Zona Curva

#VisibilidadeLGBTQIA+

BenBar com Erika Hilton

Colaborou Isabela Gama Orgulho LGBTQIA+ – No dia 2 de junho, o Zonacurva estreou seu novo programa, o BenBar. A proposta é reunir mulheres em uma conversa descontraída para discutir política e assuntos atuais do Brasil e do mundo. Nesta semana, a convidada foi a vereadora paulistana Erika Hilton (PSOL), a mais votada na eleição de 2020.  Ela é presidente da comissão de direitos humanos da Câmara e atua fortemente nas pautas da população LGBTQIA+, é pré-candidata a deputada federal e um dos principais nomes da esquerda na cidade de São Paulo. Erika começou a live relembrando que junho é o mês do Orgulho LGBTQIA+, e demonstrou certa ambiguidade com a data. A vereadora reforça que trazer visibilidade para a pauta apenas no mês de junho é problemático visto que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans. Outro problema são as marcas utilizarem da data para apoiarem a comunidade de forma superficial e colocá-las apenas como consumidora, trazendo uma falsa representatividade.  Entretanto, ela também explica que, se não houvesse o mês de junho, a comunidade não seria protagonista em nenhum momento do ano. Para ela, é uma forma de afirmar que “vocês não vão passar o mês de junho sem a nossa presença”, e deste modo, de forma gradual conquistar os outros meses do ano, e cada vez mais, tornar o Brasil um país seguro para a comunidade. Erika também comentou sobre a polêmica envolvendo a professora e comunicadora Rita Von Hunty, que apesar de ser um expoente entre os comunicadores de esquerda, declarou que não votará no ex–presidente Lula no primeiro turno. Erika, que já declarou o seu apoio a Lula, afirmou compreender o discurso de Rita, e que ele traz uma análise da conjuntura política de forma equilibrada.  A vereadora ressaltou a importância de se construir um debate público mais profundo, politizado e democrático, e não apenas invocando um grande nome da esquerda. Criando assim, a possibilidade de surgimento de novas lideranças como forma de consolidar a esquerda e o progressismo no país.  Aline, a esquerdogata, uma das integrantes do programa, afirmou que compreende a opinião de Erika, mas afirmou que teve medo de Bolsonaro crescer nas pesquisas após a fala de Rita. Que apesar de concordar com a linha de pensamento, ela acredita que agora, durante a corrida eleitoral não seja o momento ideal de fazer esse tipo de pronunciamento, visto que pode trazer “efeitos colaterais”. Igualdade na política pode levar mais de um século A luta contra a transfobia Poema da ativista trans-travesti Patrícia Borges BENBAR AGOSTO LARANJA Pelos direitos dos refugiados e migrantes LGBTI    

Beijo bi do super-homem atualiza o mito

“Quem sabe o Super Homem venha nos restituir a glória Mudando como um Deus o curso da história Por causa da mulher”. (Gilberto Gil em Super-homem (A canção)) Jon Kent – A proximidade do beijo homoafetivo do Super-homem não tornará o mundo mais suscetível, mas poderá torná-lo mais próximo da humanidade ou pelo menos, espero, congele a gravidade da Terra por um breve instante, imóvel, num sopro inefável ou enquanto se prolongue a perenidade do beijo. A DC Comics entretenimento, editora especializada em histórias em quadrinhos e mídias, subsidiária da Time Warner, a maior companhia de diversão e distração do mundo, revelará na próxima edição que o atual Superman Jon Kent é bissexual, procurando ampliar a sua representação LGBTQIA+ e o seu envolvimento em temas de relevância social. O herói Jon Kent, de 17 anos, beijará o jovem jornalista Jay Nakamura na próxima edição de dezembro (Son of Kal-El), herdeira oficial do título Superman de seu pai, Clark Kent. Isso ocorre após os eventos do chamado “crossover Future State”, que é uma reformulação mercadológica editorial, vislumbrando um universo futuro com novos heróis não-binários (pessoas que não se percebem como pertencentes a um gênero exclusivamente, o que significa que a identidade de gênero e expressão de gênero não são limitadas ao masculino e feminino). Os HQs – Quadrinhos.  Entre 2008 e 2011 a marca rival da DC, a Marvel Universo Cinematográfico, iniciou construção do projeto audiovisual responsável pela popularização de personagens, antes restritos aos espaços dos quadrinhos (HQ) e animação de desenhos, marcando forte presença no interesse de um grande contingente do público jovem. Há uma latente demanda nesse espectro social por personagens mais verdadeiros, com vulnerabilidades, fraquezas e emoções ou ainda, que parecessem existir realmente. As Histórias em Quadrinhos, grande parte tem a sua trajetória marcada pela abordagem de temas controversos e desafiadores, que ajudam os leitores a reverem a forma como entendem e se relacionam com as imagens e representações cotidianas. Lembro que folheando livros numa livraria nos fins dos anos 70 – hábito que conservo até hoje – me deparei com texto de Décio Pignatari e Augusto de Campos que discorria sobre os aspectos andrógenos e o universo masculino assexuado de alguns dos nossos heróis das HQs, homens héteros com superpoderes, cissexuais e brancos, como Fantasma, Tarzan e Batman. >Na imensa maioria dos quadrinhos, as personagens transgêneras são vítimas desses superpoderes pela invisibilidade: é uma forma de pulverizar, estilhaçar a transgeneridade pelo binarismo, imaginando o gênero e a sexualidade de forma dual na significação homem-mulher. O Universo Marvel começou em 1961 com o lançamento do Quarteto Fantástico. Mas, apenas 30 anos após sua criação, é que tivemos a oportunidade de ver pela primeira vez um herói  assumir a sua homossexualidade. Quem é esse herói? Trata-se do campeão olímpico de esqui Jean-Paul Beaubier, ou “Estrela Polar”.  Criado em 1979, como membro de um grupo de super-herois patrocinado pelo governo canadense (A Tropa Alfa), foi vetada a sua personalidade gay pelo editor da Marvel, sob o argumento do código de censura, contra a inclusão de personagens homoafetivos. Somente em 1992 pode-se dizer explicitamente “Eu sou gay”, sendo o primeiro protagonista de um casamento LGBT no mundo dos super-heróis. A “Graphic Novel” – Recentemente surgiram uma nova forma de arte gráfica, as “graphic novels”, um gênero de história em quadrinhos que trouxe temas importantes como questões de representação de gênero e sexualidade. Em 2006, a premiada cartunista americana Alison Bechdel publica “Fun home: Uma tragicomédia em família”, um marco dos quadrinhos e das narrativas autobiográficas, além de uma obra-prima sobre sexualidade, relações familiares e literatura. Nele, pouco depois de revelar à família que é lésbica, Alison Bechdel recebe a notícia de que seu pai morreu em circunstâncias que poderiam indicar um suicídio. Num trabalho muito delicado e sutil, Bechdel explora a difícil, dolorosa e comovente relação com o pai tão enigmático quanto incontornável. Já no cinema, em “Azul é a cor mais quente”, lançado em 2010, a francesa Julie Maroh conta a história de Clementine, uma jovem de 15 anos que descobre o amor ao conhecer Emma, uma garota de cabelos azuis. Através de textos-diário de Clementine, o leitor acompanha o primeiro encontro das duas e caminha entre as descobertas, tristezas e maravilhas que essa relação pode trazer. Em 2021, foi filmado pelo franco-tunisiano Abdelatiff Kechiche e ganhou a Palma de Ouro, prêmio mais importante do Festival de Cannes. Dezembro também nos reservará outra surpresa: o emblemático herói da DC Comics, o personagem Tim Drake, um dos vários personagens que assumem o papel do herói Robin nos quadrinhos, se descobre bissexual na décima edição de “Batman: Urban Legends”. Depois de 81 anos da sua primeira aparição nos quadrinhos de Batman, o menino-prodígio finalmente assumirá sua bissexualidade num “momento de iluminação” enquanto lutava para salvar o amigo Bernard das mãos do Monstro do Caos e percebe que, na verdade, está interessado nele. É nesse mundo fragmentado, entre pós-guerras e pandemias que surgirá uma geração comprometida com as transformações da sociedade, a diversidade sexual e de gênero, o reconhecimento de dívidas sociais a serem pagas com as minorias, resultante também de um avanço no reconhecimento da importância da saúde mental e da liberdade, através de personagens de HQs revelados com fragilidades, traumas temporais, desamor, violências, afetos, sentimentos, paixões. Além disso, isso abre um vasto campo para se explorar novas histórias e narrativas afinadas aos debates atuais. À medida que o tempo avança, a postura desses super-heróis se modifica, interage afora às suas identidades, a expressão de gênero e preferências sexuais. Nela há uma breve esperança, um aceno desprendido ao mundo que, enfim, após um beijo, restituirá toda paz, as garantias sociais, o combate à miséria, crises climáticas e guerras, o racismo, a fome, além da homofobia, a solidariedade aos refugiados e migrantes, em nome da liberdade e justiça. Apenas um beijo, o desejo diverso na vertigem vermelha dos dias, para muito além dos cintos de utilidades, anéis com feixes-laser e raios ionizantes, armaduras, escudos, laços espadas teias, tão somente um beijo enquanto o mundo, em rotação