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A América Latina e os Estados Unidos

Estou fazendo o curso da Camila Vidal, no Iela  (Instituto de Estudo Latino-Americanos da UFSC)  sobre as Intervenções dos Estados Unidos na América Latina. E, confesso, ao final de cada aula, saio completamente deprimida. Não pela aula, que é sempre ótima, mas pelas informações. A proposta do curso, que começou no ano passado, é desvelar, com riqueza de detalhes, cada intervenção dos Estados Unidos nos países da Pátria Grande, desde o roubo das terras mexicanas, primeiro conflito gerado pelo famoso Destino Manifesto, até nossos dias. O que causa a profunda tristeza é observar que nesses conflitos de invasão explícita ou de geração de golpes a conversinha é sempre a mesma: levar a democracia e o desenvolvimento aos países bárbaros. É um eterno retorno. Basta que o país se desloque, mesmo que bem pouquinho, da órbita dos Estados Unidos para que comece a sofrer as consequências. As formas de ataque também são sempre as mesmas, embargos, bloqueios econômicos, campanha midiática sobre um suposto perigo de comunismo, financiamento de grupos de “oposição” (armados ou não) e invasão direta. No geral, a situação que gera o ataque dos EUA também é sempre a mesma. Um governo mais à esquerda ou um governo algo progressista que comece a mudar a lógica garantindo educação, saúde, moradia e seguranças ao povo passa a ser visto como perigoso. E, se não se aliar aos EUA nos seus interesses, já vira inimigo. Mas, se for além, buscando garantir soberania nas ações e na exploração de suas riquezas, aí vira o próprio demônio. É hora de o império agir. O começo de tudo vem pela campanha de propaganda contra o país. A mídia mundial embarca na canoa, divulgando as notícias produzidas pelas agências dos EUA, como se ali estivesse a verdade. Principia então o desenho do “monstro”. E não importa que esse monstro tenha sido amigo e formado pelos Estados Unidos, como foi o caso de Noriega, no Panamá, ou Sadam, no Iraque. Saiu um pouco da rota, está na fogueira. No geral, o problema principal detectado é uma “tendência ao comunismo”. Começou a oferecer educação, serviços públicos de qualidade, usar os recursos nacionais para desenvolver o país, pronto, virou comunista. E o comunismo aí colocado como algo ruim. Sendo que não é! Na verdade, o comunismo é quase uma sociedade perfeita, onde cada um ganha conforme o que necessita e atua na sociedade para o bem de todos. Pois isso é um perigo para os que dominam, então há que demonizar. E assim vamos indo, estudando a história de cada um dos nossos países da América Latina: O México, na parte norte, a América Central com todo o drama da violência, genocídios e da migração presente em cada país, o Caribe e sua pobreza endêmica apesar da exuberante riqueza natural que o faz paraíso dos ricos, e a nossa América do Sul, com sua história de traições, golpes militares, golpes parlamentares e golpes midiáticos. Não escapa um. Cada país abaixo do rio Bravo já sofreu a intervenção do império, seja diretamente ou fomentando traições internas. É batata. Nenhum bem pode vir para a maioria da população. Há que manter a massa no arrocho e garantir a maior taxa de lucro para o 1% que domina. Saiu disso, tá morto. Nesse universo infernal produzido pelos Estados Unidos o único país que se mantém firme é Cuba, a pequena ilha caribenha que enfrenta há mais de 60 anos o ataque ininterrupto do império. É absolutamente fantástico que consigam manter a revolução e as conquistas que vieram depois dela, apesar de tanto ataque. O povo cubano é deveras extraordinário, afinal é submetido a um bombardeio midiático diário e sofre um embargo econômico criminoso. Apesar disso o povo da ilha se reinventa e resiste, valentemente. Mas, no que diz respeito aos demais países o eterno retorno é lei. Passam anos de ditadura, de governos autoritários ou neoliberais e quando a população finalmente se propõe a mudar e elege alguém menos alinhado aos interesses estadunidenses, lá vem a máquina imperialista, a Estrela da Morte, com todo o seu arsenal ideológico e militar. Só na história contemporânea podemos citar a Venezuela e o golpe armado em 2002 contra Chávez, a deposição de Bertrand Aristide no Haiti em 2004, criando esse caos que não tem fim no país, o golpe em Honduras em 2009 que deixou um rastro de sangue, a queda do presidente Lugo no Paraguai para o retorno da velha oligarquia, a queda da Dilma em 2016 no Brasil que levou à tragédia Bolsonaro, o golpe contra Evo Morales em 2019, a queda de Pedro Castillo em 2022, as tramas na América Central para impedir que ideias mais arejadas pudessem assomar, com o sistemático assassinato de lideranças de lutas populares e ambientais, e por aí vai. É claro que numa análise mais acurada a gente vai perceber que internamente nos países há erros e equívocos praticados pelos governantes, o que torna a ação imperial ainda mais fácil de ser efetivada. Mas, o que não se pode deixar de perceber é que os EUA estão sempre ali, como uma águia assassina a esperar a hora de comer os olhos dos governantes – e da população – que ousarem sair da linha. Volto a lembrar de Cuba, cujo presidente, Fidel, chegou a sofrer mais de 600 tentativas de assassinato. Sobreviveu a todas e para azar do império, morreu velhinho, no aconchego do lar, do jeito que quis, amado pelo povo. De novo, um exemplo solitário nesse mar de podridão criado pelos Estados Unidos em toda a nossa Pátria Grande. O fato é que no capitalismo, cuja locomotiva ainda é os EUA (China e Rússia disputam o cargo), resistir a esse modelo que garante riqueza e vida boa a apenas 1% da população é uma tarefa gigantesca. As populações lutam com o que podem, que são apenas os seus corpos nus. Como enfrentar a máquina gigantesca da guerra? Lembro-me da invasão ao Panamá em 1989, quando uma força de milhares de soldados estadunidenses bombardeou a

A democracia em risco

Democracia – Não nos iludamos de novo: nossa frágil democracia continua em risco. Recordo do governo João Goulart e suas propostas de reformas de base, ao início da década de 1960. As Ligas Camponeses levantavam os nordestinos. Os sindicatos defendiam com ardor os direitos adquiridos no período Vargas. A UNE era temida por seu poder de mobilização da juventude. Era óbvia a inquietação da elite brasileira. Passou a conspirar articulada no IBAD, no IPES e outras organizações, até eclodir nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Contudo, o Partido Comunista Brasileiro tranquilizava os que sentiam cheiro de quartelada – acreditava-se que Jango se apoiava num esquema militar nacionalista. E, no entanto, em março de 1964 veio o golpe militar. Jango foi derrubado, a Constituição, rasgada; as instituições democráticas, silenciadas; e Castelo Branco empossado sem que os golpistas disparassem um único tiro. Onde andavam “as massas” comprometidas com a defesa da democracia? Conheço bem o estamento militar. Sou de família castrense pelo lado paterno. Bisavô almirante, avô coronel, dois tios generais e pai juiz do tribunal militar (felizmente se aposentou à raiz do golpe). Essa gente vive em um mundo à parte. Sai de casa, mas não da caserna. Frequenta os mesmos clubes (militares), os mesmos restaurantes, as mesmas igrejas. Muitos se julgam superiores aos civis, embora nada produzam. Têm por paradigma as Forças Armadas nos EUA e, por ideologia, um ferrenho anticomunismo. Por isso, não respeitam o limite da Constituição, que lhes atribui a responsabilidade de defender a pátria de inimigos externos. Preocupam-se mais com os “inimigos internos”, os comunistas. Embora a União Soviética tenha se desintegrado; o Muro de Berlim, desabado; a China, capitalizada; tudo que soa como pensamento crítico é suspeito de comunismo. Isso porque nas fileiras militares reina a mais despótica disciplina, não se admite senso crítico, e a autoridade encarna a verdade. O Brasil cometeu o erro de não apurar os crimes da ditadura militar e punir com rigor os culpados de torturas, sequestros, desaparecimentos, assassinatos e atentados terroristas, ao contrário do que fizeram nossos vizinhos Uruguai, Argentina e Chile. Assistam ao filme “Argentina,1985”, estrelado por Ricardo Darín e dirigido por Santiago Mitre. Ali está o que deveríamos ter feito. O resultado dessa grave omissão, carimbada de “anistia recíproca”, é essa impunidade e imunidade que desaguou no deletério governo Bolsonaro. Não concordo com a opinião de que só nos últimos anos a direita brasileira “saiu do armário”. Sem regredir ao período colonial, com mais de três séculos de escravatura e a dizimação de indígenas e da população paraguaia numa guerra injusta, há que recordar a ditadura de Vargas, o Estado Novo, o Integralismo, a TFP e o golpe de 1964. O altissonante silêncio dos militares perante os atos terroristas perpetrados por golpistas a 8 de janeiro deve nos fazer refletir. Cumplicidade não se consuma apenas pela ação; também por omissão. Mas não faltaram ações, como os acampamentos acobertados pelos comandos militares em torno dos quartéis e a atitude do coronel da guarda presidencial que abriu as portas do Planalto aos vândalos e ainda recriminou os policiais militares que pretendiam contê-los. “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, reza o aforismo que escuto desde a infância. Nós, defensores da democracia, não podemos baixar a guarda. O bolsonarismo disseminou uma cultura necrófila inflada de ódio que não dará trégua à democracia e ao governo Lula. Nossa reação não deve ser responder com as mesmas moedas ou resguardar-nos no medo. Cabe-nos a tarefa de fortalecer a democracia, em especial os movimentos populares e sindicais, as pautas identitárias, a defesa da Constituição e das instituições, impedindo que as viúvas da ditadura tentem ressuscitá-la. O passado ainda não passou. A memória jamais haverá de sepultá-lo. Só quem pode fazê-lo é a Justiça. Ditadura Nunca Mais com Urariano Mota Breve crítica da democracia louvada Sobre a democracia e o voto Não há meia democracia Frei Betto: “É uma ilusão e um engano achar que a ditadura foi melhor”

A TV pode ter sido decisiva no fracasso do golpe bolsonarista dia 8

O golpe de estado de extrema direita previsto para o domingo dia 8 de janeiro pode ter sido abortado por algo que não estava nos cálculos dos conspiradores: o papel das redes de televisão com a transmissão ao vivo a invasão da Praça dos Três Poderes e a posterior depredação da sede do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto. Tudo indica que o ataque aos três prédios públicos mais importantes do país visava criar o caos político e com isto justificar uma intervenção militar a pretexto de restabelecer a ordem. Mas o objetivo acabou frustrado quando milhões de brasileiros testemunharam ao vivo, pela TV, a irracionalidade da ação dos bolsonaristas de extrema direita, que rapidamente perderam eventuais simpatias de quem assistia tudo à distância. A participação da televisão no desfecho dos acontecimentos ainda é um tema que merece maior detalhamento para identificar se foi algo pensado politicamente ou foi fruto do entusiasmo jornalístico em testemunhar cenas que a maioria das pessoas achavam improváveis de acontecer. O fato é que a TV Globo, por exemplo, ao interromper sua programação normal no canal aberto tomou uma decisão que além de política tinha também desdobramentos comerciais, porque os espaços publicitários foram adiados por várias horas. Outra decisão crucial foi a de formar uma rede entre o canal aberto e o fechado (Globo News) para aumentar a audiência. A emissora também convocou quase todos os seus jornalistas especializados em política para incorporar-se à cobertura, contactando fontes nos diversos níveis do aparato governamental, para explicar e complementar o que estava sendo mostrado ao vivo. Simbolismos políticos A TV Globo também tomou uma decisão carregada de simbolismo político de instruir repórteres, apresentadores e comentaristas para que eles tratassem como terroristas, golpistas e vândalos os participantes da invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília. Este é o tipo de classificação que só pode ter sido decidida nos mais altos escalões da empresa pois as redações nunca tiveram a autonomia suficiente para acrescentar adjetivos à protagonistas de eventos políticos. Outras emissoras também adotaram o mesmo enfoque dos participantes da tentativa de golpe de estado com gradações e adjetivos diferentes, como foi o caso da CNN e da Bandeirantes. As exceções foram a SBT, Record e Jovem Pan que mantiveram sua orientação bolsonarista e rotularam a depredação como um protesto e seus autores como manifestantes, seguidores do ex-presidente, derrotado nas eleições presidenciais de outubro do ano passado. Caso estudos mais aprofundados venham a comprovar esta hipótese sobre a influência da transmissão ao vivo pela TV e do posicionamento das emissoras no tratamento dos participantes do ataque a prédios públicos em Brasília, no dia 8, estaremos diante de um caso inédito em que a comunicação e o jornalismo podem ter evitado um golpe de estado usando a informação visual como arma principal. O possível papel estratégico do audiovisual sinaliza uma mudança nos comportamentos políticos uma vez que a imagem, em tempo real, apela mais às emoções do que à reflexão. Até agora a imprensa escrita tinha um papel predominante porque os principais atores políticos priorizavam a racionalidade e a lógica nas ações de grande envergadura. Já se sabia que uma imagem apela mais para o emocional do que para o racional, mais para os impactos informativos do que para a reflexão analítica. Mas o que a cobertura televisiva dos eventos de domingo, 8 de janeiro, pode estar nos mostrando é a importância de entender como imagens impactantes sobre questões complexas podem acabar gerando mudanças de percepções individuais e coletivas em tempo curtíssima, sem o recurso a reflexão analítica. As armadilhas políticas das fake news O ecossistema informativo nacional no governo Lula Resumo da ópera golpista no Brasil

‘Marighella’ leva oito estatuetas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022

O filme Marighella foi o grande vencedor do 21º Grande Prêmio de Cinema Brasileiro, evento organizado pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais nesta quarta-feira (12) no Rio de Janeiro. Das 17 categorias em que foi indicado, o longa dirigido por Wagner Moura levou o maior número de premiações da noite, conquistando oito ao todo: Melhor Longa-Metragem Ficção Melhor Primeira Direção de Longa-Metragem Melhor Ator (Seu Jorge) Melhor Roteiro Adaptado Melhor Direção de Fotografia Melhor Som Melhor Direção de Arte Melhor Figurino Enquanto recebia o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado, Wagner Moura dedicou a estatueta a todos ex-guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional (ALN): “Prestaram um serviço incrível, eles foram muito generosos com a gente”, declarou. Ao todo, foram 32 prêmios entregues, sendo que Dira Paes (Veneza), Rodrigo Santoro (7 Prisioneiros) e Zezé Motta (Doutor Gama) também foram premiados. A cerimônia, que não acontecia de forma presencial desde o início da pandemia do coronavírus, foi guiada por Camila Pitanga e Silvero Pereira. Além de se encarregar da apresentação da premiação, Silvero também performou as canções “Sujeito de Sorte”, “Maria Maria” e “Dias Melhores Virão”. Para assistir a premiação completa, clique aqui. Meus encontros com Marighella Filme Marighella mobiliza a esquerda na volta do cinema Marighella: a execução do inimigo número 1 da ditadura militar  

Ditadura Nunca Mais com Urariano Mota

  Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no último dia 5 de maio o escritor e jornalista Urariano Mota, colaborador há mais de 7 anos do ZonaCurva, e autor, entre outros, do livro “Soledad no Recife”, que conta a trajetória da paraguaia Soledad Barrett, militante nos anos da ditadura militar brasileira.  A conversa contou com a participação do editor Zonacurva Fernando do Valle e tratou, em boa parte do tempo, sobre a tragédia política, econômica e social que a ditadura militar representou para os destinos do país e sua relação com o momento político atual. Urariano relembrou os anos de chumbo, época em que fazia parte da resistência ao governo militar. O escritor relatou os crimes de Cabo Anselmo, agente infiltrado do governo no grupo de resistência Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Anselmo condenou à morte seis opositores à ditadura, incluindo sua companheira Soledad Barrett Viedma, grávida de quatro meses, quando decidiu entregá-los a Sérgio Fleury, conhecido torturador da ditadura, em 1973.  Urariano é autor de diversos textos sobre a luta contra a ditadura militar aqui no ZonaCurva.  Segundo ele, Anselmo sempre mentia sobre os fatos nas entrevistas que deu após a ditadura, e, na sua visão, o agente nunca tinha sido devidamente entrevistado corretamente, visto que os jornalistas dos veículos que conversavam com o cabo não se preparavam adequadamente para entrevista e eram enredados por suas mentiras. Porém, na opinião do escritor, a nova série da HBO+ Em busca de Anselmo traz uma nova perspectiva, onde se questiona a narrativa construída por Anselmo há décadas, trazendo mais veracidade, e contando corretamente as histórias da época. O processo de escrita de seu livro “Soledad no Recife” também foi explicitado por Urariano, que comentou sobre a importância de ser verdadeiro com os seus leitores, e com a história de seus personagens.  Em seu livro, a história de Soledad é narrada em primeira pessoa, e Urariano confessou sua paixão platônica pela militante, visto que o escritor e Soledad não chegaram a se conhecer. Urariano considera a lei de anistia uma insânia ao perdoar torturados e torturadores. “Perdoar pessoas como Fleury e Ustra é equiparar seus crimes com os atos de resistência e luta pela liberdade dos militantes da época”, declarou. História na veia com professor Vitor Soares Cabo Anselmo na série “Em busca de Anselmo” Cabo Anselmo no seu obituário

Cabo Anselmo na série “Em busca de Anselmo”

Quando Anselmo se refere aos codinomes que usava para se infiltrar e entregar militantes para a morte, ele gargalha. Isso é definitivo como apresentação do cinismo do traidor Para escrever este artigo, assisti hoje à série “Em busca de Anselmo”. No momento, só podem ser vistos na HBO Max os dois primeiros episódios, em um conjunto de cinco, um por semana. Portanto, o que escrevo agora tem um caráter de provisório. Ressalto de imediato que o documentarista Carlos Alberto Jr. é um cineasta. Isso não é assim tão óbvio. Quero dizer: as tomadas que ele faz, os lugares para onde leva Anselmo, as cenas que filma, são de um homem de cinema. No começo do primeiro episódio, quando Anselmo se refere aos codinomes que usava para se infiltrar e entregar militantes para a morte, ele gargalha. Isso é definitivo como apresentação do cinismo do traidor. Magistral. Carlos Alberto é um jornalista (editor do podcast Roteirices) que fez o seu dever de casa, estudou, pesquisou, o que o jornalismo não havia feito até hoje com o Cabo Anselmo. São exemplos disso o livro terrível de mentiroso “Eu, Cabo Anselmo”, de Percival de Souza e todas anteriores entrevistas. Mas para a víbora que Carlos Alberto viu e entrevistou, para a serpente documentada cabem, ainda assim, restrições ao método do cineasta: se os entrevistadores antes de Carlos Alberto Jr. pecavam por desconhecimento do grande mentiroso do agente da repressão, em Carlos Alberto, houve o que eu chamaria de excessivo respeito às mentiras do entrevistado. Quero dizer: Carlos Alberto não o interrompe, salvo raras vezes, pois deixa a mentira andar. Ainda que o documentarista contraponha às falas de Anselmo depoimentos que o desmentem em um corte com outros entrevistados, Carlos Alberto não o interrompe de viva voz, o que seria muito interessante para a mostra viva, na própria fala, das contradições de Anselmo. Isso é claro quando Anselmo visita a sede do antigo Deops em São Paulo, hoje Memorial da Resistência. Ali, num infeliz acaso para o traidor, ele passa diante de uma parede onde se expõem fotos dos 6 assassinados na Granja de São Bento em Pernambuco. Ali, diante de dois planos, com imagens da imprensa que publicava o que a repressão mandava, como aqui. E a reconstituição da história em outro plano, que narra a prisão de Soledad e Pauline numa butique no Recife, o criminoso fala: – Eu não sei qual das duas versões é a verdadeira. E o frio traidor não é cortado, no ato. Depois, num podcast, Carlos Alberto declarou que não era possível inquirir Anselmo o tempo todo, desmentindo-o. Mas que, no final da série, o traidor será levado contra a parede. Aguardemos então, que poderá vir um desmonte do bandido à altura da abertura do primeiro episódio. Anselmo era cínico e ator. Ator como uma difamação da arte. Os modos com que por 2 vezes se levanta de uma cama, com fingimentos e fazer pela primeira vez, são reveladores. Cenas repetidas. Nota-se que a memória dele é ótima, quando fala sobre o que não é sua atividade criminosa. As memórias da capela, da casa da sua adolescência, são reveladoras da sua agilidade mental. Mas o que não se perguntou, por exemplo: por que não atiraram em Anselmo quando ele foi preso em 1964, e estava com uma pistola apontada para a porta (segundo palavras dele). Como ele fugiu da prisão de modo tão fácil? Ele chega a falar que os carcereiros arranjaram prostitutas para ele! Lembro que no programa Roda Viva, Cabo Anselmo esteve muito à vontade ali porque os entrevistadores não pesquisaram a história dos seus crimes, e se fizeram esse indispensável dever, não quiseram levá-lo às cordas, para confrontar as suas esquivas com os depoimentos de testemunhas de 1973, ano das execuções de 6 militantes socialistas no Recife. O momento mais acintoso foi quando ele se referiu à sua mulher, Soledad Barrett, e dela retirou a gravidez, para se isentar de um hediondo crime, que cai como um acréscimo à traição de entregá-la para a morte. Transcrevo: “Cabo Anselmo – A Soledad usava DIU, desde que fez um aborto aqui em São Paulo, antes da ida para o Recife. Entrevistador – O senhor contesta a gravidez da Soledad? Cabo Anselmo – Como? Entrevistador – O senhor contesta que ela estivesse grávida, como a versão histórica … Cabo Anselmo – Se eu acreditar, como dizem os médicos, que o DIU era o mais seguro dos preservativos, eu contesto, sim. Entrevistador – Então o feto encontrado lá não era dela? Cabo Anselmo – Eu imagino que seria da Pauline. A Pauline estava grávida, inclusive teve problema de gravidez, e Soledad a levou até o médico.” Então voltemos ao documentário. Nele, assistimos ao depoimento do bravo Marx, um pernambucano verdadeiro e sincero. No geral, os documentaristas raro exibem todas as palavras de um entrevistado. Montam e cortam. Assim deve ter sido também com Marx sobre a gravidez de Soledad que ele viu. O que ficou de fora? Aqui eu o recupero fora das imagens do documentário: Na noite em que acabamos de ver uma comovente recriação de Soledad Barrett no teatro Hermilo Borba Filho, quando a atriz Hilda Torres entrou em transe da personagem Soledad levada à cena, transe naquele sentido dos aparelhos, dos médiuns em terreiros, depois da mágica hora em que Soledad ressurgiu, depois disso no café, no pátio do teatro Hermilo, eis que a filha única de Soledad, a sempre menina e jovem Ñasaindy, se aproximou e abraçou o ex-preso político Karl Marx. Naquele instante em que eu conversava com Marx, Ñasaindy veio e lhe deu um súbito abraço. Então Marx parou e com os olhos rasos lhe falou, com a voz embargada: – Parece que estou abraçando a sua mãe. Ela era assim. Se fosse um poema, talvez a frase acima encerrasse um verso. Mas esta é uma narração e o narrador não recebe a misericórdia de ser humano em uma linha apenas. Quero dizer, primeiro do que tudo. Quarenta e dois anos

Não há meia democracia

Na democracia, assim como na gravidez feminina, não há meio termo. Não há meia democracia. É ou não é. Assume-se ou rejeita-se. Mas a imprensa parece ignorar esse fato e tenta conviver com um governo que adota princípios que negam na prática o compromisso democrático. A indefinição é o grande dilema da mídia brasileira às vésperas de um pleito que vai definir o futuro do país pelos próximos anos. Desde 2018, estamos assistindo à ruptura do consenso democrático surgido após o fim da ditadura militar e assumido pelo establishment político/empresarial, incluindo a grande imprensa brasileira. Foram justamente os jornais e a TV os primeiros a sentirem na carne os efeitos da ascensão do populismo autocrático. O governo Bolsonaro mostrou, desde o seu início, um olímpico menosprezo pelos princípios básicos da democracia, como a transparência pública, o respeito às decisões de justiça, a opção preferencial pela solução pacífica e negociada de conflitos, a recusa da tortura, censura e violência física. A imprensa não percebeu, ou não quis perceber, que o debate público migrou para outro espaço político a partir de 2016, quando da derrubada do governo Dilma Rousseff. Até então, a luta política acontecia dentro do campo democrático, mas a partir da eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, ela passou a ser entre quem segue os princípios da democracia e os adeptos do autoritarismo populista de viés fascista (1). O descuido da imprensa O professor Eugênio Bucci definiu com perfeição o dilema atual da imprensa brasileira na sua intervenção na live dos 20 anos de fundação do PROJOR ( Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) ao afirmar que “houve um descuido da maioria das redações em identificar a natureza da candidatura que acabou vitoriosa em 2018…era uma candidatura antidemocrática porque havia elogios a torturadores, uma certa idolatria do golpe de 1964, …. e um discurso machista, misógino e racista”. Bucci acrescenta ainda: “… se houvesse (hoje) na Alemanha uma candidatura nazista… ela seria denunciada (legalmente) porque o culto do nazismo é incompatível com a ordem democrática alemã, assim como o culto da ditadura, da tortura, da censura à imprensa é incompatível com o pacto nacional que gerou a democracia na qual tentamos sobreviver aqui” (2). A relativa impunidade do viés fascista assumido pelo governo Bolsonaro se alimenta de vários fatores entre os quais destacam-se a erosão interna do pacto democrático provocada pelo exercício do autoritarismo e a falta de um compromisso mais claro e contundente da imprensa com a defesa da democracia em todas as plataformas de comunicação social que estão sob seu controle. Não é um compromisso fácil porque a imprensa vive também uma crise no seu modelo de negócios, nas suas estratégias editoriais e no relacionamento com o público. Mas isto não anula o fato de que ela precisa estruturalmente da democracia para cumprir com sua responsabilidade na curadoria dos fluxos noticiosos que permitem às pessoas formar opiniões e tomar atitudes. Uma democracia tipo “meia boca” tem como corolário uma circulação também “meia boca” de notícias e informações, o que favorece a proliferação das ideias e iniciativas de viés fascista. As evidências são nítidas, mas boa parte da população brasileira ainda não se deu conta de que nas eleições de outubro próximo, a escolha será entre democracia e não democracia. Não é só entre dois candidatos, como se eles fizessem parte de um mesmo compromisso institucional, porque um deles se situa dentro do marco democrático e o outro incorpora um viés fascista que nega a democracia. O sistema político vigente no país tem os recursos constitucionais para enquadrar as tendências não democráticas, mas a falta de uma clareza sobre o antagonismo visceral entre democracia e não democracia leva muitos parlamentares, magistrados e jornalistas a não perceberem a natureza da escolha a ser feita nas urnas. Ilegalismos autoritários A erosão interna no pacto democrático nacional é uma das consequências da incapacidade da imprensa de mostrar aos seus leitores, ouvintes, telespectadores e usuários da internet a inexistência de meio termo quando se trata de exercício da democracia. Estamos hoje diante do que o professor Conrado Hubner Mendes chamou de “ilegalismo autoritário” (3), ou seja, o avanço gradual do desmanche das normas legais que garantiam a democracia brasileira através da Constituição de 1988. As indecisões da imprensa permitem que as tendências políticas de viés fascista encontrem espaço na opinião pública para promover uma “castração” da democracia brasileira. Este texto foge ao padrão adotado até agora na imprensa. Não é mais possível ser um mero observador do que acontece no país quando o sistema político que garante o exercício da nossa profissão pode sucumbir ante a ameaça do autoritarismo. (1) Preferimos usar a expressão viés fascista porque o fascismo clássico está associado a uma conjuntura italiana nos anos 30 e 40. O projeto bolsonarista mantém várias semelhanças com o modelo político do ditador italiano Benito Mussolini, como o autoritarismo, a militarização, o machismo e as motociatas, mas não é a mesma coisa. (2) Trechos da fala de Eugênio Bucci (ver íntegra em https://fb.watch/cqB-AgLFXe/) foram abreviados e levemente editados em favor da clareza e concisão. (3) Ver artigo “Ilegalismo autoritário é obra de juristas”. A democracia em risco Breve crítica da democracia louvada Sobre a democracia e o voto A terceira etapa do nazi-fascismo no Brasil não poderá ser derrotada somente nas urnas

“O grande recado da Leila era o amor”, afirma Ana Maria Magalhães

Colaborou Isabela Gama O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA recebeu no dia 27 de janeiro a atriz e diretora Ana Maria Magalhães, que acaba de lançar seu longa-metragem “Já que ninguém me tira para dançar” sobre a vida e obra de Leila Diniz. Ana Maria conversou sobre a amizade das duas, a importância da discussão sobre a liberdade feminina, e a necessidade do amor nesses tempos de ódio e outros assuntos. O bate-papo contou com a presença do editor Zonacurva Fernando do Valle e da estudante de jornalismo Isabela Gama.  A diretora revelou que iniciou a filmagem do filme em 1982 após 10 anos de morte de Leila para avivar a memória da amiga, entretanto o filme não foi finalizado pela retirada do apoio financeiro que contava na época. Durante um longo período, o projeto ficou parado e o relato de atores, diretores e familiares de Leila sobre a icônica artista permaneceu inédito até hoje. Em 2015, Ana Maria recebeu o  apoio de um restaurador experiente para que ela retomasse o projeto do  documentário, então ela começou a reorganizar o material e a digitalizar as imagens, mas ainda enfrentava o mesmo problema: a falta de grana, como em 1982. Somente em 2020, após uma entrevista da diretora ao Itaú Cultural, é que o filme ganhou o apoio da instituição e a coprodução do jornal Metrópoles o que proporcionou a finalização do filme. Ana Maria conta que uma das motivações para retomar o filme foi a necessidade de apresentar Leila Diniz para as novas gerações. A atriz, que foi o símbolo da liberdade feminina e do amor livre, abriu as portas para diversas discussões que perduram na vida das mulheres até hoje, principalmente em tempos de retrocessos engendrados pelo governo da vez. O filme poderá ser assistido GRATUITAMENTE no Itaú Cultural Play  a partir do dia 25 de março, dia em que Leila completaria 77 anos.  Bem-vindo ao Fatos da Zona, em que adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, visitamos emocionados a memória da grandiosa Leila Diniz. Abordamos a história dessa figura icônica que enfrentou os costumes impostos pela ditadura e reformulou o que era esperado das mulheres de sua época.       Toda mulher é meio Leila Diniz* Documentário sobre Leila Diniz apresenta atriz para os jovens

Brizola, 100 anos

Brizola – De tudo o que se fala sobre Brizola pouco se diz de sua práxis anticapitalista, anticolonial e nacionalista. Esse ano, ao celebrar os  100 anos de seu nascimento, as lembranças, na mídia comercial, ficaram na superfície, sem apontar suas ações decisivas no sentido de garantir a soberania do povo brasileiro. Aqui reunimos algumas ações de Leonel Brizola antes do golpe de 1964 para que as novas gerações conheçam um pouco melhor esse homem extraordinário. Leonel conheceu a realidade do trabalhador bem cedo, quando, com 10 anos de idade foi morar sozinho na cidade de Carazinho, vivendo no sótão de um hotel no qual lavava pratos e também carregava malas até a estação. Depois, com 12 anos, já em Porto Alegre, onde foi estudar, se virou sozinho como engraxate e ascensorista. Formou-se como técnico rural e sempre conseguiu aliar muito bem o estudo com a sobrevivência. Nunca teve nada de mão-beijada e sabia o quanto era difícil para um trabalhador superar os obstáculos da vida. Tanto que só conseguiu estudar por conta da ajuda de uma família metodista que lhe garantiu uma bolsa de estudo numa escola da igreja. No ensino médio já era um líder estudantil e foi um dos fundadores do Grêmio do Colégio Júlio de Castilhos. Saiu do ensino médio direto para a Faculdade de Engenharia, e trocou a luta estudantil pela militância no partido político, o PTB. Ele queria mudar a vida de todos. Foi assim que ele se meteu na vida política e, em 1947, já elegeu-se deputado estadual, defendendo as pautas estudantis e melhorias na educação básica. Começava aí a sua saga e quase obsessão com a educação pública. Ele sabia bem o quanto era difícil para um filho da classe trabalhadora estudar, tendo de depender de caridade, e queria que fosse o Estado o responsável pelo ensino. Isso marcaria sua vida para sempre. Em 1952, quando Secretário de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, ele colocou para andar o Primeiro Plano de Obras do estado, com obras de infraestrutura, principalmente de saneamento básico e rodovias. Em 1956, quando começou seu mandato de prefeito de Porto Alegre, deu início a concretização de sua promessa de campanha que era “nenhuma criança sem escola”, aumentando significativamente as vagas na rede municipal e a inclusão dos dois turnos, permitindo assim que as crianças ficassem mais tempo na escola e os pais pudessem trabalhar com tranquilidade. Também deu sequência às obras de saneamento porque considerava que educação e saúde eram coisas fundamentais para a população. Em 19598, na sua campanha para governador, apresentou um programa de governo no qual defendia priorizar as escolas, habitação, energia elétrica e preços justos aos produtores. Eleito, criou seis secretarias: Administração, Trabalho e Habitação, Economia, Transportes, Energia e Comunicações e Saúde. Toda sexta-feira à noite, na Rádio Farroupilha, ele prestava contas de seu governo, falando com a população e sua voz marcada ecoava por toda a pampa. Em 1961, Brizola organizou os gaúchos e, com o povo armado, criou a Campanha da Legalidade para garantir que João Goulart assumisse a presidência da República depois da renúncia de Jânio Quadros. Organizando uma cadeia de rádios, ele comandou uma resistência nacional contra o golpe. Entregou o comando da Brigada Militar ao comando do Exército regional, organizou comitês paramilitares de resistência e distribuiu armas aos civis. Desde o Rio Grande ele defenderia a legalidade. Vencida a batalha nacional com a posse de Jango, Brizola seguiu seu trabalho no Rio Grande do Sul criando um plano para industrializar o estado e um programa de serviços públicos. Nacionalizou empresas estadunidenses que lucravam com os gaúchos e levantou a ira do então presidente dos EUA, John Kennedy. Sem ligar para os achaques ianques, ele mandou embora a Bond and Share, que monopolizava a energia elétrica na região metropolitana e criou a Companhia de Energia Elétrica Riograndense, a CEEE, empresa mista de capital nacional que existe até hoje. Fez o mesmo com a International Telephone and Telegraph, que dominava a telefonia, e criou a Companhia Riograndense de Comunicações, a CRT. Seu nacionalismo não era de discursos, era de ação. Exatamente como fez quando era prefeito, Brizola aumentou o número de vagas públicas na educação riograndense e durante seu mandato criou quase sete mil novas escolas, conhecidas à época como “brizoletas”, por conta de sua arquitetura simples, tipo uma casa familiar. Com isso abriu quase 700 mil novas vagas, tendo o Rio Grande a maior taxa de escolarização do país. Ainda como governador, Brizola criou um programa de reforma agrária, o primeiro no país, e criou o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária que garantia assistência técnica e ainda atuava em parceria com o Movimento dos Agricultores Sem-Terra, o Master, que organizava acampamentos de sem-terra no estado na luta por um chão para produzir. Essa luta garantiu assentamento a centenas de famílias e até uma fazenda do próprio governador foi desapropriada para a reforma agrária. A caminhada que fazia no Rio Grande era uma preparação para o governo federal. Ele queria chegar à presidência e fazer no país tudo o que já havia começado no sul: todo apoio à educação, à reforma agrária e à nacionalização das empresas estrangeiras. Brizola queria um país industrializado e caminhando com as próprias pernas. Foi barrado pelo golpe de 1964. Brizola: “julgamento de Lula foi um teatro” Como Brizola adiou o golpe militar após a renúncia de Jânio Quadros

Documentário sobre Leila Diniz apresenta atriz para os jovens

Bem-vindo ao Fatos da Zona, em que adaptamos os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre para o audiovisual. Neste vídeo, visitamos emocionados a memória da grandiosa Leila Diniz. Abordamos a história dessa figura icônica que enfrentou os costumes impostos pela ditadura e reformulou o que era esperado das mulheres de sua época.       “Já que ninguém me tira pra dançar”, dirigido por Ana Maria Magalhães, abriu o 54° Festival de cinema de Brasília no dia 7 de dezembro  O longa reúne entrevistas e gravações inéditas, resgatando a participação de Leila Diniz na cultura brasileira e na luta feminista durante os anos mais duros da ditadura militar. O documentário também revela seu modo libertário de ser e agir em uma época que inspirou avanços culturais e comportamentais no mundo inteiro. Leila Diniz foi porta-voz de uma geração censurada, conquistando assim o amor de muitos, mas também a desaprovação dos reacionários e os hipócritas defensores da moral, principalmente após o episódio em que Leila posou de biquíni na praia de Ipanema  grávida de oito meses. Era de fato mulher à frente do seu tempo, falava abertamente sobre tudo, incluindo sua sexualidade. Assim como as divas Janis Joplin e Amy Winehouse, Leila Diniz morreu aos 27 anos em um acidente de avião na Índia, quando voltava de um festival de cinema na Austrália, onde recebeu o prêmio de melhor atriz. “O filme mostra o modo de ser e viver dos artistas e das jovens brasileiras nos anos 60, plenos de entusiasmo e ingenuidade. As novas gerações não sabem quem foi Leila, atriz que valorizou a verdade, a liberdade e o amor, porque acreditava que as pessoas podem realizar as suas melhores potencialidades e não as piores”, diz a diretora e amiga pessoal de Leila, Ana Maria Magalhães, segundo release distribuído à imprensa. A diretora também lembrou do retrocesso que vivemos atualmente no que tange aos direitos femininos, que, apesar de serem amplamente difundidos e os protestos feministas tomarem as cidades, ainda enfrentam tempos sombrios. O longa conta com depoimentos de estrelas como Betty Faria, Cláudio Marzo, Paulo José e Marieta Severo. O filme estreia na integra no streaming da plataforma Itaú Cultural Play no dia 15 de janeiro Toda mulher é meio Leila Diniz* Viva Pagu “O grande recado da Leila era o amor”, afirma Ana Maria Magalhães