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#Eleição2022

A TV pode ter sido decisiva no fracasso do golpe bolsonarista dia 8

O golpe de estado de extrema direita previsto para o domingo dia 8 de janeiro pode ter sido abortado por algo que não estava nos cálculos dos conspiradores: o papel das redes de televisão com a transmissão ao vivo a invasão da Praça dos Três Poderes e a posterior depredação da sede do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto. Tudo indica que o ataque aos três prédios públicos mais importantes do país visava criar o caos político e com isto justificar uma intervenção militar a pretexto de restabelecer a ordem. Mas o objetivo acabou frustrado quando milhões de brasileiros testemunharam ao vivo, pela TV, a irracionalidade da ação dos bolsonaristas de extrema direita, que rapidamente perderam eventuais simpatias de quem assistia tudo à distância. A participação da televisão no desfecho dos acontecimentos ainda é um tema que merece maior detalhamento para identificar se foi algo pensado politicamente ou foi fruto do entusiasmo jornalístico em testemunhar cenas que a maioria das pessoas achavam improváveis de acontecer. O fato é que a TV Globo, por exemplo, ao interromper sua programação normal no canal aberto tomou uma decisão que além de política tinha também desdobramentos comerciais, porque os espaços publicitários foram adiados por várias horas. Outra decisão crucial foi a de formar uma rede entre o canal aberto e o fechado (Globo News) para aumentar a audiência. A emissora também convocou quase todos os seus jornalistas especializados em política para incorporar-se à cobertura, contactando fontes nos diversos níveis do aparato governamental, para explicar e complementar o que estava sendo mostrado ao vivo. Simbolismos políticos A TV Globo também tomou uma decisão carregada de simbolismo político de instruir repórteres, apresentadores e comentaristas para que eles tratassem como terroristas, golpistas e vândalos os participantes da invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília. Este é o tipo de classificação que só pode ter sido decidida nos mais altos escalões da empresa pois as redações nunca tiveram a autonomia suficiente para acrescentar adjetivos à protagonistas de eventos políticos. Outras emissoras também adotaram o mesmo enfoque dos participantes da tentativa de golpe de estado com gradações e adjetivos diferentes, como foi o caso da CNN e da Bandeirantes. As exceções foram a SBT, Record e Jovem Pan que mantiveram sua orientação bolsonarista e rotularam a depredação como um protesto e seus autores como manifestantes, seguidores do ex-presidente, derrotado nas eleições presidenciais de outubro do ano passado. Caso estudos mais aprofundados venham a comprovar esta hipótese sobre a influência da transmissão ao vivo pela TV e do posicionamento das emissoras no tratamento dos participantes do ataque a prédios públicos em Brasília, no dia 8, estaremos diante de um caso inédito em que a comunicação e o jornalismo podem ter evitado um golpe de estado usando a informação visual como arma principal. O possível papel estratégico do audiovisual sinaliza uma mudança nos comportamentos políticos uma vez que a imagem, em tempo real, apela mais às emoções do que à reflexão. Até agora a imprensa escrita tinha um papel predominante porque os principais atores políticos priorizavam a racionalidade e a lógica nas ações de grande envergadura. Já se sabia que uma imagem apela mais para o emocional do que para o racional, mais para os impactos informativos do que para a reflexão analítica. Mas o que a cobertura televisiva dos eventos de domingo, 8 de janeiro, pode estar nos mostrando é a importância de entender como imagens impactantes sobre questões complexas podem acabar gerando mudanças de percepções individuais e coletivas em tempo curtíssima, sem o recurso a reflexão analítica. As armadilhas políticas das fake news O ecossistema informativo nacional no governo Lula Resumo da ópera golpista no Brasil

Reconstrução se faz com mobilização

A vi­tória elei­toral de Lula si­na­liza a der­rota das forças des­tru­tivas que se apo­de­raram da ad­mi­nis­tração fe­deral nos úl­timos quatro anos. Não sei se o lema do novo go­verno – “União e Re­cons­trução” – se trans­for­mará em fato. União na­ci­onal não é ta­refa fácil. A cul­tura bol­so­na­rista, im­preg­nada de ódio, con­ta­minou inú­meras pes­soas que se so­maram aos 58 mi­lhões de votos re­ce­bidos por Bol­so­naro no se­gundo turno. E não há pos­si­bi­li­dade de união na­ci­onal nessa so­ci­e­dade in­jus­ta­mente mar­cada por gri­tante de­si­gual­dade so­cial. Con­tudo, re­cons­trução é viável. Lula tem plena cons­ci­ência do que pre­cisa ser feito. Seus dis­cursos de posse ex­pressam o ca­ráter deste ter­ceiro man­dato, onde se des­tacam três pri­o­ri­dades: com­bater a fome e a in­se­gu­rança ali­mentar; re­duzir a de­si­gual­dade so­cial; pro­teger nossos bi­omas e for­ta­lecer as po­lí­ticas so­ci­o­am­bi­en­tais. Lula está atento ao que de­veria ter sido feito em seus pri­meiros man­datos e, por força da con­jun­tura, não acon­teceu. Sabe que, agora, é talvez sua úl­tima opor­tu­ni­dade de go­vernar o Brasil. Na con­versa pri­vada que ti­vemos no Ita­ma­raty, na noite de 1º de ja­neiro, eu disse a ele que este é o início de seu pe­núl­timo man­dato. Ele sorriu. Estou con­ven­cido de que será can­di­dato à re­e­leição em 2026, aos 81 anos. A quem alega a idade avan­çada, lembro do car­deal Ron­calli, eleito papa João XXIII com 77 anos, em 1958, e com 80 pro­moveu uma re­vo­lução na Igreja Ca­tó­lica ao con­vocar o Con­cílio Va­ti­cano II. Nos man­datos an­te­ri­ores, Lula as­se­gurou sua go­ver­na­bi­li­dade pelo mo­delo “saci-pe­rerê”, apoiada em uma só perna: o Con­gresso Na­ci­onal. Agora sabe que a perna mais im­por­tante é a da mo­bi­li­zação po­pular. Es­pero que mi­nis­tros e mi­nis­tras se deem conta de que apoio po­pular não se con­funde com os 60 mi­lhões de votos re­ce­bidos por Lula. De­pende de in­tenso tra­balho pe­da­gó­gico. Não brota do es­pon­ta­neísmo nem re­sulta au­to­ma­ti­ca­mente das po­lí­ticas de in­clusão so­cial. Feijão não muda au­to­ma­ti­ca­mente a razão. Par­ti­ci­pação ci­dadã advém de cons­ci­ência crí­tica, or­ga­ni­zação e mo­bi­li­zação. E o go­verno fe­deral dispõe de am­plos re­cursos para pro­movê-las, desde po­de­roso sis­tema de co­mu­ni­cação à se­leção de li­vros di­dá­ticos. So­bre­tudo va­lo­rizar a ca­pa­ci­tação po­lí­tica de seus re­pre­sen­tantes em con­tato di­reto com a po­pu­lação, como os 400 mil agentes co­mu­ni­tá­rios de saúde. Sem povão não há so­lução! Brasil avermelhou Meus votos a presidente Slogan do governo Lula será “União e Reconstrução”; veja      

O ecossistema informativo nacional no governo Lula

O governo brasileiro que assumiu há poucos dias terá pela frente um desafio inédito na política nacional, porque seu sucesso dependerá mais da forma pela qual vai se comunicar com a população do que pela realização de projetos e obras. Parece um absurdo, uma incongruência, mas é uma realidade nova que reflete as mudanças em curso no modo como a informação e a comunicação passaram a ser preponderantes na política brasileira e mundial. A principal mudança na gestão do país parece ser a de que os chefes de poderes executivos nacionais, estaduais e municipais terão que se comunicar mais com a população do que assinar papéis e negociar com políticos e empresários. É que na era digital, a sustentabilidade política de um governo passou a depender, fundamentalmente, da forma como um presidente é percebido por milhões de pessoas que frequentam as redes sociais. A percepção política integra o que os especialistas em comunicação chamam de ecossistema informativo, ou seja, o conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais e tecnológicos que condicionam a maneira como as pessoas desenvolvem o seu conhecimento do mundo em que vivem. Até agora as percepções envolviam dois tipos de conhecimento sobre fatos, dados e eventos noticiados pela imprensa: o conhecimento de alguma coisa e o conhecimento sobre algo. No primeiro caso, temos o puro registro de uma novidade, como por exemplo, quando lemos uma manchete de jornal. Sabemos o que aconteceu, mas ignoramos porque, como, os antecedentes e as consequências de uma notícia. A opinião pública na era digital não é mais formada a partir da lógica, causalidade e reflexão. O volume, diversidade e a velocidade com que as informações são jogadas no meio social impedem as pessoas de raciocinar como antes. Estamos na era do impacto informativo, onde as percepções são formadas a partir do acúmulo de notícias, dados, fatos e eventos, ou seja, através do bombardeio informativo nas redes sociais e em veículos convencionais como os canais noticiosos em redes fechadas de TV. A estratégia informativa do impacto é a responsável pelo fato de tantas pessoas acabarem ignorando a lógica e o chamado bom senso. Bolsonaro usou esta técnica para criar percepções distorcidas em suas lives das quintas-feiras, cujo conteúdo era depois reforçado pela reprodução em massa da mesma mensagem, numa operação coordenada pelo chamado gabinete do ódio, instalado no Palacio do Planalto. Ferramenta obrigatória O uso, durante a última campanha eleitoral, da técnica de acumulação de postagens impactantes através das redes sociais, conseguiu inclusive compensar as resistências da grande imprensa nacional à campanha de reeleição do presidente Bolsonaro. No passado, o apoio de grandes jornais e redes de televisão era um elemento decisivo para a viabilidade eleitoral de candidatos e para a sustentabilidade política de presidentes, governadores e prefeitos. Agora, a grande imprensa dedica boa parte de sua agenda noticiosa a repercutir postagens impactantes, boa parte delas fake news, produzidas nas redes sociais. A comunicação com a massa de usuários de redes sociais transformou-se numa ferramenta obrigatória para quem está no poder ou aspira a ele. O presidente eleito terá que adotar uma comunicação permanente com a população para buscar apoio para seus projetos, especialmente na primeira fase do seu governo, por conta da trágica herança financeira e administrativa deixada pelo seu antecessor. Lula não terá dinheiro suficiente para cumprir várias promessas eleitorais e precisará convencer seus seguidores a serem pacientes até que os problemas mais graves sejam resolvidos. O apoio da opinião pública é a única opção disponível para o novo chefe de governo, já que ele não conta com maioria efetiva no congresso nacional, dispõe apenas de uma temporária simpatia da grande imprensa, enfrenta resistências nas Forças Armadas e no setor empresarial privado. Esta conjuntura política e as novas condições criadas pelos impactos informativos na formação da opinião pública nacional aumentaram a importância que as estratégias de comunicação passam a ter nas prioridades governamentais. As armadilhas políticas das fake news Nós, jornalistas, temos uma dívida com Bruno e Dom Jornalismo e imprensa não são sinônimos

Ainda falta o terceiro turno

A campanha bolsonarista foi abertamente criminosa. Perdeu, mas ficou impune. E seguiu naturalizando esse privilégio, nos posteriores deboches à norma constitucional. Como previsto, a sucessão de golpes que pariu o governo Bolsonaro tornou-o tão ilegítimo que o deslocou para fora do regime da legalidade. Assim termina o mandato. Talvez (ainda) não haja muito a fazer na seara governamental, pois o Congresso aliou-se ao banditismo. Individualmente, porém, a história é bem outra. O caminhoneiro que expõe crianças, o policial prevaricador, o líder dos piquetes, o jurista mentiroso, a deputada pistoleira, todos podem e devem ter punição imediata. Não há controvérsias, brechas legais ou direitos a preservar. São criminosos notórios, em atividades documentadas, de ampla repercussão pública. Assim como os hábitos ilícitos durante a Campanha de Bolsonaro e todo seu governo, o vandalismo fascista aproveita a cumplicidade e a omissão das cúpulas judiciárias. A anistia é um projeto institucional. Ou acreditamos realmente que nossos heróis togados não conseguem identificar os organizadores dos ataques? Que não têm prerrogativa para meter nazistas na cadeia? Um ano atrás alertei que as autoridades atiçavam o golpismo fingindo combatê-lo. Agora fingem surpresa diante dos ataques mais previsíveis do universo. Não basta liberar estradas, recolher pistolas, abrir sindicâncias, bloquear contas digitais. Não estamos lidando com ameaças ou tentativas, e sim com delitos flagrantes. Perdoar delinquentes é o exato oposto da pacificação. É um desatino incendiário que alimenta a instabilidade social e convida o golpismo a alargar seus limites. Enquanto nos contentamos em tirar bodes da sala, os facínoras ganham adeptos e melhoram sua organização. Hoje voltam para casa. Amanhã saem armados. E depois? Sem uma ação imediata e rigorosa do Judiciário, a posse de Lula ocorrerá no meio de batalhas campais. E ele presidirá um país à beira da guerra civil. A esquerda otimista ri dos patetas, mas continua com medo de sair à rua usando roupa vermelha. Sonha com a Bolívia de Arce e periga despertar no Chile de Allende. O que falta é pressão de democratas corajosos. Menos chororô perplexo e mais atitude efetiva. As instituições precisam responder para quem, afinal, estão funcionando. Vai ter golpe? Pós-democracia La vai o Brasil descendo a ladeira

O papel da imprensa no esvaziamento das bolhas extremistas

  Ao invés de apontar um vencedor consensual, o resultado das eleições presidenciais acabou por escancarar a formação de bolhas extremistas. Tais bolhas constituem um enorme desafio não apenas para o presidente eleito, mas também para a imprensa, o jornalismo e os canais de comunicação, por onde flui a maior parte das informações que alimentam a polarização político-ideológica no país. Os veículos de comunicação, profissionais autônomos e os influenciadores digitais (1) são protagonistas neste processo de fracionamento da sociedade brasileira. Cabe a eles a responsabilidade de fazer a filtragem das informações que ampliarão ou diminuirão o sectarismo político e a xenofobia social dos grupos que se recusam a aceitar a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma situação inédita para a imprensa e para os profissionais, pois a realidade política que emergiu do segundo turno das eleições presidenciais aponta no sentido de uma maior preocupação social com as causas e consequências do surgimento das bolhas extremistas do que com o noticiário factual convencional. Em última análise, o jornalismo e a imprensa estão diante do agravamento do dilema entre seguir a velha regra da isenção ou assumir a necessidade de neutralizar a polarização político-ideológica. Não é uma escolha simples porque mexe com comportamentos, normas e valores vigentes há décadas na profissão. A reação extremista à vitória de Lula desorientou a maior parte dos jornais brasileiros e acelerou a necessidade da mudança de estratégias editoriais. Surgiu uma situação em que a defesa da democracia deixou de ser retórica para assumir um caráter concreto, ou seja, garantir o respeito ao resultado de uma votação popular e a crítica à formação de bolhas golpistas. Ficou também claro que as fake news não são apenas um erro pontual a ser corrigido pelos institutos de checagem, mas um instrumento político central na estratégia dos movimentos de extrema direita, pois é através delas que se consolidam a unidade interna e o voluntarismo das bolhas extremistas. A avalanche informativa e as redes sociais virtuais aumentaram de tal forma o fluxo de notícias que as pessoas acabaram confusas diante de tanta informação, ficando quase impossível eliminar as fake news. A insegurança e incerteza sobre a autenticidade das notícias levaram os extremistas de direita à formação de grupos ideologicamente homogêneos, dentro dos quais as pessoas recebem o mesmo tipo de informação, não importa se verdadeira ou falsa. Foi criado o ambiente ideal para a disseminação em massa de fake news, o que alimentou o fenômeno de radicalização descrito em detalhes pelo professor norte-americano Cass Sunstein (ex-assessor do presidente Barack Obama), no livro Going to Extremes, (publicado em 2009, sem tradução no Brasil). Estamos presenciando uma situação nova em matéria de ressaca pós-eleitoral. Tradicionalmente, os vencedores costumavam exibir orgulhosamente sua opção eleitoral em camisetas e adesivos, mas o que assistimos hoje é um protagonismo dos derrotados, principalmente através de bandeiras nacionais em carros e da profusão de roupas nas cores verde e amarela. Há claramente uma posição desafiadora e uma recusa em aceitar a derrota, mesmo que esta posição busque se auto justificar usando fatos e dados absolutamente inverídicos. Não importa a credibilidade e sim a repetição incessante da mentira, até que ela passe a ser reproduzida sem questionamentos. A radicalização e polarização ideológicas já estão transbordando o âmbito partidário para atingir as relações humanas, como mostram as multiplicações de vídeos e postagens na internet de pessoas hostilizadas ou discriminadas por integrantes dos grupos extremistas de direita. O fenômeno é mais intenso na região sul do país, especialmente em Santa Catarina e Paraná. A imprensa e o jornalismo não podem tratar estes casos de forma burocrática, porque posturas tolerantes ou supostamente isentas contribuem para incentivar ainda mais o extremismo de direita. (1) Imprensa e jornalismo são conceitos distintos. A imprensa é o negócio de disseminar e vender notícias. Jornalismo é a profissão responsável pela produção de notícias. Influenciadores são indivíduos, em sua maioria sem formação técnica jornalística, que divulgam e comentam fatos, dados e eventos pela internet. O ecossistema informativo nacional no governo Lula A imprensa ainda não sabe lidar com a mentira em campanhas eleitorais Jornalismo e imprensa não são sinônimos

O universo paralelo do fanatismo bolsonarista

Fanatismo – Quem entra num grupo de discussão bolsonarista se depara com um torvelinho de alucinações. As mensagens que chegam tratam dos temas mais esdrúxulos. Há alertas sobre alienígenas do bem que estão na terra para guiar os humanos para a luz. Existem denúncias contra o Papa Francisco, que seria pedófilo e comedor de fetos. Há denúncias contra Obama que seria responsável pelo tráfico de crianças. Tem mensagens motivacionais com o nome de Jesus. Há denúncias de satanismo praticado por gente de esquerda. Há teorias de que figuras como John Kennedy Júnior estaria vivo e pronto para assumir a presidência dos Estados Unidos, bem como estariam vivos também a Princesa Diana, Elvis Presley e Michael Jackson. Também há a teoria dos clones segundo a qual vários governantes mundiais já estariam mortos e no seu lugar estariam clones, como era o caso da Rainha Elisabeth e agora do presidente Putin. O grupo acolhe canais no Youtube de figuras absolutamente alucinadas como é o caso de um rapaz chamado Luciano Cesa. Ele, que se diz “artista musical” e discípulo do Senhor Deus, fala com tamanha propriedade sobre essas teorias todas, como se verdades absolutas fossem. E faz previsões e prognósticos verdadeiramente delirantes. A criatura tem mais de 300 mil seguidores. Durante a operação da Nasa para mudar a rota de um asteroide, ele divulgava que o asteroide iria cair sobre a terra e que havia uma luta desesperada dos Estados Unidos para impedir isso. Orientava as pessoas a fazerem estoque de alimentos e aguardarem em casa o desfecho, pois podia dar errado e o mundo ser destruído. E pasmem. As pessoas viveram aquele episódio aterrorizadas, mandando mensagens, chamando filhos e pais para perto, porque tudo podia se acabar. Então, fizeram estoques de comida. Agora, durante as eleições, anunciavam a vitória estrondosa de Bolsonaro porque deus estava no comando. Quando os números começaram a virar, as mensagens que chegavam eram de que o Exército Brasileiro estava interceptando estradas digitais que vinham dos Estados Unidos com hackers de esquerda tentando fraudar os resultados. E as mensagens vinham com gráficos e tudo mais. Também parece que estava havendo alguma interferência de alienígenas do mal. Então, vencidas as eleições pelo satanismo do PT, as mensagens que circulam são de que é preciso ir para a rua para fazer valer o artigo 142 da Constituição, que segundo eles, autoriza as Forças Armadas a tomar o poder. São milhares de mensagens chegando e circulando numa velocidade estonteante. Como os bloqueios foram desarticulados, começaram a surgir áudios dos filhos de Bolsonaro (verdadeiros ou não, não se sabe) orientando o pessoal a se reunir em frente aos quartéis. Segundo os áudios não é para falar em Bolsonaro, apenas pedir a “intervenção federal”.  Por quê? Ninguém sabe ao certo. O argumento é que o Lula é ladrão e satânico e por isso tem de ser impedido de chegar à presidência. Assim,  lá foi a turba fanática para frente dos quartéis. Em alguns lugares, o número foi expressivo, mas na maioria o grupo foi pequeno. Nos atos, as  cenas são delirantes. Alguém sobe num carro e fala ao povo: “Temos a informação de que o exército tem provas da fraude nas eleições”. Gritaria geral, palmas, rezas e lágrimas. As pessoas acreditam piamente em tudo que qualquer um diz ao microfone. Em outra manifestação, alguém anuncia que o ministro Alexandre de Moraes acabou de ser preso. De novo, a histeria, os gritos, lágrimas e palmas. São informações absolutamente mentirosas que apenas servem para manter o grupo unido e em ação. A fala do presidente Bolsonaro, que não reconhece a eleição nem a vitória de Lula, é interpretada como um apoio seguro aos atos anti-Constituição e de fanatismo. E todos seguem firmes. A segunda fala do presidente, vestido de camiseta à moda Zelenski, pedindo que eles saiam das estradas, também foi interpretada como falsa. Os gurus dos grupos dizem que aquele que falou é um clone, que Bolsonaro está preso, sendo obrigado a falar o que “eles” querem. A última agora é a chamada para matar o presidente eleito. Como nada deu certo, a única coisa que resta é eliminar o Lula para que ele não assuma. Até mesmo o famoso piloto de Fórmula 1, Nelson Piquet, esteve nos atos golpistas e declarou que quer ver Lula no cemitério. E a considerar o nível de alienação dos fanáticos que estão hipnotizadas por essa enxurrada de absurdos, é preciso ficar bem alerta. Porque certamente não faltará quem decida cumprir a tarefa. Tudo isso acontece sob o beneplácito do judiciário, bem como de parte da polícia militar. Durante os bloqueios policiais, ajudaram a romper cercas, fizeram continência para os golpistas e deram proteção. Sob o argumento da liberdade de expressão, essas figuras grotescas que disseminam mentiras seguem pregando e incitando os grupos. A incitação à violência e à morte segue firme nos grupos e nos uatizapis familiares. Mesmo que tudo siga aparentemente normal no país, os ataques fanáticos seguirão.  Um grupo de teatro infantil foi impedido de se apresentar por conta de uma ação violenta que destruiu o palco enquanto as crianças choravam em desespero. E por aí vai. Caso não haja uma ação efetiva por parte do judiciário, isso não vai parar e qualquer um que não esteja com Bolsonaro é inimigo mortal. Na hora, a pessoa vira petista, satânico, pedófilo, traficante de crianças, comedor de fetos e aliado dos alienígenas do mal. Portanto, alvos. Os tempos são turvos. Bolsonarismo em xeque Dois toques sobre a eleição no Brasil Evento debate a estratégia da extrema direita nas redes sociais

Brasil avermelhou

Lula eleito – Depois de uma semana tensa, na qual um apoiador de Jair Bolsonaro feriu policiais com tiros e granada e uma deputada bolsonarista perseguiu um homem negro pela rua afora, armada de pistola, a população brasileira deu sua resposta. Era chegada a hora de colocar fim a um dos governos mais destrutivos da história do Brasil. Derrotar Bolsonaro e sua política de morte passou a ser ponto de honra, inclusive com a formação de alianças jamais vistas. Foi uma campanha bastante despolitizada, sem o debate dos grandes temas nacionais, justamente porque Bolsonaro conseguiu impor uma agenda recheada de mentiras. Assim, era preciso um grande esforço para tentar desfazer a trama toda. Nisso, a pauta econômica e política ia ficando de lado. O clima de guerra religiosa e moral deu o tom em todo o processo e a violência generalizada se espalhou. O último ato foi o do ex-deputado Roberto Jefferson, que tentou se transformar num mártir, buscando reconstituir o clima da famosa “facada” ocorrida na eleição de 2018. Ao atacar a Polícia Federal, esperava um revide, que não veio. O balão murchou e fez estragos na campanha bolsonarista. No campo da oposição ao governo, as comportas iam se fechando e velhos adversários se uniram a Lula para derrotar Bolsonaro. E a derrota veio. Apertada, mas veio. É importante salientar que o governo brasileiro usou de toda a máquina para impedir a vitória de Lula. O Nordeste, região brasileira com mais votos para o petista, foi o campo de batalha. A Polícia Rodoviária Federal foi acionada para impedir as pessoas de chegarem aos locais de votação. Ônibus, carros, motos, tudo era parado e os passageiros sofriam humilhações. Ainda assim, não foi suficiente. A resposta do Nordeste foi a esperada: vitória acachapante de Lula. Minas Gerais, um estado que sempre é baliza, também surpreendeu e Lula ficou com mais de 50% dos votos. E na região Norte, os estados do Amazonas e Pará igualmente responderam bem contra Bolsonaro. Restou ao Sul, Centro-Oeste e parte do Sudeste manter a preferência com Bolsonaro, com o Rio Grande do Sul também surpreendendo e impedindo a vitória do candidato a governador bolsonarista, apesar de ainda dar vitória a Bolsonaro na eleição principal. Por fim, depois de uma apuração bastante sofrida o resultado veio: 50,90% para Lula e 49,10% para Bolsonaro, uma diferença de pouco mais de dois milhões de votos. Olhando para o mapa do Brasil é fácil ver que foi a população mais sofrida quem decidiu aplicar a derrota a Bolsonaro. Afinal, foram quatro anos nos quais os trabalhadores perderam direitos e ainda sofreram de maneira visceral os efeitos da ação governamental durante a pandemia. Bolsonaro não atuou no combate à doença, fez campanha contra o uso de máscaras e pelo uso de medicações ineficazes. Além disso, fez campanha contra a vacina e só comprou o imunizante depois de muita batalha por parte da população. O resultado foram quase 700 mil mortos. Não bastasse isso, abriu caminho para as empresas de armamento, fez vistas grossas para fazendeiros e mineradores invasores de terra indígena, não atuou nas queimadas da Amazônia e do Pantanal, deixou a gasolina chegar a sete reais o litro e provocou a disparada dos preços dos alimentos. No campo da moral, Bolsonaro, sua mulher e filhos abriram caminho para uma série de mentiras: que o comunismo estava chegando, que o PT iria fechar igrejas, que Lula era um satanista, que iria obrigar as crianças nas escolas a usar o mesmo banheiro, que iria ensinar as crianças a serem gays e mais um sem número de absurdos que foram cimentando um exército de fanáticos. Diante de uma economia em colapso, avanço da fome e da miséria, esses temas criaram cortinas de fumaça que inebriaram muita gente. Por isso, não é de estranhar que Bolsonaro tenha conseguido 58 milhões de almas para seu projeto. O medo foi decisivo para uma camada grande da população. Mas, apesar disso, Bolsonaro foi derrotado nas urnas. E agora, espera-se que venha um novo tempo. Não há ilusões sobre o governo de Lula. Será um governo social-ldemocrata, com muitas concessões aos aliados de última hora. Mas, sem lugar a dúvidas, haverá uma retomada da racionalidade, visto que a pauta do mandatário da nação não será mais dominada por mentiras e absurdos moralistas.  Aos trabalhadores restará ficar atentos e organizados, porque, no Brasil, muitas lutas ainda deverão ser travadas. Ainda falta o terceiro turno Dois toques sobre a eleição no Brasil “Nós vamos juntar os diferentes para vencer os antagônicos”, diz Lula Por que tanto medo?

A imprensa ainda não sabe lidar com a mentira em campanhas eleitorais

O episódio Damares Alves envolvendo supostas violências sexuais contra crianças na ilha de Marajó mostrou como o jornalismo e a imprensa brasileira como um todo estão desnorteados diante da normalização da mentira como ferramenta eleitoral. As declarações da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos se mostraram tão fantasticamente inverossímeis que a maior parte do público leitor de jornais não se preocupou com a credibilidade da notícia passando a dar mais atenção às reais intenções de Damares. Ficou claro que a pastora evangélica, dublê de militante política, pretendia gerar pânico entre eleitores indecisos às vésperas do segundo turno da votação para presidente da República. A leviandade deliberada com que políticos de extrema direita passaram a incorporar mentiras ao seu discurso eleitoral coloca a imprensa diante de um complicado dilema profissional: ignorar a falsificação, distorção e omissão de informações para evitar que seus promotores atinjam os objetivos pretendidos; ou promover a checagem de todas as notícias sob suspeita, um processo lento, complexo e capaz de gerar novas polêmicas eleitorais. Infelizmente, poucos veículos de comunicação fizeram esta escolha de forma clara porque foram condicionados pela velha regra de que é preciso ouvir os dois lados para demonstrar imparcialidade. Uma isenção que perde sua razão de ser quando a mentira é transformada em ferramenta eleitoral. Nestas circunstâncias, quando o uso de fatos, dados e declarações inverídicas se torna normal em disputas políticas, o jornalismo não pode ser neutro porque isto contraria sua missão fundamental que é a de levar aos cidadãos informações que os ajudem a evitar escolhas equivocadas. A regra da imprensa de ouvir os dois lados é válida quando a divergência de opiniões e posicionamentos ocorre em questões complexas onde a diversidade de percepções é um fator importante para o esclarecimento do público. Quando a divergência envolve um fato, dado ou afirmação notoriamente falsa ou mentirosa a preocupação com a veracidade é muito mais importante do que a imparcialidade por conta de possíveis consequências irremediáveis. Logo, a imprensa não deveria dar espaço ao mentiroso, ou mentirosa, para promover algo que vai causar dano ao conjunto da sociedade. Um desafio enorme O jornalismo sempre tratou a mentira como uma exceção que deve ser recriminada e desconstruída através da verificação de confiabilidade dos dados e fatos sob suspeita. Mas quando a falsificação, distorção e descontextualização são transformados em rotina por um candidato, a checagem de todas as mentiras fica virtualmente impossível por conta do tempo e da exatidão exigidos na verificação. Tome-se o exemplo dos debates entre candidatos presidenciais. O ritmo e o volume de informações que, em tese, deveriam ser conferidas, implicaria a interrupção do debate quase a cada minuto, sem contar o tempo consumido na checagem dos dados apresentados. Mas não é só isto. A normalização da mentira em períodos eleitorais muda a natureza das narrativas políticas. O jornalismo ainda está apegado a uma abordagem analítica dos fatos, dados e eventos mencionados em pronunciamentos e entrevistas dos candidatos. Desapareceu o constrangimento de usar falsidades no discurso eleitoral porque o mais importante é como elas influem na percepção das pessoas, principalmente as menos informadas ou as mais contaminadas pelo passionalismo e xenofobia. Por isto, os candidatos de extrema direita deixaram de ter qualquer escrúpulo em mentir porque o que importa não é a confiabilidade do que é dito ou escrito, mas sim como o eleitor vai incorporar a mentira à sua visão de mundo e sua decisão de voto. Trata-se de uma realidade profissional ainda pouco explorada pelo jornalismo porque o extremismo de direita, como protagonista eleitoral significativo, também é um fenômeno novo. Pela natureza antidemocrática deste movimento político, não são aplicáveis as regras criadas pelo jornalismo condicionadas pelo modelo democrático. Os profissionais e pesquisadores do jornalismo não têm assim alternativa senão partir do estudo da realidade concreta, para descobrir como e porque a mentira consegue contaminar tanta gente. Só com estes dados será possível começar a pensar em estratégias editoriais baseadas na realidade e não em concepções herdadas de outro contexto político. (ver artigo As Vacilações do Jornalismo na cobertura das Ameaças à Democracia ) A opção pela pesquisa do fenômeno do crescimento da extrema direita em várias partes do mundo é defendida enfaticamente por Margareth Sullivan, ex-ombudsman do The New York Times e hoje colunista do The Washington Post. Ela diz que é essencial se preocupar mais com a contextualização mais ampla possível das declarações e promessas de candidatos, especialmente os de extrema direita, do que com a pressa em publicar a notícia. O papel da imprensa no esvaziamento das bolhas extremistas Eleições: por que vencem as mentiras (fake news)? Jornalismo eleitoral: mais do que só notícias Dois toques sobre a eleição no Brasil

Dois toques sobre a eleição no Brasil

Eleições 2022 – Antes da eleição eu estava sentada lá no Elias, comendo um pastel. Sentou ao meu lado um homem e logo puxou conversa perguntando em quem eu iria votar. Não era um homem sem cultura formal, era um brasileiro médio, pequeno empresário e bem articulado. Respondi que não sabia ainda, para dar corda. Ele então começou a falar sobre as propostas da “esquerda”. Uma delas era que o Lula, se eleito, iria transformar os banheiros das escolas em banheiros conjuntos, meninos e meninas junto. E que aquilo era um absurdo. Também que nas escolas iriam ensinar como ser gay e puta, estragando a família brasileira. Disse ainda que as vacinas que as pessoas tinham tomado eram feitas de placenta humana e que causavam câncer em massa. Que o Bolsonaro estava certo em não querer que a população se vacinasse, que ele salvou vidas. Falou da ministra Damares e no quanto ela estava trabalhando para proteger as meninas de tanto pecado. Sobrou até para o Papa Francisco, que, segundo o cara, era um pedófilo convicto e que, unido com a esquerda, iria perverter todas as crianças. Disse ainda que o comunismo era a coisa mais horrível do mundo, embora não conseguisse me explicar em que exatamente consistia. O que ele sabia era que destruía a família. Por isso a necessidade de escolas militares. Além disso, falou do quanto o Lula era ladrão e do tanto que tinha roubado o país. Por isso era fundamental que a população estivesse armada, para se proteger da violência e dos ladrões. Também afirmou convicto que as queimadas na Amazônia e no Pantanal tinham sido provocadas por esquerdistas aliados ao Leonardo DiCaprio, para manchar o nome de Bolsonaro. Por fim, para salvar a família, só mesmo o Bolsonaro. Estas são algumas das verdades que estão firmes na cabeça de um número expressivo de brasileiros. São ideias que cruzam o éter nos grupos de família, de amigos, na igreja, nas conversas de bar. O comunismo é do diabo, torna as pessoas marginais e por isso é preciso acabar com essa ideologia satânica. Se precisar, para dar fim no comunismo é preciso acabar fisicamente com os comunistas. Eles são a maçã podre que está enfraquecendo a nação e a família. Eles são monstros que realizam sacrifícios humanos para se manter no poder no mundo. Tudo o que dá errado no país é culpa deles. Eles causam os problemas para incriminar Bolsonaro. Por isso a cruzada do presidente e de sua religiosa esposa. Eliminar os comunistas é salvar a nação. E as pessoas falam isso sem qualquer pejo. Porque para elas matar um comunista não é crime, é ajudar na missão de deus para criar um país seguro para seus filhos. Por isso acreditam na ideia de que os militares, quando deram o golpe em 1964, estavam corretíssimos em perseguir, torturar e matar os comunistas. Porque eles são a causa de todo o mal. Esse tipo de discursos não está apenas no âmbito das pessoas mais simples e religiosas. Ele circula velozmente mesmo entre os letrados. Tem se transformado numa espécie de monstro que carrega todo mal do mundo. E não adianta querer argumentar, trazer elementos da história. Não. É crença. Não está no campo da razão. Qualquer tentativa de debate é rechaçada com um olhar estranho de reconhecimento: ela é o diabo. Já ouvi isso até mesmo de pessoas da família, pessoas muito próximas. E esse reconhecimento implica em uma ação imediata de rechaço e de necessidade de eliminação. Assim que não adianta trazer números sobre o quanto a ditadura matou e torturou. Para essa gente, os milicos fizeram o que tinham de fazer e, se precisar, eles mesmos o fazem agora. Tudo para salvar a família. Não há argumento que penetre esse muro criado pela fé cega. É nesse mundo que estamos agora. E, de certa forma, perdidos. Porque o que se vê no campo da esquerda é uma incapacidade teórica e prática de atuar nesse universo. Primeiro que há uma negação sobre esse discurso e uma desqualificação das pessoas que o disseminam. Não sei se é o caminho. A política está atravessada pela moral, sempre esteve de algum modo quando definimos o que é bom ou o que é ruim. Mas, agora, nesses tempos, a moral se sobrepõe porque a política – tal como aparece – tem se mostrado incapaz de dar respostas aos problemas cotidianos. Geralmente quem tem feito isso – dar respostas e caminhos – é a igreja. As neopentecostais estão em cada esquina, como as farmácias. E elas são espaços onde as pessoas se sentem seguras para sonhar com a resolução dos problemas. Então, entregar a vida nas mãos de deus parece ser o mais seguro. E quem é o homem de deus? Bolsonaro. Então, quem está com ele, está com deus. Por isso, um completo desconhecido, com uma arma na mão, pode virar o senador eleito de um estado, como aconteceu em Santa Catarina, porque ele é um soldado de deus para acabar com os bandidos e defender a família. Esse é o mantra. “Deus no controle”, e não um deus qualquer, mas um deus vingador, sedento de sangue. E os comunistas é que são os satânicos. Ah, mas claro. Eles estão a serviço do diabo. Por isso devem ser eliminados. Simples assim. Elementos da realidade do governo de Bolsonaro tais como a compra de imóveis de luxo com dinheiro vivo, corte de 92% da verba para Ciência e Tecnologia, aumento dos salários do presidente, do vice e dos generais em 69%, mais de trinta bilhões de orçamento secreto, cinco bilhões para o Fundão eleitoral, cinco milhões para os desfiles de moto, pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), desvio de verbas de combate à Covid, retirada de recursos das Universidades, fim de direitos trabalhistas, invasão das terras indígenas, e outros tantos, não são considerados. Isso não é considerado problema pela maioria da população. E é nesse ritmo que a realidade perde força diante da fé. Se os preços dos

“Nós vamos juntar os diferentes para vencer os antagônicos”, diz Lula

Na tarde desta quarta-feira (dia 7 de outubro), o ex-presidente Lula reuniu-se com 16 senadores de 19 Estados e 12 governadores que o estão apoiando no segundo turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro. No encontro, que aconteceu em um hotel no centro da cidade de São Paulo, eles falaram sobre os desafios para a vitória do petista no segundo turno. Estavam presentes o governador reeleito do Pará Helder Barbalho (MDB),  a governadora reeleita do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT), o governador eleito do Piauí Rafael Fonteles (PT), o governador eleito do Amapá Clécio Luís (Solidariedade), o atual governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB), a atual governadora do Piauí Regina Sousa (PT), o atual governador de Alagoas Paulo Dantas (MDB), o governador reeleito do Maranhão Carlos Brandão (PSB), o governador eleito do Ceará Elmano Freitas (PT) e o atual governador da Paraíba João Azevedo (PSB). Além destes, compareceram à reunião 16 senadores em exercício e outros três que assumirão o cargo no próximo ano.   Apoio do PDT e promessa de diálogo com a população Minutos antes do evento, Carlos Lupi, presidente do PDT, esteve em uma breve coletiva de imprensa com o ex-presidente, onde afirmou considerar uma “honra” e obrigação dos membros de seu partido conceder apoio a Lula.  “Não é só eleger Lula, é impedir o mal que abate a sociedade brasileira. Bolsonaro representa tudo que o a gente lutou contra a vida inteira. Então, estar ao seu lado é estar ao lado da democracia. (…) Ao lado da esperança e ao lado de um trabalhador. Como Brizola gostava de dizer, Lula representa um trabalhador”, discursou. Lula fez um aceno a Ciro Gomes, relembrando a trajetória dos dois juntos, quando o pedetista fez parte de seu governo, e afirmando que ele é diferente quando não está na presença da imprensa. “Eu conheço bem o Ciro Gomes”. Ele também relembrou da aliança com Leonel Brizola e afirmou que a legenda vale mais que os 3,5% obtidos no primeiro turno. Por fim, enfatizou: “nós vamos juntar os diferentes para vencer os antagônicos”, destacou o ex-presidente. Mais tarde, durante seu discurso entre os senadores e governadores, o ex-presidente afirmou que a luta pela democracia deve se ampliar também para a qualidade de vida da parte mais sofrida da população. “Quando a gente defende a democracia, estamos defendendo liberdade política, mas também o direito desse cara comer, desse cara estudar e de morar. Ele tem o direito, não basta estar na Constituição, mas sem regulamentação”, disse. Além disso, chamou atenção para a falta de reajuste do salário mínimo. “Qual a lógica?”, criticou. “Você faz teto de gastos para quê? Para garantir que os banqueiros recebam o que lhes é devido? E vai cortar o benefício do povo, é isso?” questionou Lula. De acordo com o ex-presidente, Jair Bolsonaro (PL) não dialoga com os prefeitos e governadores. Então, se comprometeu, caso seja eleito, a se reunir com todos os governadores para juntos arquitetarem um plano de crescimento econômico.  “Quando você se torna presidente, você não ganha um mandato de dono do Brasil. Você ganha, na verdade, quase que o papel de síndico. Tem que administrar não os seus interesses, mas os interesses da sociedade”, discursou Lula. Por último, o petista também afirmou que pretende focar sua campanha nas ruas para o segundo turno. Em seguida, disse que deve ir a apenas dois debates até 30 de outubro.   Abstenção dominou discurso de governadores e senadores A alta taxa de abstenção no primeiro turno, que chegou a 20,95% (equivalente a 32,7 milhões de eleitores), e a importância de incentivar os eleitores a irem às urnas fez parte da fala de diversos apoiadores do presidenciável Lula.  “Essa eleição teve a maior taxa de abstenção. Superou 2018. Temos que ir atrás desse voto”, disse o senador Jaques Wagner (PT), um dos coordenadores da campanha. “Temos que insistir com a Justiça Eleitoral para a colocação de ônibus, disponibilizar, se possível, tarifa zero no domingo, 30 de outubro, para todos poderem votar”. “Não vamos virar voto do Bolsonaro. Agora, é ir atrás dos nossos que ficaram na abstenção”, disse a governadora do Piauí Regina Sousa (PT). A fala de Helder Barbalho (MDB), governador reeleito do Pará com maior votação do Brasil (69,39%), foi centrada na necessidade da distribuição de renda e no desenvolvimento sustentável da Amazônia. Fátima Bezerra (PT), reeleita para o governo do Rio Grande do Norte, ressaltou a importância de “uma frente cada vez mais ampla pela democracia”. “O nordeste nunca lhe faltou nem lhe faltará, de maneira nenhuma”, disse, se comprometendo com o candidato do PT. O senador Renan Calheiros (MDB-AL) destacou a necessidade de Lula ter avanços dentro do eleitorado evangélico onde o atual presidente lidera com boa vantagem. “Esse ato precisa ser repetido novamente antes do segundo turno e temos que convidarmos também os religiosos, tanto evangélicos como católicos, além de representantes da economia, de modo a fazer um movimento, ciscando para o centro, em que possamos ampliar o espectro da candidatura”, afirmou. Em uma crítica a Bolsonaro, o senador Fabiano Contarato (PT) parafraseou Ulysses Guimarães:   “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria a confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria.” Reconstrução se faz com mobilização Brasil avermelhou https://urutaurpg.com.br/siteluis/lula-no-covil-do-pato/ Lula promete investimentos na educação em evento na USP Lula se compromete com melhorias no SUS em conferência