Zona Curva

lula candidato

A próxima visita de Lula a Pernambuco

Já se anuncia, como uma injeção de resistência para todos os pernambucanos, que Lula vem aí, que ele está voltando. Então já nos pomos a esperar pelo dia, em 20 em Serra Talhada e Garanhuns, em 21 no Recife. Lula em Pernambuco é um filme que nunca para de passar. É o cinema do Recife, onde o povo entra na tela e participa da ação. Mas que filmes, que epopeias de amor político despertam e passam a sua presença entre nós? Vemos Os Companheiros ou Eles não usam black-tie? Se assim fosse, o filme seria mais relacionado à história do trabalhador Luiz Inácio Lula da Silva. Mas penso que o filme de Lula, que não para de passar nestes tempos sombrios, é O Grande Ditador, de Charlie Chaplin. E por quê? No filme, Chaplin dá um discurso de esperança, que projeta o fim do fascismo para multidões que se encontram na angústia e desespero: “Mesmo agora que a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora, milhões de desesperados, homens, mulheres, crianças, vítimas de um sistema que faz o homem torturar e prender pessoas inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não se desesperem!” O sofrimento que está entre nós agora é apenas a passagem da ganância, a amargura de homens que temem o progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. Vocês, o povo, têm o poder — o poder de criar máquinas, o poder de criar felicidade! Vocês, o povo, têm o poder de fazer desta vida livre e bela, de fazer desta vida uma aventura maravilhosa. Portanto — em nome da democracia —vamos usar desse poder, vamos todos nos unir! Vamos lutar por um mundo novo, um mundo decente, que dê ao homem uma chance de trabalhar, que dê um futuro a juventude e segurança aos idosos”. O Grande Ditador pode ser o filme, porque as palavras acima são dignas de Lula e destas horas. Mas antes, na saudação ao futuro presidente, qual cântico coletivo poderia ser cantado pela multidão? Para os recifenses, poderia e poderá ser um frevo, ou frevos. Mas de quem, de Capiba ou de Nelson Ferreira? A “Evocação número um” poderia ser cantada em mais uma das infinitas, necessárias e belas vezes. Ou “Madeira que cupim não rói” que Ariano Suassuna tanto gostava de cantar nos palanques (nos desculpem pela baixa qualidade do vídeo): Não temos que escolher entre duas belezas. Os dois frevos cabem em momentos diferentes. Mas se houver dúvida, como ponto de pacificação geral, Lula bem poderá ser saudado pelo imortal Hino de Pernambuco: É história e presente. Antes, em 2010 quando esteve no Recife, ouvimos pelo microfone Lula contendo o choro. Na plateia, milhares de ouvintes o copiavam. Ali, a fala de Lula durou 33 minutos. Cerca de oitenta mil pessoas estavam no Marco Zero da cidade, com emoção e verdade no reencontro do presidente com a gente que o ama. E carinho e coragem e pulsar de afetos são coisas que mexem nos nervos até das pedras. Naquele dia, se os repórteres não olhassem a multidão à distância, teriam visto no interior do povo cadeirantes pedindo passagem, senhoras velhinhas apoiadas nos netos, indivíduos cegos a tatear com suas bengalas, jovens, muitos jovens, negros, muitos negros, negros na pele e no peito, que ouviam sérios, com absoluta atenção o presidente que lhes dizia, apontando para um menino da favela que toca violino: “Ele, Daniel, só queria uma oportunidade”. Nesta sua volta agora, diante dos homicídios, crimes e cerco fascistas no Brasil, é impossível não lembrar o que Lula falou, quando amargou uma injusta prisão: “Eu sou um construtor de sonhos. Sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma, cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados cuidaram da educação. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades do país. Daqui a pouco vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela, nascidos na periferia”. Enfim, ou dizendo melhor, por enquanto: para o fenómeno da existência do maior líder popular da América Latina, para a sua vida, bem cabem os versos finais de Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto: “— Ô seu Lula, retirante, deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a resposta da pergunta que fazia, se não vale mais saltar fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga é difícil defender, só com palavras, a vida, ainda mais quando ela é esta que vê, Severina mas se responder não pude à pergunta que fazia, ela, a vida, a respondeu com sua presença viva. E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida; mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida; como a de há pouco, franzina; mesmo quando é a explosão de uma vida Severina”. E mais não podemos falar. Lula no covil do pato https://urutaurpg.com.br/siteluis/lula-sus/ O golpe preventivo contra Lula Lula e Boulos

A candidatura do Lula

Milhares de pessoas estiveram nessa quarta-feira (15) em Brasília para mais um ato de protesto contra o judiciário brasileiro que mantém o ex-presidente Lula preso, mesmo que ainda não tenha sido julgado. Os dirigentes do PT formalizaram a inscrição de Lula como candidato à presidência, não reconhecendo sua prisão como justa visto que, conforme alegam, está embasada apenas em convicções, sem provas contundentes. Logo, se não é justa, não pode ser barreira para sua participação no pleito de outubro. Mas, na verdade, o ato de inscrever Lula é só mais um protesto dentro da ordem, seguindo a estratégia do partido que é a de tentar todos os caminhos legais possíveis, mesmo que, contraditoriamente, diga que o judiciário está sendo político e não está levando em conta a lei. A tática petista é a maneira meio torta de dizer ao país que a prisão é ilegal, uma vez que outros políticos, pegos com provas evidentes, como é o caso do Gedel, da mala, ou os que foram igualmente delatados pelas mesmas pessoas que delataram Lula, seguem livres, leves e soltos. Apenas Lula está encarcerado. É um jogo complicado porque pode não ser entendido pela maioria da população. Se o judiciário não é confiável, por que então insistir em apelar a ele? Enfim… É a tática petista.  É claro que essa batalha jurídica acaba servindo para mobilizar a militância que se move na esperança de, com a força da luta, libertar Lula. Isso é bem difícil de acontecer, pois se na porrada pouco acontece, que dirá na paz. De qualquer forma Lula ainda consegue movimentar muita gente, vide o ato em Brasília que levou milhares às ruas, acompanhando a inscrição do ex-presidente. Agora, um dia depois da inscrição, já chovem pedidos de impugnação da candidatura e ninguém em sã consciência pode acreditar que ela seja homologada. Não será. Até a procuradora-geral da república já contestou. E aí sobram holofotes também para os peixinhos pequenos como o MBL e celebridades do golpe que buscam um lugarzinho na “grande novela”.  A série jurídica seguirá com episódios recheados de dramas possivelmente até o final do mês, ou mais tardar, início de setembro quando encerra o prazo para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) julgar os pedidos. Assim, entre uma ação e outra o PT segue na mídia e, de certa forma, fazendo sua campanha gratuitamente pelos jornais e redes de TV. E, mesmo que Lula não seja o candidato, o furdunço judiciário servirá para manter a denúncia da ilegalidade e da injustiça. Isso é bom para o PT, que segue amealhando apoios em todo o mundo.  Há quem diga que mesmo sendo impugnada no TSE, a candidatura pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), onde naturalmente será derrotada, ainda que o tema siga sendo notícia de jornal nacional e internacional. É a estratégia petista. As lideranças acreditam que bater na injustiça cometida contra Lula, de forma ordeira e “democrática”, pode ajudar o candidato oficial que será Haddad, tendo como parceira Manuela do PCdoB.  Pode dar certo, ou não. Agora é esperar para ver. De qualquer forma teremos a polaridade petucana nessa eleição, embora como apregoa o professor Nildo Ouriques, possa ser o princípio do fim. A próxima visita de Lula a Pernambuco Lula e Boulos

A fraude

por Guilherme Scalzilli O antipetismo foi o motor central da Lava Jato, das mobilizações pelo impeachment, da omissão do STF no golpe parlamentar e do apoio da mídia à Cruzada Anticorrupção. As bandeiras e justificativas pontuais serviram para conferir verniz apolítico a posturas que não tinham outro estímulo senão o mais singelo partidarismo. As narrativas definidoras desses episódios espelham posições similares. Os elogios a Sérgio Moro, a negação do golpe e o aval à condenação de Lula seguem viés ideológico muito claro e reiterado. O apoio e a rejeição ao ex-presidente ocupam o cerne oculto das polêmicas, quaisquer sejam os seus temas e abordagens. O julgamento de Lula que chega ao TRF-4 não foge a essa regra. A fragilidade técnica da sentença de Moro se tornou tão evidente que até os seus adeptos parecem ter desistido da polêmica. Pouco lhes importa se não há crime, prova, contrapartida, lógica. Resta apenas um emaranhado de ilações baseadas na aversão a Lula e ao PT. Eles merecem e acabou. No final das contas, o antipetismo (e mais especificamente o antilulismo) serve como recalque social para o tabu inconfessável da injustiça que o país e o mundo estão prestes a testemunhar. A paixão redime a falta de ética. O fator humano esconde a falência das instituições e do estado de Direito. A loucura sectária ameniza a fraude que a torna possível. Fecha-se o círculo do arbítrio. Foi triste, mas elucidativo, acompanhar os esforços da defesa de Lula para transpor essas dificuldades. Mesmo conseguindo refutar as alegações que exigiam certa base material, os advogados esbarraram nas convicções dos acusadores, Moro incluso, porque, afinal, a crença é irrefutável por natureza. Estranhas ao regime da constatação, da prova, as preferências políticas admitem qualquer parâmetro de verdade. Sobre a união das esquerdas Não há argumentação possível em tais circunstâncias, especialmente se elas são admitidas pelos próprios julgadores. Quando o presidente do TRF-4 elogia uma sentença que ele não leu, escrita por juiz de notório viés tendencioso, a mensagem clara é de uma adesão subjetiva que suplanta a racionalidade jurídica. Nunca é demais insistir nesse aspecto. Dos analistas midiáticos aos ministros do STF, passando por militantes à direita e à esquerda, todos os defensores da condenação de Lula sabem perfeitamente que ela é política. Debaixo da tardia e oportunista ladainha sobre derrotá-lo nas urnas, adoram a ideia de ver o favorito nas pesquisas fora da disputa. Mais do que um laboratório de arbítrio jurídico, portanto, vejo no julgamento do TRF-4 uma cena entre muitas desse espetáculo nacional de cinismo em que se transformou a caça a Lula. De resto, não acredito em resistências heroicas e suspeito que a tentativa de adotá-las é a senha que o Judiciário aguarda para interferir de vez no processo eleitoral. E talvez fosse melhor assim, escancarar de vez o inominável. Por enquanto, sei apenas que o suspense matuto da imprensa é uma artimanha para ocultar a previsibilidade do veredito e para transformá-lo num marco de campanha favorável à direita. O tempo dirá se as coisas serão tão fáceis. Publicado originalmente no Blog do Guilherme Scalzilli.