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Acorda, Paraty na Flip 2013

No dia 6 de julho (sábado), penúltimo dia da Flip (Festa Literária de Paraty), o povo da pequena cidade fluminense acordou. O movimento Acorda, Paraty mobilizou cerca de 200 moradores e interditou a ponte sobre o rio Perequê-açu, que liga a festa ao centro histórico, por 30 minutos. Os paratyenses aproveitaram a presença da mídia grande por lá como os jornalões O Globo e a Folha de São Paulo, e a TV Globo, além de milhares de turistas que lotam a cidade, para mostrar sua indignação contra a precariedade dos serviços públicos. As faixas do protesto pediam melhorias, principalmente, na segurança, educação e transporte público. Segundo os moradores, somente nesse ano, foram 31 assassinatos na cidade de 35 mil habitantes. Durante a manifestação, foi lida uma pauta com diversas reivindicações como a efetivação de professores aprovados em concurso e a preservação de áreas de mangue. Segundo moradores da cidade entrevistados pelo Zonacurva, há constantes faltas de luz e água na cidade e o saneamento básico é precário. “Após trabalhar nos restaurantes e pousadas, voltamos para a Ilha das Cobras e o Campinho (bairros periféricos da cidade) em que a realidade é outra, por lá, só tem violência e tristeza”, afirmou manifestante que não quis se identificar. Mais fotos do protesto:

Cinco flashes do gigante que acordou

Flash 1 Na semana passada, a morena de legging colorido e polainas pretas vivia em pânico. Passou a ouvir a CBN e a Jovem Pan AM no caminho para a academia. Se tivesse protesto, perderia a aula de spinning. Nada podia atrapalhar a rotina de exercícios e o regime que já a tinha feito perder três quilos nos últimos dois meses. Flash 2 Ontem ele ligou o dia inteiro em seu Iphone 5 e nada. Irritado, o diretor da empreiteira finalmente consegue encontrar o assessor do Secretário de Obras: – Tá difícil te achar, hein. E aí, alguma novidade? – Xiii, o pessoal por aqui anda paranóico, tá tudo de cabeça pro ar, a secretária do Cleison me disse que pararam de liberar as verbas, pelo menos até a poeira abaixar. – Sacanagem, o dinheiro já tá na conta faz três meses. – Calma, calma, o negócio vai virar… Flash 3 Anderson não foi trabalhar três dias nas últimas duas semanas. Anda feliz da vida. Nas folgas, faz visitas rápidas à casa de Clotilde pela porta dos fundos. Clotilde, loirinha e magrinha, largou seu emprego de atendente de papelaria para cuidar de seu segundo filho, Manoel Júnior. Manoel sai cedo para o trabalho, vai de bicicleta. Anderson acha que “essa molecada tá certa, eles tão mudando o Brasil”, falou para colega no boteco do bairro. Flash 4 O policial aposentado entra no elevador e vocifera contra o estudante de Ciências Sociais com cartolina embaixo do braço: – Isso aqui tá uma baderna, tem que descer o pau nessa molecada folgada! – O senhor está me provocando? – Nem te conheço mas, pra mim, vagabundo que quebra tudo tem é que levar bala! – Santa ignorância, nem sabe o que fala! O elevador chega ao térreo. Flash 5 A professora universitária chorou muito ao lado de seu gato preto na sala do apartamento de um quarto ao ver as imagens das manifestações na tv a cabo. Lembrou dos anos 60, lembrou de como tinha um corpão e de que nunca mais sentiu-se tão livre como naquela época, mesmo sob a ditadura militar.

O monstro Mercado

Mercado vive há décadas nos esgotos de Wall Street. Alimenta-se diariamente de esperança e miséria. Durante um mês por ano, passa férias no parque construído especialmente para seu descanso nas Ilhas Cayman. Dentro de seu duro coração, há espaço para saudades de aliados de primeira hora como a família Bush e Margaret Thatcher. Época em que ele escalava tranqüilo as torres do WTC e descansava a vista com o skyline da metrópole. “Bons tempos que não voltam mais”, suspira. Rei da metamorfose, Mercado aprendeu a gostar de Obama, Hollande e Merkel. Por anos, Mercado entoou seu hit Globalização, repetido ad nauseam pelos quatro cantos do planeta. Espécie de world music hipnótica, Globalização controlou o imaginário humano. “Sua pregação integracionista visava seu próprio umbigo”, protesta um de seus mais ferrenhos inimigos, a Liberdade. Em 2008, Mercado ficou gravemente doente. Nervoso em seu estado debilitado, vociferava ameaças terroristas. Políticos, economistas e executivos o medicaram com  muito dinheiro público diretamente na veia. Uniformizados de Hugo Boss ficaram exultantes com sua pronta recuperação. Poucos perderam seus empregos e, apenas, um ou outro foi preso. Mercado curou-se e, aos gritos, pulava de galho em galho. Seu amigo inseparável, Desemprego vampiriza a energia de milhões de jovens, em especial, espanhóis. No passado, Desemprego e Mercado viviam uma relação que era uma montanha russa, hoje, vivem de mãos dadas como verdadeiros amigos de infância. Há meses, insistentes e ruidosos manifestantes têm atrapalhado seu sono. A insônia de Mercado afeta as bolsas ao redor do mundo. Ao olhar para o horizonte da Big Apple, Mercado sente um vazio no peito, é como se um pedaço de seu corpo tivesse sido arrancado. Mercado teme o futuro. Durante a madrugada, perturbadores pesadelos com milhões nas ruas em protesto o assombram.