10 músicas contra a ditadura militar

Bem-vindo ao Fatos da Zona, onde os textos mais acessados do site do Zonacurva Mídia Livre. Neste vídeo, apresentamos 10 músicas icônicas que se tornaram verdadeiras expressões de resistência e liberdade durante esse período sombrio. Embarque em uma jornada nostálgica e emocionante, enquanto exploramos o poder da música como forma de protesto.   Naqueles tempos bicudos da ditadura militar, a música denunciava na lata ou de forma velada os arbítrios cometidos pelo regime. O ritmo não importava, podia ser o samba, o rock, o forró, a MPB ou outro, juntos formavam um verdadeiro repertório de resistência cultural. Sem dúvida, os anos 60 e 70 foram um dos períodos de maior criatividade na música brasileira. Se o grito ficava represado na política, o canto serviu como válvula de escape catártica que nos afastava do clima insuportavelmente pesado criado pelos generais e sua repressão, tortura e censura. Aí vai a lista de 10 músicas que marcaram época no período:  10 º “Eu quero é botar meu bloco na rua” (Sérgio Sampaio) – Sérgio Sampaio A galera do desbunde, como ficou conhecido o pessoal, que seguia os preceitos da contracultura em seu comportamento, adotou essa música como seu hino contra a ditadura militar. Eu quero é botar meu bloco na rua participou do IV Festival Internacional da Canção (FIC) em 1972 e fez grande sucesso no carnaval de 1973. Contratado pela gravadora CBS no início de 1971, o músico tornou-se amigo e parceiro musical de Raul Seixas, que logo providenciou para que ele e seu irmão Jorge (Dedé Caiano) fizessem parte do coro de gravações de Renato e seus Blue Caps e outros artistas da gravadora. A música integra o disco homônimo do músico capixaba que foi produzido por Raul Seixas. Sampaio morreu em 15 de maio de 1994 no Rio de Janeiro.   9º “Perseguição” (Mais forte são os poderes do povo) (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha) – Sérgio Ricardo “Mais forte são os poderes do povo”, o grito épico de Corisco em Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha de 1964, ano do golpe civil-militar, foi premonitório da luta que se avizinhava. Os coronéis e seus jagunços agora tinham como aliados os militares. O músico Sérgio Ricardo, conhecido bossa-novista na época, foi convidado por Glauber para a realização da trilha sonora do filme. Alertado por Glauber de que a música nordestina não era sua praia, Glauber emprestou para Sérgio fitas com músicas de cantadores gravadas em feiras no interior da Bahia. A força da música nordestina, o talento de Sérgio e o a genialidade de Glauber resultaram em uma das cenas mais bonitas da história do cinema:     8º “Cálice” (Chico Buarque e Gilberto Gil) – Chico Buarque e Gilberto Gil O show Phono 73 reuniria duplas de artistas da gravadora Phonogram em maio de 1973. Para o show, Gil e Chico compuseram Cálice no apartamento de Chico em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas (“o monstro da lagoa”) bebendo fernet (“essa bebida amarga”) em uma sexta-feira da Paixão. Quando os dois tentaram cantá-la no show no Palácio das Convenções do Anhembi, o som do microfone de Chico foi cortado.  A música faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. A canção explorou o duplo sentido da palavra cálice que podia significar também cale-se, referência explícita à censura e a repressão. A censura impede que Chico e Gil cantem Cálice no show Phono 73:   Chico canta Cálice com Milton Nascimento:    7º “Sinal fechado” (Paulinho da Viola) – Paulinho da Viola Em dezembro de 1968, o AI-5 avermelhou o sinal de vez e endureceu ainda mais a censura e a repressão. No ano seguinte, 1969, Sinal Fechado venceu o V Festival da Record. A música expressa o desencontro de uma geração que luta para encontrar saídas em uma sociedade cada vez mais sufocada. A esperança que resta está em um “lugar no futuro” já que o presente era sombrio.   6º “É proibido proibir“ (Caetano Veloso) – Caetano Veloso e os Mutantes O rock psicodélico de Caetano foi considerado uma crítica ao militante tradicional da esquerda universitária da época. O título da música foi retirada das pichações dos muros parisienses nas manifestações estudantis de maio de 1968. Em setembro de 1968, Caetano Veloso e os Mutantes apresentaram a música no Festival Internacional da Canção, o FIC, no teatro TUCA, na PUC-SP, e recebem uma sonora vaia do público. Caetano peitou a galera e fez um discurso que ficou até mais conhecido que a canção:  “Mas é isso que é a juventude que quer tomar o poder? Vocês tem coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre matar o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada… Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos!” Ouça a música e o discurso de Caetano: https://www.youtube.com/watch?v=4xEz2uva_ZE   5º “Mosca na sopa” (Raul Seixas) – Raul Seixas Raulzito também meteu sua colher na sopa amarga da ditadura militar. Com humor e referências a pontos usados na umbanda e candomblé, Raul avisava aos militares que a repressão não ia calar as vozes contra o governo já que “você mata uma e vem outra em meu lugar”. A música é do disco Krig-há, Bandolo! de 1973. Em entrevista em 1988, Raul relata como foi preso e torturado em 1974.   4º “Que as crianças cantem livres” (Taiguara) – Taiguara Taiguara, em tupi, quer dizer “livre, senhor de si”. Nascido no Uruguai, Taiguara mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro e se apresentou nos festivais dos anos 60 e 70. O cantor foi um dos mais censurados pelos militares no poder, só no período entre 1970 e 1974, teve 48 canções vetadas. Que as crianças cantem livres faz parte do álbum “Fotografias”, de 1973. Na música, Taiguara revela a esperança de tempos melhores: “e