Zona Curva

Petrobras

Como anda a entrega do petróleo brasileiro aos estrangeiros

por Mauro Santayana – da Carta Maior O governo Dilma caiu, a economia está cada vez pior, mas a manipulação midiática continua canalha, mendaz, descarada e imparável. Não bastasse a manipulação de dados e prazos em recentes mensagens publicitárias – sem contestação, principalmente jurídica, da oposição, que prova que, no quesito estratégico, é tão incompetente fora como dentro do poder – a última manobra de alguns jornais e emissoras particularmente hipócritas está voltada para convencer os desinformados que compõem seu público que a recuperação do preço das ações da Petrobras neste ano se deu por causa da mudança de diretoria e da “venda” de 13.6 bilhões de dólares em ativos e não graças à recuperação da cotação do petróleo nos mercados internacionais, além da compra de bilhões de reais em ações quando elas estavam no fundo do poço, por parte de “investidores” estrangeiros, que nunca deram bola para o discurso catastrófico e derrotista dos inimigos da empresa. Os últimos três “negócios”, feitos na derradeira semana de 2016, foram a transferência de uma usina de biocombustíveis para os franceses e de duas empresas (petroquímica e têxtil) para mexicanos. Como há que dar uma no cravo e outra na ferradura e água mole em pedra dura tanto bate até que fura, os mesmos meios de comunicação lembram que, apesar da valorização de suas ações em mais de 100% neste ano, a Petrobras deve, ainda, quatro centenas de bilhões de reais. Ora, independentemente da questão do endividamento da Petrobras, constantemente exagerada para justificar seu desmonte, se uma empresa deve 400 bilhões, 13.6 bilhões de dólares, que não chegam a 10% desse montante pela cotação atual da moeda, arrecadados com a apressada venda de ativos estratégicos, longe de serem decisivos, são praticamente irrisórios em termos contábeis. Sendo assim, nesse contexto, sua citação triunfal a todo momento só pode ser compreendida como mais um esforço – patético – de enganação da opinião pública, para justificar a entrega, nos próximos meses e anos, de uma fatia ainda maior do patrimônio de nossa maior empresa a concorrentes estrangeiros, sem nenhum critério estratégico e a preço de banana. O discurso entreguista é tão contraditório, que, por um lado critica-se a “incompetência estatizante” da Petrobras, a mais premiada empresa do mundo no desenvolvimento de tecnologia para a exploração de petróleo em águas profundas, e, por outro, se transfere seus poços e empresas a estatais estrangeiras como a Statoil e para fundos de pensão também estatais como o da província de British Columbia, no Canadá, um dos novos donos dos Gasodutos do Sudeste. A “imprensa” cita como objetivo, nesse quesito, para 2017, a “negociação”, pela Petrobras, de pouco mais de 23 bilhões de dólares em ativos. Uma quantia que equivale a cerca de 7% das reservas internacionais brasileiras, que poderiam perfeitamente ser usados pelo governo para capitalizar a empresa sem depená-la, como a uma ave natalina, para servi-la, a preço de restaurante popular, para as multinacionais, como está sendo feito agora. Não é por outra razão, apesar de o ano de 2016 ter sido o mais fraco das últimas décadas em exploração – a descoberta de novos poços caiu, segundo a Agência Nacional do Petróleo, em mais de 70% no ano passado, para apenas dois,  devido, principalmente, à retração de atividades da Petrobras, diuturnamente atacada, vilipendiada e sabotada em várias frentes – que a parcela estrangeira na produção de petróleo no Brasil, devido, entre outras  razões, à transferência de campos como Carcará a empresas multinacionais – cresceu em 14% no último ano, para 457.000 barris diários, e deve atingir em 2017, perto de 900.000 barris, ou quase a metade do que a Petrobras produz em território nacional. Isso ocorrerá não apenas pela continuação da venda – se não houver contestação jurídica – de ativos da Petróleo Brasileiro S.A a estrangeiros, mas também pela queda intencional e programada de investimentos em exploração por parte da empresa, cuja produção crescerá – segundo prevê o “mercado” – em apenas 2% este ano. Enquanto isso, graças à tentativa suicida – para não dizer imbecil – de repassar, imediatamente, as cotações internacionais para o consumidor brasileiro, o preço dos combustíveis continua subindo nos postos, a quase toda semana, mesmo quando o custo do barril desce no exterior. Ou alguém já viu – sem tabelamento, eventual promoção, “batismo” ou falsificação – gasolina baixar de preço nas bombas, no Brasil? Publicado originalmente na Agência Carta Maior. A guerra  

O filme que ninguém viu

A novela do filme Chatô do ator-diretor Guilherme Fontes teve início há 18 anos. Durante esse período, houve de tudo um pouco: condenações judiciais, promessas repetidas de estreia do filme, cifras contraditórias do orçamento do filme e, sobretudo, uma das produções mais demoradas da história do cinema. O não-filme de Fontes adapta a genial biografia Chatô, o Rei do Brasil (1994), do escritor Fernando Morais, catatau de quase 700 páginas que narra a vida do barão da mídia Assis Chateaubriand. O episódio levanta a lebre da discussão sobre as distorções do incentivo cultural no Brasil (leia abaixo Farta de curtura na Lei Rouanet). Em julho do 2012, em entrevista à revista Caras, o diretor prometeu o filme até o final do ano passado: “estou me preparando para finalmente estrear o Chatô. Pode contar uns quatro, cinco meses a partir de hoje”, afirmou. Pior: o diretor afirmou na mesma entrevista que entrou com quatro projetos de cinema no Ministério da Cultura para captação de recursos. O imbróglio do ator global e seu Chatô já contabilizam três condenações judiciais. Em setembro do ano passado, a justiça carioca o condenou ao pagamento de indenização de R$ 2,5 milhões a Petrobras Distribuidora e Petrobras S/A de quem recebeu dinheiro para realizar o filme. Em 27 de abril de 2010, o ator foi considerado culpado em processo criminal por sonegação fiscal. A pena de três anos de prisão foi transformada em prestação de serviços comunitários pelo mesmo período e mais uma multa de doze cestas básicas no valor de R$ 1 mil cada. Em 2008, sob processo instaurado pela Ancine (Agência Nacional de Cinema), Fontes foi indiciado por irregularidades na prestação de contas do filme e condenado pela Controladoria-Geral da União a devolver R$ 36,5 milhões aos cofres públicos, total do dinheiro captado para a produção do filme. Fontes contesta esse valor e afirma que gastou um terço dessa quantia, apenas R$ 12 milhões. Guilherme Fontes iniciou sua carreira pelas mãos do diretor Cacá Diegues como protagonista do filme O Trem para as estrelas (de 1987), em que interpretou um saxofonista durante os anos de chumbo. No filme, o ator interpreta Vinícius que passa por diversas experiências pelas ruas do Rio de Janeiro enquanto procura por sua namorada desaparecida após uma noite de amor. O professor bêbado, interpretado por José Wilker, é impagável. O ator chegou a participar do seriado Malhação e de novelas como Rei do Gado e Mulheres de Areia, na TV Globo. Farta de curtura na Lei Rouanet A criação da Lei Rouanet em 1991 estimulou a produção cultural brasileira mas, infelizmente, alguns casos nos levam ao debate dos critérios de aprovação de projetos pelo Ministério da Cultura. A lei permite que 6% do IRPF (Imposto de Renda para pessoas físicas) e 4% do IRPJ (Imposto de Renda para pessoas jurídicas) sejam aplicados em projetos culturais. Sem dúvida, esse dinheiro colaborou para a produção de peças, filmes e espetáculos de qualidade. Mas, ao mesmo tempo, veja algumas captações pela lei, no mínimo, questionáveis: • A cantora de axé Claudia Leitte captou R$ 6 milhões via Lei Rouanet para sua turnê pelas regiões Norte e Nordeste em 2013. • O Club A, casa noturna para playboys e socialites em São Paulo, captou R$ 5,7 milhões para a “criação de um painel artístico de difusão cultural”. A entrada da casa (sem nome na lista) sai pela bagatela de R$ 160. • Em 2011, a cantora Maria Bethânia conseguiu autorização do ministério para captar R$ 1,3 milhão para o blog “O Mundo precisa de poesia” para realizar vídeos lendo poemas sob a direção de Andrucha Waddington. • O filme “Isso é Calypso”, que contará a trajetória da banda de Joelma e Chimbinha, pode captar R$ 10,7 milhões para sua produção até dezembro de 2016. • O espetáculo teatral mais lucrativo da história do teatro americano (US$ 853,8 milhões), O Rei Leão, captou R$ 11,7 milhões em isenção fiscal.