de que a militante foi assassinada por agentes do governo. Segundo o site da Comissão da Verdade Rubens Paiva da Assembleia Legislativa de São Paulo, o legista que assinou o atestado de óbito colocou uma interrogação ao lado da palavra suicídio. A família teve que aceitar que a filha fosse enterrada na ala dos suicidas no Cemitério Israelita do Butantã, o que significava grande humilhação na comunidade judaica (as pessoas que morrem nessas condições são enterradas de costas e em locais isolados do cemitério). Com denúncias reunidas e grande esforço dos familiares e amigos, a Justiça autorizou a exumação do corpo de Iara em 2003 e finalmente o laudo sobre sua morte confirmou seu assassinato. Assista ao trailer do filme:   As cartas de amor entre Lamarca e Iara Em 1970, Iara e Lamarca começaram treinamento militar no Vale do Ribeira e neste ano, em 7 de dezembro, Lamarca liderou o sequestro do embaixador suíço Giovanni Bucher, no Rio de Janeiro, em troca da libertação de 70 presos políticos. Em matéria da revista Istoé de 2007 sobre a troca de cartas entre Iara e Lamarca, o capitão da guerrilha mostra adoração pela sua mulher. Lamarca foi assassinado em 17 de setembro de 1971, menos de um mês depois da morte de Iara. Ambos conviveram pouco, já que passaram 10 meses do curto relacionamento vivendo separados em aparelhos (locais usados como refúgio pela guerrilha), mas a paixão entre eles era arrebatadora. Uma das testemunhas da intensidade do romance foi a guerrilheira Vanda, codinome da presidenta Dilma Rousseff. Ela declarou à revista Istoé: “eu e Lamarca lavamos muitos pratos juntos e era nessas horas que ele me fazia inconfidências sobre sua paixão por Iara.” Leia dois trechos das cartas de Lamarca, no primeiro, ele demonstra paixão, no segundo, ciúmes:   “Quando estou longe de você, tudo muda. É outro mundo, falta aquele calor que só emana de você mesma – fico imaginando e me delicio com tua lembrança, toda viva, junto de mim.”  “Falei em abertura pelo seu lado (do meu não admito, nem existirá nunca condições) do nosso relacionamento – que é observado – e como última hipótese; pode ser um puta ciúme meu de existir alguém cumprindo a minha função.”   Outros detalhes da vida de Iara podem ser encontrados no livro Iara: uma reportagem biográfica, escrito pela jornalista Judith Patarra, lançado em 1992. O livro pode ser encontrado no site Estante Virtual. A trajetória de Iara revela também outra história bem menos conhecida, a de Nilda Carvalho Cunha, de apenas 17 anos. Estudante secundarista, aderiu à organização clandestina MR-8 e foi viver com o namorado num apartamento na praia da Pituba, em Salvador. Nilda recebeu ordens de abrigar a guerrilheira Iara Iavelberg e caiu no cerco a Iara. Levada para um quartel, foi brutalmente torturada durante dois meses. Assim que foi libertada, sentia tonturas, sofria com a perda de visão e dificuldades para respirar. Internada num hospital, passou a enfrentar depressões constantes. Às vezes, soltava risos inesperados. No seu prontuário, consta que não comia, via soldados dentro do quarto e repetia que iria morrer. Foram dez dias definhando. Em seu atestado de óbito, consta: “Edema cerebral a esclarecer.” A sobrinha de Iara, Mariana Pamplona, explica o projeto do filme: Vídeo da Comissão da Verdade sobre Iara: Fontes: perfil de Iara Iavelberg no site da Comissão da Verdade Rubens Paiva e revista Istoé.

Simpósio ‘O golpe de 1964 e a onda autoritária na América Latina’ na USP

Nos 50 anos do golpe de 1964, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP organiza o simpósio ‘O golpe de 1964 e a onda autoritária na América Latina’. Com debates sobre o golpe de Estado e suas relações com as outras ditaduras da América Latina, o evento acontecerá entre os dias 24 e 27 de março e a entrada é gratuita. Nas mesas e conferências propostas, vários especialistas do Brasil e do exterior apresentarão os resultados das suas reflexões e pesquisas. Temas como a Operação Condor (cooperação dos governos autoritários do Cone Sul na repressão aos opositores), a produção artística do período e muitos outros assuntos relacionados ao período do regime militar serão abordados pelos participantes. Na segunda-feira (dia 24), será exibido o filme O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares. Leia texto sobre o filme. No segundo semestre deste ano, entre os dias 17 e 19 de setembro, a FFLCH organiza o debate ‘O Golpe de 1964 e a literatura brasileira’. Os debates da próxima semana serão no Auditório da Biblioteca Brasiliana (Rua da Biblioteca, sem número, Cidade Universitária, São Paulo, SP). Confira a programação completa:

Cine Direitos Humanos exibe filmes sobre a ditadura militar

Durante seis semanas (de 15 de março a 19 de abril), a programação do projeto Cine Direitos Humanos será dedicada a filmes que abordam temas relacionados ao período da ditadura militar no país. O projeto é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo. Os filmes exibidos serão A Memória Que Me Contam, Caparaó, 15 Filhos, Ação Entre Amigos, Em Busca de Iara, Travessia e Batismo de Sangue. As sessões são gratuitas e  acontecem aos sábados, às 11 horas, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca. Veja a programação completa: – “A Memória Que Me Contam” (2013, 95 min, 14 anos), de Lúcia Murat – exibição em 15 de março. – “Caparaó” (2007, 77 min, livre), de Flavio Frederico – exibição em 22 de março. – “15 Filhos” (1996, 20 min, livre), de Maria Oliveira e Marta Nehring – exibição em 29 de março. – “Ação Entre Amigos” (1998, 76 min, 14 anos) de Beto Brant – exibição em 29 de março. – “Em Busca de Iara” (2013, 91 min, 12 anos)  de Mariana Pamplona – exbição em 5 de abril. – “Travessia” (2009, 79 min, livre) de João Batista de Andrade –  exibição em 12 de abril. – “Batismo de Sangue” (2007, 110 min, 14 anos) de Helvécio Ratton – exbição em 19 de abril. Serviço: Espaço Itaú de Cinema – Shopping Frei Caneca. Rua Frei Caneca, 569, Consolação. Tel.: (11) 3472-2368. Todos os sábados, às 11h. Entrada gratuita.

Jango no comício que mudou o destino do país

JANGO – Em 13 de março de 1964, o presidente João Goulart reuniu 150 mil pessoas no Comício da Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em prol das chamadas reformas de base de seu governo. Carlos Lacerda, governador da Guanabara e um dos principais opositores de Jango, teve a ideia de decretar feriado no dia 13 de março acreditando que, com isso, os trabalhadores não iriam ao comício. A tentativa não deu resultado. Organizado por uma comissão de líderes sindicais, o comício mostrou aos opositores o apoio popular às reformas propostas pelo governo, que pretendiam modernizar a estrutura do país em vários setores como o agrário, bancário, administrativo e eleitoral. João Goulart discursou por cerca de uma hora. No início, atacou os “democratas” e sua “democracia anti-povo e anti-reforma”. Jango os acusou de defender “uma democracia dos monopólios nacionais e internacionais”. Mais adiante, ele propôs a revisão da Constituição de 1946, “que legaliza uma estrutura socioeconômica já superada” e a necessidade de “colocar fim aos privilégios de uma minoria”. Jango defendeu também a extensão do direito de voto aos analfabetos, soldados, marinheiros e cabos, assim como a elegibilidade para todos os eleitores. Escute trecho do discurso de Jango: Leia também texto sobre a busca da causa da morte de Jango Quinze oradores precederam o presidente da República. O mais aplaudido foi Leonel Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e deputado federal pelo PTB carioca, que exortou o presidente a “abandonar a política de conciliação” e instalar “uma Assembleia Constituinte com vistas à criação de um Congresso popular, composto de camponeses, operários, sargentos, oficiais nacionalistas e homens autenticamente populares”. As propostas que levaram a elite brasileira ao desespero As propostas de Jango mexiam em interesses poderosos e arraigados há séculos no país. Entre elas, o presidente pretendia desapropriar terras com mais de 600 hectares, além de áreas que ladeavam rodovias e ferrovias nacionais. Para realizar uma reforma educacional, o governo utilizaria 15% da receita tributária brasileira. Entre os projetos nessa área, constava uma ampla reforma de erradicação do analfabetismo, baseada nas experiências pioneiras do educador Paulo Freire. Na economia, Jango propunha um controle da remessa de lucros das empresas multinacionais para o exterior e o imposto de renda seria proporcional ao lucro pessoal. Com relação à Petrobrás, afirmou que assinara pouco antes o decreto de encampação de todas as refinarias particulares, que passavam a pertencer ao patrimônio nacional.  ” A reforma agrária é também uma imposição progressista do mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para sobreviver. Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capacidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas populações mais pobres vestem farrapos e andam descalças , porque não têm dinheiro para comprar… (A reforma agrária) interessa, por isso, também a todos os industriais e comerciantes. A reforma agrária é necessária, enfim à nossa vida social e econômica, para que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu povo”. (trecho do discurso de Jango) O livro Jango, a vida e a morte no exílio, do professor Juremir Machado da Silva, descreve a entrega pessoal de Jango ao comício: “Sai exausto. Quase desmaia no carro, para desespero de Maria Thereza. Ao chegar ao palácio, amassado e sem os botões da camisa, o velho Braguinha pergunta: — Que foi que aconteceu, presidente, o senhor parece que está vindo de uma guerra. Está mesmo. Chega vitorioso. Acaba de travar a sua mais franca batalha, de peito aberto, corpo exposto aos inimigos. Essa vitória terá o seu preço. A conta chegará logo”. Pelo que já se sabe, a ofensiva dos setores conservadores do país não demorou a acontecer. Em 19 de março, dia de São José, considerado o padroeiro da família, milhares de paulistanos saíram às ruas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade. O pânico incutido por quase toda a mídia (a exceção mais conhecida era o Última Hora, jornal de Samuel Wainer) na classe média contra a “ameaça vermelha” levou, duas semanas depois, ao golpe militar. Leia a matéria da Folha  (dica da jornalista e blogueira @cynaramenezes) claramente favorável  sobre a marcha conservadora em São Paulo. Fontes: livro Jango, a vida e a morte no exílio de Juremir Machado da Silva, CPDOC-FGV e Folha de São Paulo. O renascimento do Jango antropofágico https://urutaurpg.com.br/siteluis/como-ministro-de-getulio-jango-revelou-entranhas-brasil/