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guerrilha no Brasil

Senado devolve simbolicamente mandato de Jango

O Senado Federal tentou reparar sua conivência com o golpe militar de 1964. Hoje, o presidente João Goulart recebeu, de forma simbólica, o mandato de presidente da República em sessão solene. Jango foi destituído do cargo pelo golpe militar em 2 de abril de 1964. A devolução do mandato veio por meio do projeto dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que anulou a sessão de 2 de abril de 1964, na qual o então presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, declarou vaga a Presidência da República. Leia texto sobre a investigação da morte de Jango  Estiveram presente à solenidade a presidenta Dilma Rousseff, o filho de Jango, João Vicente Goulart, os ministros da Aeronáutica, Marinha e Exército. João Vicente recebeu o diploma de presidente da República a que seu pai, João Goulart, tinha direito.

A busca pelo fim do mistério sobre a morte de Jango

Morte de Jango – Ontem, dia 1º de dezembro de 2014, a equipe de peritos coordenada pela Polícia Federal informou que não encontrou veneno na perícia nos restos mortais de João Goulart. Porém, a análise que durou cerca de um ano pode ser considerada inconclusiva já que a passagem do tempo pode ter apagado os vestígios de um possível envenenamento. A família de Jango não está satisfeita com o resultado e diz que continua na busca pelos motivos da morte do ex-presidente. Jango morreu em 6 de dezembro de 1976 e, há 38 anos, não há resposta conclusiva para uma das perguntas mais intrigantes da recente história brasileira: o ex-presidente João Goulart foi envenenado por agentes da ditadura brasileira? Jango morreu na cidade de Mercedes, na Argentina, no exílio. Desde 2007, a família de Jango pedia a exumação do corpo, já que não houve autópsia na ocasião da morte e sua certidão de óbito indica como causa: enfermidad. Em novembro do ano passado, os restos mortais do ex-presidente foram exumados e transportados pela Força Aérea Brasileira (FAB) para Brasília no dia 14 de novembro, quando foi realizada uma cerimônia com honras de chefe de Estado. Após os exames necessários, o corpo de Jango voltou para sua cidade natal em 6 de dezembro. O documentário Dossiê Jango (lançado em julho de 2013), de Paulo Henrique Fontenelle, conta como a presença de Goulart incomodava a ditadura argentina e investiga a teoria de envenenamento do presidente deposto em operação dos governos do Brasil e da Argentina, com o auxílio da CIA. O filme reconstrói a história do golpe de 64, que completa 50 anos. O documentário O dia que durou 21 anos, de Camilo Tavares, também abordou o golpe civil-militar de 64. Leia texto sobre o filme. O filme de Fontenelle tenta esclarecer outra dúvida histórica: por que Jango não resistiu ao golpe militar? O ex-governador baiano Waldir Pires, que ocupou o cargo de consultor-geral no governo Jango, afirma que “Jango temia muito uma divisão do Brasil como aconteceu na Coréia e Vietnã”. O filho de Jango, João Vicente, faz coro, orgulhoso da sensatez paterna: “meu pai evitou uma guerra civil no Brasil”. João Vicente protagoniza o clímax de Dossiê Jango quando, sob o disfarce de repórter da TV Senado, revela sua real identidade ao ex-agente uruguaio da Operação Condor (ação conjunta dos governos militares do Cone Sul na caça aos opositores), Mario Barreiro Neira. O último afirma que participou da espionagem e do cerco a Jango na Argentina e revela que Jango foi envenenado por ordem direta do presidente militar Ernesto Geisel. Neira atualmente está preso no Brasil por roubo e contrabando de armas. O envenenamento de Jango teria sido feito por meio da troca de medicamentos que Jango tomava por sofrer de problemas cardíacos. O filme mostra a terrível coincidência da morte de 16 pessoas que, de alguma forma, tiveram conexão com o assassinato. O filme ainda aborda a improvável coincidência das mortes consecutivas de Lacerda, Juscelino e Jango em circunstâncias suspeitas.   E se Jango foi assassinado? Em exercício de futurologia, imaginemos o que ocorrerá caso as suspeitas revelem-se verdadeiras. No mínimo, outras perguntas ficarão no ar: quem são os culpados pelo envenenamento? eles serão punidos? quem foi o responsável pela ordem de assassinar o presidente deposto? Uma coisa é certa: no mínimo, existirá a necessidade de reimpressão dos livros de História. A exumação de Jango acontece em momento curioso. A um ano da eleição presidencial, os ânimos entre direitistas e esquerdistas transformaram a web e, em particular o twitter, em ambiente conflagrado. A investigação da morte de Jango deve acirrar ainda mais as opiniões contrárias. O diretor Silvio Tendler, autor do documentário Jango, de 1984, foi vítima de um episódio que demonstra o retorno de uma certa truculência no debate político. Em março do ano passado, houve um tumulto entre policiais e manifestantes no protesto contra a ‘celebração’ do aniversário do golpe no Clube Militar do Rio de Janeiro. Tendler foi intimado a prestar depoimento na delegacia em queixa-crime movida pelo Clube Militar. O surreal do episódio é que Tendler não estava presente no protesto, estava em casa recuperando-se de uma cirurgia. Há quase um ano, o diretor está em uma cadeira de rodas. A única atitude do documentarista relacionada ao protesto foi a gravação de um vídeo de apoio ao ato.   Jango, por Tendler O documentário Jango, de Tendler, mostra em quase duas horas uma verdadeira biografia cinematográfica de João Goulart. Tendler já abordou em seus documentários figuras ímpares como Glauber Rocha (Glauber, o filme – Labirinto do Brasil, de 2003) e Juscelino Kubitschek (Os anos JK, de 1980). Em entrevista à jornalista Eleonora Lucena, o diretor lembra como surgiu a ideia de realizar seu filme. “Li no jornal que o Raul Ryff, que tinha sido secretário de imprensa do Jango, estava com umas cópias de filmes de visitas do Jango a China e a URSS. Telefonei para ele – eu não o conhecia – e pedi para vê-las … Ele me convidou para jantar e atacou de bate-pronto: ‘Por que não fazes um filme sobre o Jango?’” O filme lotou as salas durante o período das Diretas Já e chegou a um milhão de espectadores. Inclusive a música “Coração de Estudante”, que acompanha o final  do documentário, foi a música que simbolizou a luta pelas eleições diretas para Presidente. Assista ao filme na íntegra: [su_youtube_advanced url=”https://youtu.be/1O4SZQZ-ikk”]   (texto atualizado em 2 de dezembro de 2014) No enterro de Jango, o começo de uma caminhada

Marighella: a execução do inimigo número 1 da ditadura militar

  “A única coisa que parece não deixar dúvidas é a decisão dos altos escalões militares, àquela altura sob a hegemonia da linha dura, de que Marighella não deveria ser preso, deveria ser executado”.  (trecho do livro Carlos Marighella, o inimigo número um da Ditadura Militar, do jornalista Emiliano José) Marighella – No momento em que o regime militar recrudescia, a morte de Marighella (conhecido como ‘inimigo número 1 da ditadura militar’) era crucial para o governo. A posse de Médici em 30 de outubro de 1969 e a decretação do AI-5 quase um ano antes (13 de dezembro de 68) marcavam o início de um dos períodos mais vergonhosos e sangrentos de nossa História. Em uma emboscada na Alameda Casa Branca, na capital paulista, em 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi assassinado por 29 agentes da ditadura militar. Ele estava desarmado. No comando da ação, o líder do chamado esquadrão da morte, o delegado do DOPS Sérgio Paranhos Fleury.  “Havia o desejo de receber o bônus da ditadura por ter eliminado o seu inimigo número um. Fleury não abria mão disso, daí ter conseguido a condição de executor da operação (sem tomar nenhum tiro, enquanto o coordenador acabou ferido). Marighella era um troféu precioso demais e Fleury deu um jeito de ficar com a fama de ter sido o homem que o matou, mesmo não reivindicando a autoria do tiro de misericórdia.”  (trecho do livro de Emiliano José) https://urutaurpg.com.br/siteluis/filme-marighella-mobiliza-a-esquerda-na-volta-do-cinema/ Ao lado de 7 irmãos, o comunista baiano Marighella foi filho de um anarquista italiano e uma negra do Recôncavo Baiano. Ele lutou contra duas ditaduras, a do Estado Novo e a ditadura militar. Poeta, foi autor também do “Manual do Guerrilheiro Urbano”. Marighella, imortal no Tempo, nas vozes de Whitman, Maiakovski, Neruda, Shakespeare e Nietzsche A sobrinha de Marighella, Isa Grinspum Ferraz, dirigiu o documentário Marighella, lançado no ano passado. Veja na íntegra, vale a pena: ‘Marighella’ leva oito estatuetas no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2022 A caçada a Lamarca

A caçada a Lamarca

Lamarca – Depois de caminhar por mais de 300 quilômetros, o guerrilheiro Carlos Lamarca foi assassinado em 17 de setembro de 1971 por agentes da ditadura militar no sertão baiano. No comando da patrulha que assassinou Lamarca, estava o major Nilton Cerqueira, que, anos mais tarde foi eleito deputado federal e trabalhou como secretário de Segurança do Rio de Janeiro. Um dos comandantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e militante do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), Lamarca foi um dos símbolos da resistência ao regime militar e morreu antes de completar 34 anos. Baseado no livro Lamarca, o Capitão da Guerrilha, publicado em 1980 pelos jornalistas Emiliano José e Oldack Miranda, o filme do diretor Sérgio Resende conta a história do guerrilheiro, interpretado por Paulo Betti. Ironicamente, no filme de Resende, Cerqueira é vivido pelo ator Zé de Abreu, conhecido pela defesa implacável de suas posições de esquerda. Resende abordou outra história dos anos de chumbo no filme Zuzu Angel, de 2006. Carlos Lamarca foi o terceiro entre os seis filhos de Antônio e Gertrudes Lamarca, uma família modesta da zona norte carioca. Formou-se, em 1960, pela Escola Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), obtendo a patente de Capitão em 1967. Mas foi em São Paulo, no quartel de Quitaúna, para onde pediu transferência em 1965, que Lamarca, fez sua opção revolucionária. Na época, Lamarca acompanhava com grande interesse o grupo de ex-sargentos que, inicialmente vinculado ao Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), uniu-se a um setor dissidente da Política Operária (POLOP) e deu origem à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Já como membro da VPR, Lamarca realizou uma ação de expropriação no quartel de Quitaúna em 24 de janeiro de 1969 em que levou 63 fuzis, metralhadoras e muita munição. Sua ideia era seguir imediatamente para uma região onde pudesse preparar a guerrilha, o que o obrigou, de imediato, a separar-se da mulher e dos filhos, enviados para Cuba, via Itália, no mesmo dia de sua deserção. LEIA TAMBÉM “Marighella: a execução do inimigo número 1 da ditadura militar” Em abril de 1971, em discordância com a VPR, ingressou no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). No mês de junho, Lamarca foi para o sertão da Bahia, no município de Brotas de Macaúbas, com a finalidade de estabelecer uma base da organização no interior. Com a prisão em Salvador, em agosto, de um militante que conhecia seu paradeiro e a localização de um aparelho onde se encontrava sua companheira, a psicóloga paulista Iara Iavelberg (que também foi namorada do ex-deputado José Dirceu), os órgãos de segurança iniciaram o cerco à região. A namorada de Lamarca, Iara, foi assassinada por agentes do governo em um apartamento no bairro da Pituba, em Salvador, no dia 20 de agosto de 1971. O regime militar sempre sustentou que ela cometeu suicídio após o cerco policial, o que foi desmentido pelas investigações posteriores. Hoje há provas suficientes de que foi mais uma mentira do governo da época. Um tiroteio travado entre a polícia e os irmãos de José Campos Barreto, o Zequinha, que acompanhava Lamarca, obrigou-os a iniciar uma longa e penosa rota de fuga, de 28 de agosto a 17 de setembro. Ao descansarem à sombra de uma baraúna, foram surpreendidos pela repressão. Lamarca estava desnutrido, asmático e provavelmente com a doença de Chagas.  fontes:  revista Istoé e Grupo Tortura Nunca Mais – RJ. Iara Iavelberg e sua luta contra a ditadura militar