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Mulheres indígenas lutam pelo futuro em Brasília

“As mulheres originárias precisam ocupar esses ditos pilares da democracia de Brasília para assegurar suas vidas”, diz a ativista indígena Telma Taurepang sobre II Marcha das Mulheres Indígenas Enquanto bolsonaristas destilavam ódio e defendiam pautas antidemocráticas como intervenção militar em Brasília no 7 de setembro (última terça), chegavam na capital as primeiras manifestantes da II Marcha das Mulheres Indígenas. Elas lutam contra o marco temporal e a favor dos direitos à terra e à vida dos povos originários e pelo reflorestamento de áreas devastadas. Ontem (dia 8), os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) retomaram o julgamento do marco temporal de demarcação das terras indígenas. Se o marco temporal passar, os índios só poderão reivindicar terras ocupadas até a promulgação da Constituição de 1988. O julgamento foi retomado hoje (dia 9) com a leitura do voto do relator Edson Fachin. Com a permanência de bolsonaristas em Brasília, o grupo de mais de 4 mil pessoas de 172 povos presentes no acampamento não marchou hoje para evitar confrontos, mas atividades e debates seguiram em ebulição para fortalecer o movimento. O movimento das mulheres indígenas, que gerou a marcha, foi iniciado em 2015 com o “Voz das Mulheres Indígenas”, projeto da Organização das Nações Unidas em conjunto com a Embaixada da Noruega, com o objetivo de apoiar o empoderamento e a participação política das originárias do Brasil. “Nós somos o fruto e a resistência. As indígenas lutam há mais de 521 anos pela vida”, disse Telma Taurepang, antropóloga, ativista e coordenadora geral da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira. A resistência contra o marco temporal é pauta importante desta segunda marcha. A Advocacia Geral da União (AGU) defende o projeto, enquanto a Procuradoria Geral da República se manifesta contra. Telma conta que o ativismo político é essencial na luta pela vida, e que as mulheres indígenas continuam sofrendo com retrocessos. “Os três poderes continuam fazendo leis que violam os direitos dos povos indígenas, que atingem diretamente as mulheres originárias”. Apesar da vontade de ocupar área em frente ao Congresso Nacional, as manifestantes foram orientadas pela polícia a instalar delegações próximas à Funarte. As mulheres estão se unindo a cerca de mil indígenas que participam do acampamento “Luta pela Vida”, que começou no dia 22 de agosto. A marcha está prevista para acontecer até 11 de setembro. Segundo a antropóloga, o tema “Mulheres originárias: Reflorestando mentes para a cura da Terra” está relacionado à “conexão com a ancestralidade que nos faz entender que precisamos reflorestar a mente do século XXI, porque essa mente agride, discrimina e é genocida”. Ela explicou ainda que as mulheres são as que mais sofrem nesse movimento de resistência porque lutam para dar visibilidade a elas mesmas. Com informações do Correio Braziliense. Os Yanomami O Ministério dos Povos Originários Ecocídio & genocídio Floresta em pé, o fascismo e o PL 490 no chão Povos originários: segue a batalha contra o marco temporal Pelos direitos dos povos originários Ministério da Agricultura regulará demarcação de terras indígenas Povos indígenas reagem aos ataques do novo governo Terras indígenas são estratégicas contra mudanças climáticas, defende deputada Joenia Wapichana Povos indígenas em luta contra as mudanças na Constituição

Segundamente

por Marceu Vieira Desde a descoberta do fogo, a História do mundo mostra que há acontecimentos impossíveis de se evitar. Aqui, no Brasil, um foi a Independência – por mais fajuta que tenha sido. A Proclamação da República, golpe inaugural dos militares, foi outra. A Abolição da Escravatura, mais uma. Houve ainda a Revolução de 1930, o Estado Novo, a volta de Getúlio Vargas, a construção de Brasília por Juscelino Kubitschek, a provação brasileira com o governo Sarney, a Constituinte de 1988, tanta coisa. O golpe de 1964 também entra nessa lista. A elite empresarial estava inteiramente contrária a Jango. O pensamento conservador detinha a hegemonia da informação. As Forças Armadas, ali bem fortes, só precisaram dar o último empurrão no Brasil pra dentro do buraco sem luz da ditadura. Mundo afora, também houve acontecimentos assim, impossíveis de ser contidos. A Queda da Bastilha. A Primeira e a Segunda Grandes Guerras. A Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia. A Queda do Muro de Berlim. O desmanche da finada União Soviética. Até a eleição do Lula, em 2002, foi acontecimento inevitável – e o fim daquele ciclo, com a derrubada da Dilma num golpe parlamentar imoral, nem aquilo foi viável deter. Quando os portugueses enforcaram Tiradentes, em 21 de abril de 1792, não supunham que o transformariam em herói da pátria. Mas era certo que acontecesse. Nas relações pessoais, nos contenciosos de trabalho, no dia a dia, na História, e até na ficção, em tudo é assim. Há fatos incontroláveis no seu desenrolar. Na tragédia de Shakespeare, não foi possível evitar a morte de Romeu e Julieta, um sem saber que o outro sobreviveria. No calvário de Jesus, nem Pôncio Pilatos pôde evitar sua crucificação. O goleiro Júlio César tentou evitar cada gol dos sete que a Alemanha impôs à seleção brasileira na tragédia do Mineirão, em 2014. Não conseguiu. Nesta quarta-feira, 24 de maio de 2017, a sensação é a de que mais um desses momentos inevitáveis se apresentou ao país miscigenado fundado por Caramuru e Paraguaçu. Nem no tiro no peito dado por Getúlio, nem nos piores dias da presidente Dilma, quando tudo conspirava contra a permanência dela no Planalto, nem nas manifestação de 2013, enfim, desde que a República é República, nem nunca o Brasil viu atos tão contundentes como esses desta quarta-feira em Brasília contra o Temer e o seu governo de araque. Não é sensato que ainda se acredite na viabilidade da continuação dele. Não haveria poesia bastante pra amenizar o que se viu neste 24 de maio em plena Esplanada dos Ministérios. A única saída honrosa que resta ao Temer e à sua gente, agarrada no poder desde 1985, é bater em retirada. Chega deles. Só o Insondável saberá que novo presidente poderia emergir de uma eleição direta convocada agora. Mas o Brasil precisa viver esse risco. Não há credibilidade sequer pro Congresso escolher um novo presidente numa eleição indireta. Pelo Michelzinho, pelos bebês que o Temer ainda pode ter com a Marcela, pelos filhos dos atuais ministros dessa administração falsificada e sem alicerce crível, pelos netos do Lula e da Dilma e da gente, por todas as crianças do Brasil – as que dormem sob viadutos e as aninhadas em camas de pelúcia nas mansões do Lago Sul -, por todos nós, degredados filhos de Eva, só a renúncia abreviaria o sofrimento coletivo de um povo que não sabe mais pra onde vai a nação desgovernada, com seus índices de desemprego sem parâmetro na nossa História. Não foi também possível evitar o Temer depois do impeachment da Dilma. Então, segundamente, que ele peça o boné e o Congresso apresse a votação de um Projeto de Emenda Constitucional pra convocar – já – uma nova eleição presidencial. Os partidos hegemônicos estão todos desmantelados. Com certeza, surgirá um Bolsonaro ou um genérico dele pra tentar a sorte. Dane-se, que seja enfrentado, então – mas no voto direto. O voto do povo pôs esses personagens abjetos todos onde estão hoje. Até ser cassado e preso, Eduardo Cunha, por exemplo, existiu no Congresso Nacional pra bagunçar o Brasil pela vontade de 232.708 eleitores do Rio de Janeiro. Bem feito pra nós. No mesmo Rio, Sérgio Cabral foi reeleito governador com 5.217.972 votos. Aécio Neves enganou 51.041.155 brasileiros em 2016. Quase se elegeu presidente da República. Agora é hora de deixar o povão decidir de novo. Inclusive quem bateu panelas. Inclusive quem não bateu. Texto publicado originalmente no Blog do Marceu Vieira. Brasil e o enredo da miséria política