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Sesc Ipiranga exibe a mostra “Quarantine”, que traz o impacto da covid-19 nas artes brasileiras

A exposição Quarantine no Sesc Ipiranga reúne obras de 31 artistas de diferentes partes do Brasil, que foram incorporadas ao Acervo Sesc de Arte, a partir da iniciativa realizada como resposta aos impactos que o mundo sofreu ao enfrentar a pandemia de Covid-19 e, em particular, no campo das artes visuais. Entre as obras adquiridas por meio do projeto para a coleção permanente do Sesc São Paulo – e exibidas nesta mostra na unidade do Ipiranga – estão desenhos, gravuras digitais, trabalhos de arte sonora e outros formatos, vídeos e fotos. O projeto estabeleceu uma espécie de cooperativa de artistas e disponibilizou suas obras a colecionadores. O montante arrecadado foi repartido igualmente entre os participantes, sendo uma parcela revertida para o fundo emergencial de apoio às pessoas trans afetadas pela Covid-19 e assistidas pela Casa Chama. No início da pandemia, o mundo se viu em uma situação que repentinamente trouxe a interrupção do cotidiano, uma série de incertezas e a intensificação das desigualdades já existentes. Deste modo, surge a necessidade de se (re)pensar no modelo político e econômico em que vivemos, e assim de uma nova forma, considerando o conceito de cooperação. “Sem a ação coletiva, não há solução”, é a resposta do projeto Quarantine para repensar, reagir e reimaginar o impacto causado pela pandemia de Covid-19 no mercado de artes no Brasil. SERVIÇO: A exposição será exibida até dia 30 de abril de 2022, das 10h às 20hs, no endereço Bom Pastor, 822. A entrada é gratuita e é indispensável a apresentação do cartão de vacinação que comprove a aplicação das 2 doses dos imunizantes ou da dose única. Centro Cultural Fiesp recebe mostra sobre o Modernismo Brasileiro Exposição do coletivo cubano Los Carpinteros aporta em SP

A pandemia e o imobilismo do governo Bolsonaro

Pandemia Covid-19 – O número de mortos no Brasil vitimados pela Covid-19 se aproxima de 40 mil e mais de 700 mil brasileiros já foram infectados pelo vírus, mas, na televisão e nos jornais esses números aparecem como uma mensagem qualquer enquanto as famílias almoçam ou jantam. Ao que parece essa é uma realidade normalizada, bem diferente da do começo da pandemia quando as pessoas se mortificavam com o número de mortos na Itália, por exemplo. Algumas inclusive se recusam a acreditar que as informações, imagens e falas que passam na televisão eram verdadeiras. “É tudo invenção da Globo. Eu mesma fui no hospital aqui e tá tudo vazio”, afirma uma parenta, bolsonarista raiz. “Na Record não passa isso”. Ela mesma não usa máscara, a não ser quando é obrigada a entrar no mercado ou outro lugar. E insiste em dizer que as covas abertas em lugares como Manaus e São Paulo são imagens falsas. Esse é o paradoxo que vive o Brasil. Enquanto os médicos e especialistas da saúde dizem uma coisa, o presidente Bolsonaro diz outra. Ele minimiza a pandemia, naturaliza as mortes e, não sendo médico, prescreve remédios para seus seguidores. Não bastasse isso, o Brasil deve ser o único país do mundo que nesse momento de grave crise sanitária não tem um Ministro da Saúde. Dois dos ministros da pasta saíram justamente por serem médicos e discordarem dos absurdos proferidos pelo mandatário. Um saiu porque não tinha como ser contra o isolamento social, coisa que o presidente insistia como inútil. E outro saiu porque se recusou a indicar a hidroxicloroquina como um remédio a ser usado indiscriminadamente por qualquer um que apresentasse sintomas. Entre os seguidores do presidente, a irracionalidade abunda. Dizem não crer na pandemia, mas todos já estocaram em casa os remédios aludidos e estão certos de que se a “doença comunista” chegar eles saberão combater. Pouco parece importar a dor das famílias que estão enterrando seus mortos, afinal “morrer é coisa da vida”, como diz o presidente. E se alguém tenta argumentar de que esses mortos poderiam estar vivos se as cidades tivessem acatado as medidas de achatamento da curva de infecção, dizem: E a dengue? E os ataques de coração? Tudo isso causa morte… Também se recusam a perceber que as mortes por essas doenças outras não acontecem por falta de espaço nos hospitais. E assim vai o país, enterrando gente,  a maioria moradora das periferias, onde já é precário o serviço de saúde. Uma olhada nas reportagens da televisão e as pessoas que clamam em frente aos hospitais são claramente empobrecidas. Não me lembro de ter visto alguma cena em frente a algum hospital particular. Provavelmente para os ricos não faltam leitos nem respiradores, já que eles mesmos são poucos. Mas, as gentes das comunidades, das cidades pequenas, as sem recursos, as de regiões mais afastadas dos centros pulsantes, essas estão morrendo nas cadeiras das Unidades de Saúde ou nas entradas dos hospitais. Em algumas cidades chegou a ter fila de espera para um leito com mais de 400 nomes. E como os leitos de UTI ficam ocupados por 20 ou mais dias, as pessoas simplesmente morrem sem o atendimento. Enquanto tudo isso acontece o presidente da nação se reúne com ministros para discutir o controle da Polícia Federal, porque não quer ver os filhos dele sendo  investigados por crimes como o do gabinete do ódio, que dissemina notícias falsas, ou o da “rachadinha” – esquema de corrupção que se apropria dos salários de funcionários fantasmas. E, nas ruas, grupos de extrema direita, copiando figurinos e palavras de ordem dos movimentos similares que existem nos Estados Unidos, lançam vitupérios contra o Supremo Tribunal Federal e contra os parlamentares. Pedem um golpe de estado, uma intervenção militar e, pasmem, estão armados. Fossem os sem-terra ou os índios já estariam apodrecendo na cadeia. Mas, esses, ao contrário, são protegidos pela polícia e nada lhes acontece. Diante da completa imobilidade dos partidos de esquerda, de centro, e da maioria dos movimentos sociais, torcidas organizadas de times de futebol, autodenominadas antifascistas, saíram às ruas para fazer o enfrentamento com esses grupos violentos da extrema-direita. O resultado não poderia ser outro. Onde as torcidas atuaram, a direita fugiu. Agora, com os protestos massivos nos Estados Unidos pelo assassinato de George Floyd, no Brasil também alguns movimentos decidiram se mexer e estão realizando protestos nas ruas, mas ainda sem a presença dos partidos ou das centrais sindicais. O medo do vírus e a atenção ao isolamento social tornam esse movimento de tomada das ruas ainda bastante lento. Não é sem razão que os que saíram primeiro foram os jovens torcedores antifascistas, já que eles mesmos estão nas ruas trabalhando, desde sempre, enfrentando quase sem proteção o vírus mortal. O dramático de tudo isso é que segundo todas as análises dos cientistas e agentes de saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus, a curva de infecção ainda está ascendente, o que significa que muito mais gente vai morrer. Uma gente que perderá a vida simplesmente porque o governo do seu país não está preocupado com a sua existência. A tática do presidente tem sido jogar todas as responsabilidades para cima dos governadores e prefeitos, como se o governo federal não tivesse coisa alguma a ver com o que está acontecendo. E entre seus seguidores o mantra é: “vamos salvar a economia, abram tudo”. Para eles, nada está acontecendo. E todas as lágrimas que se derramam em frente às câmeras são de pessoas cujos familiares iriam morrer mesmo, de alguma doença. São tempos tristes os que vivemos. São tempos de perplexidades. E, infelizmente, de imobilidade. https://urutaurpg.com.br/siteluis/e-depois-da-pandemia/   CPI da Covid explode a bolha de silêncio criada pelo governo

E depois da pandemia?

Como será o “dia seguinte” dessa pandemia? O que mudará em nossos países e em nossas vidas? Ainda é cedo para previsões. Alguns sinais, porém, já indicam que, ao contrário do que diz a canção, não viveremos como os nossos pais. Por que a China conseguiu deter a epidemia em tempo relativamente curto, se considerarmos que, numa população que ultrapassa 1 bilhão de pessoas, não é fácil exercer tão eficiente controle? E é justamente esta palavra – controle – o indício de que, agora, a ficção de George Orwell, no romance “1984”, chegou à realidade. As nossas frágeis instituições democráticas estão ameaçadas. A China logrou conter o coronavírus porque, por meio de celulares, manteve cada cidadão sob vigilância. Inclusive capaz de mapear onde o usuário do celular, portador da infecção, esteve nas últimas duas semanas. O mundo tende, agora, a se transformar em uma gigantesca casa do Big Brother, na qual todos sabem o que todos fazem, em especial aqueles que detêm o controle dos algoritmos. A exigência de ficar em casa demonstra ser possível manter a sociedade em funcionamento sem obrigar milhares de pessoas a se deslocarem diariamente de casa para o local de trabalho. Isso traria muitas vantagens para o capitalismo: não precisar manter tantos prédios com escritórios e outros espaços laborais, nem funcionários para cuidar de limpeza, refeições, manutenção, energia, mobiliário etc. Muitos serão como empregadas domésticas antes da lei de 2015 que assegura direitos a elas: sem carteira assinada, leis trabalhistas, vínculos sindicais e queixas pelos corredores. Todos dormindo no serviço, sem hora para entrar e sair, obrigados a comprar o próprio alimento, sem direito a descanso no fim de semana e obrigados a fazer do espaço doméstico um local de trabalho, o que certamente afetará as relações familiares. Seremos todos prestadores de serviço, uberizados pela atomização das relações de trabalho. Outra possibilidade de esgarçamento democrático é as autoridades, por mero capricho autoritário, decidirem nos impor, com frequência, o toque de recolher. O “fica em casa” passa a ser rotineiro, e nossa mobilidade controlada pela polícia. E as fronteiras de nossos países podem ser periodicamente fechadas, o que nos faria experimentar o que significa viver na Coreia do Norte. Contudo, há malas que vêm de trem, como se diz em Minas. A pandemia desmoralizou o discurso neoliberal de eficiência do livre mercado. Como em crises anteriores, mais uma vez se recorreu ao papel interventor do Estado. Os países que privatizaram o sistema de saúde, como os EUA, enfrentam mais dificuldade para conter o vírus que os países que dispõem de sistema público de atenção aos enfermos. Talvez isso suscite cautela frente às propostas de privatização, e até mesmo incentive reestatizações. Fator positivo é, em meio à crise, estreitar laços de solidariedade, partilhar bens, cuidar dos vulneráveis, resgatar antigas brincadeiras para entreter as crianças e, sobretudo, descobrir que podemos ser felizes curtindo o âmbito familiar e sem muitas atividades fora de casa. A palavra crise deriva do verbo acrisolar, que significa aperfeiçoar. Porque ela nos ensina muitas lições. Se em poucos dias foi possível transformar estádios, como o Pacaembu em São Paulo, e pavilhões, como o Riocentro no Rio, em hospitais dotados de instalações de primeira linha, por que não é possível adotar medidas semelhantes para reduzir o déficit habitacional no Brasil? Há, porém, quem nada aprende com a crise, como aqueles que, na contramão da ética e dos mais universais princípios religiosos, consideram ser mais importante salvar o lucro dos bancos e das empresas que vidas. Padecem de uma miopia que os impede de ver que o coronavírus não faz distinção de classe. Portanto, se equivocam ao supor que a epidemia matará apenas idosos (aliviando as contas da Previdência Social), portadores de outras doenças (diminuindo a fila do SUS), moradores de ruas (higienizando as cidades) e favelados (reduzindo os gastos com a área social). Essa perversa ideologia é, ela sim, um caso grave de saúde política e que exige medidas urgentes de profilaxia. Publicado originalmente no Correio da Cidadania.   https://urutaurpg.com.br/siteluis/coronavirus-o-virus-e-os-trabalhadores/ O coronavírus e o poder político norte-americano