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lendas jazz

Uma jam com Lester Young

  O curta-metragem Jammin’ the Blues foi um dos poucos registros cinematográficos de uma época gloriosa do jazz, em que o saxofonista Lester Young era uma das figuras de proa. Lírico e inovador na improvisação musical, Pres, diminutivo de President (apelido dado pela amiga Billie Holiday) influenciou Charlie Parker, John Coltrane e Tom Jobim. Dirigido por Gjon Mili, fotógrafo de origem albanesa da revista Life, o filme de 1944 capta Young ao lado de Red Callender, Sweets Edison, Marlowe Morris, Sidney Catlett, Barney Kessel, Marie Bryant and Joe Jones. Mili usou técnicas desenvolvidas pelo inventor Harold Edgerton que inovaram o modo de captação de imagens dos movimentos de dançarinos, músicos e atletas. Aumenta o som: Lester Willis Young nasceu há 105 anos em Woodville, Mississippi em 27 de agosto de 1909 e morreu em Nova Iorque, em 15 de março de 1959. Young deu o troco carinhoso em Billie e a apelidou de Lady Day. Ambos formaram um dos mais felizes casamentos musicais da história do jazz. Young morreu poucos meses antes de sua grande amiga, em 1959. O saxofonista conseguiu transformar sua timidez em um estilo cool marcado pelo uso de óculos escuros nos ambientes escuros e esfumaçados dos clubes de jazz, seu inseparável chapéu e uma maneira única de tocar o sax posicionado em diagonal. Seu pai, Willis, era professor de música e ensinou o filho a tocar trompete, percussão e sax. A banda formada pela família Young, que vivia em Nova Orleans, animava festas populares no sul dos Estados Unidos. Adulto, Lester Young passou a admirar o pai por ter lhe ensinado a enfrentar o duro racismo no conservador sul norte-americano. Mas, durante a adolescência, Lester sofria com as surras de cinta do pai e chegou a fugir 12 vezes de casa. Em uma dessas fugas, Young não voltou mais, foi para Kansas City onde substituiu Coleman Hawkins na banda de Count Basie no início dos anos 30. Todo músico da época conhecia a pequena garrafa de licor que Young carregava no bolso. Em 1945, no final da Guerra Mundial, Young servia ao Exército e amargou um ano preso em uma cabana por posse de maconha. Nos anos 50, enfrenta sérios problemas com o álcool e, em 1955, é internado com a justificativa oficial de colapso nervoso. Em 1959, morre aos 49 anos. Música Ghost of a chance: Lester Young com Oscar Peterson: Música Prisoner of Love: O pesquisador musical Phil Schaap estuda a obra de Lester há muito tempo, assista a esse breve documentário sobre o músico produzido por ele:

Chet Baker: o gênio branco do jazz

Chet Baker – Em 23 de dezembro de 1929, nasceu o trompetista e cantor Chet Baker em Oklahoma. Em meio a uma quantidade absurda de gênios negros no jazz, Chet é um dos poucos brancos que pode ser comparado a feras como Miles e Coltrane. Chet viveu até os dez anos em uma fazenda e no final dos anos 30, mudou-se paraLos Angeles e começou a estudar música. Em seu livro de memórias (Memórias Perdidas, Jorge Zahar Editor), ele lembra como quase virou trombonista: “Quando eu tinha treze anos, papai chegou em casa com um trombone. Tentei tocá-lo durante umas duas semanas, sem muito sucesso. Eu era pequeno para minha idade, e não conseguia alongar até o fim a vara do trombone. Além disso, o bocal era muito grande para os meus lábios. Depois de umas semanas, o trombone acabou desparecendo, e em seu lugar surgiu um trompete, que era muito mais apropriado para o meu tamanho” Filho único, Chet viveu a infância entre os mimos da mãe e o alcoolismo do pai. Ele começou tocando com Stan Getz e Charlie Parker, mas o sucesso veio em sua parceria com o saxofonista Gerry Mulligan em 1952 com a música Considerados os pioneiros do jazz da Costa Oeste norte-americana, Chet e Gerry tornaram-se verdadeiros pop stars: brancos (época em que o racismo era absurdamente tolerado), com pinta de astros de Hollywood (Chet foi comparado a James Dean), talentosos e sensíveis. Depois de menos de dois anos de sucesso, Mulligan foi preso por seu envolvimento com drogas e os dois afastaram-se. Dono de um cantar sussurrado, Baker é considerado um dos fundadores do Cool jazz, ao lado de Miles Davis. A grosso modo, o Cool jazz uniu o bebop de Charlie Parker e o swing e a melancolia de Lester Young. A overdose em Sampa O jornalista James Gavin pesquisou por dez anos a vida de Chet Baker e lançou em 2002 a biografia do músico, No fundo de um sonho, a longa noite de Chet Baker (no Brasil, o livro foi publicado pela Companhia das Letras). Gavin descreve o dark side de Baker: episódios de violência doméstica, seu desprezo pela família em várias ocasiões, brigas em bares e como o músico entregava à polícia farmacêuticos que o ajudavam a obter remédios controlados. No livro, Gavin narra a overdose de Chet Baker em São Paulo em 1985. O músico tocou na capital paulista e no extinto Hotel Nacional no Rio de Janeiro, ambas apresentações do lineup do saudoso Free Jazz Festival. Na sua cola, a organização contratou um médico que ministrava doses de metadona no combate a seu vício em heroína. Porém, Chet driblou a todos, conseguiu drogas e quase morreu de overdose em uma suíte do Hotel Maksoud Plaza. A história foi contada a Gavin por Zuza Homem de Mello, diretor do festival. Em uma briga com viciados em 1969, Baker perdeu os dentes, o que o dificultou a atingir as notas mais altas no seu trompete até o final da vida. Na fase em que teve mais problemas com drogas, vagou pela Europa e chegou a trabalhar como frentista em um posto de gasolina. Morte em Amsterdã Três anos após a overdose no Brasil, Chet Baker despencou da janela do segundo andar de um hotel em Amsterdã, onde vivia na época. A hipótese mais aceita do episódio que ocorreu no dia 13 de maio de 1988 foi a de acidente, mas as versões de suicídio e de um acerto de contas por parte de algum traficante nunca foram descartadas. Como Charlie BIRD Parker que morreu com 35 anos aparentando 60. Baker morreu aos 58 anos com aparência de mais de 80 anos, maltratado por décadas do vício em drogas. Chet Baker em 1959 na cidade italiana de Turim no clássico Funny Valentine: Chet com Mulligan: Fontes: livro Chet Baker — Memórias Perdidas (Jorge Zahar Editor) e matéria “Biógrafo apresenta Chet Baker como violento e egoísta” (publicada no jornal O Estado de São Paulo) Embarque no sax de John Coltrane O lírico jazz de Stan Getz e a música brasileira