Zona Curva

literatura brasileira

Nelson Rodrigues, o maior craque da crônica de futebol

Ele na crônica escrevia à semelhança de Garrincha, que driblava para um só lado, e todos sabiam qual, mas ainda assim eram surpreendidos. Nelson Rodrigues foi, de longe, o maior e melhor excelso gênio da literatura de futebol no Brasil. Disse tudo? Não, disse menos. Quero dizer: o sonho de todo escritor, o de ser lido pelas massas, discutido por elas, sem cair um só milímetro da sua dignidade artística, o sonho de escrever para todos, esse possível um dia Nelson Rodrigues conseguiu. Disse tudo? Menos ainda, porque devo dizer: não conheço, na literatura mundial, alguém que tenha sido tão magnífico quanto Nelson Rodrigues na crônica esportiva.

José Falero e a literatura de combate

Colaborou Letícia Coimbra O CONVERSA AO VIVO ZONACURVA do dia 15 de setembro recebeu o escritor José Falero, autor do romance “Os Supridores”, obra indicada ao prêmio Jabuti em 2021 e vencedor do prêmio Ages (Associação Gaúcha de Escritores) de livro do ano. O programa foi apresentado por Fernando do Valle, editor do Zona Curva.   Estudo dos livros de Falero nas escolas O escritor diz que, em algumas escolas, suas obras não costumam ser estudadas no ensino fundamental. Segundo ele, os professores afirmam que o livro é “violento” ou “pesado”, mesmo que no cotidiano as crianças vivenciem acontecimentos semelhantes ou piores. “Nessas escolas, os professores caíram de paraquedas ali. Ele não é dali, é um cara classe média que mora numa região de burguês e vai dar aula na periferia e não tem a bagagem cultural e intelectual daquele menino”, analisa.  Já dos professores que cresceram na quebrada, diz: “eu ouço deles que ‘o livro é pesado, mas as crianças estão vendo isso o dia todo. Como é pesado uma coisa que faz parte do cotidiano das crianças ali?”   Como se tornou escritor José cresceu na periferia de Porto Alegre e conta que só teve acesso aos livros por causa de sua irmã mais velha, Caroline, que ingressou na universidade devido às políticas públicas de educação do governo petista.   Ele diz que “não conseguia entender como um amontoado de palavras” iria competir com os videogames e os filmes. “Mas a minha irmã me convenceu da seguinte maneira: ‘não vou ficar tentando te convencer, só quero que tu entendas uma coisa, a tua opinião sobre livros não interessa porque tu nunca leste nenhum’. E eu pensei assim, cara, vou ler o livro inteiro só para ter o prazer de ir lá e dizer que li e não gostei’”.  No entanto, para sua surpresa, ele gostou tanto da literatura que nunca mais parou. “Então você se deu mal, hein?”, ironiza Fernando do Valle. “Não, cara, eu me dei bem (risos)”, rebate o escritor. José alega, porém, que é difícil viver da literatura no Brasil e que ele mesmo não vive especificamente do que escreve. “Não vivo apenas do que escrevo, mas do que a escrita me proporciona, quando o livro é traduzido, por exemplo, ou vendido para o cinema, também me chamam para um monte de eventos em que me pagam, como ainda para palestras, oficinas de escrita, rodas de conversa em eventos literários, me chamam para escrever prefácio, em jornal. É isso que tem possibilitado me manter”.  Para 2023, ele planeja publicar outro livro, dessa vez com maior enfoque nas mulheres. “Quero refletir sobre isso a partir da perspectiva do meu lugar de opressor enquanto homem. Escrever sobre como se modela essa mentalidade que tem se chamado de masculinidade tóxica, sobre como se modela no imaginário do homem, como é que isso vai acontecendo ao longo da vida de um homem”, conta ao Zonacurva.    Sobre o governo atual Ao responder o editor Zonacurva, o autor de “Os Supridores” comenta que a época em que começou a escrever o livro, 2009, a situação do país era menos pior e que a classe mais baixa estava conseguindo avanços, que foram regredidos após 2016. Ele destaca que a recuperação desse retrocesso que vivemos será lenta. “A gente começou a ter políticas públicas e uma preocupação com as pessoas mais pobres, mas isso era muito incipiente, estava começando. Os problemas que o Brasil têm na educação, na precarização do trabalho, na distribuição de renda, esses problemas não se resolvem assim em dois governos ou três, é uma coisa de décadas. A gente estava fazendo um trabalho importante, que foi cortado a partir de 2018. Na verdade, um pouco antes, eu diria a partir de 2016, do golpe contra a Dilma a gente começa a passar por uma série de retrocessos”, afirma José Falero. O escritor alega que a precarização e a violência, como a policial, sempre foram uma constante na vida da população mais pobre. “Por exemplo, agora com a ascensão fascista que temos observado, as pessoas ficam ‘nossa, a gente tem um presidente que fala em tortura, absurdo’. Claro que é absurdo, mas tortura contra as pessoas da periferia sempre aconteceu: a polícia invade tua casa sem mandado, sem nada, te bate, te mata às vezes”, revolta-se. O escritor acredita que o país precisa de um projeto de Estado em vez de um projeto de governo. Para isso, é preciso diálogo com vários espectros políticos, o que Lula faz muito bem. José afirma que é disso que a democracia é feita, e mesmo que não concorde com a direita moderada, afirma a importância de estabelecer acordos com ela. “Isso é a democracia, são as diferenças convivendo”, conclui.   Injustiça social “Eu gosto de falar ‘injustiça’ porque tem um agente promovendo essa má distribuição de renda”, diz, explicando o motivo de não utilizar o termo “desigualdade”. O escritor relaciona injustiça social e a violência urbana, afirmando que esse foi um dos motivos que o levou a escrever o livro Os supridores. A obra mostra Pedro e Marques, dois repositores (também chamados de “supridores”) de um supermercado que decidem enriquecer através da venda de maconha após se conscientizarem da exploração que sofrem no trabalho, ou seja, que não importava o quanto trabalhassem, nunca teriam ascensão social.  Saiba mais sobre o livro de José Seguindo o tom das críticas feitas no livro, José cita a criação da polícia militar, feita para reprimir a população negra e pobre, especialmente a cartilha que ela tinha para identificar criminosos se baseando em fenótipos. Ele salienta também que os governos petistas implementaram políticas públicas que diminuíram essa injustiça. No entanto, diz que o bolsonarismo surgiu em resposta a esses avanços.    A imprensa e o bolsonarismo O escritor ressalta a importância da regulamentação da mídia, Ele afirma que a mídia participou da ascensão fascista” e destaca a importância de conseguir conciliar as diferenças no âmbito político.  Segundo José, não dá para desprezar o fato da mídia ter “abraçado

Relatos sobre o amor extremo e seus avessos

O livro Amor cruel, amor vingador abre com um brevíssimo prefácio muito sábio e esclarecedor sobre o amor e os amantes, escrito como recado ao leitor à maneira de Machado de Assis. Nele, Maria José de Queiroz alerta: “Não há como negar: os trágicos gregos diagnosticaram todos os males da alma”. Aos expoentes da literatura e das ciências que vieram depois, nos séculos seguintes, ela destaca, citando Shakespeare, Dostoiévski, Flaubert, Zola e Freud, que apenas caberia a todos eles atualizar os sintomas, porque já estava feita desde a Antiguidade Clássica a primeira anamnese, o diagnóstico de nossas paixões e vícios. Nas páginas seguintes, o leitor encontra cinco histórias curtas e requintadas, construídas com detalhes surpreendentes e reviravoltas que seduzem o paladar literário mais exigente, mas também agradam aos que buscam apenas a distração da leitura sobre tramas policiais e sobre crimes de resolução mais ou menos complicada. O que não há aqui, nas histórias de amor cruel, amor vingador, são os opostos maniqueistas que o leitor se acostumou a encontrar nos noticiários: do primeiro ao último relato, ninguém é completamente do bem ou do mal. Compreender as variações dos tons de cinza e as motivações do heroi ou do vilão, dos culpados e dos inocentes, torna-se, então, um desafio saboroso diante de cada um dos enigmas que a autora apresenta nas cinco histórias reunidas no livro. Na primeira história do cardápio, a mais extensa, feita de frases curtas, de breves diálogos e de revelações que imprimem fôlego e ritmo rápido à leitura, a trama avança pelas variações de caráter e pelas motivações ocultas nos bastidores de uma investigação policial que aparentemente terá princípio, meio e fim. A história é “O juramento”. Há um crime: o assassinato de uma viúva endinheirada; e há Pedroso, o detetive que investiga o caso, confiante no princípio de que entre a pobreza e a criminalidade não existe relação de causa e efeito. Assim como acontece nos clássicos da literatura policial, o investigador carrega seus dramas do passado, enquanto descobre as pistas e os percalços dos envolvidos. E não faltam surpresas. No desfecho, nem tudo o que reluz é ouro, mas ainda restará a sombra de uma dúvida sobre quem seria o verdadeiro culpado – dúvida que o leitor compartilha e confirma. Em “Velho com moça nova”, a segunda história, a trama tem toques de humor picaresco para contar o caso de um matuto, Antônio, envolvido a contragosto em um enredo de traição e morte. O caso começa com o protagonista a lembrar os conselhos do pai, que soavam como sina anunciada ou confissão de culpa: “Nunca pare nem aceite pousada em casa de velho com mulher moça”. Na aventura do matuto, desrespeitar o conselho foi como cair no redemoinho – ou como desafiar por acidente o anjo Gabriel com a balança do Juízo Final. A terceira história ganha pontos já a partir do título – “Iniciação ao tratado do desespero”. Entra em cena um triângulo amoroso, uma mulher e dois homens, os três jovens universitários, com a voz feminina narrando a trama entre aventuras ingênuas, algumas referências de filosofia e o tempo que passou rápido e dissolveu em definitivo a aproximação entre os três. O desfecho trágico vem através da carta de uma desconhecida, revelando uma estranha coincidência e a oportunidade para um pequeno e passageiro desespero. O trágico surge novamente com toques involuntários de humor em “Ritinha Chiquê ou A hora do carvoeiro”, a quarta história, com o caso amargo da beata que acaba seduzindo um trabalhador braçal e, em seguida, mergulha nas águas turvas e movediças da crueldade e da vingança. Na quinta e última história do livro, “A morte ao pé da letra”, o desfecho trágico é precedido pela calmaria e por promessas de felicidade em 1970 na Sorbonne, mas algo de patológico dos males da alma se instala na trama a partir da recriação de uma figura da mitologia grega, a “Antígona”, de Sófocles, e retornamos aos rompantes do amor e seus avessos. Como disse o tabelião ao detetive, ao comentar sobre a vida do principal suspeito, nas investigações de “O juramento”: “Vícios, quem não os tem?” Esta nova edição de Amor cruel, amor vingador vem suprir uma lacuna na extensa obra teórica, poética e ficcional publicada por Maria José de Queiroz, mineira de Belo Horizonte que completou recentemente cinco décadas na Academia Mineira de Letras. O livro teve uma primeira publicação pela Record na década de 1990, mas estava há anos fora de catálogo e inacessível, retornando agora em lançamento da Caravana Grupo Editorial. A prosa sofisticada que volta em nova edição tem ainda o mérito de contrariar aquele lugar comum de que não se deve julgar um livro pela capa. O detalhe de “Ghismunda”, pintura barroca do século 17 do italiano Bernardino Mei, escolhido para ilustrar a nova capa, consegue traduzir à perfeição as tramas do amor cruel e vingador que, nas mais variadas e corriqueiras situações, transformam em vítimas os amantes.  “Amor cruel, amor vingador”, de Maria José de Queiroz. Lançamento Caravana Grupo Editorial, 122 páginas. Fonseca romântico

Hilda Hilst: a obscena senhora silêncio

A busca de uma trincheira em que se viva literatura. Além de seus livros, sempre me fascinou a atitude de Hilda Hilst, que, aos 33 anos, abandonou Sampa e rumou para sua Casa do Sol, há 10 quilômetros de Campinas, um verdadeiro refúgio para a criação artística como profissão de fé. Hilda viveu lá por décadas rodeada por 30 cachorros e gatos e recebendo a visita de amigos como o escritor Caio Fernando Abreu (que até morou por lá um período), o grande crítico Leo Gilson Ribeiro, a escritora Lygia Fagundes Telles, entre outros. Recentemente, o imóvel foi tombado, conforme informa o site da prefeitura de Campinas. “Hoje, a “Casa do Sol” atua como difusor de produções culturais, hospedagem de estudantes bolsistas que desenvolvam projetos cuilturais e guarda o acervo pessoal de Hilda Hilst”, informa o site. O curta A obscena senhora silêncio (2010), de Alexandre Gwaz e Leandra Lambert, mostra um pouco do cotidiano na Casa do Sol, os contatos de Hilda com discos voadores (é isso mesmo) e figuras imaginárias. Tudo embalado em uma atmosfera sombria ao som de Debussy e Satie. Hilst morreu em 2004 antes de completar 74 anos. Conhecida pela sua produção poética, Hilst também publicou crônicas no jornal campineiro Correio Popular. Numa delas, Hilst mostra seu ativismo único sobre o escândalo da hora (estávamos em 1993): o deputado Inocêncio de Oliveira e suas maracutaias. No texto, ela convoca “várias senhoras da terceira idade, eu inclusive…” à criação do EGE (Esquadrão Geriátrico de Extermínio), em que munidas de bengalas com estiletes na ponta besuntadas de curare, veneno usado pelos indígenas nas pontas de flechas, espetariam no “distinto buraco malcheiroso desse vilões” (políticos). Toda mulher é meio Leila Diniz* Na mesma crônica, Hilst dispara o seguinte poema, publicado originalmente em seu livro Júbilo, memória, noviciado da paixão, de 1974: de cima do palanque de cima da alta poltrona estofada de cima da rampa olhar de cima LÍDERES, o povo Não é paisagem Nem mansa geografia Para a voragem Do vosso olho POVO. POLVO UM DIA. O povo não é o rio De mínimas águas Sempre iguais Mais fundo, mais além E por onde navegais Uma nova canção De um novo mundo E sem sorrir Vos digo: O povo não é Esse pretenso ovo Que fingis alisar, Essa superfície Que jamais castiga Vossos dedos furtivos POVO. POLVO. LÚCIDA VIGÍLIA. UM DIA. (extraído do livro Cascos & Carícias, Nanquim Editorial, 1998, página 36)

Corrida, literatura e facebook

O primeiro contato que tive com o escritor Ricardo Lísias foi em fevereiro deste ano na revista Piauí ao ler um texto sobre como a corrida e a participação na corrida de São Silvestre o ajudaram a superar um divórcio tumultuado. Me identifiquei com o texto na hora, também corro há mais de um ano, me esfalfei na SS 2011 e isso também me ajudou a superar problemas pessoais. Ao comprar um livro seu, titubeei, O Livro dos Mandarins, de 2009, sobre as peripécias de um executivo na China não me interessou e me incomodei com o título de O Céu dos Suicidas, sempre tive vontade de ler O Suicídio de Durkheim mas o palavrão que nomeia o livro sempre me afastou. Arrisquei O Céu dos Suicidas, lançado em 2012. Lá, encontrei emoções escancaradas, revolta e muita ansiedade. O narrador, xará do escritor, está cheio de culpa pelo suicídio de seu grande amigo, André. Professor universitário e expert em coleções, ele luta contra a insônia e um sentimento de urgência que beira ao pânico herdado de seu amigo suicida que sofria de uma “ansiedade incontrolável” e se internou de forma voluntária em uma clínica psiquiátrica. Talvez a endorfina da corrida não tenha matado por completo o desespero que gera esse maldito estado mental no escritor. Desculpe, não devo, mas sucumbir na salada entre narrador e escritor é inevitável. A desesperança e certo niilismo recheiam o livro. Como o escritor, o narrador também é descendente de libaneses, e parte para Beirute em busca de um tio-avô terrorista, história que se revela irreal pela boca de sua mãe, que também dá um dos melhores conselhos para qualquer intelectual misantropo: “você sempre se achou melhor que os outros, nunca aceitou os próprios limites e quando é contrariado age como um moleque”. Sua mãe também exige que ele vá ao psiquiatra em troca de sua passagem de volta de Beirute. Ricardo concorda em ir mas seu inconformismo com o suicídio de André o sufoca e ele agride um padre, briga com espíritas e discute com o psiquiatra: “você não tem o direito de medir a minha dor! vai tomar no cu, seu filho da puta, psiquiatra de merda”. Resposta do psiquiatra: “não é o mundo que grita, Ricardo, é você”. Após ler o livro de Lísias, curioso, busquei seu perfil no facebook. Encontrei dezenas de fotos abertas e disponíveis. Deve ser um perfil fake, é não. Encontro desde fotos de uma corrida noturna da qual também participei (fui oito minutos mais lento que ele, preciso treinar mais, já passei dos 40, Lísias ainda não, me conformo) até fotos de um André, que morreu em 2008. Repito para mim mesmo: “o que li foi ficção, um romance!” Estranhamento. Sempre questionei sobre a real necessidade do isolamento midiático de dois escritores que admiro, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan, mas talvez o fascínio da literatura realmente resida no fato de nunca sabermos o que o escritor viveu, criou ou imaginou.

Fonseca romântico

Garoto idiossincrático esse José. Do mundo dos livros tira o alimento para sua realidade. A Paris de vielas estreitas transforma-se no mundo ‘real’ em que vive seus primeiros oito anos de vida, a lembrança da rotina na pequena e ‘irreal’ cidade mineira é nebulosa e episódica. Em tenra idade, lá pelos 9, já no Rio de Janeiro, José começa a deliciar-se com o footing das elegantes ladies da confeitaria Colombo e das mulheres de vida fácil da Lapa. Sem UPPs e capitão Nascimento, José delicia-se com a atmosfera dos cafés, os encantos das ruas de João do Rio e seus carnavais ingênuos. Mesmo assim, vaticina, ao contrário de muitos escritores inspirados na observação cotidiana: “a melhor inspiração do escritor é sempre encontrada nos livros.” Cafetões munidos de navalhas e o assustador Madame Satã, que peitava a polícia em míticas brigas, compunham o lado B da cidade. Talvez aí o único momento em que Fonseca visita a fauna de desajustados que povoa seus outros livros. Em José, o livro, não há espaço para violência e revolta, nele encontramos um Fonseca romântico e passadista do alto de seus 86 anos. Já em Axilas e outras histórias indecorosas, livro lançado em 2011 junto com José, personagens característicos de Fonseca dão vida a contos curtos e diretos. Em um misto de autobiografia velada (“todo relato autobiográfico é um amontoado de mentiras”) e Bildungsroman, Fonseca amolece e canta o Rio de Janeiro como um Tom Jobim. Outras épocas em que as drogas praticamente inexistiam. O único cocainômano era uma lenda apontada nas ruas. Mais, a cocaína e a maconha não eram proibidas. Sem luxos, José trabalhou a partir dos 12 anos, refrigerante era água com pasta de dente diluída. A imaginação do menino o leva a ser escritor quando adulto. Apesar que José prefere ser entregador, “entre as muitas ocupações que José teve em sua vida essa de entregador foi a mais agradável de todas, certamente mais prazerosa que a de escritor”. Rubem Fonseca e o silêncio que não apaga o passado Vizinho da Biblioteca Nacional, José lia e lia e os pockets books policiais que a tia Natália comprava nos sebos podem ter levado o José escritor a escrever seus contos repletos de crimes e figuras detetivescas como Mandrake. Se é Rubem Fonseca inteiro ou em partes o que lemos nas páginas de José, não saberemos já que o autor recluso não tolera entrevistas. O que surpreende é o autor de contos crus e perversos como O Cobrador desnudar-se em sua porção leve e poética. Relatos sobre o amor extremo e seus avessos