Zona Curva

luta indígena

Segue o massacre aos povos indígenas

Em Roraima, bem no meio da floresta amazônica, garimpeiros estupraram uma menina de 12 anos. Ela morreu. Também jogaram uma criança de três anos num rio, provavelmente também morta, enquanto a tia da criança resistia a mais uma violência. Ameaçaram uma comunidade inteira e obrigaram essa comunidade a sumir do seu território. A aldeia Aracaçá onde viviam cerca de 30 pessoas foi encontrada queimada e abandonada. A denúncia foi feita no dia 25 de abril por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Condisi-YY, que encaminhou ofício à Polícia Federal, Ministério Público Federal, Funai e Ministério da Saúde pedindo investigação do caso na aldeia Yanomami. Dois dias depois, a polícia chegou ao local e encontrou a aldeia queimada. Segundo informações colhidas pelos agentes foram os próprios indígenas que queimaram a área e, por conta disso, nenhuma evidência do crime foi encontrada. Alegam ainda que há um pacto de silêncio entre os indígenas, para que nada seja relatado. Pode ser que eles tenham sido ameaçados ou que tenham recebido algum dinheiro para não denunciar o caso. O fato é que todos saíram de suas casas. Mas, esse não é um caso isolado no Brasil. Já não são de hoje as denúncias de ação ilegal e criminosa de garimpeiros nas terras indígenas, com violências e estupros contra as mulheres. A Hutukara Associação Yanomami divulgou em um relatório chamado de “Yanomami Sob Ataque: Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami e Propostas para Combatê-lo”, que entre 2020 e 2021 o garimpo ilegal avançou mais de 46% no território. Comparando com o período de 2016 a 2020, houve um aumento de 3.350%, o que é tremendamente assustador. Ainda segundo a associação, a extração ilegal de ouro e cassiterita na terra indígena tem provocado uma explosão dos casos de malária, de outras doenças infectocontagiosas e um aumento da contaminação por mercúrio dos rios. Conforme dados da Fundação Oswaldo Cruz, 92% da comunidade de Aracaçá têm elevados índices de mercúrio no sangue. É um processo brutal de destruição que traz no seu bojo toda essa carga da violência contras as mulheres, que são abusadas e embriagadas com a promessa de comida. As comunidades denunciam que desde maio de 2021 a violência cresceu no território Yanomami, com a circulação de mais de 20 mil garimpeiros que, inclusive, entregam armas de fogo aos indígenas e fomentam as rixas internas entre eles. Uma criança foi sequestrada e levada embora por um garimpeiro que alegava ser o pai. E fica tudo por isso mesmo. O estado simplesmente se omite e deixa que a violência siga sem freio nos territórios. É sempre bom lembrar que, desde o começo do governo de Jair Bolsonaro, os indígenas têm sido atacados como gente preguiçosa que precisa entrar para o mercado de trabalho capitalista e ajudar o progresso da nação. Sua cultura é desqualificada e suas terras têm sido sistematicamente invadidas, com vistas grossas para os grileiros e mineradores ilegais. Há também a tentativa de reverter o processo de demarcação de terras já demarcadas e paralisar outros processos de demarcação. As terras indígenas são espaços extremamente preservados, são férteis e ricas em minerais. Por conta disso, a cobiça. A tática é a mesma desde a invasão. Armas, violência, cooptação, promessas de bem viver e o sistemático processo de divisão. Os noticiários da televisão noticiam os casos de violência, mas não geram comoção. São notas curtas, sem contexto, como se não tivesse aí toda uma história de terror, morte e destruição. Também não se faz qualquer menção à política de arraso claramente implantada pelo governo federal que inviabiliza a fiscalização e não dá muita importância para a investigação dos crimes contra os indígenas. A cena de uma garota indígena, de 12 anos, sendo violada por garimpeiros, parece tocar o coração de muito poucos. É só uma índia, uma maria-ninguém. A polícia disse que não encontrou evidências. Então, tá. Em 2019, 113 indígenas foram assassinados, em 2020 o número pulou para 182. Tudo isso passa batido no cotidiano do jornalismo brasileiro. Os que gritam são os de sempre, as entidades indígenas, o Conselho Indigenista Missionário, as instituições de Direitos Humanos. Gritos ao vento enquanto crescem os Clubes de Tiro e avançam os caçadores de ouro e outros minérios sob a proteção de grandes fazendeiros, empresas multinacionais e governantes. Uma Yanomami foi violada e morta em Roraima. Uma menina. Não é primeira e não será a última se a sociedade não se levantar em luta junto com as comunidades indígenas. Essa não é uma batalha dos Yanomamis, ou dos povos indígenas. Essa é uma batalha de todos nós. Isso tem de acabar. https://urutaurpg.com.br/siteluis/indigenista-exilado-conversa-ao-vivo-com-ricardo-rao/ Os trabalhadores e os indígenas Abril indígena ocupa Brasília   Câmara aprova urgência para projeto de destruição das terras indígenas

Adeus 2021, sem saudade

Retrospectiva 2021 – O ano que passou, no Brasil, foi um tempo de terror. E não foi só por conta do coronavírus, visto que o andamento da vacinação, ainda que lento, foi baixando os casos e as mortes. Apesar de todo o trabalho que o governo federal fez para impedir a imunização massiva da população, mesmo entre os apoiadores do governo, o chamado da vida foi mais forte e as pessoas foram buscando a vacina. Isso deu um respiro para a nação uma vez que o combate ao novo vírus só pode ser feito com a imunização coletiva da maioria da população. Ainda assim, nada está bem. As mortes continuam – passamos dos 600 mil óbitos  – e o negacionismo também, a tal ponto de o presidente da nação insistir em criticar a imunização em crianças, tão logo a Anvisa liberou, mesmo que os dados apontem que grande parte dos internados nas UTIs são jovens não vacinados. E, agora, no final do ano, hackers invadiram o sítio do Ministério da Saúde e apagaram dados sobre a vacinação e sobre a saúde dos brasileiros. Um “mistério” do realismo mágico. A quem interessaria destruir as informações sobre esse tema? Um pirulito para quem adivinhar. A maior taxa de terror veio mesmo por parte do governo federal, como tem sido recorrente desde 2019, quando assumiu o país esse agente da morte. Cumprindo suas promessas de campanha, Jair Bolsonaro deu sequência ao processo de destruição do país em todas as áreas. Não houve engano, tudo já estava claro desde o começo. Mas, a responsabilidade dessa destruição não é unicamente do presidente. O Congresso Nacional, com raríssimas exceções dentro dele, tem respaldado cada ação e cada proposta do governo federal. Destruíram direitos dos trabalhadores e abriram os cofres para o desmando e a corrupção. Não bastasse isso ainda aprovaram um tal de “orçamento secreto”, que não dá transparência sobre recursos federais entregues aos deputados. Uma vergonha nacional que é noticiada como se nada tivesse de absurdo. Em 2021, seguiu forte e sem parada o ataque aos povos originários, com o aumento sistemático da violência e do roubo das terras. A proposta do governo é acabar com eles. Incêndios e desmatamentos arrasando territórios inteiros e nossos biomas mais importantes. Igualmente recrudesceram os ataques da polícia militar, em praticamente todos os estados, contra a população negra e pobre. O extermínio da juventude virou política de estado, a ponto de acontecer um massacre com 26 mortos em Minas Gerais, sem que o tema rendesse qualquer debate nacional. Até hoje não se sabe o que de fato aconteceu na cidade mineira de Varginha. Nada além da acusação de “suspeitos” e “bandidos”. Provas de bandidagem? Nenhuma. O governo também continuou com o processo de desmonte na educação brasileira, retirando recursos de todos os níveis. A pandemia e a falta de uma política de acesso fizeram com que aumentasse o número de desistências, a taxa de analfabetismo encostou nos 7% e o analfabetismo funcional chega a quase 30% da população. Não bastasse isso, o negacionismo diante do coronavírus fez com que vários estados obrigassem os professores ao retorno presencial, gerando sofrimento mental e mais doença na categoria. O governo federal também estraçalhou com o Enem – porta de entrada para a universidade dos empobrecidos – a tal ponto de fazer com que a juventude da periferia desistisse dele, bem como do ensino superior, com redução de inscrição no vestibular. E, agora, quer garantir mais vantagens para os ricos no sistema do Prouni (programa de bolsas para garantir permanência) afastando ainda mais os empobrecidos da universidade, já que disputarão as já poucas bolsas com quem não precisa delas. No campo da saúde assistimos aparvalhados a CPI da Covid no Congresso Nacional que levantou não apenas os crimes cometidos por agentes do governo, bem como pelo próprio presidente da nação, além dos horrores que acontecem dentro dos hospitais privados geridos por planos de saúde, que simplesmente mataram os velhos com medicamentos inúteis para evitar gastos. Meses e meses de apresentação de provas e testemunhos sobre esses desmandos que, ao fim, deram em nada. Um ano inteiro sangrando sem que nem a Justiça nem os parlamentares fizessem qualquer coisa para punir os criminosos. Muito provavelmente tudo isso acabará em pizza ou arrastará processo por anos, que se findarão por inanição. O drama de milhões nas mãos dos bandidos tampouco conseguiu produzir qualquer comoção popular, além da sensação momentânea de estupor. Vivemos um crescendo do preço da gasolina – com mais de 50% de aumento no ano – causando a alta dos preços de todas as mercadorias, inclusive as da cesta básica. A fome, que tinha sido banida do nosso país, voltou com força e não poderia ser diferente, pois todo o apoio governamental está voltado para os fazendeiros, mineradores e multinacionais. A indústria brasileira agoniza, bem como os pequenos produtores e pequenos comerciantes. E as estrelas da mídia ensinando como economizar gás, cozinhando com lenha, ou como trocar a carne por sopa de ossos. Uma perversidade sem tamanho. O desemprego – conforme dados do IBGE – está na casa de 14 milhões de brasileiros e mais de seis milhões sequer buscam ocupação, pois já não tem esperança, o que dá uma soma de 20 milhões de seres sem ter como ganhar a vida nesse país. Mas, se formos atrás de outros dados, como os do “Mapa da exploração dos trabalhadores no Brasil”, do Ilaese, que usa outra metodologia, o número de desempregados passa dos 50 milhões. Nesse contexto, aumenta também a violência e o desespero. A classe média baixa que ainda tinha a chance de juntar um dinheirinho, apostando na poupança, historicamente o único investimento possível, está à deriva também. A caderneta, que valorizava em parco 1% agora só vai render 0,5%, ou seja, absolutamente nada. A inflação de 10% ao ano come tudo o que puder render. Ou seja, só perdas. A classe média, protagonista da ascensão dessa gente que hoje governa o país, pouco se manifesta e quando o faz é